* Este blog luta por uma sociedade mais igualitária e justa, pela democratização da informação, pela transparência no exercício do poder público e na defesa de questões sociais e ambientais.
* Aqui temos tolerância com a crítica, mas com o que não temos tolerância é com a mentira.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Ecologia, direita volver!... Ambientalismo à frente da justiça social



Por Emir Sader, no Carta Maior

Originalmente as reivindicações ecologistas surgiram no seio dos partidos de esquerda, enriquecendo e ampliando suas plataformas. Na saída da estreita visão de que a resolução da contradição capital x trabalho resolveria a todas as outras, reivindicações de gênero, de etnia, de meio ambiente, vieram renovar a esquerda.

Mas esse processo afetou também os partidos tradicionais da esquerda. Alguns aderiram a variantes do neoliberalismo – como os social democratas ou nacionalistas -, outros foram diretamente afetados pelo fim da URSS – em particular os partidos comunistas. Nesse marco movimentos sociais e mesmo ONGs participaram ativamente da resistência ao neoliberalismo ascendente.

Com as novas temáticas e essas transformações no campo político-partidario, surgiram também novos enfoques teóricos, que passaram a se centra na “sociedade civil” em lugar de abordagens de classes sociais, com um forte viés anti-Estado, anti-partido, anti-politica. O próprio Forum Social Mundial foi organizado nesse movimento, proibindo a participação de partidos e se localizando no campo da “sociedade civil”.

O partido verde de maior projeção internacional, o alemão, protagonizou o caso mais significativo. Porque teve mais apoio eleitoral, ocupou cargos mais importantes – o de Ministro e Vice-Ministro de Relacoes Exteriores, com Joschka Fischer, de 1998 a 2005, no governo de Gerhard Schroeder – e aí pôde evidenciar mais claramente como realismo politico levou os verdes alemães a desempenhar um papel muito negativo. Fischer apoiou a todas as aventuras militares norte-americanas, incluídas todas as do governo de George Bush.

Na Franca, sem ocupar cargos de governo, os verdes, sob a liderança de Daniel Cohn-Bendit, se descaracterizaram completamente, até mesmo como força de esquerda. Aqui mesmo no Brasil, a imagem de Fernando Gabeira seguiu trajetória similar e ainda pior, tornando-se aliado estreito dos governos e candidaturas tucanas.

Não é portanto novidade que Marina Silva, aquela que parecia diferenciar-se dos outros lideres verdes ao fazer parte do governo de esquerda no Brasil, terminasse reproduzindo a mesma descaracterização. Seu passado verde já nem deixou marcar na sua plataforma atual – pro capital financeiro e pro capital estrangeiro. E’ apenas mais um exemplo de que os verdes, quando se destacam da esquerda, terminam, pela via da equidistância da esquerda e da direita, despolitizando-se e fazendo o jogo da direita.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Ecologia, ecologismo, alhos e bugalhos



por Marcos Antonio Camargo Ferreira, no HiperNoticias


O ecologismo é uma ideologia, às vezes política, às vezes por pura paixão, surgida com a percepção do uso dos recursos dos naturais, de forma a contrariar a definição de sustentabilidade ...

O meio ambiente ou só meio, ou só ambiente é usado para denominar o conjunto de condições naturais ou artificiais, leis naturais ou criadas para definir normas sociais, influências de ordem física, química e biológica, que interferem na vida em todas as suas formas. Normalmente confundido com ecologia ou desenvolvimento sustentável e às vezes até com campanhas publicitárias com ações como reciclagem…

O Desenvolvimento Sustentável, embora tenha concepções anteriores, ficou definido pela Comissão das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, como “aquele capaz de atender as necessidades das gerações atuais sem comprometer o potencial de suprir as necessidades das gerações futuras”.

A ecologia, não tem nada a ver com reciclar latinhas ou plantar árvores… Ecologia é uma Ciência. De um modo geral, seu objetivo é estudar as relações que ocorrem no meio ambiente, sejam ela entre seres vivos (indivíduos, comunidades, populações, metapopulações etc) e o ecossistema. Ecologia é diferente de ecologismo.

O ecologismo é uma ideologia, às vezes política, às vezes por pura paixão, surgida com a percepção do uso dos recursos dos naturais, de forma a contrariar a definição de sustentabilidade que vimos anteriormente. O Ecologismo propõe ações considerando o meio ambiente como foco central destas ações ao invés de colocar o ser humano em primeiro plano (antropocentrismo). Então, aqui é que entram as campanhas de reciclagem de latinhas, se acorrentar a uma árvore para evitar seu corte, o ataque a navios baleeiros para evitar a caça a baleias, entre outras ações.

