Esse cara morreu (desastre de aviação, em setembro de 1973) antes ainda
que eu viesse a conhecer sua ótima produção musical.
* Este blog luta por uma sociedade mais igualitária e justa, pela democratização da informação, pela transparência no exercício do poder público e na defesa de questões sociais e ambientais.
* Aqui temos tolerância com a crítica, mas com o que não temos tolerância é com a mentira.
sábado, 30 de março de 2013
sexta-feira, 29 de março de 2013
Dom Quincas pisa na jaca de novo!...
por Helena Sthephanowitz, no Rede Brasil Atual
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, criticou os bancos, chamando-os de "lenientes" com a lavagem de dinheiro. Longe de mim defender os banqueiros, que em sua maioria, de fato não querem nem saber se o dinheiro é sujo ou limpo, querem é só lucrar. Mas a crítica está completamente fora de foco para quem é a autoridade máxima do poder Judiciário.
De nada adianta reclamar de bancos que seriam coniventes em casos de lavagem de dinheiro, se quem deve reprimir e dissuadir os crimes ficar empurrando a responsabilidade para os outros. Se os bancos são lenientes é porque o próprio Judiciário e o Ministério Público estão sendo lenientes com os bancos. Afinal, no que resultou a descoberta da "lavanderia" do Banestado? Meia dúzia de bagrinhos foram pegos, mas os tubarões escaparam impunes. E a "Privataria Tucana"? E o caso Alstom – de propina a tucanos paulistas –, que anda rápido nos tribunais europeus e a passos de tartaruga nos tribunais brasileiros? E a operação Satiagraha e a Castelo de Areia? Está nas mãos do STF julgar se as provas são válidas. Por que não coloca em julgamento e faz o processo andar?
E o "mensalão tucano" que tem até cheques e recibos bancários como prova nos autos? E a lista de Furnas, que também tem confissão de executivos de multinacional confirmando o esquema? Tudo isso não depende de bancos e sim do próprio Judiciário fazer os processos andarem.
Que culpa tem um gerente de banco se uma empresa, que ele não conhece, com CNPJ e Contrato Social na Junta Comercial, e se nada consta contra ela, abre uma conta de pessoa jurídica? Como um gerente de banco honesto iria adivinhar se aquela empresa é "laranja" de um bicheiro, como Carlinhos Cachoeira por exemplo, ou se exerce atividades legítimas quando movimenta a conta?
Cabe ao banco avisar ao Banco Central se notar movimentações fnanceiras suspeitas, como manda a lei, e todos os bancos fazem isso até de forma automática, informatizada. Já o Procurador Geral da República tinha a faca e o queijo na mão desde 2009, a partir da Operação Vegas da Polícia Federal para desbaratar a quadrilha do bicheiro, mas deixou a denúncia engavetada durante todo os anos de 2010 e 2011.
Quem foi "leniente" neste caso? O banco ou o procurador-geral?
O ministro Joaquim Barbosa falou também em ocultação de valores:
“Enquanto instituições financeiras não visualizarem a possibilidade de serem drasticamente punidas por servirem de meio para a ocultação da origem ilícita de valores que se encontram sob a sua responsabilidade, persistirá o estímulo à busca do lucro, visto como combustível ao controle leniente que os bancos fazem sobre a abertura de contas e sobre a transferência de valores", disse.
Daí chegamos a outro caso. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi pego em flagrante numa blitz de trânsito no escândalo do bafômetro, na madrugada de 17 de abril de 2011. O que seria apenas uma infração de trânsito ao se recusar a soprar o bafômetro (grave, uma vez que dirigir bêbado coloca vidas em risco), abriu uma caixa de pandora com fortíssimos indícios de ocultação de patrimônio e sonegação fiscal.
A partir da placa do veículo de luxo Land Rover multado, descobriu-se que a rádio Arco-Íris do tucano, tem uma inusitada frota de veículos de luxo. Um deles era o usado pelo senador na balada no Rio de Janeiro na madrugada do bafômetro, nada tendo a ver com veículo de trabalho de uma rádio em Belo Horizonte. Qualquer fiscal ou auditor principiante imediatamente identifica no fato o clássico método de sonegação fiscal, de jogar despesas pessoais em despesas da empresa, para diminuir o lucro em vez de pagar imposto de renda.
Além disso, há o claro indício da ocultação de patrimônio pessoal na empresa, a ponto de o tucano declarar não ter carro (ver tela do TSE na figura acima). Isso cria a obrigação do Procurador Geral investigar se não há algum tipo de lavagem de dinheiro por trás, tamanhas são as suspeitas geradas pelos próprio fatos.
Os deputados estaduais de Minas Gerais apresentaram representação pedindo investigação destes fatos ao procurador-geral da República há quase dois anos, e até hoje só tiveram resposta de que estava na gaveta, sem providências. E aguardam uma abertura de inquérito até hoje. Repetindo: há quase dois anos!
Enquanto isso, o IPVA, o seguro, a manutenção, talvez o financiamento, se houver, a depreciação da frota de luxo, tudo isso e sabe-se lá mais o quê continua sendo pago pelas contas bancárias da rádio, em vez de ser pago com a renda pessoal após as devidas alíquotas de impostos, como tem de fazer qualquer trabalhador ou empresário honesto.
Que culpa tem o banco disso? É o banco ou o procurador-geral que está sendo "leniente"?
quinta-feira, 28 de março de 2013
Lacaios da Bayer (e da Monsanto)
pescado no Em Pratos Limpos
A matéria abaixo trata de um sério assunto, mas como é usual por parte da mídia vendilhona, sem informar ao leitor em nenhum momento os motivos que ocasionaram a explosão populacional dessa lagarta. A expansão das lavouras transgênicas Bt, que são plantas inseticidas, está reduzindo fortemente a presença dos predadores naturais da Helicoverpa, até então uma praga secundária, mas que na ausência de seu inimigo natural vem se multiplicando e causando os estragos a que se refere o texto. A indústria da biotecnologia-agrotóxicos lucrou vendendo as sementes transgênicas e junto a promessa de redução do uso de agroquímicos; agora vai lucrar de novo com a venda de inseticidas para a “emergência fitossanitária”. De novo a pergunta, qual a responsabilidade dos que autorizaram esses cultivos no Brasil sabendo que esses danos era previsíveis?
