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terça-feira, 21 de abril de 2015

O retardado e seu revólver de madeira



por Fabio de Oliveira Ribeiro, no blog do Nassif

A insistência da oposição e da imprensa de diariamente tentar, se elevando a um ilusório pedestal ético, assaltar o poder conferido pelo povo à Dilma Rousseff na forma da CF/88 é irritante. A moralidade da imprensa (que sonega impostos, faz propaganda de políticos mafiosos e remete dinheiro para a Suíça ilegalmente) é nenhuma, a da oposição um exercício cotidiano de hipocrisia (coisa de bandido perseguido pelo MPF que pretende forjar a própria impunidade). Tudo isto está me deixando com muita raiva. Por isto hoje fui ao sebo.

O primeiro livro que me chamou a atenção foi “Ideologia e Utopia”, de Karl Mannheim, Editora Globo, Rio de Janeiro, 1956. O segundo foi “Conferências Artigos e Crônicas”, de Monteiro Lobato, editora Brasiliense, São Paulo, 1964. Os dois volumes estavam em bom estado então resolvi adquirir ambos.

Folheando a obra de Monteiro Lobato me deparei com o texto “Como os países se suicidam”, em que o autor se refere às riquezas minerais do Brasil. Diz ele:

“Temos antes de mais nada que os considerar como um depósito confiado à nossa guarda. Não somos os donos. O dono é o país. Reserva única, insubstituível, irreproduzível, que o passado nos legou e de que o futuro nos pedirá contas, fôrça é ter a seu respeito a mais sábia das políticas.”

As palavras de Monteiro Lobato encontram eco nas sábias políticas adotadas por Lula e Dilma Rousseff em relação ao Pré-sal. Urge, portanto, conservar o que nos foi confiado. Aqueles que querem entregar o que é nosso à sanha exploratória dos norte-americanos agem como se fossem donos de algo que pertence ao Brasil, algo que não é propriedade do PSDB, deste ou daquele senador tucano. O livro de Karl Mannheim folhearei um outro dia.

Lobato se notabilizou pela sua literatura infantil. Dai me veio a lembrança três coisas: minha infância, um programa de TV e uma história infantil. Começarei pela última.

Pedro e o Lobo. História conhecida, que hoje pode ser contada mais ou menos assim. Era uma vez num país distante uma oposição que ficava gritando “Impedimento, Impedimento, Impedimento”, tentando fazer a população acreditar que o Presidente era um lobo. A população corria para verificar o que estava ocorrendo e percebia que a oposição estava enganada, que ela mesma é que deveria ser impedida de continuar a dar alarmes falsos ou falsear a realidade. Esta história ainda não chegou ao fim. Se continuar gritando “Impedimento, Impedimento, Impedimento” a oposição corre o risco de ficar mais fraca do que já é ou de transformar a população num lobo que vai devorar o regime constitucional para poder devorar a própria oposição.

Os lobos evocaram em mim a imagem do cordeiro. Então, das cavernas de minha memória infantil emergiu uma história parecida com a de Pedro e o Lobo. Mas nesta o personagem principal é ingenuo e inofensivo. Não lembro o nome do teledrama. Do enredo lembro vagamente e desde logo peço perdão em caso de engano. O protagonista meio retardado, representado pelo então jovem Rolando Boldrin, gostava de filmes de faroeste. Ele era muito querido, mas havia alguém que o odiava. O vilão fez para ele um revólver de madeira identico a um verdadeiro. Vestido de cowboy, com o revolver no coldre, o herói vai passear todo feliz. Abordado pela polícia ele pensa que tudo aquilo não passa de uma brincadeira. Ele saca o brinquedo e é morto. A oposição saca o Impedimento como se o mesmo fosse um brinquedo. O perigo de morte numa guerra civil é sempre real.

O Brasil já teve um presidente que dizia que a questão social era caso de polícia. Os dois últimos presidentes tratam a questão social como ela deve ser tratada, com carinho. A oposição, contudo, segue acreditando que a repressão policial é a única solução para a questão social. Quer reduzir a maioridade penal, aprovar a pena de morte, rebaixar o MST e os outros movimentos sociais à condição de grupos terroristas para que tudo seja solucionado como no princípio do século XX. A oposição não tem política, pois a repressão organizada, a violência estatal e a guerra - seja ela externa ou interna - são a própria negação da política (como, aliás, notou com grande tirocínio Hannah Arendt).

A não política da oposição é a política do “caso especial”. A minoria que representa uma minoria está apontando uma arma de madeira para a população brasileira. Mesmo não sendo ingenua - Aécio Neves, FHC, Caiado, Bolsonaro e seus "canetas" na imprensa estão agindo como vilões que conduzem nosso país a uma guerra civil - a oposição pode acabar como aquele personagem representado por Rolando Boldrin. É fato: nem a imprensa nem os oposicionistas tem controle do Estado e da população. A oposição deve, portanto, se conformar com a derrota eleitoral e fazer política, caso contrário a situação pode ser empurrada pelo povo a encerrar o jogo de maneira autoritária.

Memória é esquecimento. Só consegui lembrar as coisas da minha infância quando esqueci da realidade à minha volta procurando tesouros num sebo. Ao fazer o caminho de volta, da memória para o presente, fui capaz de reelaborar ambas. A oposição esqueceu que é oposição. Insiste em lembrar os bons tempos em que podia mandar e forçar todos à sujeição. Vem daí a sua tragédia e, sobretudo, sua ineficácia política e eleitoral.

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