Todavia em alguns casos de ecologismo parecem hilários… Certa vez, vi uma cidade que por ocasião do natal, foi toda enfeitada com árvores de natal construída de garrafas de PET (Politereftalato de etileno). As árvores haviam sido construídas por alunos das escolas públicas, em uma excelente campanha de educação ambiental. Todavia, esta campanha foi patrocinada pela empresa de refrigerante, que vendeu mais refrigerante devido à necessidade de matéria prima para construções das tais árvores… Passado o natal… Mais lixo gerado.

Conforme alguns pesquisadores da Educação Ambiental, muitos professores ainda veem a educação ambiental apenas como um conjunto de atividades relacionadas com a ecologia. Para estes pesquisadores a Educação ambiental, deveria ser encarada como uma “filosofia de condução da prática da educação, que contribua para o alcance da cidadania plena” tornando se um processo de educação que não vise só à utilização racional dos recursos naturais, mas a participação dos cidadãos nas discussões e decisões sobre a questão ambiental.

Campanha semelhante ocorreu recentemente na capital do país, onde uma grande indústria de refrigerantes propunha que os consumidores doassem suas garrafas pet (apenas da marca) para a construção das arquibancadas do Estádio Nacional, uma forma de estimular consumo sob o pretexto de ter contribuído com a construção do estádio.

Embora importantes, essas, são questões menores. O fato principal quando se propõe comemorar o dia do meio ambiente, se dá em função na verdade não da exaltação do próprio meio ambiente, mas sim de chamar atenção para a sua degradação.

A emissão de gases de efeito estufa por queima de combustíveis e desmatamento é amplamente relatada, mas o IPI para compra de automóveis vai ser zero, e este ano, apenas uma única montadora de uma única marca colocará 250.000 novos carros nas ruas e, além disso, vamos bater novos recordes na safra. Então… Não se trata de dificultar a agricultura ou de parar de fabricar carros e de todas as demais atividades que executamos diariamente, mas de buscar alternativas para que reduzir seu impacto sobre o meio, evitando a degradação ambiental.

A degradação ambiental é o conjunto de processos resultantes de danos no meio ambiente, pelos quais se perdem ou se reduzem suas propriedades, tais como, a qualidade ou capacidade produtiva dos recursos ambientais.

Desta forma, quando se propõe reduzir o desmatamento, reduzir emissões, reduzir consumismo, na verdade estamos propondo a redução de consumo de recursos, com objetivo muitas vezes, de manter a capacidade que o planeta tem de suportar a vida humana. Por que, mesmo que o planeta não tenha capacidade de suporte para a vida humana, o ambiente e muitas outras formas, mesmo de uma forma diferente, continuarão a existir. Na maioria das vezes é a visão antropocêntrica que prevalece, até no meio dos ecologistas…

Então… Não se trata de cuidar de um planeta, trata-se de cuidar de nossa casa…

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Método PIG bananeiro: Como esconder uma notícia




por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa





Brasil, Venezuela, Chile, Cuba e México são os países da América Latina que venceram a fome estrutural. Essa informação consta de um relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), que registra os avanços na luta global contra a insegurança alimentar. Cerca de 805 milhões de pessoas ainda têm que lutar por comida no dia a dia em todo o mundo, e a maioria delas se concentra em regiões afetadas por conflitos ou por condições climáticas adversas. O relatório completo, com 57 páginas em inglês, pode ser obtido no site da entidade (ver aqui).

Os principais jornais brasileiros usam como fonte o resumo distribuído pela FAO, onde se pode ler, por exemplo, que o Brasil foi um dos primeiros países do mundo a atingir o principal objetivo de desenvolvimento do Milênio e as metas da Cúpula da Alimentação. O documento será um dos destaques da 69ª Assembleia Geral das Nações Unidas, que se realizará no dia 23 deste mês.

Um dos requisitos para o sucesso do programa, segundo o relatório, é a manutenção de políticas de combate direto à fome crônica, sustentadas por medidas colaterais destinadas a criar uma estrutura de atendimento a outras necessidades das parcelas mais carentes da população. No Brasil, o núcleo de ataque ao problema alimentar foi o programa Fome Zero, seguido pelo complexo de medidas agregadas no conjunto das bolsas de apoio ao desenvolvimento humano, a partir de um sistema que assegura disponibilidade, acesso, estabilidade e utilização de meios para manter uma nutrição segura.