Confira ai em baixo:
VALOR ECONÔMICO, 12/03/2013
Por Mariana Caetano e Tarso Veloso | De São Paulo e Brasília
Autoridades do governo federal discutiram ontem a possibilidade de ser decretada situação de emergência fitossanitária no país em virtude da proliferação da Helicoverpa, uma lagarta comum em lavouras de milho que passou a causar danos significativos em plantações de soja e algodão, com prejuízos estimados R$ 2 bilhões nas últimas duas safras no Brasil.
O secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Ênio Marques, foi à Casa Civil na tarde de ontem para explicar os detalhes do problema. Mais cedo, ele havia se reunido com representantes de produtores, que pediram uma intervenção rápida do governo na tentativa de impedir que a lagarta traga danos a mais Estados do país, além dos 11 já afetados.
“Estamos buscando uma solução a curto prazo para a safra de algodão que está em andamento e deve ser colhida entre 60 e 90 dias. Vamos tentar autorizar a importação de defensivos eficazes contra a lagarta”, disse Marques. Atualmente, não há inseticidas contra a Helicoverpa registrados no país, embora esses produtos já estejam disponíveis no exterior. Ainda nesta semana, o ministério vai discutir com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) a liberação da importação desses produtos.
Durante a reunião de ontem, o Ministério da Agricultura também decidiu criar um grupo de estudos, que incluirá especialistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). “O objetivo dessa equipe é traçar estratégias de combate à Helicoverpa em todo o país, para evitar que outros Estados paguem o mesmo preço que a Bahia”, disse Celito Breda, produtor do oeste bahiano que compareceu à reunião em nome da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa).
Na semana passada, já havia sido decretada situação de emergência fitossanitária na Bahia. O Estado é o que mais tem sofrido com a Helicoverpa, com prejuízos calculados em R$ 1 bilhão. Estima-se que os gastos com inseticidas nas lavouras do oeste da Bahia tenham dobrado por conta da Helicoverpa na atual safra 2012/13. Normalmente, o plantio de um hectare de soja na região custa por volta de US$ 100 por hectare, mas a praga fez esse montante avançar para US$ 200. No caso do algodão, os gastos passaram de US$ 400 para US$ 800 por hectare.
Anonymous 1
Do Anonymous Brasil
A verdade sobre Marco Feliciano
Ola, a partir deste momento iremos apresentar um dossier de uma maneira didática para qualquer um poder pesquisar nos registros públicos.
Primeiro gostaríamos de pedir que acesse este site para que vocês possam pesquisar o cnpj das empresas do senhor Marco Feliciano, para comprovar a existência das mesmas:
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Empresas do Pastor:
10256613000148
10532559000116
09612147000107
04865568000126
08954263000141
A GMF consórcios parece que não foi declarada à Justiça Eleitoral.
E o mesmo faz diversas propagandas dessa empresa em seu programa, de forma que influencie seus fieis a adquirir o consórcio.
Aqui temos a declaração dos bens dele, bem como de outros políticos:
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Aqui temos as Cotas para Exercício da Atividade Parlamentar, dele e de todos os deputados:
Escolha PASTOR MARCO FELICIANO
Ano/mês 12/2012 e anteriores
EX: 11/2012, clique em emissão de bilhetes aéreos, temos:
Entre essas passagens aparecem:
- Talma Bauer – Ex candidato a vereador de guarulhos. A suspeita é de que a Família Bauer patrocinou a campanha dele, agora é contratada e recebe salários e benefícios do deputado.
- Rafael Novaes é o advogado que defende a empresa do Pastor no processo de acusação de estelionato. Ao aceitar a contratação para um show no RS e não comparecer.
Aqui está o Processo:http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoDetalhe.asp?incidente=4084444
-Roberto Marinho é cantor gospel, participa dos “Shows” por todo o Brasil junto com o Pastor. Bem como da Gravação de CDs, DVDs. Encontrado facilmente no site do Pastor.
-Wagner Guerra é assessor do Pastor e também está sendo favorecido. Podemos ver como contratar o pastor aqui:
- Joelson Heber da Silva Tenório, também recebe salário e passagens. Presta assessoria religiosa no programa do pastor.
A Empresa FAVARO, como observamos em “consultoria” na cota, recebe verba do pastor, onde há também suspeita de funcionário fantasma Matheus Bauer Paparelli, neto de Talma Oliveira Bauer, que trabalha nessa empresa. Além da verba de consultoria, Matheus recebe salário mas a suspeita é que dele nem comparecer ao gabinete, ficando em guarulhos.
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Funcionários contratados pelo pastor (que são de seu programa de televisão) e o salário que recebem da câmara:
Nome Função no programa de TV Salário que recebe na Câmara
Wagner Guerra da Silva assessoria direta e imagens R$ 8.040
Talma de Oliveira Bauer assessoria política R$ 4.020
Roberto Figueira Marinho produção musical R$ 3.540
Joelson Heber da Silva Tenório assessoria religiosa R$ 3.005
Roseli Alves Octávio intercessão R$ 3.540
Wellington Josoé Faria de Oliveira direção de imagem, R$ 1.502
Onde pesquisar: Nome/mês/ano
Funcionário fantasma:
Marco Feliciano foi eleito para sua primeira legislatura em 2010. Sua campanha custou R$ 226,3 mil. Na lista de doações eleitorais, nove repasses foram feitos por integrantes da família Bauer, totalizando R$ 9 mil. Depois que o pastor ganhou a eleição, o policial civil de São Paulo Talma de Oliveira Bauer conseguiu o cargo de chefe de gabinete do parlamentar. Daniele Christina Bauer, parente do policial, ganhou emprego com salário de R$ 8.040.
A filha de Talma, Cinthia Bauer, também doou recursos para a campanha de Feliciano e, logo depois, trabalhou como assessora de imprensa do deputado. Fez viagens Brasil afora com passagens emitidas com a cota do gabinete. A proximidade do pastor com os integrantes da família Bauer é tamanha que, em agosto do ano passado, Feliciano gravou dentro das dependências da Câmara um vídeo em que pedia votos para Cinthia, então candidata a vereadora de Guarulhos. Assim como todo o material audiovisual do parlamentar, o trabalho teve produção da Wap TV.
