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quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Os bons corvos


reproduzido do 247

Durante anos, décadas até, os grandes jornais brasileiros vocalizaram uma das maiores demandas empresariais no País: a redução do Custo Brasil. Nele, um dos principais componentes de custo é a tarifa de energia, historicamente uma das mais caras do mundo – especialmente após o processo de privatização. Dezenas de eventos foram organizados em vários pontos do País e muito pouco, ou quase nada, se fez.
Até que uma mulher, a presidente Dilma Rousseff, decidiu enfrentar essa questão. E não de maneira intervencionista. Valendo-se de uma oportunidade, que era a renovação das concessões de várias usinas do setor elétrico, o governo obteve preços menores pela energia já amortizada pelas concessionárias públicas ou privadas. Resultado: a conta de luz cairá em 18% para as residências e até 32% no setor industrial.
Uma notícia, certamente, de forte impacto popular, para um governo que já desfruta de altos índices de popularidade. No seu discurso de ontem, Dilma falou que a redução valerá até nos estados onde os governantes se recusaram a renovar as concessões – ela mencionava São Paulo, Minas e Paraná, governados pelo PSDB, mas não citou os nomes. E disse que a turma "do contra" estaria ficando para trás.
Pois os corvos, na manhã desta quinta-feira, vestiram a carapuça. Quem gralhou mais alto foi Reinaldo Azevedo, que falou em "populismo elétrico" e "campanha eleitoral" na tomada. "Quem falava era a candidata à reeleição em 2014. Até aí, vá lá. É a sina dos políticos nas democracias; disputar eleições é parte do jogo. O que incomodou foi outra coisa: por que o tom de desafio e, às vezes, de certo rancor? Porque, no petismo — seja o lulista ou o dilmista —, mais importante do que vencer, é a sensação de que o adversário perdeu", escreveu Reinaldo, que – efetivamente – perdeu. Se dependesse da sua vontade, não haveria o pacote para a redução das tarifas.
Outro corvo que se posicionou, em artigo no Globo, foi o jornalista Carlos Alberto Sardenberg. "Pode ser que o governo não tenha uma política, mas apenas alvos. E cada vez que atira em um, acerta no que não devia. Um exemplo da hora: a redução das tarifas de energia vai estimular famílias e empresas a consumir mais, lógico. Isso em um momento em que os reservatórios das hidrelétricas, a energia mais barata, estão em ponto crítico, exigindo o apoio das usinas termoelétricas, mais caras. O processo ainda retira recursos das companhias hidrelétricas, diminuindo sua capacidade de investimento em novas fontes. O pior de tudo é que o Brasil já viu isso nos anos 70 e 80".
Não, na verdade o Brasil nunca viu esse filme: tarifas públicas sendo reduzidas, nessa intensidade, numa negociação aberta, mas liderada pelo governo. Talvez por isso mesmo, mas não sem uma ponta de ironia, o Globo tenha noticiado o caso com um "nunca antes na história deste País". E avisado, como bom corvo, que a queda de luz será compensada pela alta, ainda não confirmada, da gasolina.



Empresário brasileiro lê jornais?...


A julgar pela leitura dos grandes jornais brasileiros, conclui-se que os empresários nacionais não investem porque perderam a confiança no futuro. Temem a falta de energia, gerada pela suposta má gestão do setor elétrico, e a alta de preços, decorrente do abandono da política de metas pelo Banco Central. Inseguros, engavetam seus projetos.
No entanto, a julgar pelo que dizem os próprios empresários, o cenário é outro. Ouvidos pelos organizadores do Fórum Econômico Mundial, em Davos, eles se colocam entre os quatro mais otimistas em relação ao ano de 2013. Entre os "muito confiantes", os brasileiros ficam atrás apenas de russos, indianos e mexicanos, mas superam chineses, alemães e norte-americanos, por exemplo.
Os números surgem da 16ª pesquisa anual feita pela consultoria PricewaterhouseCoopers, que entrevistou 1.330 CEOs (presidentes de empresas) em 68 países, no último trimestre do ano passado.
Além do otimismo de quem já está no País, também é importante notar que o Brasil é apontado como um dos três mercados mais relevantes por executivos de 68 países, atrás apenas de Estados Unidos e China.
Os resultados da pesquisa foram apresentados ontem, véspera da inauguração do encontro anual 2013 do Fórum Econômico Mundial. 

3 comentários:

  1. De fato é uma medida "sem pontos negativos". Até comprei um fogão elétrico pra fazer a minha parte :)

    Naturalmente parte do berreiro advém do fato das empresas de energia, dentre outras, serem "utilities", boas pagadoras de dividendos, e estas mudanças mudam este cenário.

    O que me deixa muito desconfiado é a rapidez com que o assunto apareceu. A coisa está assim por sei lá quantos anos, aí de repente, BAM! vamos baixar a tarifa em 20%. Por que não antes? Por que não em rampa desde lá de trás? Isto causa espécie.

    Aí vem as desconfianças de sempre: querem maquiar inflação? querem produzir fatos popularescos? Os bancos oficiais baixarem juros foi uma estratégia mais bem-sucedida e acertada (até porque o BB estava cobrando até esses tempos juros *maiores que os do Itaú, sendo que o BB tem muito mais acesso a dinheiro barato).

