terça-feira, 30 de agosto de 2011
O panfleto colorido semanal dos Civita É o proprio crime organizado
Empresa sueca IKEA faz a maior doação da história do ACNUR
reproduzido do OperaMundi
A ajuda será usada para cobrir as necessidades do campo de Dadaab, no Quênia, o maior complexo de refugiados do mundo, onde vivem 440 mil somalianos, dos quais 152 mil chegaram nas últimas semanas fugindo da crise de fome e seca. É a primeira vez que uma instituição privada financia todas as operações de um campo de refugiados, detalha Edwards.
Leia mais:
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Dadaad, que fica no nordeste do Quênia, perto da fronteira com a Somália, existe desde o começo dos anos 1990 e tem capacidade para 90 mil pessoas. Mas, desde que a crise de fome na Somália foi declarada, o número de residentes de Dadaab aumentou para 440 mil e a maior parte dos desalojados sofre de desnutrição severa e sérios problemas de saúde.
O Alto Comissário da ONU para os Refugiados, António Guterres, indicou em comunicado que o gesto da empresa sueca ocorre em "um momento crítico", já que "milhares de pessoas fogem a cada semana da Somália, onde a crise de fome se agrava".
O ACNUR depende em grande parte de doações para prestar ajuda humanitária aos milhões de refugiados que há no mundo, a maioria das quais são feitas por governos, embora - segundo destacou Edwards - com esta contribuição se abre um novo caminho para doações privadas.
WikiLeaks revela que para os EEUU a Líbia era modelo de combate ao terrorismo até ontem
extraido do blog Pragmatismo Politico - cabograma original no OperaLeaks, do OperaMundi
WikiLeaks traz à baila documentos da diplomacia americana que demonstram como os Estados Unidos são capazes de mudar suas posições repentinamente de acordo com interesses rasteiros e contestáveis, embora ignorados por uma imprensa que finge fazer jornalismo.
EUA e Kadafi eram aliados até muito pouco tempo atrás
O que mudou? O modo como o governo líbio lidava com a ameaça da emergência de grupos islâmicos radicais era visto como modelo pela mídia internacional e também pela embaixada norte-americana em Trípoli. Tal opinião é parte de um telegrama enviado pela missão diplomática na Líbia em 9 de dezembro de 2009 e vazado pelo site Wikileaks em 26 de junho de 2011. No despacho, Joan Polaschik, uma das diplomatas norte-americanas na Líbia, destaca olançamento de um documento religioso de 417 páginas por seis membros do GIAL (Grupo Islâmico Armado Líbio). Nele, eles renunciavam ao uso da violência, passando a ditar uma nova interpretação da jihad em terras líbias. Para os líderes envolvidos na confecção do texto, entre eles Abu Abd Allah al Sadiq (emir do GIAL) e Abu al Munder al Saidi (autoridade na sharia – código de conduta baseado no Alcorão), os erros na interpretação do Islã eram fruto da "ignorância sobre a lei" e denotavam ausência de "ulamas" (acadêmicos religiosos, responsáveis por ensinar a correta interpretação da sharia).
A iniciativa pacifista foi resultado de uma negociação entre líderes do GIAL e Saif al Islam Kadafi, filho do ditador Muamar Kadafi, com apoio do serviço secreto líbio. Em troca da renúncia à violência, foi acordada a libertação de 200 integrantes do grupo.
No conteúdo do documento religioso, escrito em setembro de 2009, os líderes do GIAL condenam a morte de mulheres, crianças, idosos, monges, mercadores e outros em suas ações. De acordo com a nova diretriz, "seria um atalho e um erro" reduzir a jihad a uma luta com a espada. A recomendação é endereçada "às organizações que, algum dia, tiveram alguma ligação conosco". É um recado direto à Al Qaeda.
De acordo com o despacho norte-americano, as negociações entre Saif al Islam e o emir al Sadiq duraram cerca de dois anos. A ideia era lançar o documento religioso em 23 de agosto de 2009, início do Ramadã (período sagrado do Islã) e aniversário de 40 anos da subida do regime Kadafi ao poder. Logo após o anúncio do acordo, foram libertados 91 militantes. Outros 43 membros teriam sido soltos no mês seguinte, em outubro. Esses 134 libertados seriam metade dos integrantes do GIAL presos na prisão de Abu Salim. Porém, segundo a diplomata norte-americana, a iniciativa do governo líbio em relação ao GIAL foi vista com reservas dentro e fora do país. Poucos acreditavam no sucesso do plano. Para Joan Polaschik, em curto prazo, o acordo fortalecia o regime de Kadafi como um todo e a influência de Saif al Islam em especial. Acima de tudo, deveria ser endossada como uma maneira nova de lidar com o terrorismo islâmico.
Em outro telegrama, enviado por John Stevens em 7 de novembro de 2007, há mostras do temor de Kadafi sobre a insurgência de movimentos extremistas e terroristas na Líbia, com prejuízo para as atividades econômicas no país. Em 3 de novembro de 2007, Ayman al Zawahiri, então número dois na hierarquia da Al Qaeda, anunciou a junção de forças entre a Al Qaeda e o GIAL para confrontar o governo Kadafi. Na época, o governo relutou em comentar o anúncio de Al Zawahiri e temia a repercussão dessa união dos dois grupos entre a população líbia. Ela pode ria causar muita violência e transformar a oposição política do GIAL em trampolim para ações de grupos terroristas no país.