Mas o caso mais grave é o de Matheus Bauer Paparelli, neto do chefe de gabinete de Feliciano. Ele é secretário parlamentar, contratado pela Câmara em novembro do ano passado, e recebe R$ 3.005,39 mensais. Mas o jovem formado em direito dá expediente a 1.170km do Congresso: ele é funcionário do escritório Fávaro e Oliveira Sociedade de Advogados. Ligamos para a firma e foi o próprio Matheus quem atendeu o telefonema. Questionado se ele também era funcionário do gabinete do pastor Marco Feliciano, ele disse que a ligação estava ruim e desligou. Depois, não atendeu mais as chamadas. O escritório Fávaro e Oliveira recebeu R$ 35 mil da Câmara entre setembro de 2011 e setembro de 2012, por meio de repasses da cota parlamentar de Marco Feliciano. Ao todo, o pastor gastou R$ 306,4 mil de sua cota em 2012, valor bem próximo do limite permitido pelas regras da Câmara para os parlamentares paulistas, que é de R$ 333,2 mil.
Com verba pública:
Confira alguns casos de funcionários lotados e de contratação de empresas pelo gabinete do deputado Marco Feliciano
» O advogado Rafael Novaes da Silva, contratado pelo gabinete da Câmara e pago com recursos públicos, defende a empresa Marco Feliciano Empreendimentos Culturais e Eventos, do próprio deputado, em um processo que tramita no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Ele assumiu a causa depois de ter tomado posse como funcionário do gabinete.
» O produtor de tevê Welington Josoé Faria de Oliveira é contratado da Câmara dos Deputados e recebe salário com recursos públicos. Mas trabalha como produtor de tevê dos programas pessoais do pastor Marco Feliciano, sob o codinome Well Wap.
» O advogado Anderson Pomini defendeu Marco Feliciano em um processo de impugnação contra a sua candidatura, antes das eleições. Depois de conseguir liberar o pastor para disputar o pleito, a empresa Pomini Advogados Associados recebeu R$ 21 mil em três repasses de R$ 7 mil, em fevereiro, março e abril de 2011, logo depois que Feliciano tomou posse.
» O policial civil e pastor Talma Bauer e sua família estão entre os que mais doaram recursos para a campanha do pastor Marco Feliciano. Depois da eleição, ele assumiu cargo no gabinete, assim como sua filha, Cinthia Brenand Bauer, que também doou recursos e depois foi nomeada como assessora. Há outras duas pessoas que são parentes de Talma Bauer contratadas pelo gabinete de Marco Feliciano.
» O deputado Marco Feliciano emprega cantores gospel que participaram da gravação dos seus CDs. Um deles, Roberto Marinho, afirma em sua página pessoal que a função dele como braço direito do pastor é acompanhá-lo “nas viagens de ministrações pelo Brasil e pelo mundo”.
» Matheus Bauer Paparelli, neto de Talma, é um funcionário fantasma do gabinete do deputado Marco Feliciano. Apesar de ser contratado pela Câmara com salário de R$ 3.005,39, ele dá expediente diariamente no escritório Fávaro e Oliveira Sociedade de Advogados, que fica em Guarulhos. A reportagem gravou uma conversa com ele, em que Matheus confirma que trabalha mesmo no escritório de advocacia. Essa empresa recebeu R$ 35 mil em recursos da Câmara dos Deputados entre setembro de 2011 e setembro de 2012.
E por ultimo mas não menos importante segue algumas palavras do senhor Marco Feliciano:
“Serei candidato a Deputado Federal por São Paulo porque tenho um compromisso, inicialmente, com o Senhor, para agir na administração pública com lisura e honestidade, sempre tendo como base os princípios bíblicos, pilares básicos de uma sociedade temente a Deus.”
“Vamos juntos lutar por um Brasil melhor, por uma Igreja forte, unida alcançando a função de transformar vidas. Precisamos de liberdade, de apoio constitucional e legal para levarmos o evangelho de forma genuína. Precisamos de legisladores que legislem com os princípios do Reino.
Serei um profeta no Congresso Nacional, pois coragem e temor a Deus não me faltam. Lembro que estarei político, mas sempre serei pastor, pois não existe ex-ungido. “
Com base nas próprias palavras do senhor Marco Feliciano podemos constar que o mesmo estas a querer transformar o Brasil em uma grande igreja, e FODA-SE o estado laico
quarta-feira, 27 de março de 2013
1ª postagem de um novo blog - Benjamin Button da Amazônia
por Ana Aranha, no Reportagem 3x4
Aos 12 anos, Benjamin* mora em um bordel, um dos muitos que fervem a noite de uma vila na Amazônia brasileira. Desde os cinco anos, quando sua mãe lhe deixou aos cuidados da tia cafetina, ele convive com cenas e sons da vida adulta. As mulheres de vestidos curtos, a cerveja em fartura e a música no último volume inebriam os clientes, que não notam o menino no fundo do bar, olhos colados na TV.
Na companhia de um papagaio e de um cachorrinho (desses bem miúdos), Benjamin devora qualquer pedaço de ficção que alcança pela TV aberta. Assim alimenta o desejo de conhecer lugares e viver experiências distantes da sua realidade. Como, por exemplo, ir ao cinema.
Magro, pele morena, olhos levemente puxados, como são no Norte do país. É um menino cheio de palavras. Conta da matéria que assistiu sobre um grupo de cinema itinerante na Amazônia: “Eu vi no jornal que eles vão de barco nas comunidades, passam as histórias das pessoas naquela tela bem grande. Será que um dia eles vêm aqui?”.
De todos os filmes que ele já assistiu na tela pequena, um mexeu com a sua imaginação de um jeito diferente. “Meu preferido é o Benjamin Button. Muito legal nascer velho e depois virar criança”. A saga interpretada por Brad Pitt no filme O Curioso Caso de Benjamin Button, baseado no livro de mesmo nome de F. Scott Fitzgerald, despertou a curiosidade de milhões de espectadores, atraídos pela fantasia da trajetória de vida invertida.
