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sexta-feira, 28 de junho de 2013

O ultimo libelo de Teresa Urban (*)


foto AlexandreMazzo / Gazeta do Povo


(*) NOTAS E EXPLICAÇÕES DOS ÍNDIOS DAQUI


Texto maravilhoso, que corresponde ao que Ruth Bolognese recebeu de Teresa Urban, o derradeiro que esta ultima escreveu antes falecer 4ª feira à noite (26/06). É uma reflexão sobre os acontecimentos destes dias.

Eu lembro de ter conhecido Teresa Urban rapidamente numa conexão com a ONG curitibana Mater Natura talvez... mas não tenho certeza. Confesso que não conhecia sua magnifica trajetória, que se descreve rapidamente aqui e aqui onde há também um bom video em que discorre sobre agricultura familiar e consevação da água. Vou ficar mais atento a outros fatos e trabalhos dessa grande guerreira. 

Requiescat in Pax
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pescado no site de Fabio Campana


Ninguém mandou você perguntar

“Olá Ruth, estou sem falar há dez dias, não por perplexidade mas por ordens médicas. O silêncio, neste barulho todo, me obrigou a pensar mais do que agir e foi uma experiência muito nova para mim. Montar um quebra-cabeças destes é difícil, amiga, porque a primeira coisa que descobri é que nem mesmo falamos a mesma língua (hoje li em algum lugar que não tem tecla SAP para isso). Abrimos um fosso tão grande entre o que chamamos de povo brasileiro e as elites (governo, politicos, ricos, intelectuais, jornalistas, esquerdistas, nós) e agora estão em nossa frente, serpenteando pelas ruas das cidades, anunciando sua existência.”

“Bom, quanto tempo faz que a gente não se pergunta como as pessoas se sentem nas cidades massacrantes, nos ônibus entupidos, na falta de respeito de motoristas com pedestres, de motociclistas com motoristas, de professor com aluno, de aluno com professor, de jovem com velho, de velho com jovem, de meninos de rua com gente de bem, de trabalhadores endividados pelo consumo fácil, de falta de amor, de médicos gelados como pedra, de gente entediada, de tráfico, de meninos mortos na periferia, de prisões lotadas, de crimes impunes…longa lista.

Lembra, Ruth, como foi o êxodo rural dos anos 70? Perderam-se as raízes. as cidades viraram amontoados humanos de um nível crescente de hostilidade, mas a gente vai levando.

Vizinhos, comunidade, amigos, partido, Estado que protege os mais fracos??? bobajada, mano velho, vamos tocando, tem time de futebol. Tenho pensado muito em algumas palavras: pertencimento e desgarrados

Bem, deu no que deu, não somos um país, somos um monte de “eu”, cada um com seu cartaz, seu facebook e nada que os ligue. Pode ser que um monte de eu se sinta pertencendo a alguma coisa, assim junto na rua…A crise é de representatividade?... é, mas não tão simples que uma reforma partidária resolva.

Lembrei muito de uma cena antiga, quando contestávamos a instalação da Renault nos mananciais e alguém perguntou quem representava a empresa naquela discussão. E um velhinho sem dentes, paletó de mangas curta que não conseguiam esconder os rotos punhos da camisa, levantou o braço e disse: eu represento a Renault. Nunca esqueci disso porque não entendi qual a crença que levou aquele homenzinho a fazer isso (ninguém mandou, ele estava muito sozinho ali), mas acho que foi um momento de ousadia incrivel.
Dizer eu me represento é mais ousado ainda e muito mais perigoso, Ruth. Ninguém representa ninguém naquela multidão, talvez depois, na foto no facebook, troquem suas representatividades.

Chegamos a isso por negligência e prepotência e agora é um trabalho danado de grande voltar a pensar em coisas pequenas para fazer contato com os alienígenas. Quem sabe aquele dedinho do ET de Spilberg tocando o dedo do menino ajude…

Agora, o que é mesmo ruim nesta história é o que a brava imprensa brasileira fez: criou uma nova espécie, sem nenhum estudo, nehuma base científica, sem nenhuma pergunta: homo sapiens vandalus lamentavilis. Ruth,que vergonha tenho de ser jornalista. Quem são, afinal, aqueles meninos que não temem a polícia, que devolvem as bombas, que chutam tudo com fúria, que saem das lojas saqueadas com sacolas e somem na escuridão? Quem são, quantos são, onde vivem, de onde surgiram? São brasileiros ou só são brasileiros os que serpenteiam sem rumo?

São os dentes da fera, Ruth, só os dentes. O resto, a gente não conhece.
Enquanto continuarem dividindo o país entre manifestantes e vândalos ou, como ontem na OTV, uma repórter mais perdidinha dizia, protestantes e fanáticos, não vai dar para entender o que de fato acontece.

Outro pior é a legitimização e o aplauso à repressão policial.

Não sei se você viu, mas ontem havia uma galera na frente do Palácio Iguaçu (pra Curitiba, bastante gente, umas 10 mil pessoas?) quietos, sem nada que dizer, às vezes cantavam algo tipo “sou brasileiro com muito orgulho” exigiam caras e cartazes para a câmara de TV, andavam de um lado para o outro e só, só, só. Não sei porque estavam ali. Passaram reto pela Câmara, pela Prefeitura, estavam ao lado da Assembléia Legislativa mas pararam na frente do Palácio às escuras. Ninguém para falar, nem por eles nem para eles nem com eles. Foi uma cena muito surreal, que durou tempo, debaixco de chuva e frio.

De repente, do nada, o Palácio do Governo começa a vomitar uma enfurecida tropa de choque que sai jogando bomba, atirando bala de borracha sem mais. Joãozinho estava lá, Thiago estava lá, Dani, filha de Clovis, estava lá. E mais uma galera de meninos que só estavam lá. Pelo tanto de luz de celular, era pra mostrar depois no face. Só então, na correria do depois, que os dentes surgiram na escuridão e começaram a morder a propriedade, pública ou privada, não importava.

Bom, Rurh, quando vi aquilo – polícia, cachorros, cavalos, bombas e os meninos correndo em desespero, chutando e quebrando tudo -, depois de muito, mas muito tempo na minha vida marvada, chorei.”



Globosta pega com a boca na botija com seu "mensalão"



por Miguel do Rosário, em seu O Cafezinho



O Cafezinho acaba de ter acesso a uma investigação da Receita Federal sobre uma sonegação milionária da Rede Globo. Trata-se de um processo concluído em 2006, que resultou num auto de infração assinado pela Delegacia da Receita Federal referente à sonegação de R$ 183,14 milhões, em valores não atualizados. Somando juros e multa, já definidos pelo fisco, o valor que a Globo devia ao contribuinte brasileiro em 2006 sobe a R$ 615 milhões. Alguém calcule o quanto isso dá hoje.

A fraude da Globo se deu durante o governo Fernando Henrique Cardoso, numa operação tipicamente tucana, com uso de paraíso fiscal. A emissora disfarçou a compra dos direitos de transmissão dos jogos da Copa do Mundo de 2002 como investimentos em participação societária no exterior. O réu do processo é o cidadão José Roberto Marinho, CPF número 374.224.487-68, proprietário da empresa acusada de sonegação.

Esconder dólares na cueca é coisa de petista aloprado. Se não há provas para o mensalão petista, ou antes, se há provas que o dinheiro da Visanet foi licitamente usado em publicidade, o mensalão da Globo é generoso em documentos que provam sua existência. Mais especificamente, 12 documentos, todos mostrados ao fim do post. Uso o termo mensalão porque a Globo também cultiva seu lobby no congresso. Também usa dinheiro e influência para aprovar ou bloquear leis. O processo correu até o momento em segredo de justiça, já que, no Brasil, apenas documentos relativos a petistas são alvo de vazamento. Tudo que se relaciona à Globo, à Dantas, ao PSDB, permanece quase sempre sob sete chaves. Mesmo quando vem à tôna, a operação para abafar as investigações sempre é bem sucedida. Vide a inércia da Procuradoria em investigar a privataria tucana, e do STF em levar adiante o julgamento do mensalão “mineiro”.

Pedimos encarecidamente ao Ministério Publico, mais que nunca empoderado pelas manifestações de rua, que investigue a sonegação da Globo, exija o ressarcimento dos cofres públicos e peça a condenação dos responsáveis.

O sindicato nacional dos auditores fiscais estima que a sonegação no Brasil totaliza mais de R$ 400 bilhões. Deste total, as organizações Globo respondem por um percentual significativo.

A informação reforça a ideia de que o plebiscito que governo e congresso enviarão ao povo deve incluir a democratização da mídia. O Brasil não pode continuar refém de um monopólio que não contente em lesar o povo sonegando e manipulando informações, também o rouba na forma de crimes contra o fisco.


quinta-feira, 27 de junho de 2013

Manifestações - leitura de Mauro Santayana



Por Mauro Santayana, em seu blog

A situação criada com as numerosas manifestações, no Brasil, nas últimas semanas, não se resolverá com a reunião realizada ontem em Brasília, da Presidente Dilma Roussef, com governadores e prefeitos de todo o país - embora o encontro seja um importante passo para atender às reivindicações dos que foram às ruas.

Seria fácil enfrentar a questão, se as pessoas que vêm bloqueando avenidas e rodovias - levantando cartazes com todo o tipo de queixas - fossem apenas multidão bem intencionada de brasileiros, lutando por um país melhor.

A Polícia Civil de Minas Gerais já descobriu que bandidos mascarados, provavelmente pagos, recrutados em outros estados, têm percorrido o país no rastro dos jogos da Copa das Confederações, provocando as forças de segurança, a fim de estabelecer o caos.

Mensagens oriundas de outros países, em inglês, já foram identificadas na internet, como parte da estratégia que deu origem às manifestações.