    De fato as empresas estaduais de energia do PR, SP e MG, não são apenas de estados governados pelo PSDB. Também são a) Estados menos dependentes do governo central; b) Estados onde as empresas de energia são realmente grandes. É natural que reclamem. Disto posso extrair outra teoria da conspiração: escolheram direitinho um setor para enfraquecer os Estados em geral, e estes em particular.

    Se a CELESC ceder à pressão do governo federal, não faz diferença. As usinas do Piraí, do Bracinho, do Rio Vermelho já devem ser deficitárias, são muitíssimo mais "ases na manga para contingências" do que as termelétricas.Que é um motivo para manter uma CELESC da vida estatal; a ineficiência estatal neste caso "custa menos" do que a perda dos recursos de contingência.

    Por último, estou com minha conta de luz em mãos:

    Energia: 39%
    Transmissão: 7%
    Encargos setoriais: 8%
    Distribuição: 18%
    Tributos: 27% (inclui ilum. pública)

    Se queriam reduzir 20% só mexendo na geração, isto significaria reduzir à metade a remuneração da geração.

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    1. Essa questão energética no Brasil é complexa, como vc bem sabe Elvis. E também é uma mina de ouro para alguns espertos ganharem esse butim na mão leve, sempre penalizando o pequeno consumidor, ou seja nós, os otários. Mas ao grande publico ñ é informado do que acontece nessas catacumbas e porões, claro.

      Os contratos de concessão de exploração dos recursos hídricos energéticos no Brasil tem os dois pontos que favorecem ao empreendedor, ao concessionário. Na Inglaterra, no auge do neoliberalismo Tatcher, criou-se a tarifa-preço, incentivada, que só periodicamente é revista, com regulação mão-leve, no Brasil se mantem o preço-teto junto com o equilíbrio econômico financeiro. Toda vez que há uma ameaça de perda, devido à má gestão, os consumidores são chamados a pagar.

      Então se o concessionário no Brasil tem a seu favor os contratos antigos (muitos de 20, 30 anos totalmente amortizados já), tudo a seu favor. Mas em 2003 (inicio da era Lula) era a hora de fazer uma profunda intervenção regulatória, alterar aquilo que deu errado. A proposta estava feita, havia ambiente político para fazê-lo e, no entanto, em troca de manter o ambiente com os empresários e investidores privados, preferiu-se não ressuscitar os instrumentos públicos, usar mão da Eletrobras. Lulinha ñ queria mexer em vespeiro nenhum e preferiu passar a mão na cabeça dos sortudos geradores e manter tudo com dantes, nos quartéis de Abrantes.

      As empresas públicas foram descapitalizadas com a criação do mercado livre, no qual 600 empresários e cento e poucas empresas comercializadoras compravam energia a 20% do custo e a revendiam a preço cheio para os consumidores finais e a meio preço para os grandes consumidores, dilapidando-se o potencial de capital das empresas públicas, que eram as principais geradoras. As principais pontas da geração eram as empresas públicas, principalmente as ligadas à Eletrobrás e às estatais do Rio Grande do Sul, mas principalmente aqui do Paraná, Minas Gerais e São Paulo.

      Essas empresas Cesp, Copel, Cemig, mas principalmente Eletronorte e Eletrobrás, Furnas, Chesf e Eletrosul, e a CGTEE do Rio Grande do Sul, que são federais foram sangradas para agradar o mercado. O governo Lula manteve a descontratação, de maneira que a energia ficou sem contratos de venda. E os empresários ditos livres não precisavam recontratar nada, porque criminosamente se criou o preço de liquidação de diferenças como equivalente ao custo marginal da água. Para alterar o sistema é preciso saber se se usa água ou se se usa combustível hoje, tendo em vista a previsão de chuvas futuras, tendo em vista a previsão de demanda, o estado dos reservatórios e o custo dos combustíveis. Isso é um índice de média para orientar a operação; nunca, jamais poderia ser transformado em preço.

      O governo Lula, através da ministra de Minas e Energia (hjoe presidenta), converteu isto, Custo Marginal de Operação (CMO), em Preço de Liquidação de Diferenças (PLD), que servia como que um preço spot, que — como houvera um racionamento e a demanda era muito menor que a oferta — caiu para o limite mínimo decretado legalmente em R$ 18 / MWhora, quando o custo da energia oscilava entre R$ 60 e R$ 140 o MW/hora. Então todos os grandes consumidores, que em 2005 já consumiam 8 mil MW médios, 25% do consumo de eletricidade do Brasil, chegaram a 12 mil MW logo em 2008 — comprados por R$ 18 a R$ 20 o MW/hora, quando a energia custava às estatais, em média, R$ 100.

      Portanto houve uma dilapidação. Uma transferência econômica em torno de R$ 20 bilhões, nos oito anos do governo Lula, favorecendo agentes, comercializadores e grandes consumidores, que não a repassaram à redução do preço dos seus produtos, só aumentaram seus lucros.

      Essa é a chave de toda a tramóia... alguns desses são os chorões, outros são adversários políticos da Búlgara, que pouco estão se lixando para o consumidor e o povo tupiniquim.

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  2. Confesso que do mercado livre de energia não entendo nada. Para mim, como engenheiro-wannabe, não faz sentido, é como contratar "provedor de acesso" quando a ADSL é fornecida sempre pela Oi ou GVT.

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