* Este blog luta por uma sociedade mais igualitária e justa, pela democratização da informação, pela transparência no exercício do poder público e na defesa de questões sociais e ambientais.
* Aqui temos tolerância com a crítica, mas com o que não temos tolerância é com a mentira.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Globosta vai de mal a pior


apareceu na Folha

A rede Globo proibiu formalmente que seus programas citem o Facebook e o Twitter. A determinação é que apresentadores e reportagens só citem as redes pelos nomes em último caso. Deverão substituir Facebook por "uma grande rede social" e Twitter por "rede social de mensagens curtas".

COMENTÁRIOS DOS LEITORES DO NASSIF


1-     Vai funcionar igual funcionou com os comícios das diretas...
2-     É a Plim-Plim "aparelhando" a informação!
3-     Céus! Isso é um golpe definitivo nas duas redes, será que ja avisaram ao Zuckberg? 
4-     Uma sugestão: no blog quando citarmos a dita cuja, usemos a expressão "uma grande rede manipuladora de notícias".

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Nossa Bananolândia



por Luis Nassif, em seu blog


O Brasil não é para principiantes, dizia Tom Jobim.
Nos últimos anos houve uma justa celebração dos avanços obtidos nas últimas duas décadas, passando pela estabilização da inflação, com o Plano Real, pela criação de um mercado de consumo robusto. Louvou-se a continuidade dos governos FHC-Lula-Dilma, divididos muitos mais pela retórica política do que pelas práticas.
Manteve-se a continuidade, com alguns ajustes aqui e ali.
Mas os três governos padeceram e padecem da falta de uma visão estratégica que lhes será cobrada pela história. A principal delas, é a de não ter desarmado a armadilha do câmbio apreicado.
***
O período militar legou um país cheio de vícios, sem sociedade civil, amarrado a uma estatocracia sufocante. E uma gigantesca concentração de renda que impedia o deslanche do mercado interno de consumo; a deterioração dos serviços públicos; a incompetência para lidar com a massificação da saúde e da educação. Todos esses vícios decorrentes exclusivamente da falta de democracia, de pressão popular.
Por outro lado, legou uma base industrial sólida, que se completou com os Planos Nacionais de Desenvolvimento.
O segundo tempo do jogo consistiria na montagem da segunda perna – o do fortalecimento dos fatores internos – sem descuidar da primeira – o fortalecimento da produção.
***
De lá para cá, uma privatização mal feita tirou a pujança dos setores químico, siderúrgico, de telecomunicações. Permitiu-se que o custo da energia saltasse para patamares elevados. Não se cuidou de resolver os graves problemas da infraestrutura. Aceitou-se a cartelização da economia e não se deu a devida prioridade às pequenas e micro empresas e ao empreendedorismo.
Nesse período, desenvolveu-se um mercado de capitais moderno, um mercado de consumo robusto, uma indústria de fundos que permitiu a formação de uma boa base de poupança interna. Ou seja, todas as peças no tabuleiro para que um grande mestre completasse o ciclo da redemocratização.
Mas dia após dia, ano após ano, mandato após mandato, esses trunfos foram sendo desperdiçados, atropelados pelo dia a dia e pela ausência de um pensamento estratégico.
***
Desde a redemocratização, o trabalho da oposição – fosse o PT ou o PSDB – jamais foi o de construir uma alternativa democrática ao governo em questão.
A falta de programas partidários nítidos, de clareza da opinião pública sobre os caminhos do país, não permitiu a montagem de coalizões duradouras. Cada governante montou sua base em cima de troca de favores. E cada oposição montou sua resistência em cima da escandalização mais primária.
***
Sem as linhas indicativas do pensamento estratégico, cada um dos presidentes foi conduzindo dentro do mesmo estilo, de matar um leão por dia, resolver a pressão imediata, celebrar um feito ou outro, mas deixando o futuro ao Deus-dará.
Substituiu-se o período de fechamento, de proteção descabida à produção interna por vinte anos de apreciação cambial, de abertura financeira indiscriminada que pouco a pouco está matando as chances de uma economia industrial.
Tenho a ligeira desconfiança que a história não será condescendente com os três presidentes desse período.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Sobre a punição da violência


por Assis Ribeiro, comentarista no blog do Nassif

A discussão acerca do sistema de justiça criminal entra definitivamente na agenda política, repercutida exaustivamente nos meios de comunicação.
O aumento da criminalidade e da violência pode ser explicado pela desagregação do sentido coletivo e familiar da sociedade moderna e pelo impacto da televisão na criação de padrões de consumo que trazem consequências na vida política e sociocultural.
As leis, a Polícia, o Ministério Público, o Judiciário e o sistema carcerário passam a ser cenário de discussão. As acusações de ineficácia proliferam e atingem a todos.
A retórica do debate sobre a punição invoca a figura da vítima tipicamente uma criança, mulher ou idoso, sempre um cidadão correto e íntegro que deve expressar toda a sua angústia e sofrimento e que deve ser absolutamente protegida e ter seus direitos garantidos. A vítima é tomada como uma figura que representa uma experiência comum e coletiva e não uma experiência individual e atípica. A grande mídia dramatiza e reforça a criminalidade, que além de criar o medo como forma de dominação obteve como efeito colateral o aumento das taxas de criminalidade.
Com a insatisfação aumenta a cobrança ao Estado constituindo um complicado e recorrente problema político.
As soluções normalmente apontadas para a diminuição dos crimes se limita a concentrar nos efeitos do crime muito mais do que nas causas. Os resultados são modos mais intensivos e expressivos de policiamento e de punição cujo objetivo é convencer a população de que o Estado ainda mantém sua autoridade.
No calor dos debates muito se tem apontado para quadros comparativos entre os sistemas brasileiro e estrangeiro, deixando de mostrar o mais sugestivo e abrangente que são as formas de controle, onde o Brasil desde a sua formação adota o sistema de controle penal, repressivo, enquanto países europeus preferiram adotar o controle social como forma de prevenir a formação do crime.
Os países que adotam a forma de controle penal encontraram grande respaldo com o aumento da repressão ao crime ocorrido nos EUA a partir da década de 60, onde o Estado aprimora a estratégia de segregação punitiva com a formação de sentenças pesadas e aumento do aprisionamento (encarceramento em massa), restrições à defesa, construção de presídios de segurança máxima, prisão de crianças e adolescentes, punição corporal, inflação do código penal, publicização dos condenados, entre várias outras formas que são instrumentalizadas para advertir, confortar, e ao mesmo tempo controlar a população.
É sempre responsabilidade do Estado o controle da criminalidade e a sua ineficiência é causa do aumento da violência, e não podemos ignorar esta realidade.
Se por um lado o Estado deve agir preventivamente criando condições dignas para a sua população, como um sistema público de ensino de qualidade para todos, moradia digna, entre outras funções sociais, por outro lado deve oferecer as condições igualmente dignas para que o aparato de controle penal funcione a contento.
A deficiência das condições de vida de muitos brasileiros é notória, mas, as condições precárias do nosso controle penal são pouco estudadas.

