variações sobre um texto de Vladimir Pinheiro Safatle, no Planeta Osasco
Há algo de profundamente cômico (ou trágico) em ouvir o premiê britânico, David Cameron, afirmar que a Inglaterra está vivendo um "colapso moral" e que devemos colocar os confrontos em Londres e em outras cidades na conta da ausência de valores como "espírito de equipe, decência, dever e disciplina".
Sim, as escolas e as famílias não ensinam mais esses grandes valores, mas, segundo o primeiro-ministro, em seu papel de último esteio moral da ilha, "desencorajam o trabalho" e fornecem "direitos sem responsabilidade". Por muito pouco, não fomos brindados com a brilhante e inovadora ideia de que as altas taxas de desemprego eram fruto da "preguiça".
Alguém deveria ter dito a Cameron que ele não é exatamente um bom enunciador contra o colapso moral britânico, ainda mais depois de um de seus principais assessores ser pego envolvido no escândalo que expôs as relações incestuosas entre a política britânica e o magnata da mídia Rupert Murdoch.
Da mesma forma, quando seu governo destrói todo o resto de sistema público de educação e de assistência social após ter pago (com o beneplácito de seu partido) a conta de bancos responsáveis pela crise de 2008, há de se perguntar se o colapso moral vem da City ou de Tottenham.
Pelo menos Cameron mostrou o que o pensamento conservador pode nos oferecer hoje: ladainhas morais em vez de ações enérgicas contra os verdadeiros arruaceiros, ou seja, esses que operam no sistema financeiro internacional.
No outro lado do Atlântico o céu se tolda de nuvens negras também. Nos EUA, o mercado de trabalho e a inflação deram sinais de piora. O número de pedidos de auxílio-desemprego subiu 9 mil, para 408 mil, na semana passada, superando bastante a expectativa de alta de 5 mil pedidos, para 400 mil. Logo teremos agitação na America do Norte também. Aí quero ver o Tea Party em ação.
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