Apesar das turbulências políticas que se sucederam em várias partes do mundo e dos efeitos perversos da especulação financeira no processo da globalização – que produziu uma grande crise econômica mundial –, a última década registrou um avanço histórico na luta contra o mais grave flagelo da humanidade – a falta de alimentos suficientes para sustentar a vida.

O principal suporte dos números da FAO vem do desempenho dos países asiáticos e latino-americanos citados no documento, entre os quais se destaca o Brasil.

Notícia envergonhada

Sob o ponto de vista de um jornalismo comprometido com a busca objetiva dos fatos mais relevantes, essa seria a manchete: “ONU confirma sucesso na redução da fome”. Numa abordagem jornalística, essa frase representaria a síntese a ser tirada do relatório intitulado “O estado da insegurança alimentar no mundo - 2014”, porque os índices declinantes da desnutrição crônica mostram que a fase mais difícil foi ultrapassada, com a superação de barreiras estruturais para a oferta segura de alimentos em grande parte do planeta e a passagem para a etapa seguinte da melhoria da qualidade de vida – a da construção da cidadania.

Mas o que faz a mídia tradicional do Brasil?

O Jornal Nacional, da TV Globo, destinou exatos 37 segundos à notícia – tempo que se dedica diariamente ao boletim meteorológico –, destacando que, “vinte anos atrás, 14,8% dos brasileiros viviam na miséria; agora, esse índice é de menos de 2%”. Uma reportagem sobre a causa da morte do ex-jogador de futebol Hideraldo Luiz Bellini – ocorrida em março –, a encefalopatia traumática crônica, doença degenerativa ligada a esportes de contato, mereceu um minuto a mais.

O Estado de S.Paulo foi o jornal que deu maior importância ao documento, com um título em alto de página, na editoria “Metrópole”, no qual se lê: “Brasil sai do mapa da fome, afirma ONU”.

A Folha de S. Paulo subverte a informação mais importante, num texto de duas colunas de 9 centímetros de altura em que tenta desqualificar o teor do relatório, com o título: “3,4 milhões passam fome no Brasil, diz ONU”. Logo abaixo, afirma que “Órgão dirigido por ex-ministro de Lula adota novo cálculo e elogia combate à desnutrição”.

O Globo dá uma no cravo, outra na ferradura. “ONU: 800 milhões de pessoas passam fome no mundo”, diz o título da reportagem, seguido por uma linha fina onde se lê: “Relatório cita Brasil como destaque positivo; desde 1990, famintos do país caíram de 14,8% para 1,7% da população”. O jornal carioca também faz referência ao assunto no material sobre a disputa eleitoral, com texto em que a presidente Dilma Rousseff comemora o anúncio da FAO.

Só para lembrar: a imprensa hegemônica do Brasil sempre se opôs aos programas de redução da miséria, que tiveram, entre seus inspiradores, a ex-primeira-dama Ruth Cardoso e o senador Eduardo Suplicy. Agora que os resultados se consolidam, a notícia fica escondida.

Como diria aquele apresentador da televisão: “É uma vergonha!”

Geopolítica mundial e as eleições da Terra papagalis


por J. Carlos de Assis, no blog do Nassif

Celso Daniel foi apresentado por Lula numa reunião de empresários no Rio, na campanha de 2002, como seu principal assessor econômico. Sobre Palocci, que estava presente na mesma reunião, o então candidato a Presidente pouco disse. Dias depois Celso Daniel foi assassinado e Palocci assumiu seu lugar na assessoria direta a Lula. Marina Silva era uma coadjuvante de pouca expressão na campanha de Eduardo Campos até que o acidente que o matou catapultou a candidatura dela na base da comoção nacional. Assim como Aécio, Eduardo, a frio, não tinha a menor chance de eleição. Marina tem.

O que Marina e Palocci tem em comum, além de beneficiários de assassinato e acidente em pleno jogo do poder, é uma explícita adesão à política imperial norte-americana. Palocci tentou empurrar a ALCA- Associação de Livre Comércio das Américas goela abaixo do povo brasileiro, conforme ficou comprovado por Wilkleaks. Só não conseguiu porque Lula, influenciado por Celso Amorim e Samuel Pinheiro Guimarães, evitou o desastre. A assessoria de Marina já anunciou o propósito de promover tratados bilaterais de livre comércio com a União Europeia e EUA. E um recuo em nossa relação com os BRICS.