Um membro de uma tribo influente em Bengazi disse que as reações ao anúncio da junção entre Al Qaeda e GIAL na Líbia "variaria de acordo com a sua posição socioeconômica". Para esse líder tribal, a mensagem de Al Zawahiri iria encontrar apoio entre aqueles não beneficiados pela liberalização e o desenvolvimento econômico. Para essas elites, seria fundamental proteger seus "feudos econômicos" em caso de uma arrancada dos grupos extremistas para derrubar Kadafi do poder.
Muitos viam essa alternativa com bons olhos: principalmente os muçulmanos mais radicais, desejosos do estabelecimento de um "califado muçulmano" na Líbia e também por esperar que "qualquer outro regime fosse menos opressivo que a ditadura de Kadafi". As classes médias temiam um retrocesso econômico e uma piora no acesso a bens de consumo, além de sanções ocidentais em caso da subida de um governo apoiado pelo GIAL e a Al Qaeda.
Stevens encerra o telegrama dizendo que a situação política na Líbia parece "um filme em slow motion". E pergunta: até que ponto o entusiasmo por um radicalismo islâmico tem a ver com uma afinidade religiosa genuína? E onde começa a insatisfação com o regime de Kadafi?
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
E essa agora?...
O mal-estar dos nossos dias
Sickness - tela de Stuart-Bracewell (clique para ampliar)
texto de Luis Carlos Bresser-Pereira, na Folha Online (disponível só para assinantes - reproduzido na integra aqui pela relevância)
Vivemos um tempo de crise, um tempo de mal-estar. A selvagem revolta no Reino Unido mostrou com clareza; foi uma reedição agravada das revoltas da França de 2005.
Essas, como as manifestações mais moderadas e mais objetivas na Grécia, na Espanha, e na própria Inglaterra contra as políticas de austeridade impostas pelos credores ou então autoimpostas pelo próprio governo conservador, demonstram que não vivemos dias felizes.
A miséria material continua a identificar países pobres e explorados da periferia, mas a miséria humana, a sensação de insegurança e falta de perspectivas e a frustração generalizada estão em toda parte. Especialmente no mundo rico.
Os EUA, que no pós-guerra eram uma sociedade coesa e vigorosa, hoje são uma sociedade dividida e desorientada. Na Europa a crise provocada pelo euro sugere para todos a estagnação senão a decadência econômica.
Como explicar o que está acontecendo? É o capitalismo que fracassou, é o Estado social que foi destruído, como afirma um crítico tão radical como brilhante como é Slavoj Zizek? Não aceito esse tipo de diagnóstico.
Os 30 anos neoliberais do capitalismo foram um tempo de retrocesso social e político, de aumento brutal das desigualdades e da instabilidade financeira e de diminuição das taxas de crescimento econômico. Mas o Estado social europeu sobreviveu porque foi defendido em eleições democráticas.
Foi então porque o mundo moderno perdeu seus parâmetros morais, como pretendem os conservadores? Não vale a pena perder tempo com esse tipo de não-explicação. As revoltas nem sempre são racionais, e muitas vezes não são sequer razoáveis, mas são sempre morais.
Mostram sempre indignação moral contra a injustiça, o privilégio e a corrupção dos ricos. Os revoltosos de Londres agiram em alguns momentos como criminosos, mas não subestimemos sua indignação.
Houve, sim, decadência moral no nosso tempo. Mas a perda de parâmetros morais decorreu da aliança contraditória e malsã do conservadorismo com o neoliberalismo - com uma ideologia ferozmente individualista, que nega de forma militante solidariedade e interesse público.
Os progressistas não têm o monopólio da moral, já que os conservadores foram sempre guardiões da moralidade, embora a confundindo com a ordem estabelecida. O conservador apenas não estava disposto, como estão o progressista e o revolucionário, a arriscar a ordem em nome da justiça social.
Quando, entretanto, nos 30 anos neoliberais, o conservadorismo foi capturado pelo neoliberalismo, tornou-se uma fonte de desorganização social e de retrocesso moral.
O mal-estar do nosso tempo só será superado quando o mundo rico redescobrir o futuro. Mas essa redescoberta só pode ser feita quando fizer a crítica ao neoliberalismo.
Os anos neoliberais do capitalismo terminaram com a crise financeira de 2008, que os desmoralizou, como desmoralizou a teoria econômica neoclássica que os justificava.
Mas nem as elites conservadoras nem os intelectuais progressistas foram capazes de fazer a crítica necessária do que aconteceu. Nem de reafirmar sua confiança na ideia do progresso ou do desenvolvimento.
sábado, 27 de agosto de 2011
A Veja continua um esgoto
de meu amigo Eduardo Guimarães, pescado em seu ótimo Blog da Cidadania
O silêncio da grande imprensa em torno dos fatos que culminaram com a reportagem de capa da edição da revista Veja desta semana, tem duas explicações: a primeira é a de que a matéria é um amontoado de suposições e de “escandalização” do nada; a segunda, é o crime que o veículo cometeu na tentativa de conseguir alguma sustentação para o que publicou.A matéria, primeiro. Constata que José Dirceu tem relações com políticos do PT, alguns dos quais estão no governo. A matéria poderia ter ido mais longe. Dirceu tinha relações com Lula quando presidente e agora tem com Dilma. Se ela não o visita, ele a visita. O fato de ele estar sendo investigado no inquérito do “mensalão” não o impede de ter relações políticas.
Tudo passaria como apenas mais uma demonstração de jornalismo irresponsável e antiético entre tantas outras que a revista da família Civita já deu. Desta vez, porém, ocorreu um fato espantoso, a despeito das suposições da revista sobre irregularidade que inexiste no fato de Dirceu se reunir com membros de seu partido ou de outros. Esse fato é o gerador do silêncio.