Mas, para o pequeno Benjamin, a ficção não é tão distante da realidade de sua infância. Ele também cresceu em uma casa habitada pelos temas da vida adulta, onde não havia muito espaço para ser criança. Entusiasmado, o menino conta como gostaria de entrar por inteiro na pele do personagem. Teria apenas uma adaptação: “queria crescer mais um pouco, até os 20 anos, para viajar o mundo. Depois virava criança”.
Pergunto por que ele gostaria de viver esse futuro invertido. Seria uma busca pelas brincadeiras e cuidados que nunca teve? Mas o sonho do menino também é adulto. “Queria voltar aos cinco anos pra ajudar minha mãe, pra ela não ter que ir embora”.
Quando a conversa envereda pela vida real, as palavras somem. Benjamin fica monossilábico. Sim, tem saudades. Não, não sabe onde ela está. Sua cabeça e ombros parecem pesados, miram o chão. A dor é tanta que não é mais possível fazer perguntas. Ele pede licença. Está cansado pois acordou às 6 da manhã para limpar o bar, pelo qual fica responsável até o meio dia, tempo do descanso da tia.
No momento em que ele se afasta, o fotógrafo Marcelo Min e eu ficamos paralisados por longos segundos. O que se pode fazer ao ouvir uma história assim?
Nosso encontro com Benjamin se deu no início do ano, quando colhíamos informações sobre a revolução no modo de vida daquela comunidade desde que, a poucos quilômetros dali, teve início uma das maiores obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Antes uma vila de pescadores, o lugar recebeu milhares de trabalhadores da construção civil. No horário de folga, e longe de suas cidades de origem, eles querem se divertir, extravasar a pressão do canteiro de obras. Como a cidade mais próxima fica a cerca de 100 km, a pequena vila explodiu.
Dezenas de bares e bordéis se multiplicaram pelas ruas de terra. Antes de anoitecer, a vila já está tomada pelo som do brega e alguns hits americanos, como Backstreet Boys e Whitney Houston. Sempre no volume máximo. Mulheres de várias origens dançam na frente dos bares. Há morenas, loiras, indígenas, colombianas. As donas dos bordeis ficam atrás do balcão. Elas cobram 20 reais por cada meia hora nos quartinhos dos fundos e obrigam as funcionárias a beberem para acompanhar os clientes. As garrafas de cerveja logo cobrem as mesas de plástico e, não demora, começam as brigas. É difícil uma noite sem histórias de murros e facadas.
Benjamin não é o único “menor de idade” circulando entre garrafas e micro-saias. Diversas crianças locais convivem com as mudanças. Algumas, fruto do novo mercado do sexo, nasceram dentro dos bordéis.
Depois de ouvir sua história, nos perguntamos qual seria o efeito da publicação dentro daquela reportagem. E se as autoridades resolvessem tomar providências? Tirá-lo do lugar onde ainda há esperança de reencontrar a mãe. Punir e afastá-lo das únicas pessoas com quem têm laços. E as outras crianças, dos bordéis vizinhos?
A decisão foi não publicar, não naquele contexto. Mas a história voltou comigo para casa e, de vez em quando, me fisgava a necessidade de contá-la. Lançar o retrato de Benjamin ao mundo, ou ao menos a quem queira conhecê-lo nos limites da tela do computador.
Por isso, ele é a estreia desse blog. Aqui pretendo contar as histórias de gente que vale uma reportagem inteira, um livro, um filme. Mas, por motivos que nos escapam, nem sempre ganham o mundo.
* Nome fictício
NOTA DOS ÍNDIOS DAQUI
Parabéns e vida longa!...
terça-feira, 26 de março de 2013
Bergoglio é um novo Corredor Polonês
A investidura do cardeal Jorge Bergoglio, como novo chefe da Igreja Católica, de alguma forma surpreendendo até os mais atentos analistas, pode ser interpretada através de paralelo histórico. A comparação possível remonta a 1978, quando os italianos perderam primazia sobre o Vaticano e o polonês Karol Wojtyla foi ungido como o papa João Paulo II.
Apresentava-se de forma bastante clara o objetivo das correntes hegemônicas no colégio de cardeais, alinhadas com a geopolítica ocidental da guerra fria. Para enfrentar o campo socialista e decepar a influência dos valores de esquerda sobre o próprio catolicismo, fez-se necessário um cavalo de pau. Foi preciso inovar na origem do sucessor de Pedro para reduzir resistências contra o novo discurso ultramontano.
A jogada tática revelou-se formidável para a consolidação do trio de ferro que lideraria a campanha pelo desmantelamento da União Soviética. Ao lado de Ronald Reagan e Margareth Thatcher, o papa polaco revigorou o reacionarismo clerical. Por sua nacionalidade, pôde operar no interior do território mais vulnerável e com maior população católica do mundo socialista. A partir dessa ofensiva, reuniu forças para dilacerar os grupos renovadores vinculados ao Concílio Vaticano II, particularmente os adeptos da Teologia da Libertação.
Os trinta e cinco anos de governo Wojtyla-Ratzinger, porém, levaram à exaustão determinada simbologia da direita católica, baseada na recuperação do caráter sagrado e aristocrático da igreja. O arsenal que fora útil para restaurar a hierarquia eclesiástica no período anterior, de batalha contra a dissidência teológica, acabou perdendo eficácia comparativa contra religiões de cunho mais popular, particularmente em países mais pobres.
A redução do número de fiéis e outros sinais de decadência provocaram fissuras e conflitos cada vez mais agudos na cúpula romana, dentro da qual se intensificaram tanto a disputa de opiniões quanto a guerra por mando e controle financeiro, para não falar de outras perversidades próprias do ambiente secreto e de impunidade que quase sempre vigorou no Vaticano.
Além do avanço evangélico em antigas fortalezas católicas, especialmente na América Latina, a igreja da região, devidamente domesticada por João Paulo II e Bento XVI, também passou a ver sua influência afrontada por nova onda de governos progressistas. Essas administrações, direta ou indiretamente, ademais de contrapor projetos terrenos de libertação ao espírito de compaixão passiva pelos pobres, ditado pelos últimos papas, abriram portas para temas laicos e modernizantes que apavoram fundamentalistas religiosos de distintas orientações.