É preciso separar o joio do trigo. Além do Movimento Passe Livre, com sua postulação clara e legítima, há cidadãos que ocupam as ruas, com suas famílias, para manifestar repúdio à PEC-37, que limita o poder do Ministério Público, ou para exigir melhoria na saúde e na educação.

E há outros que pedem a cabeça dos “políticos”, como se eles não tivessem sido legitimamente eleitos pelo voto dos brasileiros. Esses pregam a queda das instituições, atacam a polícia e depredam prédios públicos, provavelmente com o intuito de gerar material para os correspondentes e agências internacionais, e ajudar a desconstruir a imagem do país no exterior.

O aumento brusco do dólar, a queda nos investimentos internacionais, a diminuição do fluxo de turistas em eventos que estamos sediando, como a visita do Papa, a Copa e as Olimpíadas, não prejudicará só o Governo Federal, mas também as oposições, que governam alguns dos maiores estados e cidades do país, e dependem da economia para bem concluir os seus mandatos.

Os radicais antidemocráticos se infiltram, às centenas, no meio das manifestações e nas redes sociais, para pregar o ódio irrestrito à atividade política, aos partidos e aos homens públicos, e a queda das instituições republicanas. Eles não fazem distinção, posto que movidos pela estupidez, pelo ódio e pela ignorância, entre situação e oposição, entre esse ou aquele líder ou partido.

Eles apostam no caos que desejam. Querem ver o circo pegar fogo para, depois, se refestelarem com as cinzas. Não têm a menor preocupação com o futuro da Nação ou com o destino das pessoas a que incitam à violência agora. Agem como os grupos de assalto nazistas, ou os fascistas italianos, que atacavam a polícia e os partidos democráticos nas manifestações, para depois impor a ordem dos massacres, da tortura, dos campos de extermínio, dos assassinatos políticos, como o de Matteotti.

Acreditar que o que está ocorrendo hoje pode beneficiar a um ou ao outro lado do espectro político é ingenuidade. No meio do caminho, como mostra a História, pode surgir um aventureiro qualquer.


Conhecemos outros “salvadores da pátria” que atacavam os “políticos”, e trouxeram a corrupção, o sangue, o luto, a miséria e o retrocesso ao mundo.

O encontro de ontem entre a Chefe de Estado, membros de seu governo e os governadores dos Estados é o primeiro passo em busca de um pacto de união nacional em defesa do regime democrático, republicano e federativo. A presidente propôs consultar a população e a convocação de nova assembléia constituinte a fim de discutir, a fundo, a reforma política, que poderá, conforme as circunstâncias, alterar as estruturas do Estado, sem prejudicar a sua natureza democrática.

É, assim, um entendimento que extrapola a mera questão administrativa - de resposta às reivindicações dos cidadãos honestos que marcham pelas ruas - para atingir o cerne da questão, que é política. Há outras formas de ação da cidadania a fim de manifestar suas idéias e obter as mudanças. A proposta popular de emenda constitucional, como no caso da Ficha Limpa. Cem mil pessoas que participam de uma manifestação, podem levantar 500 mil assinaturas em uma semana, a fim de levar ao Congresso uma proposta legislativa.

Não é preciso brincar com fogo para melhorar o país.

Manifestações pacíficas... até o verão?...



impressões de meu amigo Henrique Fendrich, no Feicebúc


Percebi ontem uma coisa melancólica nos protestos em Brasília: ninguém mais sabe o que fazer. As passeatas, já bem desanimadas, não sabem mais que rumo tomar. Por fim, volta-se para o Congresso, onde todos ficam parados, ainda protestando, mas sem muita força sequer para as palavras de ordem. Por fim, alguém decide acabar com o marasmo e começa a tacar rojões na direção do PMs, que uma hora se cansam e retribuem com as suas próprias bombas.

Por vezes tive a impressão de que tudo isso havia virado um happenning, um evento bom pra encontrar pessoas, conversar, namorar. Vi crianças jogando bola em frente ao cordão de isolamento. Um nerd sentadão na grama usando seu notebook.

Uma moça quase foi linchada porque supostamente havia denunciado pessoas que estavam jogando bombas.

Muitas placas de trânsito derrubadas. E por toda a Esplanada toneladas de lixo, mas felizmente os garis não estão protestando.

Assim como os profetas que pregavam o fim do rock em 1955, eu diria que não dura até o próximo verão....

E se os gases de xisto forem só uma "bolha"?...



por Nafeez Mosaddeq Ahmed (*), no Le Monde Diplomatique

Energia barata versus poluição prolongada: nos EUA, o dilema da exploração de gás e petróleo de xisto não atormentou industriais nem o poder público. Em menos de uma década, essas novas reservas recolocaram o país no crescimento, doparam o emprego e restabeleceram a competitividade. Mas e se for apenas uma bolha?

Se crermos nas manchetes da imprensa norte-americana anunciando um boom econômico graças à “revolução” do gás e do petróleo de xisto, o país logo estará se banhando em ouro negro. O relatório de 2012, “Perspectivas energéticas mundiais”, da Agência Internacional de Energia (AIE), informa que, por volta de 2017, os Estados Unidos arrebatarão da Arábia Saudita o primeiro lugar na produção mundial de petróleo e conquistarão uma “quase autossuficiência” em matéria energética. Segundo a AIE, a alta programada na produção de hidrocarbonetos, que passaria de 84 milhões de barris/dia em 2011 para 97 milhões em 2035, proviria “inteiramente dos gases naturais líquidos e dos recursos não convencionais” – sobretudo o gás e o óleo de xisto –, ao passo que a produção convencional começaria a declinar a partir de... 2013.

Extraídos por fraturamento hidráulico (injeção, sob pressão, de uma mistura de água, areia e detergentes para fraturar a rocha e deixar sair o gás), graças à técnica da perfuração horizontal (que permite confinar os poços à camada geológica desejada), esses recursos só são obtidos ao preço de uma poluição maciça do ambiente. Entretanto, sua exploração nos Estados Unidos criou várias centenas de milhares de empregos, oferecendo a vantagem de uma energia abundante e barata. Conforme o relatório de 2013, “Perspectivas energéticas: um olhar para 2040”, publicado pelo grupo ExxonMobil, os norte-americanos se tornarão exportadores líquidos de hidrocarbonetos a partir de 2025 graças aos gases de xisto, num contexto de forte crescimento da demanda mundial do produto.

Mas e se a “revolução dos gases de xisto”, longe de robustecer uma economia mundial convalescente, inflar uma bolha especulativa prestes a explodir? A fragilidade da retomada, tanto quanto as experiências recentes, deveria convidar à prudência diante de tamanho entusiasmo. A economia espanhola, por exemplo, outrora tão próspera – quarta potência da zona do euro em 2008 –, está hoje em maus lençóis depois que a bolha imobiliária, à qual ela se agarrava cegamente, explodiu sem aviso prévio. A classe política não aprendeu muita coisa com a crise de 2008 e está a ponto de repetir os mesmos erros no campo das energias fósseis.

Em junho de 2011, uma pesquisa do New York Times já revelava algumas fissuras no arcabouço midiático-industrial do boom dos gases de xisto, atiçando assim as dúvidas alimentadas por diversos observadores – geólogos, advogados, analistas de mercado – quanto aos efeitos da publicidade das companhias petrolíferas, suspeitas de “superestimar deliberadamente, e mesmo ilegalmente, o rendimento de suas explorações e o volume de suas jazidas”.1 “A extração do gás do xisto existente no subsolo”, escreveu o jornal, “poderia se revelar menos fácil e mais cara do que afirmam as empresas, como se vê pelas centenas de e-mails e documentos trocados pelos industriais a esse respeito, além das análises dos dados recolhidos em milhares de poços.”

No início de 2012, dois consultores norte-americanos soaram o alarme na Petroleum Review, a principal revista britânica da indústria petrolífera. Incertos quanto à “confiabilidade e durabilidade das jazidas de gás de xisto norte-americanas”, eles observam que as previsões dos industriais coincidem com as novas regras da Security and Exchange Commission (SEC), o organismo federal de controle dos mercados financeiros. Adotadas em 2009, essas regras autorizam as empresas a calcular o volume de suas reservas como bem entendam, sem precisar da verificação de uma autoridade independente.2

Para os industriais, superestimar as jazidas de gás de xisto permite pôr em segundo plano os riscos associados à sua exploração. Ora, o fraturamento hidráulico não apenas tem efeitos prejudiciais sobre o meio ambiente como coloca um problema estritamente econômico, uma vez que gera uma produção de vida muito curta. Na revista Nature, um ex-consultor científico do governo britânico, David King, esclarece que o rendimento de um poço de gás de xisto diminui de 60% a 90% após seu primeiro ano de exploração.3

Uma queda tão significativa torna evidentemente ilusório qualquer objetivo de rentabilidade. Depois que um poço se esgota, os operadores devem escavar imediatamente outros para manter seu nível de produção e pagar suas dívidas. Sendo a conjuntura favorável, essa corrida pode iludir durante alguns anos. Foi assim que, combinada com uma atividade econômica decrescente, a produção dos poços de gás de xisto – frágil a longo prazo, vigorosa por algum tempo – provocou uma baixa espetacular dos preços do gás natural nos Estados Unidos: de US$ 7 ou 8 por milhão de BTU (British Thermal Unit) para menos de US$ 3 ao longo de 2012.

Os especialistas em aplicações financeiras não se deixam enganar. “A economia do fraturamento é destrutiva”, adverte o jornalista Wolf Richter na Business Insider.4 “A extração devora o capital a uma velocidade impressionante, deixando os exploradores sobre uma montanha de dívidas quando a produção cai. Para evitar que essa diminuição engula seus lucros, as companhias devem prosseguir bombeando, compensando poços esgotados com outros que se esgotarão amanhã. Cedo ou tarde esse esquema se choca com um muro, o muro da realidade.”