A Veja foge de se aprofundar no fato de ter hospedado seu jornalista no hotel em que José Dirceu se reúne com políticos em Brasília e de que este tentou invadir o apartamento do ex-ministro. Entrar no apartamento alheio em um hotel enganando a camareira, é crime. Pouco importa o que Dirceu estava fazendo.
Mesmo se o repórter tivesse conseguido esconder um equipamento de escuta no quarto de Dirceu, ou uma câmera, ou coisa que o valha, nada do que obtivesse por tais métodos seria legal. Na verdade, seria criminoso.
Há dúvida de que o repórter da Veja tentou invadir o quarto? Os testemunhos de funcionários do hotel não valem? O Boletim de Ocorrência não é nada? O fato de o repórter ter pedido para ficar no quarto ao lado do de Dirceu, não indica nada? Há alguma diferença entre os métodos da Veja e os do jornal britânico The News of the World?
E o principal: quem investigará o que ocorreu? A Polícia Federal? A de Brasília? O Congresso? A classe política aceitará que órgãos de imprensa invadam suas casas em busca de provas contra seus membros? É democrático e republicano que se possa invadir a casa de alguém sem ordem judicial, sem sustentação nenhuma?
O cerne da questão é a regulação da imprensa. A “reportagem” da Veja deixou claro que a brasileira usa métodos iguais ou piores dos que já se vai descobrindo que eram usados por parte da imprensa britânica e que, por lá, estão gerando um escândalo de proporções gigantescas, que inclui até prisão de jornalistas.
E ninguém fala em “censura”, por lá.
O que a Veja acaba de fazer só comprova que este país não avançará sem leis específicas e abrangentes para o exercício da atividade jornalística e sem limites éticos a tal atividade, e que não se pode justificar que a imprensa cometa crimes alegando que os comete para combater outros supostos crimes.
O silêncio em torno da constrangedora matéria da Veja e do ataque criminoso da revista não esconde pudor, mas consciência de que, se esse debate avançar, ficará muito claro o caráter imprescindível de um projeto de lei com regras e limites ao exercício da atividade jornalística e com mecanismos de punição de excessos como o que acabamos de ver.
Se mesmo com a comprovação cabal de que a imprensa brasileira comete crimes iguais ou piores do que os da britânica o governo Dilma não enviar de uma vez ao Congresso um projeto de lei de regulação da mídia, haverá uma crise institucional no Brasil. E todos nós sabemos como sempre acabaram as crises institucionais neste país.
OPINIÃO DO NASSIF
Veja chegou a um ponto sem retorno. Em plena efervescência do caso Murdoch, com o fim da blindagem para práticas criminosas por parte da grande mídia no mundo todo, com toda opinião esclarecida discutindo os limites para a ação dá mídia, ela dá seu passo mais atrevido, com a tentativa de invasão do apartamento de José Dirceu e o uso de imagens dos vídeos do hotel, protegidas pelo sigilo legal.Até agora, nenhum outro veículo da mídia repercutiu nenhuma das notícias: a da tentativa de invasão do apartamento de Dirceu, por ficar caracterizado o uso de táticas criminosas murdochianas no Brasil; e a matéria em si, um cozidão mal-ajambrado, uma sequência de ilações sem jornalismo no meio.
Veja hoje é uma ameaça direta ao jornalismo da Folha, Estadão, Globo, aos membros da Associação Nacional dos Jornais, a todo o segmento da velha mídia, por ter atropelado todos os limites. Sua ação lançou a mancha da criminalização para toda a mídia.
[...]
Definitivamente não sei o que se passa na cabeça de Roberto Civita e do Conselho Editorial da revista. Semana após semana ela se desmoraliza junto aos segmentos de opinião pública que contam, mesmo aqueles que estão do mesmo lado político da publicação. Pode contentar um tipo de leitor classe média pouco informado, que se move pelo efeito manada, não os que efetivamente contam. Mas com o tempo tende a envergonhar os próprios aliados.
Confesso que poucas vezes na história da mídia houve um processo tão clamoroso de marcha da insensatez, como o que acometeu a revista.
Porque hoje é sábado!... Eleanor Rigby dos Beatles - duas reinterpretações inusitadas
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
A vez dos BRICS
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
Especulação com a fome - Wall Street está incendiando o mundo
por David Kane, no Maryknoll Office for Global Concerns e no Huffington Post - adaptação de Assis Ribeiro, no blog do Nassif
Os movimentos sociais concentram a sua atuação no que afeta diretamente as comunidades mais pobres, os mercados de commodities, como trigo, milho, soja, café, açúcar, petróleo, gás natural, metais industriais e preciosos. É nesses mercados que especuladores de Wall Street ganham bilhões, enquanto todo mundo paga mais por sua comida e energia.
Como funcionam (ou deveriam funcionar) os mercados de futuros de commodities?
Os preços determinados pelos mercados de commodities, boa parte deles nos Estados Unidos, afetam o quanto pagamos por esses produtos no Brasil e no restante do mundo. Grandes compras de trigo, soja e outras commodities agrícolas sao feitas com o preço do Chicago Mercantile Exchange como referência. A maioria das commodities de energia são vendidas pelos preços da New York Mercantile Exchange. Assim, se os precos sobem em Chicago ou em Nova York, eles também sobem no mundo inteiro.
Esses mercados tem uma função importante para os agricultores e os seus compradores, pois permitem o estabelecimento de um preço fixo para vendas no futuro. Por exemplo, um agricultor de trigo nos EUA planta em abril, mas só vai vender com a safra de agosto. Muitas coisas podem acontecer entre abril e agosto para mudar o preço do trigo. O comprador também corre risco, nesse caso de o preco subir. Fixar um preço ajuda assim o planejamento dos dois. Esses contratos “futuros” são vendidos em Chicago e Nova York.