Mudanças para legalizar casamento entre pessoas do mesmo sexo e o direito ao aborto, por exemplo, passaram a ocupar espaço relevante na agenda de nações do capitalismo periférico. Até mesmo o voto de castidade e outras regras corporativas voltaram ao debate, solapando uma silenciosa compreensão confessional do que seria o fim da história.
Nesse cenário de turbulências, apesar de visões antagônicas sobre vários assuntos, a esquerda e os evangélicos têm em comum certo apelo à simplicidade e ao diálogo com os desesperados. O conservadorismo católico que veste sapatos Prada e reassume hábitos medievais, na mão oposta, veio consolidando imagem de distância, opulência e arrogância.
A escolha do novo papa, portanto, naturalmente deveria acertar contas com essas variáveis, quais sejam: bloquear o crescimento dos pentecostais e barrar o avanço da esquerda na zona com a maior quantidade de católicos do planeta.
Entronizar um dos cardeais latino-americanos, nesta perspectiva, era opção previsível. Não apenas por nacionalidade, mas também para afastar a igreja do círculo putrefato no qual rondam seus líderes europeus e norte-americanos.
O axioma polonês foi útil na hora de decidir para qual país o pêndulo deveria se inclinar. A escolha pelo elo mais fraco parece nítida. A Argentina, diferentemente do Brasil, ainda é relativamente pouco afetada pela escalada evangélica e apresenta melhores condições para servir de plataforma às áreas hispânicas do subcontinente. Do ponto de vista político, entre todas as experiências latino-americanas, ali as forças progressistas enfrentam mais dificuldades e contradições, acossadas por uma classe média organizada e possante.
Por fim, entre os cardeais argentinos havia um homem que, como Wojtyla em seu momento, apresentava simultaneamente credenciais de conservadorismo e mudança. Há provas razoáveis que o cardeal Bergoglio, para além de posições reacionárias em direitos civis, comportou-se entre o silêncio obsequioso e a cumplicidade ativa perante a ditadura militar. Prestou-se, nos últimos tempos, ao papel de chefe moral da oposição direitista contra os Kirchners, de acordo com o próprio Departamento de Estado norte-americano. Mas seus hábitos são, ao menos aparentemente, os de um pastor humilde e próximo da gente comum, uma ruptura com o modelo púrpura de Roma.
A imagem do papa buono, que abriu a João XXIII o caminho para as reformas dos anos 60, agora é resgatada, em operação midiática de rara envergadura, para popularizar um príncipe da contra-reforma e reescrever sua contraditória biografia. Um conservador jesuíta que, como seus antepassados de ordem, foi escalado para dobrar a América Latina através do verbo e da catequese, abandonando o verticalismo doutrinário e oligárquico tão a gosto da Opus Dei e da igreja saxônica.
Essa alteração de método e perfil tem sido recebida por alguns setores como prenúncio de uma época de abertura no catolicismo. Não faltou quem classificasse de verdadeira encíclica o batismo de Bergoglio como o primeiro Francisco. Pode até ser, pois de onde nada se espera tudo pode vir, inclusive nada. Mas não foi a própria bíblia a alertar contra os lobos em pele de cordeiro?
segunda-feira, 25 de março de 2013
De volta ao Humanismo
Por Zuleica Jorgensen, comentando no blog do Nassif
O novo, a meu ver, só poderá nascer de uma educação humanista, voltada principalmente para valores como solidariedade, respeito ao outro, respeito às diferenças e ao valor do coletivo. A educação que temos hoje, voltada para o sucesso individual, para passar nos vestibulares e enems, sem dar aos alunos a perspectiva da necessidade do coletivo, de construção conjunta de um país, só poderá levar à frustração.
Grandes nações no mundo vivem hoje um progresso científico e tecnológico fantásticos, convivendo com uma pobreza humanística assustadora, um egoísmo em níveis de tal maneira elevados, que praticamente inviabilizam a vida em sociedade. A ganância dos donos de grupos financeiros transcontinentais, as políticas de austeridade e arrocho e de permanente salvamento de bancos em detrimento da vida de milhões de seres humanos, nos levam hoje ao patamar de maior desenvolvimento científico com a maioria dos indivíduos alijados dos bens da vida que advêm desse desenvolvimento.
A mudança de direção, com a colocação do homem como beneficiário maior dos bens que o planeta põe à nossa disposição, não virá através de um insight planetário, mas de uma escola que altere totalmente seus padrões atuais de mera reprodução do que sempre foi. É de pequeno que se torce o pepino, diz o ditado popular. Só uma nova escola, com nova atuação e a partir de novos valores poderá alcançar objetivos diferentes. Esse, a meu ver o único caminho sustentável (ô palavrinha!!!) para uma vida melhor do homem, no futuro.
Esse é o grande desafio.
A volta da vacilona biônica ...
por Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo
Danuza (Hexenbiest?...) mais uma vez... vacilou!...
Não havia um editor na Folha para conversar com ela antes que o texto sobre as empregadas domésticas fosse publicado?...
Em certo momento, ela fala que não existe país com direitos trabalhistas iguais aos do Brasil. Ora, onde ela foi arrumar uma informação tão descabida?
Os direitos trabalhistas brasileiros, comparados aos da Escandinávia, por exemplo, são primitivos. Na Noruega, as mulheres têm um ano de licença maternidade, e os pais têm dez semanas de folga remunerada para ajudar a cuidar dos bebês.
Na Suécia, creches governamentais que parecem hotéis cuidam durante a noite de crianças cujas mãe tenham trabalho noturno.
E a economia escandinava é florescente. Mídia nenhuma se atreve lá a fazer campanhas contra o “Custo Escandinávia”.
Mas o pior do artigo de Danusa não está na informação errada, e sim na lógica tortuosa.
Se a seguíssemos, os trabalhadores teriam jornadas de sete dias por semanas e de 16 horas, como foi nos primórdios da era industrial.
Não haveria férias, não haveria aposentadoria, e as crianças de famílias pobres iriam direto não para a escola mas para o trabalho.
Foi a Alemanha de Bismarck, na segunda metade do século 19, que criou proteção aos trabalhadores. Não por espírito filantrópico, mas porque havia uma intensa pressão dos sindicatos dos trabalhadores, e também porque o governo temia uma revolução de esquerda.