Arthur Berman, um geólogo que trabalhou para a Amoco e a British Petroleum, confessa-se surpreso com o ritmo “incrivelmente acelerado” do esgotamento das jazidas. E, dando como exemplo o sítio de Eagle Ford, no Texas – “É a mãe de todos os campos de óleo de xisto” –, revela que “a queda anual da produção ultrapassa os 42%”. Para garantir resultados estáveis, os exploradores terão de perfurar “quase mil poços suplementares, todos os anos, no mesmo sítio. Ou seja, uma despesa de US$ 10 bilhões a 12 bilhões por ano... Se somarmos tudo, isso equivale ao montante investido para salvar a indústria bancária em 2008. Onde arranjarão tanto dinheiro?”.5

A bolha do gás já produziu seus primeiros efeitos sobre algumas das maiores empresas petrolíferas do planeta. Em junho último, o diretor-presidente da Exxon, Rex Tillerson, queixou-se de que a queda dos preços do gás natural nos Estados Unidos era sem dúvida uma boa notícia para os consumidores, mas uma maldição para sua companhia, vítima da diminuição drástica dos lucros. Se, diante dos acionistas, a Exxon continuava fingindo que não perdera um centavo por causa do gás, Tillerson desfiou um discurso quase lacrimoso diante do Council on Foreign Relations (CFR), um dos fóruns mais influentes do país: “Logo, logo, perderemos até as calças. Não ganhamos mais dinheiro. As contas estão no vermelho”.6

Mais ou menos na mesma ocasião, a companhia de gás britânica BG Group se via às voltas com “uma depreciação de seus ativos referentes ao gás natural norte-americano da ordem de US$ 1,3 bilhão”, sinônimo de “queda sensível em seus lucros intermediários”.7Em 1º de novembro de 2012, depois que a empresa petrolífera Royal Dutch Shell amargou três trimestres de resultados medíocres, com uma perda acumulada de 24% em um ano, o serviço de informações da Dow Jones divulgou essa notícia funesta, alarmando-se com o “prejuízo” causado ao conjunto do setor de ações pela retração do gás de xisto.



Da panaceia ao pânico

A bolha não poupa sequer a Chesapeake Energy, que, no entanto, é a pioneira na corrida aos gases de xisto. Esmagada por dívidas, a empresa norte-americana precisou vender parte de seus ativos – campos e gasodutos a um valor total de US$ 6,9 bilhões – para honrar seus compromissos com os credores. “A empresa está indo um pouco mais devagar, muito embora seu CEO a tenha transformado num dos líderes da revolução dos gases de xisto”, deplorou o Washington Post.8

Como puderam cair tanto os heróis dessa “revolução”? O analista JohnDizard observou, no Financial Times de 6 de maio de 2012, que os produtores de gás de xisto haviam gasto quantias “duas, três, quatro ou mesmo cinco vezes superiores aos seus fundos próprios a fim de adquirir terras, escavar poços e levar a bom termo seus projetos”. Para financiar a corrida do ouro, foi necessário pedir emprestadas somas astronômicas “em condições complexas e exigentes”, lembrando que Wall Street não se afasta nunca de suas normas de conduta habituais. Segundo Dizard, a bolha do gás deveria, porém, continuar crescendo por causa da dependência dos Estados Unidos desse recurso economicamente explosivo. “Considerando-se o rendimento efêmero dos poços de gás de xisto, as perfurações devem prosseguir. Os preços acabarão por se ajustar a um nível elevado, e mesmo muito elevado, para cobrir não apenas dívidas antigas, mas também custos de produção realistas.”

Não se descarta, contudo, que diversas companhias petrolíferas de grande porte se vejam simultaneamente na iminência da ruína financeira. Caso essa hipótese se confirme, diz Berman, “assistiremos a duas ou três falências ou operações de compra de enorme repercussão; cada qual resgatará seus papéis, os capitais se evaporarão e teremos o pior dos cenários”.

Em suma, o argumento segundo o qual os gases de xisto protegeriam os Estados Unidos ou a humanidade contra o “pico do petróleo” – nível a partir do qual a combinação das pressões geológicas e econômicas tornará a extração do produto bruto insuportavelmente difícil e onerosa – não passa de um conto de fadas. Diversos relatórios científicos independentes, divulgados há pouco, confirmam que a “revolução” do gás não trará nenhum alívio nessa área.

Num estudo publicado pela revista Energy Police, a equipe de King chegou à conclusão de que a indústria petrolífera superestimou em um terço as reservas mundiais de energia fóssil. As jazidas ainda disponíveis não excederiam 850 bilhões de barris, enquanto as estimativas oficiais falam de mais ou menos 1,3 trilhão. Segundo os autores, “imensas quantidades de recursos fósseis permanecem nas profundezas da terra, mas o volume de petróleo explorável pelas tarifas que a economia mundial tem o costume de suportar é limitado, devendo além disso diminuir a curto prazo”.9

A despeito dos tesouros em gás arrancados do subsolo por fraturamento hidráulico, a diminuição das reservas existentes prossegue num ritmo estimado entre 4,5% e 6,7% por ano. King e seus colegas repelem, pois, categoricamente a ideia de que o boom dos gases de xisto poderá resolver a crise energética. Por sua vez, o analista financeiro Gail Tverberg lembra que a produção mundial de energias fósseis convencionais não aumentou depois de 2005. Essa estagnação, na qual ele vê uma das causas principais da crise de 2008 e 2009, anunciaria um declínio suscetível de agravar ainda mais a recessão atual – com ou sem gás de xisto.10 E não é tudo: numa pesquisa publicada em conjunto com o relatório da AIE, a New Economics Foundation (NEW) prevê que o pico do petróleo será alcançado em 2014 ou 2015, quando os gastos com a extração e o abastecimento “ultrapassarão o custo que as economias mundiais podem assumir sem causar danos irreparáveis às suas atividades”.11

Submergidos pela retórica publicitária dos lobistas da energia, esses trabalhos não chamaram a atenção da mídia nem dos políticos. É lamentável, pois podemos entender perfeitamente sua conclusão: longe de restaurar a prosperidade, os gases de xisto inflam uma bolha artificial que camufla temporariamente uma profunda instabilidade estrutural. Quando ela explodir, provocará uma crise de abastecimento e um aumento de preços que talvez afetem dolorosamente a economia mundial.





(*) Cientista político, é diretor do Institute for Policy Research and Development, Brighton, Reino Unido


Notas 

1 “Insiders sound an alarm amid a natural gas rush” [Especialistas soam um alarme em meio a uma corrida de gás natural], New York Times, 25 jun. 2011.
2 Ruud Weijermars e Crispian McCredie, “Inflating US shale gas reserves” [Inflando as reservas de gás de xisto dos EUA], Petroleum Review, Londres, jan. 2012.
3 David King e James Murray, “Climate policy: oil’s tipping point has passed” [Política climática: o ponto de inflexão do petróleo passou], Nature, Londres, n.481, 26 jan. 2012.
4 Wolf Richter, “Dirt cheap natural gas is tearing up the very industry that’s producing it” [Gás natural sujo e barato está destruindo a indústria que o produz], Business Insider, Portland, 5 jun. 2012.
5 “Shale gas will be the next bubble to pop. An interview with Arthur Berman” [O gás de xisto será a próxima bolha a estourar. Entrevista com Arthur Berman], 12 nov. 2012.
6 “Exxon: ‘losing our shirts’ on natural gas” [“Exxon: ‘perdendo as calças’ no gás natural”], Wall Street Journal, Nova York, 27 jun. 2012.
7 “US shale gas glut cuts BG Group profits” [O excesso de gás de xisto nos EUA reduz lucros do BG Group], The Financial Times, Londres, 26 jul. 2012.
8 “Debt-plagued Chesapeake energy to sell $6,9 billion worth of its holdings” [Pressionada pela dívida de energia, a Chesapeake vende US$ 6,9 bilhões de valor de suas participações], Washington Post, 13 set. 2012.
9 Nick A. Owen, Oliver R. Inderwildi e David A. King, “The status of conventional world oil reserves – hype or cause for concern?” [O estado das reservas de petróleo convencional do mundo – publicidade exagerada ou motivo de preocupação?], Energy Policy, Guildford, v.38, n.8, ago. 2010.
10 Gail E. Tverberg, “Oil supply limits and the continuing financial crisis” [Limites do abastecimento de petróleo e a continuação da crise financeira], Energy, Stanford, v.35, n.1, jan. 2012.
11 “The economics of oil dependence: a glass ceiling to recovery” [A economia da dependência do petróleo: um teto de vidro para a recuperação], New Economics Foundation, Londres, 2012.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

O próximo capitulo ainda não foi escrito



por Rodrigo Vianna, no Escrevinhador

A velocidade é assustadora e ao mesmo tempo fascinante. As “Rebeliões de Junho” – um dia talvez elas sejam chamadas assim – mudam de significado dia após dia. O que apenas reforça a tese de que o ganhador não está definido – de saída. A história se escreve agora nas ruas, mais do que nas redes ou nos gabinetes. E isso me faz lembrar o que dizia um velho professor marxista, com quem eu tinha até várias discordâncias: “os líderes políticos fazem muitos discursos, os intelectuais escrevem demais, mas a História se escreve mesmo é na ponta das baionetas” (Edgard Carone).