Deixemos de lado teorias conspiratórias e fiquemos apenas nas coincidências. O Governo norte-americano não faz segredo para ninguém que seu objetivo estratégico é abrir espaço no mundo para suas empresas. A isso chamam de promover a livre iniciativa e a democracia. De acordo com as conveniências, tomam como rótulo também a promoção dos direitos humanos. Mas só os ingênuos acreditam que isso seja o eixo de suas relações internacionais. Elas são movidas antes de mais nada pelos interesses econômicos privados dos cidadãos norte-americanos que mandam efetivamente em seu governo, em especial a ala republicana.

Na Guerra Fria, quando havia uma justificativa ideológica para encobrir os reais interesses norte-americanos, o Departamento de Estado e a CIA sempre se acharam no direito de promover assassinatos e golpes de estado em nome do mundo livre, como foi no Chile de Allende, segundo documentos do Governo americano recém-liberados. Patrício Lumumba, um secretário-geral da ONU de tendência socialista, morreu num suspeito desastre de avião na África. Guatemala e Granada, na América Central, sofreram invasões e golpes de estado patrocinados diretamente pelos americanos. Só Coreia, Vietnã e Cuba conseguiram resistir com algum grau de ajuda soviética.

Com o fim da Guerra Fria era de se esperar que a política de poder imperial dos Estados Unidos transitasse das formas autoritárias e sanguinárias de controle para artes mais persuasivas. Esta de certa forma era a expectativa do mundo porque, com o fim do império soviético, não havia mais um poder econômico-militar em condições de desafiar os EUA. Entretanto, surgiu um problema: como legado da Guerra Fria, a Federação Russa, embora enfraquecida militar e economicamente, manteve-se como um poder nuclear em pé de igualdade com os EUA. É que o poder nuclear se nivela por baixo.

Nem os mais desvairados estrategistas norte-americanos proporiam uma guerra direta com a Federação Russa, por razões óbvias. Daí que a estratégia americana implementada pelo braço agressivo e provocador da OTAN passou a ser resgatar do armário antigos textos geopolíticos e estrangular progressivamente a Rússia em si mesma pela cooptação de seus antigos satélites. Em 1999, entraram na OTAN a República Checa, a Hungria e a Polônia. Em 2004 veio o segundo round, com a entrada de Bulgária, Estônia, Letônia, Lituânia, Romênia, Eslováquia e Eslovênia, tudo sob protestos da Rússia baseados em acordos feitos antes de unificação alemã e agora violados.

Na sequência, em 2008, os EUA propuseram abertamente a admissão de Geórgia e Ucrânia. França e Alemanha se opuseram com receio de hostilizar ainda mais a Rússia. Daqui em frente cito a “Foreign Affairs” de setembro/outubro, uma das mais prestigiosas revistas do estabelecimento político norte-americano:

“Alexander Grushko, então vice-ministro da Rússia, disse: 'A entrada de Geórgia e Ucrânia na Aliança é um imenso erro estratégico que teria as mais sérias consequências para a segurança pã-europeia'. Putin confirmou que a admissão daqueles dois países à OTAN representaria uma 'ameaça direta' à Rússia. Um jornal russo reportou que Putin, falando com Bush, 'muito transparentemente insinuou que se a Ucrânia fosse aceita na OTAN ela cessaria de existir.”

Não obstante, o Governo americano financiou direta e indiretamente insurgentes de todos os matizes, inclusive fascistas, neonazistas e antisionistas, para desestabilizar o Governo legítimo da Ucrânia com o objetivo último de erguer uma fortaleza da OTAN na fronteira da Rússia. Os passos seguintes são conhecidos: numa magistral manobra estratégica, Putin usou as demandas e um plebiscito com os russófilos da Crimeia para ocupar a península; a Ucrânia entrou em guerra civil, somente suspensa por uma trégua precária; e a OTAN formalizou a entrada do país como membro, numa direta provocação à Rússia.

Note-se que estrategistas americanos da estatura de um Kissinger manifestaram em artigos sua opinião de que a Ucrânia não deveria ser incorporada à OTAN, nem à Rússia, mas constituir uma espécie de colchão entre a Rússia e o Ocidente fazendo o papel da Finlândia na Guerra Fria. É um conselho prudente se se quer levar em conta as legítimas preocupações geopolíticas russos com a ameaça de ter um potencial adversário em seu quintal. Como a crise ucraniana não é só militar, mas econômica, institucional e social, é possível que Putin simplesmente deixe a situação ucraniana degenerar-se até a extinção do país numa explosão entrópica, já que ninguém vai esperar que a Europa falida, e mesmo os EUA, vão resgatar o país com dinheiro.