Mais direitos para as empregadas domésticas é uma excelente notícia para elas e para a sociedade.
Quem não puder pagar vai aprender a cuidar das próprias coisas, e encontrará saídas alternativas. Em Londres, o recurso às cleaners, diaristas, é um fato da vida da classe média.
Você acerta com uma cleaner uma ou duas visitas por semana de duas ou três horas cada, e paga cerca de 35 reais a hora.
Fora disso, você mesmo lava a roupa, passa o aspirador e faz a louça. Há máquinas boas e baratas.
As inglesas que no passado já remoto trabalhavam como domésticas têm hoje ocupações mais sofisticadas e mais bem pagas. Ninguém ficou ao relento, como parece temer Danusa.
Assim como, na Alemanha bismarquiana, a indústria não se destruiu – longe disso, como se vê hoje – porque os trabalhadores conquistaram direitos.
Já é mais que hora de a classe média brasileira lavar a própria roupa suja.
domingo, 24 de março de 2013
Panair - esperando Godot
Akemi Nitahara
Audiência pública organizada pela Comissão Nacional da Verdade (CNV) discutiu hoje (23/03/2013) o caso da companhia aérea Panair do Brasil. A empresa perdeu a licença para voar em 10 de fevereiro de 1965 e foi extinta pelo regime militar, sendo reabilitada em 1995.
O atual presidente da Panair, Rodolfo da Rocha Miranda, filho de Celso da Rocha Miranda, um dos sócios da empresa na época do fechamento, diz que somente após a criação da CNV e da Lei de Acesso à Informação foi possível conhecer documentos, antes considerados sigilosos, que comprovam a suspeita que se tinha sobre a perseguição política e financeira.
“Essa documentação provou o que se intuía, o que se comentava veladamente: Celso da Rocha Miranda e Mario Wallace Simonsen sofreram perseguição por parte do regime militar por serem identificados com os governos de Juscelino Kubitschek e João Goulart. Eram documentos secretos, todos acusatórios de Celso da Rocha Miranda, que posteriormente instruíram a Comissão Geral de Investigação do Rio de Janeiro, do Ministério da Justiça, num processo aberto em 1969, visando o enquadramento de Celso da Rocha Miranda no crime de enriquecimento ilícito”.
O jornalista e escritor Daniel Leb Sasaki, autor do livro Pouso Forçado, sobre a história da Panair, lembra que a empresa era a maior companhia aérea do Brasil na época, concessionária da maior parte dos voos internacionais e uma rede nacional muito grande, além de ter uma estrutura em terra que nenhuma companhia alcançou até hoje, com aeroportos e uma área de telecomunicações aeronáuticas privada.
De acordo com ele, a Panair recebeu por telegrama a notícia de que não podia mais voar e imediatamente foi paralisada, sem aviso prévio ou direito de defesa.
“O governo militar pressionou para que fosse decretada a falência. Uma falência em que não havia credores pedindo, não havia dívidas vencidas, todos os funcionários estavam em dia, a empresa tentou durante esses quase 50 anos se proteger juridicamente, pagou todos os credores, pagou até mais do que devia pagar, tem dinheiro até hoje, só que o governo militar publicou decretos modificando a legislação para que impedisse a reabilitação da empresa, porque ela não tinha porque não operar”.
A coordenadora do Grupo de Trabalho sobre o golpe de 1964 da CNV, Rosa Cardoso, explica que a audiência sobre a Panair inaugura a linha de investigação sobre a perseguição a empresas e empresários feita pelo regime militar.
“É muito valioso nós recordarmos porque mostra a extensão das violações de direitos à vida durante a ditadura. Violações que não se caracterizaram somente com assassinatos, sequestros, desaparecimentos forçados, tortura, mas também uma ação contra empresas e empresários que anteriormente haviam apoiado governos como o de Juscelino Kubistchek, como é o caso da Panair, e também João Goulart”.
De acordo com ela, vão ser chamados para uma reunião empresários e empresas que se sentiram perseguidos para montar os casos e iniciar as pesquisas no Arquivo Nacional e em outros acervos. Por enquanto, a comissão não tem nenhum outro caso concreto.
O coordenador da CNV, Paulo Sérgio Pinheiro, afirma que a comissão trabalha com duas linhas de pesquisa sobre as pessoas jurídicas na época da ditadura, que se complementam, para compreender que interesses sustentaram a perseguição a certas empresas e empresários e quem se beneficiou dessas práticas ilegais.
“Uma investiga as empresas e empresários que deram suporte material ao regime, financiando equipes de repressão, tortura, assassinatos, desaparecimentos em vários estados, tendo sido beneficiados. E uma outra linha sobre empresas e empresários que sofreram perseguições, intervenções do regime, como é o caso da Panair. Os motivos da perseguição podiam variar desde um possível alinhamento ideológico de esquerda até uma recusa em colaborar materialmente com o regime ditatorial. Tudo isso precisa ser trazido à luz pela Comissão Nacional da Verdade”.
Ressaltando a importância de se entender melhor a história do país, Pinheiro terminou sua exposição citando Milton Nascimento e Fernando Brant: “descobri que a minha arma é o que a memória guarda dos tempos da Panair”.
Amanhã (24), integrantes da CNC participam do ato público pelo Dia Internacional pelo Direito à Verdade sobre Graves Violações de Direitos Humanos, às 16h na Praça São Salvador, em Laranjeiras, na zona sul.
As viagens de um Molusco
por Hugo Carvalho, no blog do Nassif
Um ex-presidente brasileiro está rodando o mundo, em viagens patrocinadas por empresas e corporações que cresceram e ganharam muito dinheiro em seu período de governo. Nestas viagens, a presença do ex-presidente ajuda as empresas patrocinadoras a captar investimentos e ganhar mercados.
As empresas amigas também patrocinam palestras deste líder político no Brasil e contribuem com fundos milionários para o Instituto que leva seu nome e destina-se a preservar sua memória.
Se este ex-presidente se chamasse Luiz Inácio, suas atividades no exterior seriam manchete da Folha de S. Paulo, colocando-o sob suspeita de atuar como lobista de empresas sujas.