No Brasil de junho de 2013, não chegamos às baionetas. Mas a história se escreve com a sola dos sapatos de quem vai às passeatas. E com a inteligência de quem consegue ler rapidamente os movimentos que se alternam. Vejamos. As manifestações, de início, ganharam as grandes cidades brasileiras com uma pauta de “esquerda” muito específica: transporte mais barato. A direita ficou atônita? Jabores e Geraldos pareciam perdidos, e na dúvida saíram batendo (a PM paulista atuou de forma inacreditável na quinta, dia 13 de junho). Parte do petismo também se confundiu: quem são esses meninos provocadores? Sinal de esclerose dos velhos atores…

Em seguida, os conservadores mais inteligentes perceberam a janela de oportunidade: a rua podia colocar Dilma e o PT em xeque. E isso se fez. Na quinta (dia 20), a esquerda foi chutada da avenida Paulista, numa manifestação que deveria ser do MPL para comemorar a redução das tarifas. Mas o MPL perdera a tal hegemonia. A Globo havia encampado as manifestações – como “grande festa cívica”. Abaixo os partidos era o lema. E queria dizer, basicamente: “abaixo o PT”, e “abaixo a esquerda”. Parecia anunciar a vitória inexorável da direita.

Não. Movimentos sociais se articularam, sindicatos e partidos aprontaram o contra-ataque. E a maioria silenciosa já desconfiava de certa minoria que tentava botar fogo no país. Na sexta (21 de junho), o MPL ameaçou sair das ruas. Depois voltou atrás. Idas e vindas. Mervais e outros que tais também estavam confusos.

Na segunda (24) era Dilma que recuperava a iniciativa. Foi só há dois dias, mas parece há muito tempo! A presidenta “escutou o clamor das ruas” e, em vez de se sentir acuada, trucou: ok, vamos à Reforma Política. Escolheu a Constituinte, que foi logo contestada por uma direita apavorada com o destemor da presidenta.

Chegamos a 25 de junho. Dilma recua: deixemos Constituinte pra lá. Derrotada? Não. A bomba segue no colo dos peemedebistas que controlam o Congresso e nas mãos da oposição que agora teme as ruas: está certo, não há acerto para uma Constituinte, mas Plebiscito se fará – disse o governo. E assim abre-se a porta para a Reforma Política. Pauta do PT e da esquerda.

Quer dizer que os conservadores perderam? Também não. Muito cedo para dizer.

No Brasil, agosto (com Janio e Vargas) costuma ser “o mais cruel dos meses”. Mas junho, a partir de 2013, passa a ser o mais longo… Cinco dias parecem uma eternidade.

Quem vai definir a pauta da Reforma que se desenhará? O povo, num Plebiscito. Quais os pontos defendidos por PT, Dilma e boa parte do campo lulista? Financiamento público de campanha e voto em lista para o Legislativo (o que fortalece os partidos; e fortalece sobretudo o PT).

Mas quem disse que a pauta do PT vai ganhar no Plebiscito?

Uma coisa é o povão ter escolhido Lula e Dilma (2006 e 2010), mesmo sob intenso bombardeio da velha mídia. Outra coisa é aprovar uma Reforma que pode ser “carimbada” como “petista”.

Esperem para ver. Em 2 ou 3 dias, JN da Globo, comentaristas, colunistas, radialistas… a tropa midiática estará contra-atacando:

- “financiamento público é entregar dinheiro do povo pros políticos” (como se financiamento privado de campanha não fosse uma fonte de corrupção tremenda, a transformar mandatos em centros avançados de defesa de interesses privados – vimos bem na MP dos Portos);

- “voto em lista é cassar o direito do povo escolher seu representante, é abrir caminho pra ditadura dos partidos, ou seja, ditadura do PT, chavismo, etc e tal”.

2006 e 2010 mostraram que a pedra que bate no centro do lago (ali está a velha classe média “formadora de opinião”) não faz mais a onda chegar às margens (onde está o povão beneficiado pelos anos de lulismo). Isso garantiu vitórias de Lula e Dilma. Mas e o PT?

A Reforma Política, se for carimbada como “reforma do PT”, estará derrotada. Precisa ser a reforma do povão. Ampla, democrática.

A velha mídia, que Lula e Dilma evitaram confrontar, terá força para pautar a Reforma Politica? Talvez sim. Os dois pontos que o PT e aliados devem encampar estão na contramão da campanha fortíssima que – a partir da velha mídia – espraiou-se pelas redes sociais e pelas ruas, transformando os “políticos” em fonte de todo o mal durante as rebeliões de junho. Poder financeiro? Corruptores do sistema político? Isso não existe.

A despolitização dos últimos 10 anos torna difícil ganhar esse jogo. Claro que a massa trabalhadora ainda confia em Lula e Dilma. Mas os filhos da massa trabalhadora (jovens da tal Classe C), somados à velha classe média anti-trabalhista e anti-Estado, podem adotar a pauta pós-moderna e conservadora: voto distrital (“um deputado pertinho de você” – vejam que slogan fácil), candidatos avulsos sem partido (Joaquim Barbosa e outros aventureiros estão preparados para avançar no vácuo) e financiamento privado (afinal, o que vale é o esforço de cada um, viva a iniciativa privada!).

Dilma virou o jogo, provisoriamente. Mas a batalha será longa. Não adianta Dilma dizer que “basta trocar de canal”. O canal é um só: “abaixo os políticos”, “abaixo os partidos”, “viva a força do gigante que acordou”. Se essa pauta prosperar, o Plebiscito terá virado a favor da direita.

Como desfazer essa pauta? Com Política e disposição para enfrentamento. Dilma e Lula precisam acreditar: o tempo dos acertos de gabinete acabou. O arranjo lulista acabou. Nesse campo, é mais fácil o PMDB se acertar com a Globo, com o PSDB e o DEM para aprovar o voto distrital.

O arranjo lulista acabou, mas a Era Lula (goste ou não Serra) não está encerrada. A esquerda e o que sobrou de um PT combativo podem ganhar a batalha se entenderem que a história hoje se escreve na rua. Sem voluntarismo, sem arrogância.

Os tempos são outros. São tempos das “rebeliões de junho”. Um dia elas estarão nos livros de história. Por enquanto são história a se fazer.

Novel escolas da hipocrisia


de minha amiga Jana Jones Hasselmann, no feicebúc

Acho tão bonito essas vozes todas se tornando uníssonas em favor da "educação". Faz parecer que foram só os "governos" que "abandonaram" a escola pública. Faz parecer também que a classe média que agora se levanta a favor de uma "educação de qualidade", não tenha investido na educação particular de seus filhos, deixando o ônus pra quem não tem condições financeiras. Faz parecer ainda que os que não gozam de boa situação financeira e se se obrigam a deixar seus filhos na escola pública lutam por ela diuturnamente, participam da educação dos filhos e são contrários a educação ensejada pelas seguidas gestões na educação onde números maquiam a real formação das crianças. Minha formação é o magistério, como a maioria dos meus colegas que ainda estão em sala de aula. E a reclamação deles é recorrente: TODOS ajudaram a solapar a escola pública, por omissão. No espaço cotidiano, desde que os filhos passem de ano (e TODOS passam, salve raríssimas exceções) essa gente toda na rua (e nas redes sociais) está cagando pra educação de seus filhos ou pra educação dos filhos dos outros. O professor não sente só o descaso e/ou perseguição dos governos quando tenta melhorar a formação de seus alunos, antes fosse. Toda essa corja que agora se sensibiliza a favor da educação (no maior estilo Isadora Faber) é a mesma que desqualifica a luta diária dos professores, é a mesma a qual o professor tem que fazer B.O. dada a violência que sofre em sala de aula. Vão a merda, hipócritas. Se vcs não fossem coniventes com esse estado de coisas, não precisaria sair pras ruas ou compartilhar posts politicamente corretos nas redes sociais. Não coloque a culpa nos *governos e políticos* quando tu mesmo não assume seu lugar social como cidadão e transfere todas as responsabilidades aqueles que vc qualifica como *político*. Isto é, na cabeça dessa gente, os parlamentares são "políticos", a choldra não. A CF é muito clara, é dever do estado, da família e da sociedade zelar pela formação dos alunos e não existe NENHUM deles atento a isso.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

A revolução dos "sem-noção" [1]


por “Centelha” (*), comentarista de blog, pescado no da Raquel Nunes


“Confesso aqui, publicamente: os garotos dessas manifestações me irritam. Mas por quê?

Porque praticam desconhecimento ativo de algo muito real: na vida, nem tudo é possível! Simples assim.

Eles odeiam os políticos. Isso equivale a dizer que odeiam a vida real: como se fosse factível escapar da política, para qualquer enfrentamento prático, mínimo que seja, dos problemas objetivos de uma coletividade humana!

Odeiam os partidos, o Estado, o poder. Só que o atendimento a qualquer de suas reivindicações supõe a existência e o funcionamento exatamente daquilo que execram.

Admito que muito dessa rejeição à política provavelmente deriva:

a) da corrupção que o poder produz, inevitavelmente, mesmo em políticos bem intencionados - e estes, supondo que existam, talvez sejam, de saída, a minoria;
b) do envelhecimento das velhas modalidades de representação política, que exigem há tempos injeção de participação direta - é preciso renovar, reinventar a democracia, em tempos de novas tecnologias e formas de comunicação;
c) da desqualificação sistemática dos políticos e da política partidária brasileira pela nossa mídia, e pelos nossos candidatos a "déspota esclarecido";
d) da impermeabilidade dos partidos existentes à energia dos jovens.

Tudo isso é verdade. E pra sacudir tudo isso, a presença da moçada na rua é mais que positiva. Jovens participando da vida na pólis, por mais equivocados que sejam seus atos e omissões, estão sempre melhor que entregues ao individualismo e ao cinismo. Com erros, sempre se pode aprender. E com apatia? Nada!