Os especuladores têm papel relevante nesses mercados. Na falta de outro comprador, o agricultor vende para um especulador, que, dessa forma, garante a “liquidez” aos mercados. Uma alta liquidez significa ter mais pessoas e dinheiro para fazer negócios. A situação nos mercados hoje é de liquidez excessiva.
Depois das crises nos EUA e na Europa na década de 1930, o Congresso norte-americano estabeleceu leis duras para evitar que os especuladores dominassem os mercados de commodities. Foram impostos limites para a especulação com commodities. Além disso, todas as vendas e compras de commodities se dariam em mercados abertos.
Com essas leis, os mercados de commodities funcionaram bem por muitas décadas. Vendedores e compradores de commodities representavam de 70% a 80% do mercado, e os especuladores, 20% e 30% dos mercados. A coisa, no entanto, começou a mudar na década de 1990…
O que mudou no mercado de commodities dos anos 1990 pra cá?
Durante os anos 90, a CFTC, a agência responsável pela regulação dos mercados de commodities, começou a conceder isenções nos limites de especulação para vários bancos e “hedge funds” (fundos privados de investimento). Finalmente, em 2000, o Congresso dos EUAaprovou uma lei que derrubou esses limites de especulação em commodities.
Por alguns anos, isso não foi um problema, pois os investidores estavam ganhando muito dinheiro em outras áreas. Depois, porém, dois fatos resultaram num grande aumento da especulação com comida e energia.
Em 2003, um estudo da AIG, uma grande corporação de seguros, mostrou que nos últimos 50 anos, os preços das commodities tiveram uma tendência contrária a ações e títulos. Por isso, seria vantajoso para os investidores institucionais (fundos de pensões e outros) investir uma parte dos seus recursos em commodities.
Ao mesmo tempo, esses investidores estavam perdendo dinheiro em outros mercados. Quando a Bolsa de Valores de Nova York caiu muito em 2000 e 2001, investidores tiraram dinheiro das ações e colocaram bilhões no mercado imobiliário. Esse monte de dinheiro causou uma bolha especulativa. Quando ela estourou, ocorreu a recente crise economica global.
Foi a partir desses dois fatos, o estudo da AIG e o estouro da bolha imobiliária, que os grandes investidores intitucionais começaram a colocar muito dinheiro em commodities. E foi muito dinheiro mesmo! Em 2003, esses investidores tinham US$ 13 bilhões em commodities. Em março de 2008, US$ 260 bilhões! A grande onda aumentou o preço das 25 principais commodities para uma média de 183% naqueles cinco anos. Em março de 2011, investidores institucionais tiveram um recorde US$ 412 bilhões. Por isso os preços de petróleo e comida continuam tão altos.
Hoje em dia, especuladores compõem 70% a 80% dos mercados de commodities, enquanto usuários genuínos (agricultores e fornecedores) não passam da faixa de 30%. O resultado é que os preços estão sendo determinados não pelas condições da oferta e procura, mas pelos banqueiros e gestores de fundos de pensão.
Investidores institucionais são especialmente nocivos, pois não agem como especuladores tradicionais, que compram commodities quando pensam que o preço vai subir e vendem quando acham que vai baixar. Investidores institutionais quase sempre compram um “índice” de commodities, quer dizer, uma cesta de várias commodities, apostando que os preços de todas vão subir a longo prazo, e seguram essa aposta por vários anos, como se fosse uma ação ou título.
A consequência desse tipo de investimento é uma tendência de aumentdo de todos os preços. Também significa que, quando esse investidores decidem retirar ao mesmo tempo os seus investimentos, como fizeram no final de 2008, os preços despencam.
A luta nos EUA e na Europa
Nos EUA, uma grande aliança se formou para enfrentar a especulação excessiva. Mais de 450 organizações, incluindo sindicatos, agricultores, entidades religiosas, grupos de consumidores, se juntaram e conseguiram influenciar a lei sobre reforma financeira, o Ato de Reforma de Wall Street e Proteção ao Consumidor. Esta lei, que passou em julho de 2010, incluiu mudanças nos mercados de commodities e mandou a CFTC colocar limites na especulação. Foi uma grande vitória da sociedade civil.
Infelizmente, a CFTC anunciou recentemente que só vai implementar as novas leis no final de 2011. Enquanto isso, populações não podem comprar alimentos, e os grandes banqueiros enriquecem.
A Comissão Europeia está considerando leis similares, e movimentos europeus pressionam para garantir que essas leis sejam rigorosas.
O papel do Brasil
É no G20 que o Brasil pode ter muita influência. O país tem o maior mercado de futuros da América Latina, e neste mercado há limites de especulação. A Índia também tem mercados com fortes limites de especulação e muita transparência. A experiência desses dois países pode ser usada para mostrar que os limites em especulação resultam em mercados mais estáveis.
No governo brasileiro, há opiniões diferentes sobre o perigo da especulação. Wagner Rossi, ministro da Agricultura, pensa que a especulação não é um problema, enquanto o ministro do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence, acha que ela deve ser considerada. A pressão dos movimentos sociais pode garantir que a visão de Florence prevaleça.
Em 2011, a França está na Presidência do G20 e quer usar a posição para implementar reformas de estabilização de preços de comida e energia no mundo. Diminuir a especulação excessiva é uma parte importante dessas reformas. O Brasil pode ter um papel chave nos debates entre os países do G20 sobre a especulação. Pressão dos movimentos brasileiros pode ajudar nisso.