Mas estamos falando de Fernando Henrique Cardoso, que também viaja fazendo palestras, a convite de empresas, ONGs e instituições diversas. A diferença mais notável entre eles (há muitas outras) é que FHC vai lá fora para falar mal do Brasil.
Nas asas do Itaú, seu patrocinador master, Fernando Henrique esteve no Paraguai em 2010 , no dia em que o banco inaugurou a operação para tomar o mercado no país vizinho.
O Itaú também o levou a Doha e aos Emirados Árabes ano passado, como informou a imprensa financeira, com a intenção de morder parte dos 100 milhões de dólares que o Barwa Bank tem para investir no mercado imobiliário brasileiro.
Itaú Unibanco and Fernando Henrique Cardoso visiting Qatar and the UAE
A Folha estava lá (mas não diz quem pagou a viagem da colunista Maria Cristina Frias) “FHC vai ao Oriente Médio com Itaú para atrair investimento”, ela escreveu. Zero de suspeição ou malícia. O jornal não se preocupou em saber se a embaixada brasileira alugou impressoras para apoiar o ex-presidente em sua missão, mas registrou direitinho o que ele disse lá sobre o governo brasileiro atual: Corrupção cresceu em relação a meu governo, diz FHC. Com esse papo, o ex deve ter atraído investimentos para o Chile.
FHC também falou mal do Brasil quando foi à China, em maio passado, de novo pelas asas do Itaú (nem parece que é um banco, deve ser uma agência de viagens). Reclamou do ajuste do câmbio, da falta de planejamento, e fez o comercial do patrocinador: “Baixar a taxa de juros (no Brasil) é importante, mas tem que olhar as consequências”, ele disse aos chineses. O Estadão resumiu no título a visão de Brasil que FH passou em Pequim: “Não se pode crescer a qualquer a custo, diz FHC”.
Em novembro do ano passado, a casa americana JP Morgan pagou FHC para falar do Brasil sem sair de casa: “O Brasil está pagando o preço por não ter dado continuidade aos avanços implementados”, ele disse, numa palestra para investidores estrangeiros em São Paulo.
Na edição deste sábado, a Folha sugere ao Ministério Público que promova uma ação para alguém devolver “gastos indevidos” com horas extras de motoristas e deslocamento de funcionários, nas embaixadas por onde Lula passou. Mas não se comove com o fato de a estatal paulista Sabesp ter pingado R$ 500 mil na caixinha do Instituto FHC (ah se fosse o Visanet...).
Fernando Henrique ainda era presidente da República, em 2002, quando chamou ao Palácio da Alvorada os donos de meia dúzia empresas para alavancar o instituto que ainda ia criar: Odebrecht, Camargo Corrêa, Bradesco, Itaú, CSN, Klabin e Suzano. A elas se juntaria a Ambev. Juntas, pingaram 7 milhões no chapéu de FH. Mas foi o Tesouro que pagou o jantar, descrito em detalhes nesta reportagem da revista Época.
Todos à mesa eram gratos à FHC pelo Plano Real e não se duvide de que alguns tenham coçado o bolso por idealismo. Mas se a Folha utilizasse o mesmo relho com que trata Lula, teria registrado que os Itaú e Bradesco eram gratos pela maior taxa de juros do mundo; a Ambev deve seu monopólio ao CADE dos tucanos; a CSN é a primogênita da privataria e quase todos ali deviam algum ao BNDES.
FHC e seu instituto prosperaram. No primeiro ano como ex-presidente ele faturou R$ 3 milhões em palestras (“o critério é cobrar metade do que cobra o Bill Clinton”, explicou, modestamente, um assessor de FHC). A primeira palestra, de US$ 150 mil de cachê, que serviu de parâmetro para as demais, foi bancada pela Ambev. O IFHC já tinha R$ 15 milhões em caixa e planejava gastar o dobro disso nas instalações.
O IFHC abriga o projeto Memória das Telecomunicações (esqueçam o que ele escreveu, mas não o que ele privatizou), patrocinado naturalmente pela Telefónica de Espanha.
Todas as empresas citadas neste relato são anunciantes da Folha de S. Paulo e estão acima de qualquer suspeita enquanto anunciantes. Apodrecem, aos olhos do jornal, quando se aproximam de Lula.
Eis aí o segundo recado da série de manchetes: afastem-se dele os homens de bem. O primeiro recado, está claro, é: mãos ao alto, Lula!
A Folha também se considera acima de qualquer suspeita. Só não consegue mais disfarçar o ódio pessoal que move sua campanha contra o ex-presidente Lula.
quinta-feira, 21 de março de 2013
FêNêMê - uma história muito bacana
por Jason Vogel, no Globo Economia (vejam só!?!?...)
Quando os caminhões FNM chegaram roncando grosso, foi uma comoção em Xerém. Entre velhinhos com os olhos cheios d’água e cinquentões relembrando a infância, juntou foi gente da vizinhança...
Os nove impecáveis Fenemês foram uma aparição mágica e inesperada na manhã de domingo. Vieram do Paraná e do interior de São Paulo numa peregrinação de volta ao ninho: a antiga Fábrica Nacional de Motores. Traziam um carregamento de memórias.
Os Fenemês pertencem a apaixonados pela marca, a primeira empresa a produzir veículos em larga escala no Brasil. Fazia tempo que os donos dos caminhões sonhavam visitar as históricas (e imensas) instalações da extinta estatal, hoje ocupadas pela fábrica de ônibus Ciferal-Marcopolo.
— Só conhecíamos a fábrica por fotos. Retornar às origens é reaquecer a história dos Fenemês e das pessoas que os faziam — diz o paranaense Miklos Stammer, capitão de cargueiros da Marinha mercante e caminhoneiro diletante.
Essa história começa em 1939, quando o Brasil foi lançado por Getúlio Vargas em um grande processo de industrialização. Nesse espírito, o então coronel Antônio Guedes Muniz propôs a construção de uma fábrica de motores aeronáuticos que atenderia à aviação militar e à nascente produção nacional de aviões civis.
Com o início da Segunda Guerra, Getúlio barganhou a construção da base aérea americana em Natal. Em troca, pôde comprar, a 1/3 do preço, máquinas para produzir os motores radiais Wright R-975.