Isso posto, por que essa garotada teria o monopólio do direito à crítica? Quem diz o que quer, ouve o que não quer. Volto então ao tema de partida: eles me incomodam, sim, com muitos de seus maneirismos.

É muito cômodo instalar-se na posição de credor universal, como eles fazem - "contra tudo o que está aí" - e exigir "tudo ao mesmo tempo agora", sem o mínimo compromisso ou responsabilidade com os meios de viabilizar suas exigências.

O que exatamente os manifestantes querem cortar, para obter as verbas capazes de subsidiar o transporte gratuito para todos? Querem tudo sem pagar coisa nenhuma; ora, assim é moleza! Ou coisa de playboy mimado?...

Políticas universalistas? Sim... mas como? Financiadas por uma carga tributária regressiva como a nossa, extraída de um PIB per capita aliás bastante baixo, se comparado ao de qualquer país europeu (mesmo Portugal, ou Grécia)?

Quantos dos jovens manifestantes, moradores de áreas nobres das cidades, aceitariam pagar um IPTU dobrado ou triplicado, para receber em troca transporte coletivo gratuito?

É muito fácil agrupar milhares de pessoas nas ruas, se não se exige delas qualquer coerência, consenso ou unanimidade. Comum a todos, só o pretexto de uma reivindicação, sincera ou encenada: redução nos preços das passagens dos ônibus. Digamos que sim; mas como? demitindo ou arrochando salários de trabalhadores? remanejando as verbas antes destinadas à educação e à saúde? fazendo algum milagre? Quantos manifestantes, repito, concordariam que fossem aumentados substantivamente os impostos dos mais abonados? Quando a Marta Suplicy aumentou impostos em Sumpaulo, ela foi carimbada de Martaxa! Então tá...

E quem delegou a esses manifestantes arrebanhados pelo MPL a procuração divina para determinar, em nome de toda a pólis, que o transporte gratuito é a prioridade a ser financiada por uma verba finita, aliás bastante escassa? Por que não a saúde, a educação, a moradia, a construção de metrôs ou VLTs?

Tudo o que eles criticam no poder instituído, repetem, sem perceber. São autoritários: quem afinal consultaram, para definir que a gratuidade dos transportes deve ter a primazia, dentre todas as urgentes carências que oprimem a população brasileira? Não consultaram ninguém; simplesmente conseguiram parar as cidades, gritar mais alto que os outros. Querem ganhar no grito. Os que querem outras coisas, que venham pra rua, e gritem também! É de quem gritar primeiro? é de quem gritar mais alto? é de quem parar a cidade por mais tempo? Também se podem resolver as divergências na porrada, pura e simples. Isso é democracia? Ou barbárie?

E como negociar com um movimento que não tem lideranças? Quem no movimento se responsabiliza pela manutenção de qualquer acordo? Quem se responsabiliza, aliás, pelo que quer que seja?

Mostrem a qualquer liderança do MPL (liderança?) imagens dos que estão nas passeatas gritando "foda-se o Brasil" e aproveitando a onda para quebrar tudo, agredir trabalhadores, etc. Candidamente, a "liderança" irá tirar o corpo fora. "Infiltrados", "não temos nada com isso"... "Não temos como controlar todo o mundo numa manifestação de massa...", etc.

O que eles criticam nos partidos tradicionais? A corrupção, as alianças, a sede de tratá-los como... massa de manobra. Mas eles também já estão corrompidos, sem o saber: o poder de parar as ruas os embriaga. Estão, como disse o Zizek, apaixonados por si mesmos! Alianças? Eles mesmos confessarão não ter como "filtrar" os aproveitadores, os reacionários, os que estão instrumentalizando sua energia para finalidades escusas (quebrar tudo, saquear, fazer arrastão; bradar a favor de um golpe militar que "restaure a ordem"; quem sabe até, estuprar uma garota nalgum beco...). Enfim, aceitarão qualquer "indignado" em suas fileiras, desde que engrosse o movimento: reaças, tarados, saqueadores, aproveitadores de modo geral. Exatamente como... as alianças dos partidos políticos!

Enfim: essa garotada na rua me irrita porque... já fui exatamente assim! Já fui militante de "vanguarda" autoproclamada, no tempo em que os bichos falavam. Bem intencionada, queria salvar o mundo. Não me poupei de riscos... movida pela mesma arrogância, pelo mesmo voluntarismo, pelo mesmo inocente autoritarismo, pela mesma facilidade em ter certezas sobre tudo. Devido a essa mesma intolerância à crítica, fui longo tempo cega para avaliar, com o mínimo de lucidez, a (in)viabilidade das minhas bandeiras, estratégias e táticas; tinha a mesma ligeireza em apontar um dedo acusatório para todos os que tinham assumido as responsabilidades da vida...

Um dia, os jovens que hoje exigem "tudo ao mesmo tempo agora" descobrirão que não dá pra viver, nem fazer coisa nenhuma, sem pagar um preço; sem transigir, sem fazer compromisso... e sem esbarrar o tempo todo nos limites que o real impõe ao que é possível.

Quem sabe, nesse ínterim, essas galeras de indignados - mesmo arrogantes, voluntaristas, irrealistas e autoritários - com sua certeza ingênua de que vão consertar o mundo no grito consigam, na melhor das hipóteses, forçar que o possível aconteça para além do que aconteceria sem a intervenção deles na pólis. Oxalá eles empurrem, com sua energia selvagem, os horizontes do rame-rame costumeiro no sentido de algo um pouco menos lamentável que o persistente status quo da sociedade brasileira: privilégios de um lado, exclusão de outro lado. E tomara que aprendam, também, alguma coisa válida com os próprios erros e acertos!”

NOTAS

(*)  O texto é de autoria de um blogueiro que se apelida por Centelha; assino embaixo. O que vemos é uma Revolução dos Sem Noção, agora dirigida por pessoas com interesse prioritário em derrubar o governo federal – e só o governo federal, mais nenhum. Palavras de ordem são “Fora Dilma” e “Fora PT”. O que significa isso? Retrocesso, não avanço. É lamentável que muitos se deixaram enganar por isso, e agora são também espancados na rua por essa milícia reacionária que quer destruir tudo para nos deixar à mercê da restauração de tudo o quanto pôs de joelhos o país: mercadismo absoluto, Estado mínimo para o povo e máximo para as corporações, Judiciário radicalizando decisões pró-elites, um verdadeiro Inferno cuja possibilidade resta agradecer à "juventude engajada" no Nada: sem política, sem partido, sem ideias, sem noção, pois é isso: esta é a Revolução dos Sem Noção. – Marcos Nunes

sábado, 22 de junho de 2013

Ah, a corrupção!..


Centelha, comentarista no blog do  Nassif

Desde que o PT ganhou o governo federal, a grande mídia difunde uma versão da realidade exclusiva e seletivamente focada nas mazelas da vida política, nos descalabros, na corrupção...
Ah, a corrupção!... Como a direita adora a corrupção!... É pau pra toda obra: 
a) beneficia os que estão dentro dos esquemas - isto é, sobretudo, os mais ricos; 
b) serve de álibi diversionista para desqualificar antecipadamente qualquer proposta de redistribuição de renda e riqueza,  que exigiria, NECESSARIAMENTE, a taxação dos ricos (tudo menos isso!!!): "pagar imposto? pra quê, alimentar políticos corruptos?" 
c) fulanizada e denunciada de maneira seletiva pela grande mídia, a corrupção ajuda a desmoralizar os políticos do lado adversário - o que pode resultar numa desmoralização da política lato sensu, abrindo caminho, quem sabe?, para o velho e bom despotismo "esclarecido"... A direita suspira de saudades do regime militar!...
A corrupção é a menina dos olhos da direita. Prova: a mesma mídia que martela dia e noite o mantra de que político é corrupto sabota toda medida capaz de efetivamente coibir a corrupção. Ninguém verá jamais um editorial dessa mídia apoiar um projeto de reforma política ou o fim do sigilo fiscal. (Na Noruega não existe sigilo fiscal... e, coincidência!, a corrupção é baixíssima!)
Então, a mídia conseguiu inculcar sua versão da realidade: a) político = ladrão; b) o Brasil vai de mal a pior.
Aí, o MPL acendeu o pavio. Talvez não soubesse quanta gasolina estaria incendiando.
Se os conflitos sociais não podem ser solucionados de maneira pacífica - isto é, pela via institucional - já que isso exigiria a interveniência dos políticos, e políticos são todos corruptos, por definição, então sobra o quê? Sobra a guerra civil. 
"Sem partido! Sem partido!" Será que ninguém se dá conta das implicações dessas palavras de ordem?
Sem partidos, sobra apenas a ditadura.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Investigando números da Copa de 2014 - onde está a verdade?...



por Vinicius Segalla, no UOL


A Copa do Mundo de 2014 deverá gerar uma injeção R$ 142 bilhões na economia brasileira entre os anos de 2010 e 2014. O número leva em conta investimentos diretos e o impacto sobre a produção nacional de bens e serviços. Os setores com maior potencial de benefício são, entre outros, construção civil, turismo, hotelaria, serviços, alimentos e bebidas.


O diagnóstico é de um estudo feito pela Ernst & Young e pela FGV (Fundação Getúlio Vargas). A análise aponta ainda a geração de até 3,6 milhões de empregos por ano no país. O cenário de referência adotado no documento aponta que a Copa vai produzir um efeito cascata nos investimentos realizados no Brasil.

"A economia deslanchará como uma bola de neve, sendo capaz de quintuplicar o total de aportes aplicados diretamente na concretização do evento e impactar diversos setores", afirmam os autores do estudo.

As entidades consideram que os gastos com a preparação do evento são da ordem de R$ 22,46 bilhões, recursos destinados a projetos de infraestrutura e organização. O TCU (Tribunal de Contas da União), porém, calcula que o poder público consumirá R$ 27,4 bilhões com a organização doe vento, e considera que esta previsão pode e deverá subir até 2014.