A ineficiência pode ser apontada logo na abordagem das origens das nossas polícias, onde a militar parece mais preparada para a guerra do que para o controle e repressão, situação bem demonstrada nas cenas recentes de um helicóptero policial na cidade do Rio de Janeiro metralhando todo um bairro na perseguição de três bandidos, enquanto a polícia civil se mostra ineficiente na sua responsabilidade de investigação do crime pelo modelo original de elucidação de crimes via confissão, ou depoimento de testemunhas, e não raro são observadas situações de violência e chantagem para se buscar a confissão ou a acusação mesmo que leviana.
Essas condições acima deveriam ser a origem de qualquer debate sobre a ineficiência do nosso controle de criminalidade, e tentar deslocar este foco para prometer à sociedade a solução dos problemas via diminuição da maioridade penal, ou, e, pelo outro preferido pelo mainstream do discurso de que nossas penas são brandas.
Resolvendo esses problemas de raiz se partiria para o segundo ponto, igualmente pouco difundido, das precárias condições como a falta de investimentos em contratação, capacitação e remuneração de policiais e peritos, bem como em infraestrutura nas delegacias, o que acarreta não só o despreparo dos policiais como também sobrecarga de procedimentos.
Portanto, o problema da segurança no Brasil passa pelo cumprimento das leis já existentes, pela certeza da sua aplicação e execução, e não pelo aumento da pena. A impunidade se combate com efetividade.
Ocorre que o índice de efetividade da Justiça criminal brasileira é baixíssimo, onde um relatório da Associação Brasileira de Criminalística demonstra que a taxa de elucidação dos inquéritos de homicídio no Brasil varia de 5% a 8% do total de crimes, o que vale dizer que de cada 100 homicídios no Brasil no máximo oito são devidamente apurados, segundo estimativa de Julio Jacobo Waiselfisz, coordenador da pesquisa Mapas da Violência 2011, divulgada pelo Ministério da Justiça.
Enquanto a lei vigente não for aplicada, enquanto não se oferecer condições para a elucidação dos crimes, é ilógico se postular aumento de pena.
O Ministério Público deveria no exercício do seu controle externo da Polícia apontar estas precárias condições para solucionar todos esses crônicos problemas. Mas, preferem reivindicar o aumento de pena!
Essa sensação de impunidade é clara e muito grande e isso estimula o cometimento de novos crimes, daí o aumento assustador deles.
Um terceiro problema está na forma, onde não há integração entre delegados, promotores e a Justiça no andamento dos inquéritos, provocando um excesso de inquéritos devolvidos para novas investigações e muitos são mandados arquivar por irregularidades ou por estarem prescritos, situações que seriam evitadas se o trabalho fosse conjunto. 
Finalmente não é desprezível constatar que esse temor alimenta a grande indústria de segurança.  Pessoas receosas de serem vítimas de violência adotam precauções e comportamentos defensivos na forma de seguros, carros blindados, sistemas de segurança eletrônicos, cães de guarda, segurança privada, grades e muros altos, alarmes, o aumento de frequência nas catedrais de consumo, os shoppings, e o afastamento dos equipamentos urbanos como praças e parques.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

A morte de Roberto Civita e a trajetória da Editora 1º de Abril




por Luis Nassif, em seu blog


Acaba de falecer Roberto Civita. - Foi o principal responsável por ter trazido os padrões jornalísticos norte-americanos para o Brasil, convencendo o pai a criar revistas informativas.
A primeira foi a Realidade. Segundo jornalistas que trabalharam com ele, como Luiz Fernando Mercadante, o jovem Civita tinha tino jornalístico, sabia trabalhar com talento as fórmulas importadas dos Estados Unidos.  Algum tempo depois, criaria
a Veja, copiando o modelo de jornalismo-produto norte-americano.
O padrão vinha do Times. Consistia em trabalhar a notícia como se fosse um produto da dramaturgia. Na segunda-feira, havia reunião de pauta em que se escolhiam as matérias que fossem mais atraentes para os leitores. A pauta era montada de acordo com critérios que tornassem a notícia atraente. Depois, os repórteres saíam atrás de declarações que convalidassem as teses defendidas pela revista.
Teve alguns períodos áureos. O primeiro, com Mino Carta. Depois de três anos para se firmar, atingiu o ponto de equilíbrio e nos anos 70 já se tornara a mais influente publicação brasileira.
Apesar do estilo superficial – próprio para atingir a dona de casa de Botucatu (como era o lema da revista -, a revista primava pelas pautas criativas, pelo texto rigoroso embora um tanto parnasiano nas aberturas, pela capacidade de enfiar enorme quantidade de informações (nem todas essenciais) em textos curtos.
Após a saída de Mino, a revista manteve a influência e cresceu em tiragem, acompanhando o crescimento da economia brasileira.
Nos anos 90, assim como o restante da grande imprensa, experimentou seu período de maior brilho, após ajudar a construir e a demolir a imagem de Fernando Collor.
Brilhante na criação de um universo de revistas especializadas ou temáticas, Roberto Civita falhou na transição para a era digital.
Com ACM, conseguiu concessões de TV a cabo, montou alguns canais, que não lograram se desenvolver. A experiência em TV foi um desastre financeiro. Teve oportunidade de montar o primeiro grande portal brasileiro, o BOL, tendo muito mais conteúdo para expor do que a UOL, da Folha. Mas não possuía a agilidade demonstrada por Luis Frias, à frente da UOL.
Com poucos lances, Frias propôs a fusão UOL-BOL, assumiu a gestão da nova empresa e, mais à frente, aproveitou a enorme liquidez do mercado financeiro para adquirir a metade da Abril. Hoje a UOL deve valer bem mais do que a Abril inteira.
Um dos principais obstáculos para a transição da Abril foi a resistência de um corpo de conselheiros de Civita, fortemente amarrados à tradição do papel. Mesmo quando a Internet tornara-se irreversível, a Abril não acordou. Pelos menos a duas empresas de tecnologia que foram oferecer sistemas para ela – uma das quais, a IBM – a resposta dos executivos é que a Abril iria apostar todas suas fichas em gibis e revistas para a classe C.
O advento do jornalismo online acabou consagrando outros portais, a própria UOL, o G1 e dois entrantes, o Terra e o iG.
A última aposta da Abril foi tentar ganhar protagonismo político imitando o estilo de Rupert Murdoch. A campanha contra o desarmamento revelou um perfil de leitor classe média intolerante, preconceituoso, conservador até a medula. E a Abril, que sempre buscou o leitor classe média alta, apostou todas suas fichas no novo modelo.
Foi a primeira a trazer o estilo de jornalismo tosco e virulento da Fox News. E a cometer assassinatos de reputação em larga escala, cujos casos mais conhecidos foram as guerras do Opportunity e de Carlinhos Cachoeira.
Alguns anos atrás, em péssima situação financeira, a Abril recebeu aporte de capital do grupo Nasper, da África do Sul, mais 20% de empresas offshare de Delaware, afrontando a legislação brasileira. Posteriormente, quando vendeu a TVA para a Telefônica, as duas holdings desapareceram do bloco de controle da empresa.
Nos últimos anos, o grupo passou a investir todas suas sobras de caixa no setor educacional. Com a morte do seu líder, o futuro da Abril torna-se incerto.

NOTA DESTE BLOG BOTOCUDO -  Requiescat in Pax!... este foi o único dos barões do PIG virulento que cheguei a conhecer pessoalmente.

domingo, 26 de maio de 2013

Comissão da Verdade - 1964, repressão, Jonas e o Lobisomem



henry Henkels - escrito em maio de 2004 (variações baseadas no estudo What's History – Edward Carr)

 OS FATOS - Jonas voltando de uma festa em que bebeu mais que a prudência recomenda, num carro com os freios desregulados e em mau estado, em um trecho em que a visibilidade é muito ruim, atropela e mata um Lobisomem (espécie em extinção) que atravessava a rua para comprar cigarros no botequim da esquina.