A construção da Fábrica Nacional de Motores, em Xerém (distrito de Duque de Caxias, no pé da Serra de Petrópolis), correu durante a guerra. Eram enormes e modernas instalações, com direito a ar-condicionado central.
A ambição de Muniz — promovido a brigadeiro em 1942 — era transformar “açougueiros, sapateiros e empregados de balcão em operários de uma indústria de precisão”. Muitos trabalhadores vieram de escolas técnicas do Nordeste, especialmente do Piauí.
A ideia era criar uma fábrica que servisse como modelo para a industrialização do Brasil. A “Cidade dos Motores” seria auto-suficiente, com comércio, atendimento médico, lazer e vilas operárias. De parafusos e engrenagens até a comida, tudo deveria ser produzido em Xerém.
— Havia até criação de porcos e galinhas. Nossa alimentação vinha da área em torno da fábrica — lembra Jorge Camarão, de 80 anos, que entrou na FNM na década de 50.
Os primeiros caminhões
Getúlio foi deposto em 1945 e começou a luta entre estatistas e privatistas. Com os excedentes de guerra, os motores de avião já não eram necessários.
Para salvar a FNM, o Brigadeiro converteu as máquinas trazidas dos EUA para produzir geladeiras, bicicletas e tratores... Em 1947, a empresa teve ações vendidas na bolsa (mas o grosso das ações continuava nas mãos do Estado).
Só em 1949 é que Xerém encontrou seu rumo: graças a um acordo com a marca italiana Isotta Fraschini, a FNM foi a primeira empresa a fabricar caminhões no Brasil. A estreia foi com o D-7.300. Uns 200 caminhões deste tipo chegaram a ser feitos aqui, mas a Isotta quebrou e interrompeu o envio de peças. O jeito foi encontrar outro fornecedor de tecnologia: a estatal italiana Alfa Romeo. E foi com o modelo FNM D-9.500 que a linha de Xerém foi reativada em 1951, com as máquinas novamente adaptadas.
Em 1958, foi lançado o caminhão que se tornaria lendário em nossas estradas: era o D-11.000, com seu jeitão bruto e o som inconfundível do motor a diesel de seis cilindros.
Foi a época de ouro da FNM, então a maior produtora de caminhões pesados no Brasil, chegando a fazer 350 veículos por mês.
— Os chassis eram testados na Rio-Petrópolis — lembra Antonio Gualberto, o Toinho, que entrou em 1955 como contínuo e saiu como supervisor de usinagem, 33 anos depois.
A FNM era parte integrante da vida dos operários, não apenas um meio de subsistência. Até o cinema — Cine FNM — era tocado pela empresa.
Coisa rara nos anos 50, os trabalhadores eram premiados com participação nos lucros, o que estimulava a produção.
— Para quem não morava nas vilas, a fábrica oferecia condução para vários bairros — lembra Camarão.
A época de ouro
Em seu auge, a fábrica chegou a ter 7 mil funcionários. As instalações de Xerém foram ampliadas e os novos galpões, apelidados de Brasília. Os caminhões davam lucro quando a FNM decidiu se lançar na produção de um sedã de luxo, o FNM-2000 JK. Aos poucos, a empresa mergulhou no descontrole administrativo.
Com o golpe militar de 1964, começaram as perseguições ao movimento sindical e a empresa recebeu um interventor. Um relatório encomendado pelos novos donos do poder mostrava que a estatal poderia voltar a ser lucrativa. Mas não adiantou: em 1968, a FNM foi praticamente doada pelo Estado à italiana Alfa Romeo. O negócio foi feito por meio de contratos secretos. Chegou a ser montada uma CPI, mas o argumento do governo Costa e Silva foi que, com o Ato Institucional nº 4, não seria necessário abrir uma concorrência.
Assim, a única marca genuinamente nacional de caminhões e automóveis foi vendida aos estrangeiros.
Com a “doação” à Alfa Romeo, as casas da FNM foram repassadas ao Ministério da Fazenda, que começou a despejar os operários.
Da fábrica continuaram a sair carros, caminhões e chassis de ônibus. Veio um novo pesado: o FNM 180 e, depois, o luxuoso sedã Alfa Romeo 2300. A diferença é que os direitos dos trabalhadores foram paulatinamente reduzidos, como conta o livro “Estado-Patrão e a luta operária — o caso FNM” de José Ricardo Ramalho.
Em 1977, a fábrica foi vendida à Fiat — que continuou a fazer o caminhão 180 por mais três anos. Depois, transferiram as linhas para Minas Gerais. Só restava em Xerém a produção de peças sobressalentes.
— Uma tarde me chamaram e deram meia hora para eu voltar à oficina e despedir 80% da turma — conta Toinho. — Depois de 33 anos, saí para nunca mais voltar.
Hoje, a Ciferal
Fábrica fechada e a mão do estado acabou interferindo novamente. Desta vez, no primeiro governo de Leonel Brizola, que salvou da falência a fábrica de carrocerias de ônibus Ciferal, em Ramos.
Em 1992, a linha de produção da Ciferal foi transferida para as antigas instalações da FNM, então sem uso. Depois, a Ciferal foi adquirida pela gaúcha Marcopolo — o plano agora é fazer de Xerém o maior centro de produção de ônibus urbanos do mundo.
Toinho, que disse que nunca mais ia voltar, apareceu para acompanhar o evento do “retorno às origens” e visitar a linha de produção. Nos galpões, hoje são feitas carrocerias de alumínio para chassis que chegam de outras fábricas. Mas, por toda parte se respira história.
— Nessa salinha aqui eu comecei a trabalhar. Tiraram quatro paredes que separavam os galpões. De resto o corpo da fábrica continua como no tempo da FNM — sorri Toinho.
Colecionadores guardam carros e caminhões. Ex-empregados da FNM conservam ferramentas, máquinas e fotos. A cada dezembro eles se juntam para um almoço.
— No começo, juntávamos 370 colegas. Hoje é um custo reunir 150 pessoas. A turma está morrendo. Nosso sonho é criar um museu da FNM, para manter viva a história da pioneira — diz Camarão.
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