De acordo com o estudo, "a competição deverá injetar, adicionalmente, R$ 112,79 bilhões na economia brasileira, com a produção em cadeia de efeitos indiretos e induzidos. No total, o País movimentará R$ 142,39 bilhões adicionais no período 2010-2014, gerando 3,63 milhões de empregos-ano e R$ 63,48 bilhões de renda para a população, o que vai impactar, inevitavelmente, o mercado de consumo interno".

Essa produção também deverá ocasionar uma arrecadação tributária adicional de R$ 18,13 bilhões aos cofres de municípios, estados e federação, sempre segundo o estudo da FGV. O impacto direto da Copa do Mundo no PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro é estimado em R$ 64,5 bilhões para o período 2010-2014 – valor que corresponde a 2,17% do valor estimado do PIB para 2010, de R$ 2,9 trilhões.

Como a Copa do Mundo é um evento pontual, uma parte de seus impactos sistemáticos não será permanente. De fato, uma vez concluídos os investimentos e realizada a Copa, a continuidade dos impactos positivos dependerá da capacidade dos stakeholders (agentes envolvidos) em aproveitar as oportunidades e os legados do evento.

Assim, por exemplo, se estados como Amazonas e Mato Grosso, além do Distrito Federal, conseguirem tornar rentável a manutenção e atividade de estádios que estão custando aos cofres públicos valores que vão de R$ 600 milhões a mais de R$ 1 bilhão, o legado da Copa pode frutificar. Caso contrário, a conta poderá se inverter após 2014.

Os 3 Brasís - qual é o que queremos?...



brilhante análise de Boaventura deSousa Santos (*), no Dominio Publico da Espanha

tradução do blog do Mello e pequenas adaptações dos índios aqui



Com a eleição da presidente Dilma Rousseff, o Brasil quis acelerar os esforços para se tornar uma potência global. Muitas das iniciativas nessa direção vieram de tempos, mas receberam um novo impulso: Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, a Rio +20 de 2012, Copa do Mundo em 2014, Jogos Olímpicos de 2016, a luta por um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, papel ativo no crescente protagonismo das "economias emergentes", os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), a nomeação de José Graziano da Silva como presidente da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), em 2012, e Roberto Azevedo como diretor geral da Organização Mundial do Comércio em 2013, uma política agressiva de exploração de recursos naturais, tanto no Brasil como na África, especialmente em Moçambique, a construção da grande agricultura industrial, especialmente para produção de soja, biocombustíveis e pecuária.

Beneficiado por uma boa imagem pública internacionalmente granjeada pelo presidente Lula e por suas políticas de inclusão social, este Brasil desenvolvimentista se impõe ao mundo como uma potência de novo tipo, benevolente e inclusivo.

Não poderia, portanto, ser maior a surpresa internacional ante as manifestações que na última semana levaram às ruas centenas de milhares de pessoas nas principais cidades do país.

Se, antes, nas recentes manifestações na Turquia a leitura de "duas Turquias" foi imediata, no caso do Brasil era mais difícil reconhecer a existência de "dois Brasis". Mas ele está aí, aos olhos de todos. A dificuldade para reconhecê-lo reside na própria natureza do "outro Brasil", furtiva a análises simplistas. Esse Brasil é feito de três narrativas e temporalidades.

A primeira é a narrativa da exclusão social (um dos países mais desiguais do mundo), das oligarquias latifundiárias, do caciquismo violento, das elites políticas restritas e racistas, uma narrativa que se remonta à colônia e que se reproduziu de formas mutantes até os dias de hoje.

A segunda narrativa é a da reivindicação da democracia participativa, que se remonta aos últimos 25 anos e teve seu ponto culminante no processo Constituinte que levou à Constituição de 1988, nos pressupostos participativos sobre políticas urbanas em centenas de municípios e no impeachment do presidente Collor de Mello em 1992, na criação dos conselhos de cidadãos nas principais áreas de políticas públicas, especialmente na saúde e na educação, a diferentes níveis de ação estatal (municipal, estadual, federal).

A terceira narrativa tem apenas 10 anos de idade e trata das vastas políticas de inclusão social adotadas pelo presidente Lula da Silva, a partir de 2003, que conduziram a uma significativa redução da pobreza, à criação de uma classe média com elevada vocação consumista, ao reconhecimento da descriminação racial contra a população afrodescendente e indígena e às políticas de ação afirmativa, e ao reconhecimento de territórios e quilombolas (descendentes de escravos) e indígenas.


O que aconteceu desde que a presidenta Dilma assumiu o cargo foi a desaceleração, até mesmo a estagnação das duas últimas narrativas. E como em política não existe vazio, esse terreno baldio que deixaram foi aproveitado pela primeira e mais antiga narrativa, fortalecida sob as novas roupagens do desenvolvimento capitalista e as novas (e velhas) formas de corrupção.

As formas de democracia participativa foram cooptadas, neutralizadas no domínio das grandes infraestruturas e megaprojetos, e deixam de motivar às gerações mais jovens, órfãs de vida familiar e comunitária integradora, deslumbradas por um novo consumismo ou obcecadas por esse desejo.

As políticas de inclusão social se esgotaram e deixaram de responder às expectativas de quem se sentia merecedor de mais e melhor. A qualidade de vida urbana piorou, em nome dos eventos de prestígio internacional, que absorveram os investimentos que deviam melhorar os transportes, a educação e os serviços públicos em geral. O racismo mostrou sua persistência no tecido social e nas forças policiais. Aumentou o assassinato de líderes indígenas e camponeses, demonizados pelo poder político como "obstáculos ao crescimento", simplesmente por lutar por suas terras e formas de vida, contra o agronegócio e os megaprojetos de mineração e hidrelétricos (como Belo Monte, destinada a abastecer de energia barata a indústria extrativa).

A presidenta Dilma foi o termômetro dessa mudança insidiosa. Assumiu uma atitude de hostilidade indissimulável ante os movimentos sociais e os povos indígenas, uma mudança drástica em relação a seu antecessor. Lutou contra a corrupção, mas deixou para os aliados políticos mais conservadores as agendas que considerou menos importantes. Assim, a Comissão de Direitos Humanos, historicamente comprometida com os direitos das minorias, foi entregue a um pastor evangélico homofóbico (1).

As atuais manifestações revelam que, longe de ter sido o país que despertou, foi a presidenta que o fez. Com os olhos postos na experiência internacional e também nas eleições presidenciais de 2014, a presidenta Dilma deixou claro que as respostas repressivas só agudizam os conflitos e isolam os governos. Nesse sentido, os prefeitos de nove capitais já decidiram baixar os preços dos transportes. É apenas um começo.

Para que seja consistente, é necessário que as duas narrativas (democracia participativa e inclusão social intercultural) retomem o dinamismo que já tiveram.

Se for assim, o Brasil mostrará ao mundo que só vale a pena pagar o preço do progresso aprofundando a democracia, redistribuindo a riqueza gerada e reconhecendo a diferença cultural e política daqueles que consideram que o progresso sem dignidade é retrocesso.

NOTAS DE TRADUÇÃO:

(1) Observação do Mello: essas são posições equivocadas do grande sociólogo. Em minha opinião, a comunicação errada do governo (ou a falta de comunicação, aliada à injeção de dinheiro e de incentivos à mídia corporativa que pôs o governo Dilma sob ataque, com o dinheiro do governo) não levou à população os feitos positivos e deixou correr sem resposta os ataques, nem sempre verdadeiros, que lhe foram feitos. E quanto à escolha de Marco Feliciano, foi uma decisão da Câmara dos Deputados, não da presidenta.

(*) Doutor em Sociología do Direito pela Universidade de Yale e catedrático de Sociología na Universidade de Coímbra

Manifestos no Patropi - agora (?) está assim



Kadu Reis, no Facebook

Em primeiro lugar, peço desculpas por ter enchido tantas timelines por estes dias. Este deve ser meu último post sobre o assunto das manifestações. Peço desculpas também pela minha declaração há alguns dias de que "a minha geração estava fazendo história". Um equívoco. Não tenho vergonha nenhuma de mudar de opinião. O que escrevo abaixo não é opinião. É constatação. Só não enxerga quem não quer. O texto ficou gigante. Você, que não entende o que está acontecendo provavelmente não lerá.

Se você tem a vã ideia de que o povo brasileiro tenha mudado um pouquinho sequer por ter ido para as ruas reclamar, você, infelizmente, está absolutamente enganado. O gigante pode até ter acordado, mas ainda não lê e está com os olhos tapados. Trinta mil foram às ruas de Floripa hoje. Tudo muito bom, tudo muito bonito. Mas a tendência nacional se repetiu na ilha. Cheguei um pouco atrasado ao "protesto" (entre aspas, porque não houve um). Caminhei por cerca de quatro quilômetros entre os manifestantes que, na teoria, foram às ruas apoiar o Movimento Passe Livre na luta por um transporte público melhor.

Nestes quatro mil metros tentei por várias vezes, incitar as pessoas a gritarem pela causa, a diminuição da tarifa. Não obtive sucesso uma vez sequer. Os gritos eram variados, e raros. Cada manifestante foi para a rua com uma (ou mais) reivindicações cada. A maioria foi sem nenhuma - até porque protestar contra a corrupção (em geral, sem nenhuma reclamação concreta), pela saúde, pela educação, pela moral, pelos bons costumes, todos de uma vez só, não significa nada. Em absoluto. Nada.