Está na hora de a gente se mobilizar
Faz todo o sentido os movimentos sociais iniciarem um trabalho sobre as commodities, pois isso está afetando diretamente a capacidade de o povo se alimentar. Se às vezes assuntos financeiros, como regulamentos de bancos, seguros e contabilidade, podem parecer pouco importantes, são nessas áreas que o grande capital tem avançado e crescido.
Precisamos nos informar em cursos e seminários, criar materiais didáticos e promover mobilizações para educar o público em geral. Não podemos permitir que os grandes banqueiros sejam os únicos que entendam de finanças.
Está na hora de colocar as mãos na massa. Vamos parar o grande capital mais uma vez com a nossa inteligência e criatividade.
COMENTÁRIOS
de Daniel Campos no blog do Nassif
Explicado?
...........................
2) Alguém ainda não aceita que o especulador é uma literal ameaça para a humanidade?E agora não satisfeitos, ameaçam com a sua loucura insaciável o pilar fundamental de qualquer sociedade humana que é ter o que comer?
Creio que 2012 não vai ser o "fim do mundo" no sentido dos filmes de catástrofes... Será um "fim do mundo" porque o resto dos seres humanos vai perder a paciência com os especuladores, e aí a coisa vai ficar bem... feia.
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
Homenagem histórica - o legado de Getúlio Vargas
Osvaldo Bertolino, no O outro lado da Noticia
Quando Leonel Brizola comparou Luiz Inácio Lula da Silva a Getúlio Vargas em uma reunião petista, em 1998, ele não estava totalmente errado — ao menos no simbolismo político. O governo Lula se formou com a bandeira social, símbolo de esperança. O Brasil é que é, com seus vícios e suas virtudes, seus esplendores e suas misérias, graças fundamentalmente às mãos que o conduziram a partir de Getúlio Vargas. Após sair da pasmaceira que deu o tom da República Velha, o país entrou no período difuso do Estado Novo para em seguida chegar à era da "união nacional" varguista.
Getúlio Vargas (o dos anos 30) industrializou um Brasil que praticamente só plantava café. Derrubado pelos militares a serviço da elite — nesta época já associada ao imperialismo norte-americano —, quando seu projeto unitário avançava a passos largos, foi substituído, nas eleições de 1945, pelo general Eurico Gaspar Dutra — francamente pró-americano no processo de nascimento da Guerra Fria. Seu governo foi determinante para a formação, no Brasil, de dois campos abertamente em conflito.
Dutra perseguiu os patriotas — em seu governo, o registro do Partido Comunista do Brasil (então PCB) e a bancada parlamentar comunista foram cassados — e franqueou o país aos interesses militares dos Estados Unidos. Nas eleições seguintes, este projeto entreguista sofreu uma derrota — Vargas venceu as eleições em 1950 com um projeto de programa nacional. Golpeado, saiu morto do Palácio do Catete — então a sede do governo no Rio de Janeiro.
Em 1956, Juscelino Kubitschek assumiu a Presidência da República também sob ameaças da elite. Fez um governo de conciliação, com boa dose de apoio da sociedade, e foi sucedido por Jânio Quadros. Os gestos histriônicos e os bilhetes teatrais do novo presidente pouco fizeram além de criar um clima de grande tensão política no país. Sua renúncia abriu lugar a outro presidente popular, João Goulart — fato que despertou a ira dos interesses dominantes.
O golpe militar de 1964 condensou um processo histórico de luta da elite contra o povo, que ganhou contornos bem definidos no segundo período Vargas: o modelo entreguista, alheio ao interesse nacional, versus o desenvolvimento. No ciclo militar, o país sangrou e, do ponto de vista econômico, foi uma mediocridade fardada em cujo legado é difícil encontrar qualquer coisa de positivo.
Resposta dos conservadores
Depois desse período, o país experimentou o rol da ruindade presidencial da “era FHC”. Multidões saíram às ruas com palavras de ordem, faixas e cartazes combativos, enfrentando bombas de gás lacrimogêneo e tumulto. Este cenário era comum nos conturbados processos de privatização brasileiros dos anos 1990. Um quadro do qual decorre uma pergunta óbvia: que importância é essa que a venda das estatais brasileiras angariou no enfrentamento entre as forças da transformação e da reação naquele período?
A resposta é a determinação, expressa por FHC na sua primeira posse como presidente da República, de acabar com a “era Vargas”. Era uma resposta dos conservadores ao salto do país proporcionado pelos esforços empreendidos por Vargas para industrializar o país, alicerçados na bandeira do nacionalismo — condição fundamental para o governo do presidente Juscelino Kubitscheck conduzir a industrialização pesada dos anos 1950. Sob essa bandeira, o Brasil combateu o domínio dos trustes internacionais e advogou a formação de novas áreas de consumo interno.
Essas iniciativas impulsionaram os movimentos operários — em 1953, 300 mil trabalhadores aderiram a uma greve em São Paulo; em 1954, uma greve geral anticarestia, liderada pelo Pacto de Unidade Intersindical (PUI), parou um milhão também em São Paulo; e em 1957, 400 mil operários pararam, ainda na capital paulista, reivindicando aumento de 25% — e as lutas dos camponeses.
Avanço da industrialização
O Brasil vivia uma polarização decorrente de uma renhida luta entre as forças interessadas no desenvolvimento do país e os círculos que defendiam a dependência econômica e política, na qual vicejavam seus interesses investidos. Este cenário manifestava-se inclusive dentro do governo Juscelino Kubitscheck e refletia a evolução do quadro político desenhado pelos embates das décadas anteriores.
