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quinta-feira, 16 de maio de 2013

Holanda - Eike Batista da Europa




Matthew Lynn, El Economista  (tradução livre deste blog tupinambá)

Qual é o país da zona do euro que está mais endividado?... Os gregos esbanjadores, com as suas generosas pensões estatais?... Os cipriotas e os seus bancos repletos de dinheiro sujo russo?... Os espanhóis  na recessão e no desemprego?...  ou os irlandeses falidos?... Pois curiosamente são os holandeses!... sóbrios e responsáveis. A dívida dos consumidores nos Países Baixos atingiu 250% do rendimento disponível e é uma das mais altas do mundo. Em comparação, a Espanha nunca superou os 125%.

A Holanda é hoje um dos países mais endividados do mundo. Está mergulhada na recessão e demonstra poucos sinais de que possa sair dela. A crise do euro arrasta-se há três anos e até agora só tinha afetado os países periféricos da moeda única. A Holanda, no entanto, é um membro central tanto da UE quanto do euro. Se não puder sobreviver na zona euro, estará tudo acabado.

O país sempre foi um dos mais prósperos e estáveis de Europa, além de um dos maiores defensores da UE. Foi membro fundador da união e um dos partidários mais entusiastas do lançamento da moeda única. Com uma economia rica, orientada para as exportações e um grande número de multinacionais de sucesso, supunha-se que tinha tudo a ganhar com a criação da economia únificada que nascia com a introdução satisfatória do euro. Em vez disso, começou a trilhar um caminho tristemente conhecido. Está no mesmo caminho da Irlanda, da Grécia e Portugal, com a efêmera vantagem de que seu rastilho é um pouco mais longo antes de chegar ao barril de pólvora.

Bolha imobiliária

Os juros baixos, que antes de tudo respondem aos interesses da economia alemã, e a existência de muito capital barato criaram uma bolha imobiliária e a explosão da dívida. Desde o lançamento da moeda única até o pico do mercado, o preço da habitação na Holanda duplicou, convertendo-se num dos mercados mais sobreaquecidos do mundo. Agora explodiu estrondosamente. Os preços dos imóveis caem com a mesma velocidade que os da Flórida quando murchou o auge imobiliário americano.

Atualmente, os preços estão 16,6% mais baixos do que estavam no ponto mais alto da bolha de 2008, e a associação nacional de agentes imobiliários prevê outra queda de 7% este ano. A não os que  compraram  sua casa no século passado, agora a mesma valerá menos do que  se pagou e inclusive menos ainda do que se pediu emprestado por ela.

Por tudo isso, os holandeses afundam-se num mar de dívidas. A dívida doméstica está acima dos 250%, é maior ainda que a da Irlanda, e 2,5 vezes o nível da da Grécia. O governo já teve de salvar um banco e, com preços imobiliários em queda contínua, o mais provável é que o sigam muitos mais. Os bancos holandeses têm 650 mil milhões de euros pendentes num setor imobiliário que perde valor a toda a velocidade. Se há um fato demonstrado sobre os mercados financeiros é que quando os mercados imobiliários se afundam, o sistema financeiro não perde por esperar.

Profunda recessão

As agências de riscos (que não costumam ser as primeiras a estar a par dos últimos acontecimentos) já se começam a dar conta da encrenca. Em fevereiro, a Fitch rebaixou a qualificação estável da dívida holandesa, que continua com o seu triplo A, ainda que só por um fio. A agência culpou a queda dos preços da moradia, o aumento da dívida estatal e a estabilidade do sistema bancário (a mesma mistura tóxica de outros países da eurozona afetados pela crise).

A economia afundou-se na recessão. O desemprego aumenta e atinge niveis máximos em duas décadas. O total de desempregados duplicou em apenas dois anos, e em março a taxa de desemprego passou de 7,7% para 8,1% (uma taxa de aumento ainda mais rápida que a do Chipre). O FMI prevê que a economia vai encolher 0,5% em 2013, mas lembrem-se que esses prognósticos têm o mau costume de ser otimistas. O governo não cumpre os seus déficits orçamentais, apesar de ter imposto medidas severas de austeridade em outubro de 2012. Como outros países da eurozona, a Holanda parece encurralada num círculo vicioso de desemprego em alta e rendimentos fiscais em queda, o que conduz a ainda mais austeridade e a mais cortes e perda de emprego. Quando um país entra nessa roda, custa muito a sair dela (sobretudo dentro das fronteiras do euro).

Até agora, a Holanda tinha sido o grande aliado da Alemanha na imposição da austeridade por todo o continente, como resposta aos problemas da moeda. Agora que a recessão se agrava, o apoio holandês a uma receita sem fim de cortes e recessão (e inclusive ao euro) começará a esfumar-se.

Os colapsos da zona euro ocorreram sempre na periferia. Eram países vistos como marginais e os seus problemas eram apresentados como acidentes, não como prova das falhas sistêmicas da forma como a moeda foi estruturada. Os gregos gastavam muito e mal. Os irlandeses deixaram que o seu mercado imobiliário se descontrolasse. Os italianos sempre tiveram dívida pra lá de alta. Para os holandeses não há nenhuma desculpa: eles obedeceram a todas as regras.

Desde o início ficou claro que a crise do euro chegaria à sua fase terminal quando atingisse o centro. Muitos analistas supunham que seria a França, mas, ainda que França não esteja exatamente isenta de problemas (o desemprego cresce e o governo faz o que pode, retirando competitividade à economia), não deixa de continuar a ser um país rico. As suas dívidas serão altas mas não estão fora de controle nem começaram a ameaçar a estabilidade do sistema bancário. A Holanda já está nesse ponto.

Talvez se tenha de esperar mais m ano, talvez dois, mas a queda ganha ritmo e o sistema financeiro perde estabilidade a cada dia. A Holanda será o primeiro país central a estourar e isso significará crise adicional de peso para o euro.

Vejamos como isso termina!?!?...

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