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sábado, 23 de abril de 2016
A boa notícia é a juventude... Orgulho!...
por Artur Scavone, no Viomundo
O sonho de uma sociedade livre e solidária era muito forte entre nós. Che Guevara era nosso ídolo. Cuba era a referência de uma sociedade livre em que todos tinham saúde, educação, não conheciam a fome e tinham amor à pátria.
O império norte-americano dominava os territórios da América Latina, controlava nossos governos e treinava os torturadores locais. E sugava nossas riquezas em conluio com a burguesia local.
Nas universidades, fábricas, teatros, sindicatos e igrejas, o exército vigiava, prendia, torturava e matava. As grandes empresas – como a Folha e Ultragas – articularam-se com os DOI-CODI para dar-lhes estruturas que serviam para emboscar os que resistiam à ditadura. No Vietnã Ho Chi Min comandava a resistência à invasão imperialista. E nós éramos solidários. Criar um, dois, três, mil Vietnãs era a palavra de ordem do Che. Resistimos à ditadura assim como os jovens resistiram na Argentina, Chile, Uruguai e no restante da América Latina. Não aceitamos sua tentativa de legitimação. Fomos mortos e encarcerados.
No cárcere, a denúncia da existência de presos políticos teve solidariedade internacional. A resistência armada, depois a resistência dos movimentos sociais e o início das grandes greves, fizeram fraquejar a ditadura. No bojo da luta, constituiu-se uma grande frente que pactuou a esquerda e resultou no PT. Nesse meio tempo, o muro caiu. Enquanto o sonho socialista sangrava, o PT proclamava o socialismo como meta estratégica. Foi centro das atenções internacionais. Conquistamos um grande partido de massas. Elegemos Lula.
Essa vanguarda cumpriu seu papel, conquistou avanços, criou vícios e cometeu erros. Envelheceu. Não é mais capaz de apaixonar porque seus sonhos foram aos poucos sendo testados, cada um, e transformaram-se em realidades, algumas boas, outras ruins. A luta constante esvaiu sua capacidade de sonhar e cada vez que pisou com força o chão duro da realidade política, maior foi a angústia com os resultados conquistados. O sonho de uma sociedade libertária foi barrado pelo muro que caiu, pelas burocracias ossificadas e pelo poder do capital. Mas a luta contra a ditadura fez brotar frutos. No caminho marcado pelos corpos de muitos companheiros e companheiras que tombaram, nossas gerações conseguiram conquistar o direito de praticar políticas sociais inovadoras e mudar a cara do Brasil.
Inscrevemos direitos na constituição de 88. Mas não fizemos a reforma política. Não conseguimos avançar na organização popular. Não regulamos a mídia das seis grandes famílias. Nem avançamos como era necessário em outras frentes. Mais que isso, no exercício da política assumimos as práticas que combatíamos. Nossas formas de organização envelheceram. Erramos.
Mas a boa notícia é que há sangue jovem pulsando nas ruas: as novas gerações estão ocupando seus lugares históricos da resistência.
Com este ciclo fechado é preciso regar o novo que brota nas ruas e dar-lhes a confiança de que é preciso desobedecer e transgredir, duvidar e ousar pelo sonho de uma sociedade mais humana e libertária. Não é possível aceitar o retrocesso contra tudo – por pouco que tenha sido – o que conquistamos.
Não se pode aceitar um congresso corrompido ideológica e materialmente. Não é possível aceitar louvações a torturadores e à tortura. Menos ainda podemos aceitar a redução de direitos. Os fatos mais recentes mostram os custos de dormir com o inimigo: não é possível aceitar o conluio entre empresários e políticos. Não é razoável aceitar o fortalecimento dos preconceitos e do ódio contra os avanços libertários conquistados.
A força do novo está na juventude que resiste nas ruas. É preciso sugar a vontade de liberdade que ainda existe em todos nós para então construir sobre a experiência dessa velha vanguarda, fazendo a crítica de seus métodos e das suas formas de organização. É preciso inovar. É preciso empunhar com ousadia o vermelho rubro de quem acredita que um outro mundo é possível.
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