UMA COMISÃO - Após a confusão ter sido resolvida, encontramo-nos, digamos, na delegacia de polícia para investigar as causas da ocorrência. Teria sido em virtude do estado de semi-embriaguez do motorista – o que levaria a um processo criminal – ou foi devido ao defeito nos freios? Neste caso a responsabilidade recairia sobre alguma oficina que revisara o carro algum tempo antes? Ou foi devido à má visibilidade naquele trecho? Neste caso as autoridades municipais e de trânsito teriam sua parcela de culpa. Enquanto estamos discutindo essas questões práticas, dois cavalheiros distintos – que não tentaremos identificar – irrompem na sala e começam a argumentar, com grande fluência, que, se o Lobisomem não fosse um fumante inveterado e tivesse ficado sem cigarros naquela noite, ele não estaria atravessando a rua e não teria sido morto. Portanto a causa da morte do Lobisomem foi seu irresistível desejo por cigarros, e qualquer inquérito que despreze esta causa será mero desperdício de tempo e quaisquer conclusões daí tiradas não farão sentido. Bem, o que fazemos? Logo que nos foi possível interromper o fluxo de eloquência, impelimos nossos dois visitantes, gentil mas firmemente, em direção à porta, instruindo o porteiro para que não os admitisse de novo sob qualquer argumento e continuamos nosso inquérito. Mas que resposta temos para os dois cavalheiros que nos interromperam? Naturalmente o Lobisomem foi morto porque fumava. Tudo que os adeptos do acaso e da contingência na história dizem é perfeitamente verdadeiro e perfeitamente lógico.

Se alguém diz ao homem comum que o Lobisomem foi morto porque Jonas estava bêbado, ou porque os freios não funcionaram, ou ainda porque a visibilidade naquele trecho era ruim, provavelmente preferirá alguma dessas explicações como mais sensatas e racionais do que o seu desejo por cigarros. Mas certamente existirão pessoas – as que tem aversão ao tabagismo, por exemplo – que preferirão atribuir a causa “real” da morte do Lobisomem aos cigarros. Estes últimos seriam imediatamente discriminados como ‘reacionários’ pelos adeptos das outras explicações, mais óbvias, para o ocorrido, e se defenderiam por sua vez dizendo que os primeiros é que seriam ‘obtusos’ em suas conclusões. 

Voltemos, nós os investigadores especializados (historiadores) ao inquérito sobre as reais causas da morte do Lobisomem. Não tivemos dificuldade em reconhecer que algumas das causas eram racionais e “reais” e que outras eram irracionais e acidentais. Mas com qual critério fazemos a distinção? A faculdade da razão é normalmente exercida com algum propósito. Determinados intelectuais as vezes admitem que racionam por brincadeira, mas de uma maneira geral, as pessoas racionam com um objetivo. Quando reconhecemos certas explicações como racionais, estamos fazendo distinção entre explicações que serviram a algum fim e explicações que não serviram. No caso em discussão, faz sentido supor que a repressão ao desregramento alcoólico dos motoristas, ou um controle mais rigoroso sobre as condições dos freios, ou um melhoramento do traçado das ruas, pode contribuir decisivamente para reduzir o número de acidentes fatais no trânsito. Inicialmente não parece fazer sentido supor que a redução de acidentes fatais de transito possa ser reduzido impedindo-se as pessoas de fumarem (embora seja um fator real envolvido em nosso caso). Este foi o critério pelo qual fizemos nossa distinção. O mesmo se aplica à nossa atitude em relação a causas na história.

PASSADO, PRESENTE E FUTURO - O presente não representa mais do que uma existência ideal, uma linha divisória entre o passado e o futuro. Quando falamos do presente, quase sempre introduzimos uma outra dimensão de tempo na narrativa. É fácil perceber que, desde que o passado e o futuro são partes do mesmo intervalo de tempo, o interesse no passado e o interesse no futuro estão interligados. A linha de demarcação entre os tempos é traçada quando as pessoas cessam de viver apenas no presente e tornam-se conscientemente interessadas tanto no seu passado como em seu futuro. A história começa com o legado da tradição; tradição significa transferência dos hábitos e tradições do passado para o futuro. Registros do passado começam a ser mantidos em benefício das gerações futuras... ...Os bons historiadores, quer consciente ou inconscientemente, tem o futuro no sangue. Além da pergunta “por que?”, o historiador também deve perguntar “para onde?”.

HISTÓRIA E PROGRESSO - Para o historiador o fim da evolução dos acontecimentos ainda não ocorreu. É alguma coisa ainda infinitamente remota, os indicadores só se tornam visíveis a medida que avançamos.

OBJETIVIDADE E MUDANÇAS - Voltemos ao triste caso da morte do Lobisomem. A objetividade da investigação que fizemos sobre aqueles acontecimentos não dependiam de se identificar os fatos corretamente, pois os mesmos não estavam em discussão, mas se distinguir entre fatos reais ou importantes, nos quais estávamos interessados, e os fatos acidentais, que poderíamos deixar de lado. Achamos fácil estabelecer esse diferencial, porque nosso padrão ou fator de importância, base de nossa objetividade, era claro e importante para os objetivos em vista, isto é, a redução das mortes em acidentes de tráfego. O historiador, da mesma forma, precisa, na sua tarefa de interpretação, do seu padrão de importância, que também será seu padrão de objetividade, a fim de distinguir entre o significativo e o ocasional. Nesse caso o padrão de importância depende da finalidade que se tem em vista. Trata-se porém de um fim que se desenvolve gradativamente, pois a interpretação que se desencadeia do passado é uma função muito necessária na história. O pressuposto tradicional de que a mudança sempre tem que ser explicada em termos de algo fixo e imutável é contrária à experiência do historiador. “Para o historiador o único absoluto é a mudança”.

DIREÇÃO DA HISTÓRIA - O absoluto na história não é algo no passado de onde partimos, tampouco algo no presente, pois todo pensamento presente é relativo. É algo ainda incompleto e em processo de vir a ser – algo no futuro em direção da qual nos movemos, que só começa a tomar forma à medida que nos deslocamos em sua direção, ao nos movermos, e segundo o qual, na medida em que avançamos, moldamos gradativamente nossa interpretação.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

E o STF?...



por Eduardo Guimarães, no seu blog Cidadania

Diversificadas fontes nutriram o Blog com um sentimento que vai generalizando sobre o novo ministro do STF anunciado hoje por Dilma Rousseff, Luís Roberto Barroso, e que pode ser traduzido pela máxima imorredoura do filósofo ateniense Sócrates: “Só sei que nada sei”.

De alguma forma, porém, a escolha de Barroso pode ser definida como produto de vitórias, em primeiro lugar, do ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, e, em segundo, do PIG (Partido da Imprensa Golpista) e do PSTF (Partido do Supremo Tribunal Federal, hoje na oposição).

Barroso ter sido advogado da Globo desagradou a alguns setores governistas, mas o ex-ministro da Justiça Marcio Thomaz Bastos viu sua indicação com bons olhos. Além disso, se advogou para a Globo, também advogou para Cesare Battisti.