Durante a tediosa caminhada, na absurda maior parte do tempo havia silêncio. Mais parecia uma romaria religiosa, uma caminhada contra o câncer ou coisa do gênero. Haviam algumas reações comuns, que aconteciam de tempos em tempos. Pessoas criticando RBS/Globo, cantando "eu sou brasileiro com muito orgulho" e gritando de alegria ao ouvir buzinas de apoio dos carros ou acenos dos apartamentos. Notem. Nenhum sinal de protesto. Nenhum. Li muitos cartazes sobre diversos assuntos, mas grito, pressão popular não houve.

Não há como mudar nada sem lutar. Caminhar na rua parando para tirar fotos e colocar no Facebook não conta. O protesto pode ter chego ao seu pico em número (talvez não) nos moldes em que está acontecendo. As pessoas da minha geração, que não lê, não se informa, não se politiza, continuam ignorantes como antes. A única diferença é que resolveram ser ignorantes na rua. Isso é muito triste, muito. Não fazem a mínima de ideia de contra o que querem protestar. Não fazem ideia de que não estão protestando.

Foram fechadas as ruas que a cidade já estava pronta para fechar, nos horários combinados e sem causar grandes transtornos. No governo, nem cócegas. Risadas, muito provavelmente. Mas daí você vai me dizer: as pessoas não protestaram contra algo porque não havia uma liderança coordenando. Prepare-se, agora vem a pior parte.

As pessoas que iniciaram os protestos, o Movimento Passe Livre e outros movimentos sociais alinhados foram agredidas. Confesso não ter visto o início, onde dizem ter acontecido muita coisa. Mas após os quatro quilômetros, finalmente os encontrei. Finalmente, um grupo gritando unido por uma causa. Fiquei feliz. Todos unidos contra a tarifa, mesmo pertencendo a diferentes organizações - vi PSTU, PSOL, PT, Movimento Sem Terra, bandeiras comunistas em geral e pessoas sem nenhum símbolo de qualquer movimento.

Este grupo, de pessoas que criaram o movimento que foi o tal estopim nacional foi hostilizado do início ao fim. Várias tentativas de agressão aconteceram (algumas muito covardes, de oito pessoas contra uma). Inúmeras foram as pessoas que tentaram arrancar as bandeiras, indo contra a democracia e a liberdade de expressão. Fiquei com este grupo, não tão grande, mas que lutou até o fim. Fomos à prefeitura e fizemos um manifesto bonito, mas não expressivo e não reconhecido - como eles fazem há anos.

A maioria, no entanto, que se concentrou em gritar "sem partido" para este grupo, realizou apenas este protesto. Uma manifestação ridícula anti-bandeiras. Mais uma vez, nada. Este movimento gigantesco, de pessoas vazias e que foram para a rua pela vontade de aparecer em mais uma das modinhas da era da internet, não chegará a lugar algum. Tem duas saídas.

Na primeira, acaba dentro de pouco tempo, e tudo volta ao normal brasileiro. As pessoas já tiraram as fotos que precisavam e o movimento passa. A insatisfação sem conhecimento e motivo concreto continuará perpétuo enquanto as pessoas não investirem em seu intelecto. Na segunda, pode culminar em uma eleição de Aécio Neves em 2014. O movimento anti-Dilma (criado pelo simples e eterno descontentamento com qualquer governo atual de qualquer época, mas sem embasamento, no caso) cresce. Acho que não terá força para derrubar a Presidente, mas pode evitar sua reeleição no ano que vem. E voltaremos à era Tucana, pois o povo esquece rápido e eles surgem como solução.

É impossível protestar sem conhecimento. Tentar pressionar tudo não pressiona nada. Caminhar na rua não é manifestar nada além de uma insatisfação. Aos que saíram para protestar de verdade parabéns. Vocês significaram alguma coisa. Para mim, acabou. Pelo menos da forma que está. Na luta deste outro grupo, continuarei. O grupo que criou, que sempre lutou e foi renegado.

Manifestos e TV Globinho



brilhante e primoroso relato de meu amigo Henrique Fendrich, no Vida a Sete Chaves


Sendo previsto que esta quinta-feira seria um dia de protestos maiores do que os últimos em Brasília, decidi me dirigir também ao Congresso e acompanhar a História que, muito provavelmente, está sendo feita sob os meus fiapos de barba. Encontrei um verdadeiro caos na Rodoviária: uma multidão enorme aglomerada, mal podendo se mexer, e vários ônibus parados, não conseguindo entrar nem sair. Disso se percebe que não havia protesto algum por lá, mas que era mesmo um dia normal.

Não tardou, no entanto, até eu encontrar o primeiro grupo de manifestantes, erguendo cartazes e soando apitos. Ao fundo, distante de todos, um casal de namorados alienava-se em beijos e carícias. Segui rumo à Esplanada dos Ministérios, que a essa altura já estava totalmente fechada para os manifestantes. Um grande número deles se concentrava próximo à Biblioteca Nacional, que é sozinha um dos melhores motivos para protestos em Brasília – basta dizer que não há livros por lá. Continuei caminhando e acompanhando a multidão que também seguia para o Congresso, dando surpreendentes gritos de amor ao Brasil e outros de orgulho ao povo.

Aproximando-me do Congresso, onde já havia muita gente, resolvi usar minha pouca coragem e fui até a linha de frente – ou seja, o cordão policial. Um sujeito se posta à frente dos policiais e esfrega um cartaz que defende a desmilitarização da PM. Outro berra que isso também é por eles e apela que se lembrem dos seus filhos. Recuo alguns passos depois de ouvir um grito de “Ocupa e resiste”, depois simplificado para “Vamo invadir”. Olho por todo lado e só vejo cartazes. Corrupção, Copa do Mundo, Investimentos, Feliciano, PEC 37, Ato Médico, Belo Monte. Dois evangélicos erguem um “Ore pelo Brasil”. Um filósofo exibe um “A mudança vem de dentro”. Uma garota mostra um “Que só os beijos te calem a boca”. Um piadista defende o “Fora Fátima” – quer de volta a TV Globinho.

Estouram bombas, que são logo vaiadas pela multidão. Gritos de “Fora Renan” fazem sucesso. Súbito, começa uma correria perto de mim. Corremos. Em seguida gritos de “Senta”. Sentamos. Agora todos se voltam contra os policiais. “Ei, soldado! Cê tá do lado errado”. Começa-se a ouvir o Hino Nacional por toda parte. Dois raios laser invadem o Congresso, riscando as torres e as cúpulas. Há quatro helicópteros sobre nós e os raios também chegam neles. Afasto-me lentamente. Num carro da Bandeirantes foi pichado “Chega de ilusão”. Encontro PMs sem farda protestando. Volto para a Rodoviária e ainda estou lá quando percebo que a manifestação saiu do Congresso e agora ocupa o Eixão. Decido ocupar o Eixão também.

Todas as pistas são fechadas. Uma multidão andando e cantando que é brasileiro, com muito orgulho, com muito amor. Carros passam por nós e buzinam em aprovação. Outros carros ficam presos no meio do protesto. Começa um grito de “Deixa, deixa”, e o povo deixa que eles passem. Um sujeito pede que eu tire uma foto dele ao lado de uma bandeira contra a Globo. Pessoas nos observam de seus prédios. São intimadas: “Vem pra rua! Vem pra rua!”.

Olho ao redor. Não sei onde isso vai dar, não sei nem o que é isso ainda – por enquanto, apenas vivo experiências extraordinárias.

Tecnocracia do pemedebismo



ótima entrevista publicada pelo Valor Economico e reproduzida no Diario do Centro do Mundo

NOTA DOS ÍNDIOS DESTE TOLDO - observem que essa entrevista foi concedida antes das coisas desgringolarem ontem e a mídia golpista aderir alegremente ao "Este golpe também será televisionado". Resta saber se o autor da entrevista mantém este ponto de vista a luz dos últimos acontecimentos de ontem a noite. Entrevista publicada originalmente dia 18/06 (terça) concedida provavelmente no dia anterior, em que a canoa ainda estava correndo em águas muito mais calmas.


