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terça-feira, 18 de novembro de 2014

A escassez de água é uma bomba semiótica?...



por Wilson Roberto Vieira Ferreira, no Cinegnose


Em meio à verdadeira contagem regressiva diária para o fim do chamado volume morto do sistema Cantareira de abastecimento de água da Grande São Paulo, o apresentador do SPTV da Globo, César Tralli, fala em tom dramático: “temos que economizar água, gente. Está acabando a água em todo o planeta!”.

Sincronicamente, estreia nos cinemas o filme Interestelar de Christopher Nolan, cuja narrativa se situa em um futuro próximo onde as fontes naturais do planeta Terra se tornam escassas e os ecossistemas são varridos por tempestades de areia, ameaçando a sobrevivência da espécie humana.

Telejornais e Hollywood fazem nos últimos anos uma evidente caixa de ressonância: ficção e realidade, cinema e jornalismo parecem se replicar para reforçar uma espécie de agenda global de confirmação de que o planeta segue uma marcha histórica para a catástrofe: Cada “anomalia” atmosférica (um tornado que se divide em dois, recorde de temperaturas no verão ou de nevascas no inverno, etc.) é apressadamente associada à pauta do Aquecimento Global.

Há uma ansiedade nervosa por conexões nos telejornais. Notícias sazonais de queimadas em estações secas desde a Califórnia (principalmente quando se aproximam de mansões de celebridades) até o Planalto Central brasileiro seria a confirmação desse script. A afirmação, no mínimo curiosa, do jornalista César Tralli em pretender “globalizar” a crise de abastecimento hídrico na Grande São Paulo confirma esse cacoete.



O mito da escassez da água

E por que a escassez de água é um mito por ser reforçado numa estratégia de agenda setting (fixação de agenda)?... O mundo não está ficando sem água doce, como apontam estudos como, por exemplo, o UNDP Human Development Report de 2006. Desmascarando o mito de que a crise é o resultado da escassez, esse relatório defende que a pobreza e a desigualdade de poder estão no centro do problema.

Há muita água doce no planeta. A questão é que, pelo ciclo da água, ela simplesmente se move de um lugar para o outro. A água nunca é perdida. O que se perde é dinheiro e energia necessários para transporte, purificação e distribuição de água.

A recorrência do tema da escassez na ficção cinematográfica e telejornais tenta transformar a água em um bem escasso e não renovável assim como petróleo e gás. E o que seria mais importante e decisivo, a razão principal dessa recorrência ficcional-jornalística: a transformação da água em mercadoria dada a sua suposta natureza escassa.



Escassez de água e a Agenda Global

E o que é mais importante: se o que se perde não é água, mas dinheiro e energia o efeito ideológico principal da bomba semiótica da recorrência é a naturalização de uma questão político-econômica – os discursos das mudanças climáticas, efeito estufa e assim por diante escondem que está em jogo dois paradigmas antagônicos em torno da água: de um lado, dinheiro e energia provenientes dos recursos públicos e do interesse social; e do outro recursos originados do capital, sob a condição de transformar um bem universal em mercadoria rentável para interesses privados.

Em postagens anteriores vimos que a grande mídia acabou se tornando um sistema tautista (ao mesmo tempo autista e tautológico), isto é, fechado em si mesmo, auto-remissivo e incapaz de representar a realidade externa - sobre esse conceito clique aqui.

A principal motivação da grande mídia não é propriamente ideológica ou política, mas sim sua auto-reprodução: recortar e filtrar os inputs enviados pela realidade para transformá-los em insumos (notícias, filmes, entretenimento etc.) que ajudem a reprodução do próprio sistema midiático – audiência, monopólio, poder econômico etc.

Se Hollywood e os telejornais da grande mídia funcionam como caixa de ressonância para essa estratégia de agenda setting que constrói o mito da escassez da água como uma bomba semiótica, certamente não é por convicção político-ideológico. Se a indústria de entretenimento cede ao “product placement” ou a produção de roteiros com plots sobre um planeta sem água, é muito mais por lisonja do que por uma convicção qualquer: ao se ver requisitada pelas elites que estão por trás da agenda global que busca a mercantilização generalizada da vida humana, acaba reforçando o próprio mito hipodérmico do poder ilimitado de manipulação da mídia. Mito que mantém o próprio sistema midiático tautista.

De concreto estaria a deliberada e proposital “má gestão” do governo Alckmin em esgotar de forma sistemática e agressiva (raspando até com escavadeiras o fundo de lodo do chamado “volume morto” das represas) o sistema de abastecimento da Grande São Paulo.

Como cortina de fumaça, Alckmin e a grande mídia reforçam o script político dos factoides: ir a Brasília pedir dinheiro para a presidenta Dilma, tensão política com o Rio de Janeiro ao propor utilizar as águas do rio Paraíba do Sul etc.

Tudo para encobrir a aplicação de uma agenda global da mercantilização da água, cuja “Guerra da Água” na Bolívia em 2000 foi o chamado “Alpha Test” – a privatização do sistema de gestão de água pela empresa Aguas Tunari (do grupo norte-americano Bechtel) feita pelo presidente Hugo Banzer (sob pressão do Banco Mundial) e a posterior revolta da população, proibida, inclusive, de captar água da chuva.

Se isso for verdade, nesse momento o Estado de São Paulo pode ser o “Beta Test”, tal qual no mundo dos softwares: Alpha é a primeira etapa de testes antes de um novo software ser concluído. Beta é a segunda etapa que inclui a implementação no mundo real.











Um comentário:

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