Alguns dos desagradados apontam que ter a mesma UERJ de Joaquim Barbosa e Luiz Fux como origem não é um bom sinal. O presidente do Supremo, aliás, juntou-se, entusiasmado, aos elogios do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, à escolha de Barroso.

Porém, o ministro Ricardo Lewandowski deu declarações análogas sobre seu novo par no STF. Disse que foi uma “indicação excelente” e que o novo ministro “É um grande advogado, um defensor dos direitos humanos, tecnicamente impecável” que “Trará certamente grandes contribuições aos trabalhos da corte (…)”

O fato, porém, é que não se poderia esperar de nenhum dos supracitados declarações diferentes.

Uma curiosidade: o blogueiro da Veja Reinaldo Azevedo parece ter ficado com a pulga atrás da orelha por Barroso ter um viés que alguns definiriam como “progressista” por suas supostas inclinações favoráveis ao aborto, à pesquisa com células-tronco e ao “casamento gay”.

Tentando extrair de fontes mais ligadas ao governismo alguma impressão sobre Barroso, porém, o que ficou patente é que acham que o constitucionalista de 55 anos – idade que representa promessa de uma sua longa permanência no STF – não foi a melhor escolha…

Contudo, a lógica da escolha em tela parece ser a de que, tanto quanto Teori Zavascki, Barroso não deve ter problemas para ser aprovado em sua sabatina pelo Senado justamente por esse caráter de incógnita sobre suas posições políticas.

Para quem esteve ansioso durante o período interminável que Dilma levou para fazer essa escolha (inacreditáveis seis meses), portanto, aí vai informação de quem conversou com muita gente que entende do traçado: a ansiedade prosseguirá por vários meses, ainda.

Do Leitor

Reproduzo, abaixo, comentário do leitor Jefferson Alves sobre a indicação de Barroso

“Eduardo,

como advogado posso afirmar que, tecnicamente, Barroso é um nome altamente necessário ao arejamento do STF.

No meio acadêmico é reconhecido e aclamado como doutrinador, seus livros são peça fundamental em estudos constitucionais. Os próprios ministros citam seus trabalhos em inúmeras oportunidades, pois ele tem peso doutrinário.

Em termos jurídico, só Lenio Streck, procurador do MP/RS seria uma indicação com tanto embasamento teórico e prático e citações em sentenças e acórdãos.

Acredito que suas posições politicas são razoavelmente claras. E defender a Globo não desdoura ninguém, afinal um advogado como Barroso não escolhe cliente só pelo bolso (Battisti foi defendido graciosamente) mas pela tese jurídica que ele pode apresentar e defender, mas mesmo assim também precisa pagar contas e por isso trabalhar por uma ótima remuneração.

Grande abraço

Jefferson Alves”

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Texto para defender o biocombustivel (ou a liberação da maconha)



pescado no "Feicebuc", na pagina Ocupa a Rede Globo

VOCÊ SABIA... que o primeiro automóvel desenvolvido por Henry Ford foi construído para funcionar com biodiesel e que o carro em si foi construído a partir do cânhamo? E que o cânhamo (“hemp”) é uma variedade de maconha (utilizada durante milhares de anos) com altíssimo potencial para uso industrial?
Em sua grande propriedade, Ford foi fotografado diversas vezes em seus cultivos de cânhamo. O carro, segundo ele "criado a partir do solo”, tinha painéis de plástico de cânhamo, cuja resistência a impactos era 10 vezes mais forte que o aço. 
Rudolf Diesel, inventor do motor a diesel, o desenhou para rodar com óleos de sementes vegetais. Em sua primeira demonstração, na Feira Mundial de 1900, o motor a diesel era movido a óleo de amendoim. Seguindo o mesmo raciocínio, Henry Ford defendia o uso do cânhamo não apenas para construir o carro, mas também como seu combustível. 
Como alternativa ao metanol, o cânhamo oferece ainda uma produção quatro vezes maior de celulose por acre que as árvores, além de crescer muito mais rápido.
Como alternativa ao petróleo, o cânhamo se espalharia facilmente por todo o EUA, e não sofreria escassez. E, ao contrário da gasolina, o cânhamo é renovável. O cultivo e a colheita do material tem muito menos impacto ambiental do que a aquisição de óleo, além de recuperar e promover a fertilidade do solo, tornando-o apto inclusive para outras culturas após seu cultivo por cânhamo. Por ser um combustível biodegradável, derrames de óleo de cânhamo resultariam em fertilizantes naturais e não em catástrofes ecológicas. Além disso, o combustível de cânhamo não contribui para a poluição do ar por dióxido de enxofre.
No entanto… os interesses de um grupo liderado pela indústria petroquímica Du Pont, representada pelo Secretário do Tesouro Americano Andrew Mellon (banqueiro e maior acionista da Du Pont) e pelo empresário de mídia William Randolph Hearst, montaram uma gigantesca campanha jornalística contra o cultivo de cânhamo. Deliberadamente confundiram as variedades psicoativas de maconha com o cânhamo industrial (um dos recursos naturais mais antigos e úteis da humanidade), para manipular o debate pela sociedade. 
Ambos (DuPont e Hearst) representavam as indústrias de petróleo e madeireira (celulose), que viam no cânhamo uma enorme ameaça a seus impérios. Além disso, sabiam que a queima de petróleo emite grande quantidade de subprodutos tóxicos nocivos à saúde, o que poderia levar a um enorme apoio por parte da população aos motores à base de óleos vegetais como proposto por Diesel. Então, em 1937, o grupo liderado pela Du Pont conseguiu aprovar no Congresso Americano a primeira lei de proibição da maconha (e do cânhamo), destruindo a então promissora indústria doméstica de cânhamo. E o mundo virou o que conhecemos hoje. Imerso em um pântano de mentiras.
Na noite do dia 29 de setembro de 1913, Rudolf Diesel foi visto vivo pela última vez após jantar no restaurante de um navio rumo à Antuérpia. Seu corpo só foi encontrado dez dias depois boiando no mar. A causa da morte foi falsamente dada como suicídio. Mas muitos acreditam em uma conspiração da indústria petrolífera, comandada pelo grupo Rockfeller, responsável pela primeira grande doação ao movimento proibicionista do cânhamo na mesma época: 350.000 dólares.
Uma enorme contradição pensar que os nomes de Ford e Diesel acabaram associados a um modelo de desenvolvimento baseado no petróleo no qual eles nunca acreditaram.
E esta é apenas uma das inúmeras razões comerciais pela qual a maconha é proibida, em uma trama imoral e criminosa contra uma planta natural, cuja proibição nada tem a ver com saúde pública, muito pelo contrário. Visa apenas para garantir extraordinários lucros para a indústria armamentista (que precisa da violência e do ódio, os verdadeiros motores da economia estadunidense, país que tem como maior de suas indústrias a indústria bélica de armas), farmacêutica (a maconha é um remédio natural para milhares de doenças que pode ser plantado em qualquer residência, e que não pode ser patenteado...), de celulose (a maconha produz um papel de excelente qualidade, tendo sido usado na impressão da Constituição americana e nos primeiros exemplares da Bíblia, onde é citada como presente sagrado), do tabaco (o consumo de maconha reduziria drasticamente o consumo de tabaco, muito mais danoso à saúde), do álcool (que mata mais de 85.000 pessoas por ano apenas nos EUA), sem contar os extraordinários lucros do próprio tráfico de drogas e da corrupção policial e política a ele associados 

terça-feira, 21 de maio de 2013

O saco de bondades dos irmãos do norte - transgênicos para todos

por Tom Philpott, no Mother Jones  (tradução Opera Mundi)


Quase duas décadas depois de sua estreia nos campos norte-americanos nos anos 90, as sementes transgênicas estão cada vez menos promissoras. Os produtos da indústria aumentam o lucro das colheitas? A Union of Concerned Scientists (União dos Cientistas Preocupados) pesquisou a questão detalhadamente em um estudo de 2009. Indo direto ao ponto: aumentam marginalmente, se é que aumentam. As sementes transgênicas levam à redução do uso de pesticidas? Não; na verdade, acontece o oposto.