Quando Vargas assumiu o seu segundo governo, ele se deparou com problemas complexos herdados do governo do general Dutra e enfrentou a crise econômica acelerando o papel do Estado na economia e atraindo os trabalhadores para o seu projeto. Ao contrário de Dutra, que considerava indevida a intervenção do Estado na economia, Vargas aplicou — como havia feito no início da década de 40 — uma orientação política que correspondia às tendências nacionalistas das forças que o apoiavam e à sua doutrina de harmonia dos interesses de classes.
A atenção de seu governo concentrou-se nas medidas que possibilitariam o avanço da industrialização, que deveria ser apoiada preferencialmente no capital nacional e orientada para o mercado interno. A industrialização naqueles moldes era considerada por Vargas uma solução para a falta de divisas, para o desemprego e para a independência do país. O Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), pelo qual ele foi eleito, não dispunha de maioria no Congresso Nacional e o governo compôs um bloco de sustentação parlamentar com representantes de diversos partidos.
Uma nova era
O suicídio do presidente adiou o golpe militar pró-americano por dez anos. No início dos anos 1960, os elementos das duas opções estratégicas para o país condensaram-se e em 1964 os golpistas acabaram com o sonho das reformas de base preconizadas pelo governo do presidente João Goulart.
As forças democráticas e progressistas podem aprender boas lições com o estudo da experiência de Vargas. Quando ele chegou ao Palácio do Catete, em 1930, em um trem militar vindo do Estado do Rio Grande do Sul, o país inaugurou uma nova era. O líder da revolução vestia um uniforme cáqui, com um revólver metido na cintura, e representava, até na forma de vestir, os tenentes rebeldes que promoveram dois levantes e uma marcha histórica — a Coluna Prestes — na década de 1920 contra a República Velha.
Até então, o Partido Republicano Paulista (PRP) e o Partido Republicano Mineiro (PRM) revezavam-se no poder. O país era essencialmente rural — apenas 10% do Produto Interno Bruto (PIB) era industrial. Quando o esquife de Vargas deixou o Catete, 24 anos mais tarde, o Brasil não era nem sombra daquele país esculpido pelas oligarquias paulista e mineira. Em 1955, a produção industrial já representava 30% do PIB.
Intervenção do Estado
Uma das primeiras providências de Vargas foi alterar o papel do Estado. Antes, o governo interferia na economia apenas para garantir a boa vida dos oligarcas. O Estado comprava o café para preservar os fazendeiros de eventuais problemas na produção e da oscilação de preços no exterior. A moeda nacional flutuava ao sabor dos interesses dos fazendeiros — quando o preço caía no mercado internacional, o governo desvalorizava o dinheiro brasileiro e assim garantia os ganhos dos cafeicultores.
O novo presidente optou pela intervenção do Estado na economia para promover o desenvolvimento industrial. De 1932 a 1937, o PIB cresceu, em média, 7% ao ano. O Estado construiu empresas estratégicas para a economia nacional, como a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a Vale do Rio Doce, e criou uma vasta legislação trabalhista — a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) — e social. No seu segundo governo, Vargas criou a Petrobras — iniciativa que resultou de um vigoroso movimento patriótico — e fundou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), hoje acrescido da palavra Social e com a sigla BNDES.
As turbulências políticas do primeiro governo Vargas decorreram das contradições que envolviam o país. Os levantes dos tenentes e a Coluna Prestes tinham como objetivo único derrotar as oligarquias da República Velha. Eles não formaram um partido político e deram seqüência às suas carreiras políticas por caminhos distintos.
Campeão de popularidade
De um lado, o movimento operário avançava e sua liderança — o Partido Comunista do Brasil — via a revolução de 30 como algo que deveria ser substituído por um governo "apoiado em sovietes de operários e camponeses", avaliação que evoluiu para o levante revolucionário de 1935 liderado pela Aliança Nacional Libertadora (ANL). De outro, a oligarquia paulista lançou a campanha pela constitucionalização do país e promoveu a guerra civil de 1932. Dois anos depois, uma assembléia eleita pelo povo promulgou a nova Constituição. Como resposta ao levante de 1935, Vargas desencadeou a repressão e, mais tarde — em 1937 —, instaurou a ditadura do Estado Novo.
Os tenentes se dividiram, basicamente, entre os que apoiaram Vargas e os que participaram do levante de 1935. A ditadura investiu com fúria contra os comunistas até a hábil política do então PCB de propor a "união nacional" contra o nazi-fascismo — palavra de ordem que logo seria associada à defesa da democracia. O governo se dividiu.
De um lado, apoiando o Eixo Roma-Berlin, ficaram o ministro da Guerra, Eurico Gaspar Dutra, o sucessor de Vargas, e o feroz chefe do aparelho repressivo, Filinto Müler. De outro, ficaram o presidente e o ministro das Relações Exteriores, o chanceler Osvaldo Aranha. Com forte apoio dos comunistas, o governo criou a Força Expedicionária Brasileira (FEB), que foi combater o nazi-fascismo na Europa. Essas posturas democráticas de Vargas e a vitória dos aliados fizeram do presidente um campeão de popularidade.
Apoio dos trabalhadores
Quando ele voltou ao governo, o país já estava enquadrado no molde da Guerra Fria e respirava os ares reacionários do governo Dutra — aliado incondicional do imperialismo norte-americano. Vargas fez um governo dúbio: ao mesmo tempo em que cedeu aos setores golpistas das Forças Armadas, porta-vozes dos interesses militares norte-americanos, com o acordo militar Brasil-Estados Unidos, amainou a repressão política.