Entusiasmado com os protestos que eclodiram nas últimas semanas e tiveram seu auge ontem, o filósofo da Unicamp e do Cebrap Marcos Nobre afirma que as manifestações populares são a prova que esperava desde 2009 para sustentar seu argumento de que alguma resposta haveria de ter à geleia geral do sistema político que ele denomina de pemedebismo.
Para Nobre, os protestos representam uma recusa de a sociedade aceitar a blindagem do sistema político que represa o avanço de forças de transformação cuja origem vem desde meados da década de 1980, com a Constituinte.
Em sua opinião, o PT, que era o depositário da energia dessas transformações, passou por um processo de tecnocratização, afastando-se e frustrando as expectativas de movimentos históricos.
O marco teria ocorrido em 2009 quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu em defesa do então presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), no escândalo dos atos secretos, afirmando não se tratar de um cidadão comum.
Lula teria convencido parte da sociedade de que um pacto com o atraso era necessário e que este era o ritmo máximo de diminuição da desigualdade e de aprofundamento da democracia que se poderia atingir.
Qual é o significado destas manifestações?
Esse movimento é justamente um movimento antipemedebista, contra esse fechamento em si mesmo do sistema, essa blindagem contra as energias vitais, democráticas da sociedade. E é um sinal de que a democracia brasileira está viva, está atuante. E que esse pretenso consenso de como se deve caminhar, sobre o ritmo e a velocidade da diminuição da desigualdade e do aprofundamento da democracia, não é um consenso.
Toda a abertura inicial do governo Lula à participação, à deliberação, pouco a pouco foi se fechando numa nova maneira tecnocrática de gestão. Isso tem muito a ver com a ida do [marqueteiro] João Santana, que deu uma organização publicitária ao governo, e a própria escolha da Dilma como candidata.
Quais são as consequências?
Das duas uma: ou o sistema político se abre e se reforma radicalmente ou vamos ter cada vez mais a oposição de um sistema político que roda em falso, fechado nele mesmo, e uma sociedade que vai protestar contra essa democracia de baixo teor democrático.
Mas o sistema brasileiro, com modelo de votação proporcional e nominal, não é plural, fragmentado e bem menos fechado que outros que tem lógica bipartidária e sistema de lista fechada?
O brasileiro é tão fechado quanto. Tem outro modo de operar. Temos o presidencialismo de coalizão – que é outra expressão que acho lamentável, porque o que acontece no Brasil é um condomínio pemedebista, muito diferente de uma coalizão de partidos. Essa cultura política do pemedebismo é muito mais impenetrável ainda que a de sistemas como Espanha ou França.
Esse sistema é impermeável porque ele é dotado de uma cultura política, de um modo de funcionamento feito para excluir, para travar mudanças profundas. Ele é construído dessa maneira. Por isso, essas forças de contestação são forçadas a se voltar contra o próprio sistema político. Não tem alternativa dentro do sistema tal como ele funciona hoje. Pensando em um partido determinado, por onde esse protesto poderia entrar?
O PSOL surgiu como opção à esquerda do PT. Mas para conquistar a primeira prefeitura de capital (Macapá) teve apoio da direita. No Brasil, ocorreria o oposto do previsto pelo cientista político Giovanni Sartori, em vez da contaminação dos partidos grandes pela ideologia dos pequenos, estes é que imitam o pragmatismo dos grandes?
O caso de Macapá é exatamente o exemplo que eu ia dar. Acontece que Sartori está escrevendo no pós-Maio de 1968. Isso faz uma diferença bárbara. Porque Maio de 68 resultou numa mudança radical de cultura política nas democracias avançadas. O Estado de bem-estar social, na formulação que estava na época, transformava as pessoas em clientes, em objetos de política pública. E o trade-off era mais ou menos o seguinte: a sua pensão e os seus remédios estão ali direitinho, você vai receber em dia, ao mesmo tempo você é tornado um cidadão passivo.
Então, todos os movimentos estavam querendo dizer: eu não sou um cliente, eu sou cidadão. E um cidadão participa da democracia na rua. Sem isso, não teríamos essa visão de democracia que temos hoje, que não se restringe ao regime político. Democracia não é regime político. É uma forma de vida, é cultura política, não é um regime político.
Sartori escreve quando já existe essa mudança, os movimentos sociais já estão todos ali. É diferente da nossa situação. Experimentamos blindagem neoliberal, que veio até a crise de 2008, que é a blindagem que os movimentos da Europa querem romper. O neoliberalismo no Brasil tem elemento diferente, que é o pemedebismo.
O que marca o pemedebismo?
Não tem um sistema organizado em oposição e situação. É um sistema em que todo mundo está dentro do governo. E que oposição e situação se organizam dentro do próprio governo. Ninguém está fora dele.
A oposição formal, ou virtual, a única coisa que faz é esperar a economia dar errado para ver se o poder cai no colo dela. E não aposta justamente nisso em que apostam os movimentos. O [governador de São Paulo Geraldo] Alckmin está tão atônito quanto o [prefeito Fernando] Haddad. Porque para eles a economia determina tudo.
Acontece que a economia não determina tudo. Em Maio 1968, se estava no auge, no pico de distribuição de renda, pró-salários. Estamos num momento em que a economia não está resplandecendo, mas o desemprego está baixo, a renda continua aumentando um pouco, e é quando explodem as coisas.
Não é um protesto sobre os 20 centavos?
Também. Mas eles recorreram à Constituição para fundamentar a reivindicação do Movimento Passe Livre. Basta uma pessoa andar em qualquer transporte público, em qualquer cidade brasileira, para ficar horrorizado. O protesto é sobre isso. Mas não é por acaso que ele canalizou todas as forças de insatisfação.
E por que a área de transporte levou a essa mobilização?
A insatisfação pode começar num bandejão de uma universidade e virar Maio de 1968. O estopim é imprevisível. É a vitalidade da democracia. Representa o susto da ordem.
Em que medida os protestos refletem a contradição de camadas da população que ganharam poder de consumo mas que continuam a receber serviços públicos de baixa qualidade?
É um fator, desde que não seja o fator. Porque de novo aí as pessoas vão tentar explicar tudo pela economia. Diminuir a desigualdade é avançar a democracia, só que você não pode fazer uma troca de menos desigualdade, mas eu aceito ficar com o mesmo grau de liberdade. As duas coisas têm que vir juntas.
A causa não seria a perda do controle das ruas pelo PT?
Primeiro, sou contra essa ideia de cooptação simplesmente. Houve um convencimento durante o governo Lula da parte organizada da sociedade – sindicatos, ONGs, associações de lutas por direitos. Nenhum partido controla um movimento social autêntico. Outra metáfora que eu detesto é a da fadiga de material. Estamos falando de política e não de construção civil. Não tem nada a ver com o governo estar há muito tempo no poder. Trata-se da maneira pela qual se mantém no poder. É o processo de tecnocratização.
É um movimento de classe média?
Não. Esse é outro dos muitos mitos que envolvem os protestos. É um mito que eles pertencem à classe média alta, às redes sociais ou que expressariam um fenômeno natural de inconformismo da juventude.
Que relação há entre os protestos no Brasil e no exterior?
Vamos distinguir o que é Primavera Árabe do que é Turquia e Brasil. Não se pode confundir protestos em geral numa democracia e protestos em ditaduras.

Mafalda nunca perde a atualidade


Dona Helena Chagas, demita-se!...


por Rui Martins, no Direto da Redação

A ministra da Comunicação Social, Helena Chagas, não previu, com sua incompetência, os riscos de financiar o monopólio da informação pela grande imprensa.

Ministra Helena Chagas, antes de tudo, quero lhe transmitir meus mais efusivos cumprimentos por sua inédita e vitoriosa campanha publicitária – nunca, digo bem, nunca, o Brasil mereceu tanto destaque na mídia internacional.

Durante dias, não só aqui na Europa, como em todos os países do mundo, o Brasil foi manchete. Bandeiras, verde e amarelo, fogos, manifestações de rua como num enorme carnaval, polícia brincando de pega-pega com jovens maratonianos, brindes ousados com coquetéis molotov, nenhuma pré-estréia da Copa do Mundo poderia ter sido melhor do que essa armada, na maior discreção, por seu Ministério.

Parabéns Helena Chagas ! Como alguém tão recatada, embora participe de todos os trens da alegria nunca se vê na imprensa e nem nas imagens dos seus amigos do Jornal Nacional, seu rosto de sorriso superior com óculos escuros, conseguiu tão grande façanha ?

Imagine Helena que, aqui na Europa, muitos jornais e canais de televisão compararam a explosão juvenil em São Paulo, no Rio e outras capitais, numa versão Iphone moderna, movimentada e nada fiel à Ópera dos 20 Vintens de Bertold Brecht, com o rebentar da primavera árabe na orla africana mediterrânea !

Acho que aí você exagerou, porque sua fiel amiga, a presidente, que lhe reserva sempre um lugar nas comitivas, foi comparada com Ben Ali, Khadafi, Hosni Mubárak, como se os jovens no Brasil quisessem se descartar da ditadora Dilma Rousseff.

Provavelmente não foi culpa sua, acredito mesmo na sua inocência, mas seus amigos, aos quais você concede mais de 70% da verba de publicidade da União e, recentemente, uma isenção de pagamentos sociais, que lhes permite economizar quase um bilhão e meio de reais, ainda estão cagando de rir dessa troça passada na imprensa internacional.

Em apenas dois dias, a imagem do Brasil foi para o brejo e vale agora o que o Globo, Folha, Estadão, Band tinham tentado impor há tantos anos sem conseguir, desde Lula até sua vitoriosa gestão nas Comunicação Social do Governo. Com um pouco de chance é até capaz de ganhar um promoção ou de lhe oferecerem um caché especial numa conta secreta nas ilhas Caimãs.

Terminado o elogio, lhe peço, com o maior respeito, aquele gesto de honra digno dos grandes perdedores – demita-se.

Uma pessoa com o cargo de responsável pela Comunicação Social de um país tão grande e tão importante como é este novo Brasil não pode se permitir o luxo de errar. Uma pessoa capacitada para esse cargo tem de lançar bases sólidas de comunicação e tem de saber prever. Não foi seu caso – nem lançou bases sólidas e nem soube prever. Ou seja, além de ser a ministra menos visível é a mais incompetente e a mais medíocre.

Demita-se!

Não sou apenas eu, um simples e anônimo jornalista em fim de carreira, que lhe solicita encarecidamente esse ato de contrição, de reconhecimento por ter favorecido o inimigo no momento mais inoportuno possível. Numa rápida pesquisa pelo Google sobre a questão do favorecimento desproporcional e escandaloso da grande mídia brasileira constatei haver colegas mais credenciados e mais conhecidos que eu, assim como parlamentares do próprio PT insatisfeitos com sua gestão que premia os linchadores da nossa masoquista presidente.

Não sei se chegou a imaginar, porém sua falta de previdência e competência pode ter provocado reações políticas irreversíveis. A reeleição de Dilma não está mais assegurada. Haddad, o prefeito de São Paulo, colocado por Lula para ser um futuro governador e presidente, e assegurar uma renovação, bobeou, pisou na bola e perdeu o difícil capital paulistano que lhe fora presenteado por Lula.

Acuada, vexada e mesmo desmoralizada pela imprensa internacional talvez nossa grande presidente não lhe peça, por uma questão de cortesia. Mas eu e tantos outros que apoiarão este sincero pedido, nós lhe rogamos ministra Helena Chagas – demita-se !