E por que elas reduziriam, se as três ou quatro companhias que dominam as sementes transgênicas (Monsanto, DuPont, Syngenta, Dow) estão também entre as maiores produtoras globais de pesticidas?

As sementes Roundup Ready, da Monsanto, deram início a uma onda de super-sementes resistentes a herbicidas e a uma enxurrada de herbicidas, já que os insetos estão se mostrando resistentes às culturas que contêm pesticidas biotecnológicos e fazendo com que os agricultores aumentem o uso de inseticidas. E as plantações maravilhosas que iriam ser fabricadas geneticamente para resistir à seca e que requerem menos fertilizantes nitrogenados? Até agora elas não apareceram – e há pouca evidência de que um dia o farão.

Ainda assim, mesmo apesar desses problemas, o Departamento de Estado dos EUA tem agido essencialmente como um braço do marketing da indústria agrícola de biotecnologia, completado com figuras de tão alto escalão como a antiga Secretária de Estado Hillary Clinton, declamando pontos de discussão da indústria como se fossem um evangelho, conforme descobriu uma nova análise de documentos internos feita pela organização FWW (Food & Water Watch ou Observatório dos Alimentos & Água, na sigla em inglês).

Usaid/Reprodução

A então secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, em viagem ao Quênia, em 2009

O relatório do FWW é baseado na análise de telegramas diplomáticos, escritos entre 2005 e 2009 e lançados no grande vazamento de documentos do Wikileaks em 2010. O FWW conclui: “Uma estratégia conjunta para promover a biotecnologia agrícola no exterior força os países a importarem culturas e alimentos biotecnológicos que eles não querem, e faz lobby para que os governos estrangeiros – especialmente nos países em desenvolvimento – adotem políticas para abrir caminho para cultivar plantações biotecnológicas".

O relatório transborda de exemplos do governo norte-americano promovendo a indústria biotecnológica no exterior. Aqui estão alguns:

O Departamento de Estado encorajou as embaixadas a trazerem visitantes – especialmente repórteres – aos Estados Unidos, já que isso “provou ser uma maneira eficiente de dissipar preocupações sobre [as plantações] biotecnológicas”.

O Departamento de Estado organizou e patrocinou 28 entrevistas de 17 países entre 2005 e 2009. Em 2008, quando a embaixada dos Estados Unidos estava tentando impedir a Polônia de promover uma proibição de rações biotecnológicas para animais, o Departamento de Estado trouxe uma delegação de oficiais de agrícolas de alto-nível do governo polonês para se encontrar com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, em Washington, fazer um tour plena Universidade Estadual de Michigan e visitar o Chicago Board of Trade.

O Departamento de Agricultura patrocinou uma viagem para que o Ministro de Agricultura e Pecuária de El Salvador visitasse as instalações da Pioneer Hi-Bred, em Iowa, e para que ele se encontrasse com o secretário do Departamento de Agricultura, Tom Vilsack, que deveria “pagar ricos dividendos ajudando [o Ministro] a claramente defender posições políticas sobre os nossos interesses bilaterais mútuos.”

Outro exemplo: este telegrama de 2009, ao qual o relatório do FWW se refere, mostra uma funcionária do Departamento de Estado casualmente solicitando fundos dos contribuintes norte-americanos para combater o esforço popular que exigia a identificação por etiquetas dos alimentos transgênicos em Hong Kong – e vangloriando-se de haver feito isso com sucesso no passado. Por que se concentrar na política de transgênicos de uma cidade quase independente? A rejeição de uma política de obrigação de etiquetagem “poderia ter influências colaterais na região, incluindo Taiwan, a China e o sudoeste da Ásia”, escreve a funcionária, acrescentando que o seu consulado tinha “intencionalmente projetado programas [contra a etiquetagem] que outras embaixadas e consulados” podiam usar.

O relatório também mostra como o Departamento de Estado forçou os transgênicos em nações africanas de baixa renda – na cara da oposição popular. Em um telegrama de 2009, mostra o FWW, a embaixada norte-americana na Nigéria gabou-se “do apoio do governo norte-americano na redação de uma legislação [pró-biotecnologia], assim como a sensibilização das peças-chave através de um programa de alcance público” tinha ajudado a passar uma lei amigável à indústria. Trabalhando com a Usaid (Agência dos Estados Unidos Para o Desenvolvimento Internacional, na sigla em inglês), o Departamento de Estado forçou ações similares no Quênia e em Gana, como mostra o FWW.

Ainda assim, como aponta o FWW, ao tão agressivamente forçar as soluções biotecnológicas no exterior, o Departamento de Estado está contrariando o consenso de especialistas em desenvolvimento agrícola expressado na IAASTD (Avaliação Internacional sobre Ciência e Tecnologia Agrícola para o Desenvolvimento, na sigla em inglês), de 2009, um projeto de três anos, convocado pelo Banco Mundial e pelas Nações Unidas e completado em 2008, para aferir quais formas de agricultura seriam melhores para as necessidades mundiais em tempos de rápidas mudanças climáticas. A IAASTD teve uma visão tão cética da biotecnologia desregulada como uma cura para os desafios dos alimentos no mundo, que a Croplife America, um dos grupos de lobby principais da indústria, achou pertinente denunciá-la. O governo norte-americano apoiou o lobby da biotecnologia neste caso – apenas 3 dos 61 governos participantes se recusaram a assinar a IASSTD: os Estados Unidos sob comando de Bush filho, o Canadá e a Austrália.

Então por que nossos corpos diplomáticos estão se comportando como se eles respondessem aos acionistas da Monsanto em se tratando de políticas agrícolas? Meu palpite é que a tecnologia de sementes transgênicas, dominada pela Monsanto, bem como nossas elevadas colheitas de soja e milho (que são neste ponto quase completamente feitas de sementes transgênicas), são duas das poucas áreas do comércio global nas quais os Estados Unidos ainda geram um superávit comercial.

O site da Divisão de Políticas de Comércio Têxtil e de Biotecnologia explica assim: "Em 2013, os Estados Unidos preveem exportar US$ 145 bilhões em produtos agrícolas, US$ 9,2 bilhões acima das exportações de 2012, e ter um superávit comercial de US$ 30 bilhões no nosso setor agrícola."

Meu palpite é que os presidentes dos Estados Unidos, tanto democráticos quanto republicanos, estão se debruçando em preservar e expandir esse superávit. O presidente Obama alterou bastante a política exterior dos Estados Unidos quando assumiu a presidência depois de Bush, em 2009, mas não parece ter mudado nada em relação a forçar a biotecnologia mundialmente. E esse impulso não está confinado ao Departamento de Estado. Em 2009, quando Obama precisava apontar alguém para liderar as negociações agrícolas na Secretaria de Comércio dos Estados Unidos, ele foi diretamente à indústria de biotecnologia, chamar o vice-presidente de ciências e assuntos regulatórios na CropLife America, Islam A. Siddiqui, que continua no posto até hoje.