O governo também desenvolveu uma política nacional de impulso à industrialização, enfrentou a crise econômica deixada por Dutra e procurou atrair o apoio dos trabalhadores. O ministro do Trabalho, João Goulart, propôs um reajuste de 100% no salário mínimo, sofreu um violento ataque de militares reacionários e caiu — mas Vargas bancou a proposta e concedeu o reajuste. O governo também enfrentou o imperialismo, criando uma lei de remessa de lucros para obrigar as empresas estrangeiras a investir no país.
Violentamente atacado pela direita, Vargas respondeu ao ultimato para que renunciasse dizendo que só sairia do Catete morto — como de fato aconteceu. Com a popularidade em alta, seu suicídio revoltou a população, que chorou a morte do presidente, apedrejou a embaixada dos Estados Unidos e incendiou jornais. Sua marca ficou registrada, de forma indelével, na memória do povo brasileiro e na história do Brasil.
Capitalismo do desastre - Abutres sobre a Libia
por Pepe Escobar, no Asia Times Online
Pensem na nova Líbia como último espetacular capítulo da série “Capitalismo de Desastre”. Em vez de armas de destruição em massa, tivemos a "R2P" (“responsabilidade de proteger”). Em vez de neoconservadores, imperialistas humanitários.
Mas o alvo é sempre o mesmo: mudança de regime. E o projeto é o mesmo: desmantelar e privatizar uma nação que não se integrou ao turbo-capitalismo; abrir mais uma (lucrativa) terra de oportunidades para o neoliberalismo super turbinado. E a coisa vem em boa hora, porque acontece em momento já próximo de plena recessão global.
Demorará um pouco. O petróleo líbio não voltará ao mercado antes de 18 meses. Mas há o negócio da reconstrução de tudo que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) bombardeou (sim, sim, nem tudo que o Pentágono bombardeou em 2003 foi reconstruído no Iraque…)
Seja como for – do petróleo à reconstrução – brotam oportunidades para negócios sumarentos. O neonapoleônico Nicolas Sarkozy da França e o britânico David das Arábias Cameron acreditam que estarão especialmente bem posicionados para lucrar com a vitória da OTAN. Mas nada garante que a nova bonança baste para arrancar da recessão as duas ex-potências coloniais (neocoloniais?).
O presidente Sarkozy em particular mamará nas oportunidades comerciais para empresas francesas o mais que possa – parte de sua ambiciosa agenda de “reposicionamento estratégico” da França no mundo árabe. Uma imprensa francesa complacente decidiu armar os ‘rebeldes’ com armamento francês, em íntima cooperação com o Qatar, incluindo uma unidade de comandos ‘rebeldes’ mandada por mar de Misrata para Trípoli sábado passado, no início da “Operação Sirene”.[1]
Bem, já se viram movimentos de abertura desses desenvolvimentos, desde quando o chefe de protocolo de Muammar Kadafi fugiu para Paris, em outubro de 2010. Foi quando todo esse drama de mudança de regime começou a ser incubado.Como já foi observado aqui (ver “Bem-vindos à ‘democracia’ Líbia”), os abutres já voejam sobre Trípoli para devorar (e monopolizar) os despojos. E, sim – grande parte da ação tem a haver com negócios de petróleo, como disse Abdeljalil Mayouf, gerente de informações da Arabian Gulf Oil Company ‘rebelde’, em declaração nua e crua: “Não temos problemas com países ocidentais como empresas italianas, francesas e britânicas. Mas podemos ter algumas questões políticas com Rússia, China e Brasil.”
Esses três são membros crucialmente importantes do grupo BRICS das economias emergentes (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), países que estão crescendo, enquanto as economias atlanticistas e OTAN-bombardeantes estão afundadas em estagnação ou recessão. Os quatro principais BRICSs também se abstiveram na votação que aprovou a Resolução n. 1.973 do Conselho de Segurança da ONU, a mascarada daquela ‘zona aérea de exclusão’ que depois se metamorfoseou em bombardeio cerrado, pela OTAN, para forçar, de cima para baixo, uma ‘mudança de regime’. Esses países viram corretamente o que havia para ver, desde o início.
Para piorar (para eles) ainda mais as coisas, só três dias antes de o Africom (Comando Africano) do Pentágono lançar seus primeiros 150 (ou mais) Tomahawks contra a Líbia, o coronel Kadafi deu entrevista à televisão alemã, na qual destacou que, se o país fosse atacado, todos os contratos de energia seriam transferidos para empresas russas, indiana e chinesas.
Assim sendo, os vencedores da bonança do petróleo já estão designados: membros da OTAN mais monarquias árabes. Dentre as empresas envolvidas, a British Petroleum (BP), a francesa Total e a empresa nacional de petróleo do Qatar. Do ponto de vista do Qatar – que investiu jatos de combate e soldados na linha de frente, treinou ‘rebeldes’ em táticas de combate exaustivo e já está negociando vendas de petróleo no leste da Líbia – a guerra se comprovará muito esperta decisão de investimento.
Antes da crise que já dura meses e está agora nos movimentos finais, com os ‘rebeldes’ já na capital, Trípoli, a Líbia estava produzindo 1,6 milhões de barris/dia de petróleo. Quando recomeçar a produzir, os novos senhores de Trípoli colherão alguma coisa como US$50 bilhões/ano. Estima-se que as reservas líbias cheguem a 46,4 bilhões de barris.
Melhor farão os ‘rebeldes’ da nova Líbia se não se meterem com a China. Há cinco meses, a política oficial chinesa já era exigir um cessar-fogo; tivesse acontecido, Kadafi ainda controlaria mais da metade da Líbia. Pequim – que jamais foi fã de ‘mudança de regime’ violenta – está exercitando, por hora, a arte da moderação extrema.