Enquanto isso, o Departamento de Estado opera uma Divisão de Políticas de Comércio Têxtil e de Biotecnologia, que existe em parte para “manter mercados abertos para os produtos norte-americanos derivados da moderna biotecnologia” e para “promover aceitabilidade dessa tecnologia promissora”. A página de biotecnologia do departamento está entremeada de uma linguagem que parece feita de clichês de materiais promocionais da Monsanto. “A biotecnologia agrícola ajuda os agricultores a aumentar seus lucros, permitindo que eles produzam mais alimentos por acre enquanto reduz as necessidades de químicos, pesticidas, água e cultivo. Isso traz benefícios para o meio-ambiente assim como para a saúde e subsistência dos agricultores.”

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Tupini-Batman já se emancebou com o Coringa e o Pinguim



O Diário se orgulha de haver estimulado a investigação dos gastos do Supremo com a revelação, há poucas semanas, de que Joaquim Barbosa patrocinara a viagem de uma jornalista do Globo para a Costa Rica.
Ele estava garantindo, assim, uma cobertura muito mais publicitária que jornalística para sua passagem irrelevante editorialmente pela Costa Rica, para falar, sabe-se lá por que, num debate sobre liberdade de imprensa.
O Diário sugeriu que as grandes organizações investigassem, em nome do interesse público, os gastos do STF.
O Estadão acaba de trazer parte do pacote.
É uma parte expressiva, mas limitada às viagens. Por ela você pode imaginar o que emergirá quando o pacote de despesas com dinheiro do contribuinte for revelado.
O Supremo gastou 2,2 milhões de reais de recursos públicos no pagamento de passagens aéreas para os ministros da Corte e suas mulheres entre os anos de 2009 e 2012.
Segundo o levantamento do jornal, feito com dados oficiais do STF, o dinheiro foi gasto até  no período de férias no Judiciário, chamado de recesso forense.
O principal nome que surge nas mordomias é, naturalmente, Joaquim Barbosa.
De cara fica o seguinte: faleceu espetacularmente qualquer pretensão presidencial, tal o poder dos fatos.
Observemos as atitudes de Barbosa, segundo o Estadão.
“Ele utilizou passagens aéreas pagas pela Corte em períodos nos quais estava licenciado do tribunal.
Barbosa fez 19 viagens para quatro cidades nos anos de 2009 e 2010 em datas nas quais estava afastado de seus trabalhos na Corte.
O Estado solicitou dados sobre as passagens emitidas para os ministros em janeiro deste ano, com base na Lei de Acesso à Informação. A resposta enviada pela Corte omitiu as viagens de Barbosa, apesar de listar as realizadas por outros magistrados.
Somente neste mês de maio o tribunal publicou na internet dados sobre as passagens usadas pelo ministro.
Barbosa tirou licenças médicas em 2009 e 2010 em razão de problemas de saúde. Ele sofre de dores crônicas na coluna e se submete a diversos tratamentos.
As seguidas licenças de Barbosa mereceram críticas reservadas de colegas à época, a ponto de o então presidente da Corte, Cezar Peluso, cogitar a possibilidade de pedir uma perícia médica.
Essa intenção de Peluso foi uma das razões para o embate entre ambos em declarações à imprensa no fim de 2011.
A lista divulgada pelo Supremo mostra 19 viagens de Barbosa pagas pelo STF em três períodos nos quais estava licenciado. Em agosto de 2009, o ministro foi ao Rio e a Fortaleza. Em dezembro de 2009, foi ao Rio, a Salvador e a Fortaleza. Entre maio e junho de 2010, os deslocamentos pagos pela Corte foram para São Paulo e Rio.
O atual presidente do STF, assim como seus colegas, utilizou-se de passagens pagas pela Corte em períodos de recesso, quando os ministros estão de férias.
De 2009 a 2012, antes de assumir o comando do tribunal, foram registradas 27 viagens feitas por Barbosa durante o recesso tendo como destinos Rio, São Paulo, Fortaleza e Salvador.
Os dados divulgados mostram que o ministro também tem o hábito de usar passagens pagas com recursos públicos para passar finais de semana em sua residência, no Rio.”
Ao ler as mordomias do Supremo, você entende a sofreguidão com que Joaquim Barbosa e Luiz Fux batalharam por uma posição nele. Os ministros do Supremo vivem numa realidade paralela. Considere: além das passagens, os ministros recebem verba denominada diária 1 mil reais, quando se trata de viagens internacionais. Claro que as passagens são de 1.a classe. 
O papa viajou de Buenos Aires para o Vaticano de econômica, mas para nossos campeões da justiça sequer a executiva é suficiente.
Não bastasse isso, Barbosa, como presidente do STF, tem a prerrogativa de requisitar aeronaves da FAB em viagens oficiais.
O STF vem legislando em causa própria. Uma resolução de 2010, o Estadão revela, permite o pagamento de passagens aéreas – de primeira classe —  a dependentes de ministros em viagens internacionais. O contribuinte paga a conta quando “a presença do parente é “indispensável” para o evento de que o ministro participará. [ Pausa para risadas....]
A festa do Supremo com o dinheiro público levanta uma série de questões.
a) Por que administração nenhuma — de FHC a Dilma, para ficar nas mais recentes — verificou o que estava acontecendo e colocou ordem nas mamatas?
b) Por que a mídia demorou tanto a fazer o óbvio? A resposta aqui é relativamente fácil: pelas grotescas relações de camaradagem entre jornalistas e juízes do Supremo. Quantas vezes você viu Merval Pereira abraçado a Gilmar Mendes e Ayres Britto, para ficar num caso simbólico? Você acha que, consolidada a amizade, o jornalista vai investigar qualquer coisa?
Várias vezes o Diário lembrou a grande divisa de um dos maiores editores da história do jornalismo, Joseph Pulitzer: “Jornalista não tem amigo”.
Bem, é evidente que as mordomias não se limitam às viagens.
O Diário espera novos fatos.
E, modéstia à parte, se orgulha de ter contribuído para que se levantasse um tema de enorme interesse público quando a mídia se ocupava de louvar, como escreveu a Veja numa capa que vai para a antologia do mau jornalismo, “o menino pobre que mudou o Brasil”.

sábado, 18 de maio de 2013

Porque hoje é sábado: João Sebastião

Essas coisas sempre nos fazem lembrar que nem tudo está perdido...



Vocalconsort Berlin o.l.v. Daniel Reuss
BachDag i.s.m. de Organisatie Oude Muziek - Holanda - gravado em 29 de janeiro de 2012


J.S. Bach: Motet BWV 225 'Singet dem Herrn'



J.S. Bach: Motet BWV 229 'Komm, Jesu, komm'



J.S. Bach: Motet BWV 227 'Jesu, meine Freude'

Bunga-bunga é um evento formidável


pescado no SdRZ

A dançarina Karima El Mahroug, mais conhecida como "Ruby, a Ladra de Corações", afirmou em testemunho que as dançarinas das festas de Silvio Berlusconi, ex-primeiro-ministro italiano, se vestiam como freiras, enfermeiras, Barack Obama e Ronaldinho Gaúcho.
Ruby depôs no julgamento em que a ex-showgirl e conselheira regional Nicole Minetti, o caça-talentos Lele Mora e o âncora de televisão Emilio Fede respondem por induzir e auxiliar a prostituição.
Berlusconi, por sua vez, é julgado por supostamente pagar por sexo com Karima quando ela era menor de idade e utilizar seu poder como premiê para libertá-la quando foi presa por roubo.
O ex-primeiro-ministro italiano afirma nunca ter pago por sexo e nega qualquer irregularidade. Segundo ele, os juízes são politicamente motivados contra sua pessoa.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Quando morre um amor



por Elaine Tavares, em seu blog 

(os índios aqui gostamos muito dos escritos dessa blogueira)

Hoje de manhã, em meio a um grande turbilhão que envolve meu cotidiano, chega a notícia. Assim, de chofre, em três linhas: "O Paulo morreu ontem". Por um breve instante tudo em mim congela. A morte tem esse dom, de nos suspender, de nos capturar para um não-sei-onde. A morte é o nunca mais.

Paulo foi meu primeiro amor. Era o rei do colégio. Menino ainda e já era um gigante de 1,90m. Jogava no time de vôlei, num tempo em que a escola tinha profunda ligação com o esporte.  A turma do Colégio Estadual de São Borja, o CESB, era imbatível naqueles anos 70, porque lá estava ele, com suas cortadas infernais. Creio que todas as gurias o amavam, pois era uma espécie de herói da escola.

Eu, feiinha  minúscula e tímida, nunca tive qualquer chance. Como ele era o mais popular dos jogadores podia namorar quem quisesse, inclusive as garotas mais bonitas. Por isso, esse imenso amor que eu nutria por ele nunca se fez concreto. O típico "platônico", mirando desde longe, assistindo a todas as partidas, vibrando com suas vitórias. No final da tardes são-borjenses, obrigava minha irmã a passar comigo em frente ao Clube Comercial, só para olhar para ele, de longe, brilhando em meio aos amigos.

Mas, como é comum às meninas tímidas, eu segui pela vida adentro amando aquele guri. Fui embora de São Borja, viver outras vidas, em outros lugares, e ele seguia em mim. Só fui desligar da ideia de um dia me casar com ele quando já tinha 23 anos e a notícia de seu casamento me chegou, assim também, de chofre: "o Paulo casou com a Escobar". Só então, romanticamente, joguei todo aquele amor não vivido nas águas profundas do Rio São Francisco, em Pirapora (MG), num lindo ritual mágico, desses dos quais sou afeita. E o Paulo se foi, descendo a corredeira, sonho desfeito embalado pelas lágrimas.

E hoje, nesse maio de cores tão lindas, ele retorna, assim, de inopino, na notícia tão triste. Nunca mais. Morreu. Nunca soube o que foi feito dele, como viveu, que coisas amou, se teve filhos, se foi feliz. Tudo que restou de sua imensa presença foi uma fotografia amarelada que ao longo desses anos todos, volta e meia, eu olhava, com os olhos cheios de saudade. Saudade do não vivido, do que poderia ter sido.

Agora, o garoto do CESB se foi... Virou poeira cósmica, encantou. E, em mim, fica esse imenso vazio, uma tristeza imensa, pelo não sabido, pelo nunca mais...Um amor de menina, aquela que fui, de olhos graúdos e sonhos imensos...

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Holanda - Eike Batista da Europa




Matthew Lynn, El Economista  (tradução livre deste blog tupinambá)

Qual é o país da zona do euro que está mais endividado?... Os gregos esbanjadores, com as suas generosas pensões estatais?... Os cipriotas e os seus bancos repletos de dinheiro sujo russo?... Os espanhóis  na recessão e no desemprego?...  ou os irlandeses falidos?... Pois curiosamente são os holandeses!... sóbrios e responsáveis. A dívida dos consumidores nos Países Baixos atingiu 250% do rendimento disponível e é uma das mais altas do mundo. Em comparação, a Espanha nunca superou os 125%.

A Holanda é hoje um dos países mais endividados do mundo. Está mergulhada na recessão e demonstra poucos sinais de que possa sair dela. A crise do euro arrasta-se há três anos e até agora só tinha afetado os países periféricos da moeda única. A Holanda, no entanto, é um membro central tanto da UE quanto do euro. Se não puder sobreviver na zona euro, estará tudo acabado.

O país sempre foi um dos mais prósperos e estáveis de Europa, além de um dos maiores defensores da UE. Foi membro fundador da união e um dos partidários mais entusiastas do lançamento da moeda única. Com uma economia rica, orientada para as exportações e um grande número de multinacionais de sucesso, supunha-se que tinha tudo a ganhar com a criação da economia únificada que nascia com a introdução satisfatória do euro. Em vez disso, começou a trilhar um caminho tristemente conhecido. Está no mesmo caminho da Irlanda, da Grécia e Portugal, com a efêmera vantagem de que seu rastilho é um pouco mais longo antes de chegar ao barril de pólvora.

Bolha imobiliária

Os juros baixos, que antes de tudo respondem aos interesses da economia alemã, e a existência de muito capital barato criaram uma bolha imobiliária e a explosão da dívida. Desde o lançamento da moeda única até o pico do mercado, o preço da habitação na Holanda duplicou, convertendo-se num dos mercados mais sobreaquecidos do mundo. Agora explodiu estrondosamente. Os preços dos imóveis caem com a mesma velocidade que os da Flórida quando murchou o auge imobiliário americano.

Atualmente, os preços estão 16,6% mais baixos do que estavam no ponto mais alto da bolha de 2008, e a associação nacional de agentes imobiliários prevê outra queda de 7% este ano. A não os que  compraram  sua casa no século passado, agora a mesma valerá menos do que  se pagou e inclusive menos ainda do que se pediu emprestado por ela.

Por tudo isso, os holandeses afundam-se num mar de dívidas. A dívida doméstica está acima dos 250%, é maior ainda que a da Irlanda, e 2,5 vezes o nível da da Grécia. O governo já teve de salvar um banco e, com preços imobiliários em queda contínua, o mais provável é que o sigam muitos mais. Os bancos holandeses têm 650 mil milhões de euros pendentes num setor imobiliário que perde valor a toda a velocidade. Se há um fato demonstrado sobre os mercados financeiros é que quando os mercados imobiliários se afundam, o sistema financeiro não perde por esperar.

Profunda recessão

As agências de riscos (que não costumam ser as primeiras a estar a par dos últimos acontecimentos) já se começam a dar conta da encrenca. Em fevereiro, a Fitch rebaixou a qualificação estável da dívida holandesa, que continua com o seu triplo A, ainda que só por um fio. A agência culpou a queda dos preços da moradia, o aumento da dívida estatal e a estabilidade do sistema bancário (a mesma mistura tóxica de outros países da eurozona afetados pela crise).

A economia afundou-se na recessão. O desemprego aumenta e atinge niveis máximos em duas décadas. O total de desempregados duplicou em apenas dois anos, e em março a taxa de desemprego passou de 7,7% para 8,1% (uma taxa de aumento ainda mais rápida que a do Chipre). O FMI prevê que a economia vai encolher 0,5% em 2013, mas lembrem-se que esses prognósticos têm o mau costume de ser otimistas. O governo não cumpre os seus déficits orçamentais, apesar de ter imposto medidas severas de austeridade em outubro de 2012. Como outros países da eurozona, a Holanda parece encurralada num círculo vicioso de desemprego em alta e rendimentos fiscais em queda, o que conduz a ainda mais austeridade e a mais cortes e perda de emprego. Quando um país entra nessa roda, custa muito a sair dela (sobretudo dentro das fronteiras do euro).