Zhongliang, chefe do Ministério do Comércio, observou, otimista, que “a Líbia continuará a proteger os interesses e direitos dos investidores chineses, e esperamos manter os investimentos e a cooperação econômica”. Abundam as declarações oficiais que enfatizam a “mútua cooperação econômica”.
Semana passada, Abdel Hafiz Ghoga, vice-presidente do sinistro Conselho Nacional de Transição, disse à rede de notícia Xinhua que serão respeitados todos os negócios e contratos firmados com o regime de Kadafi. – Mas Pequim não quer saber de correr riscos.
A Líbia forneceu apenas 3% do petróleo que a China consumiu em 2010. Angola é fornecedor muito mais crucial. Mas a China ainda é o principal consumidor de petróleo líbio na Ásia. Além disso, a China pode ser muito útil no front da reconstrução da infraestrutura, ou na exportação de tecnologia – nada menos que 75 empresas chinesas, com 36 mil empregados já trabalhavam na Líbia antes do início da guerra civil/tribal (e foram evacuados, com eficiência e sem alarde, em menos de três dias).
Os russos – da Gazprom à Tafnet – tinham bilhões de dólares investidos em projetos na Líbia; as brasileiras Petrobras, gigante do petróleo e a empresa construtora Odebrecht também tinham interesses lá. Ainda não se sabe exatamente o que acontecerá com eles. O diretor geral do Conselho de Comércio Rússia-Líbia, Aram Shegunts, está extremamente preocupado: “Nossas empresas perderão tudo, porque a OTAN impedirá que façam negócios na Líbia.”
A Itália logo entendeu que lá teria de ficar, “com ‘rebeldes’ ou sem”. A gigante italiana ENI, parece, não será afetada, dado que o primeiro-ministro Silvio “Bunga Bunga” Berlusconi pragmaticamente abandonou seu ex-íntimo amigo Kadafi, logo no início do bombardeio EUA-Africacom/OTAN.
Os diretores da ENI italiana estão confiantes de que o petróleo líbio recomeçará a fluir para o sul da Itália ainda antes do inverno. E o embaixador da Líbia na Itália, Hafed Gaddur, disse a Roma que os contratos da Era Kadafi serão honrados. Por via das dúvidas, Berlusconi se reunirá com o primeiro-ministro do Conselho Nacional de Transição, Mahmoud Jibril, na próxima quinta-feira, em Milão.
Bin Laden os salvará [2]
O ministro das Relações Exteriores da Turquia Ahmet Davutoglu – da famosa política de “zero problemas com nossos vizinhos” – também já andou elogiando os ex-‘rebeldes’ convertidos em poder de fato. Também de olhos postos na bonança de negócios da era pós-Kadafi, Ankara – que é o flanco oriental da OTAN – terminou por ajudar a impor um bloqueio naval contra o regime de Kadafi, cultivou atentamente o Conselho Nacional de Transição e, em julho, reconheceu-o formalmente como governo da Líbia. Business “recompensa” os ardilosos.
Chegamos afinal ao coração desse script: o que a Casa de Saud lucrará por ter sido instrumento para implantar um regime amigável na Líbia, possivelmente salpicado de salafitas notáveis; uma das razões chaves para o massacre imposto pelos sauditas – que incluiu um voto inventado na Liga Árabe – foi o ódio furioso que separou Kadafi e o rei Abdullah, desde as primeiras escaramuças que levaram à guerra contra o Iraque em 2002.
Nunca será demasiado destacar a hipocrisia cósmica de uma monarquia/teocracia medieval absoluta ultra reacionária – que invadiu o Bahrain e reprimiu com brutalidade os xiitas locais – apoiar o que se apresenta como movimento pró-democracia no Norte da África.
Seja como for, é hora de celebrarem. Em breve, lá estará o grupo saudita Bin Laden Construtora, para reconstruir feito doido em toda a Líbia – é possível que transformem Bab al-Aziziyah (que foi saqueado) em hotel-shopping center de luxo monstro da Tripolitânia.[1] Orig. “Operation Siren”. A operação foi lançada no sábado à noite, à “hora do Iftar”, que marca o fim do jejum religioso do Ramadan. As “sirenes”, que eram usadas pela Al-Qaeda para convocar manifestações contra o governo de Kadafi, foram usadas dessa vez como sinal para os pequenos grupos de ‘rebeldes’ de Benghazi (para outros, seriam pequenos grupos de militantes da Al-Qaeda) que já estavam em Trípoli. Esses pequenos grupos iniciaram algumas escaramuças em terra, coordenadas com intenso bombardeio aéreo pelas forças da OTAN (cf. Thierry Meyssan, TARPLEY.net, 21/8/2011). Jornais norte-americanos falam de uma “Operation Mermaid Dawn” [operação Aurora da Sereia] contra a Líbia, acrescentando que “mermaid” [sereia] seria nome em código para “Líbia” (cf. Huffington Post, 22/8/2011, em português (não em inglês), há algum deslizamento de significados entre “sereia”, o ser mítico, e “sirene”/”sirena”, o dispositivo que há em carros de bombeiros e ambulâncias, que emite som e, também os aparelhos que emitem alarme de incêndio em prédios. Sem algum comentário, perder-se-ia essa ambigüidade, na tradução [NTs].
[2] Orig. Bin Laden to the rescue, ‘politicamente’ muito difícil de traduzir. A solução que propomos é uma, dentre outras possíveis e pode ser melhorada. Correções e sugestões são bem-vindas. Consideramos também “Só bin Laden salva”, descartada por votos, quer dizer, menos por argumentos, que pela maioria. Traduzir é empreitada cheia de riscos inevitáveis [NTs].
Tradução para português por Vila Vudu