Até agora, a Holanda tinha sido o grande aliado da Alemanha na imposição da austeridade por todo o continente, como resposta aos problemas da moeda. Agora que a recessão se agrava, o apoio holandês a uma receita sem fim de cortes e recessão (e inclusive ao euro) começará a esfumar-se.

Os colapsos da zona euro ocorreram sempre na periferia. Eram países vistos como marginais e os seus problemas eram apresentados como acidentes, não como prova das falhas sistêmicas da forma como a moeda foi estruturada. Os gregos gastavam muito e mal. Os irlandeses deixaram que o seu mercado imobiliário se descontrolasse. Os italianos sempre tiveram dívida pra lá de alta. Para os holandeses não há nenhuma desculpa: eles obedeceram a todas as regras.

Desde o início ficou claro que a crise do euro chegaria à sua fase terminal quando atingisse o centro. Muitos analistas supunham que seria a França, mas, ainda que França não esteja exatamente isenta de problemas (o desemprego cresce e o governo faz o que pode, retirando competitividade à economia), não deixa de continuar a ser um país rico. As suas dívidas serão altas mas não estão fora de controle nem começaram a ameaçar a estabilidade do sistema bancário. A Holanda já está nesse ponto.

Talvez se tenha de esperar mais m ano, talvez dois, mas a queda ganha ritmo e o sistema financeiro perde estabilidade a cada dia. A Holanda será o primeiro país central a estourar e isso significará crise adicional de peso para o euro.

Vejamos como isso termina!?!?...

Quando uma criança morre de fome ela é assassinada



por José Coutinho Júnior, na page do  MST

O sociólogo suíço Jean Ziegler, ex-relator especial para o Direito à Alimentação da Nações Unidas (ONU), denunciou que a fome é um dos principais problemas da humanidade, em um debate nessa segunda-feira (13/5) em São Paulo.

“O direito à alimentação é o direito fundamental mais brutalmente violado. A fome é o que mais mata no planeta. A cada ano, 70 milhões de pessoas morrem. Destas, 18 milhões morrem de fome. A cada 5 segundos, uma criança no mundo morre de fome”, disse Ziegler.

Na década de 1950, 60 milhões de pessoas passavam fome. Atualmente, mais de um bilhão. “O planeta nas condições atuais poderia alimentar 12 bilhões de pessoas, de acordo com estudo da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Não há escassez de alimentos. O problema da fome é o acesso à alimentação. Portanto, quando uma criança morre de fome ela é assassinada”.

Ziegler afirma que é a primeira vez que a humanidade tem condições efetivas de atender às necessidades básicas de todos. Depois do fim da Guerra Fria, mais especificamente em 1991, a produção capitalista aumentou muito, chegando a dobrar em 2002. Ao mesmo tempo, essa produção seguiu um processo de monopolização das riquezas. Hoje, 52,8% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial está nas mãos de empresas multinacionais.

A concentração da riqueza nas mãos de algumas empresas faz com que os capitalistas tenham uma grande força política. “O poder político dessas empresas foge ao controle social. 85% dos alimentos de base negociados no mundo são controlados por 10 empresas. Elas decidem cada dia quem vai morrer de fome e quem vai comer”, diz Ziegler.

O sociólogo relatou que essas empresas seguem blindadas pela tese neoliberal de que o mercado não deve ser regulado pelo Estado.

“Na Guatemala, 63% da terra está concentrada em 1,6% dos produtores. A primeira reivindicação que fiz, após a missão, foi a realização da Reforma Agrária no país. Fui rechaçado, pois uma intervenção no mercado não é possível. Não havia sequer um cadastro de terras lá: quando os latifundiários querem aumentar suas terras, mandam pistoleiros atacar a população maia que vive ao redor”.

Especulação

A especulação financeira dos alimentos nas bolsas de valores é um dos principais fatores para o crescimento dos preços da cesta básica nos últimos dois anos, dificultando o acesso aos alimentos e causando a fome. De acordo com o Banco Mundial, 1,2 bilhão de pessoas encontram-se em extrema pobreza hoje, vivendo com menos de um dólar por dia.

“Quando o preço do alimento explode, essas pessoas não podem comprar. Apesar da especulação ser algo legal, permitido pela lei, isso é um crime. Os especuladores deveriam ser julgados num tribunal internacional por crime contra a humanidade”, denuncia Ziegler.

A política de agrocombustíveis, que, além de utilizar terras que poderiam produzir comida, transforma alimentos em combustível, é mais um agravante. “É inadmissível usar terras para fazer combustível em vez de alimentos em um mundo onde a cada cinco segundo uma pessoa morre de fome”.

Política da fome

Ziegler afirma que não se pode naturalizar a fome, que é uma produção humana, criada pela sociedade desigual no capitalismo. Prova disso são as diversas políticas agrícolas praticadas tanto por empresas e subsidiadas por instituições nacionais e internacionais.

O dumping agrícola consiste em subsidiar alimentos importados em detrimento dos alimentos produzidos internamente. De acordo com Ziegler, os mercados africanos podem comprar alimentos vindos da Europa a 1/3 do preço dos produtos africanos. Os camponeses africanos, dessa forma, não conseguem produzir para se sustentar.

Ziegler denunciou o “roubo de terras”, que é o aluguel ou compra de terras em um país por fundos privados e bancos internacionais, que ocorreu com mais de 202 mil hectares de áreas férteis na África, com crédito do Banco Mundial e de instituições financeiras da África.

Os camponeses, por conta desse processo, são expulsos das terras para favelas. Esse processo tem se intensificado uma vez que os preços dos alimentos aumentam com a especulação imobiliária.

O Banco Mundial justifica o roubo de terras com o argumento de que a produtividade do camponês africano é baixa até mesmo em um ano normal, com poucos problemas (o que raramente acontece).

Um hectare gera no máximo 600 kg por ano, enquanto que na Inglaterra ou Canadá, um hectare gera uma tonelada. Para o Banco Mundial, é mais razoável dar essa terra a uma multinacional capaz de investir capital e tecnologia e tirar o camponês de lá.

“Essa não é a solução. É preciso dar os meios de produção ao camponês africano. A irrigação é pouca, não há adubo animal ou mineral nem crédito agrícola, e a dívida externa dos países impedem que eles invistam na agricultura”, defende Ziegler.

Soluções

Segundo Ziegler, a única forma de mudar as políticas que perpetuam a fome é por meio da mobilização e pressão popular.

“Temos que pressionar deputados e políticos para mudar a lei, impedindo que a especulação de alimentos continue. Devemos exigir dos ministros de finanças na assembleia do Fundo Monetário Internacional que votem pelo fim das dívidas externas. Temos que nos mobilizar para impedir o uso de agrocombustíveis e acabar com o dumping agrícola”.

Ziegler afirma que a luta contra a fome é urgente, pois quem se encontra nessas condições não pode esperar. “Essa mobilização coletiva pode pressionar democraticamente e massivamente, por medidas que acabem com a fome. A consciência solidária deve movimentar a sociedade civil. A única coisa que nos separa das vítimas da fome é que elas tiveram o azar de nascer onde se passa fome”.