Essa “vitória” da adesão à OTAN é similar às “vitórias” americanas na Coreia, no Vietnã, no Iraque e no Afeganistão: depois de espalhar morte e terror nos países invadidos, os EUA se retiram sem glória, carregando seus caixões e seus feridos, e deixando para trás uma terra arrasada entregue aos nacionais para a recuperação com seus próprios recursos. Jamais tanta força militar bruta foi usada no mundo com tão poucos resultados positivos, mesmo do ponto de vista do poder imperialista. O mesmo padrão se aplicou na chamada Primavera Árabe, onde regimes autoritários da Líbia, do Egito, do Iemen e da Síria foram desestabilizados por insurgentes financiados pelos EUA e as potências secundárias europeias, e depois abandonados.

É que também nesse caso o rastro do que ficou foi uma política de terra arrasada: no Egito, o poder caiu por algum tempo nas mãos de um braço radical da Irmandade Muçulmana, exigindo a restauração de uma ditadura militar; na Líbia, o país está retalhado entre mais de 200 milícias armadas, cada uma mandando em seu feudo e impedindo qualquer possibilidade de eficácia do poder central; na Síria, a tentativa de desestabilização de Assad resultou na emergência do Califado, chamado pelos ocidentais de Estado Islâmico, erigido como o flagelo dos ocidentais. Tudo isso, para resumir, tem sido produto da estratégia americana de estabelecer um poder absoluto no mundo para o qual é fundamental neutralizar completamente a Rússia.

É aí que entramos nós. A partir de um acrônimo inofensivo, um grupo de países denominados BRICS surgiu no horizonte com um potencial considerável de desconforto para os EUA. São eles Rússia, a superpotência nuclear abertamente hostilizada por Washington; China, potência nuclear e econômica olhada com grande desconfiança; Índia, potência nuclear tradicionalmente independente, Brasil e África do Sul - em geral amistosos com os EUA, não obstante o fato de que eles grampeiam normalmente os meios de comunicação da maior empresa brasileira e da Presidenta da República. Isso, talvez porque, no nosso caso, estejamos buscando, desde Lula, um destino mais autônomo sem prejuízo de nossas relações amistosas com eles.

Esses países representam mais de um terço da população do mundo, parte considerável do PIB e, sobretudo, um grande potencial de crescimento que se compara à estagnação da Europa Ocidental, do Japão e dos próprios Estados Unidos. Do ponto de vista militar os Estados Unidos certamente não têm por que temer os BRICS. Entretanto, se esse bloco evoluir para uma articulação econômica mais profunda isso representará uma perda de espaço para a empresa norte-americana. Nisso, Washington é implacável. A retórica do livre comércio não passa de um rótulo ideológico para criar situações favoráveis à empresa privada dos Estados Unidos ou sócia deles.

Isso significa que, depois de décadas em que temos sido insignificantes no plano das relações externas norte-americanas, viramos alvo da geoeconomia e da geopolítica do país. Enquanto os BRICS foram apenas conversa de presidentes e atos sociais sem consequência, passaram quase despercebidos. Quando decidiram criar um Banco de Desenvolvimento e um Fundo de Estabilização, ascenderam-se em Washington todas as luzes vermelhas. Uma dessas luzes vermelhas, por coincidência, brilhou em Santos na forma de um acidente aéreo que colocou na linha de sucessão presidencial a mais cândida personagem amiga das ONGs americanas e dos grandes banqueiros, e hostil aos BRICS e à Unasul. Se ela ganhar, os Estados Unidos não precisarão de bombardear o Brasil para que esqueçamos nossas ambições de um caminho autônomo de desenvolvimento. A bomba virá de dentro.

Detesto teorias de conspiração, mas por que desapareceram com as duas testemunhas vizinhas do local do acidente de Eduardo que viram, separadamente, bolas de fogo no motor do jato ainda no ar? Por que a TV Globo, que pôs no ar as declarações dessas testemunhas, sumiu com elas a pretexto de que foi uma confusão psicológica? Por que William Waack levou mais de dez minutos no ar para “explicar” o suposto estado de desorientação do piloto – um piloto experiente que deveria estar no máximo de sua atenção porque em arremetida? Por que a única testemunha técnica dos últimos momentos, a caixa preta, não tinha gravado nada? Não, não foi conspiração. Apenas coincidências. Quanto a mim, “No creo em brujas; pero que las hay, las hay”!

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Economia Verde – de novo o embuste da financeirização do Meio Ambiente


Por Ana Paula Salviatti, na Carta Maior

Porta-voz do discurso ambientalista, carro chefe da 'nova política' da candidata pela Coligação Unidos pelo Brasil, Marina Silva retira sua concepção ecológica dos velhos Programas de Ajustamento Estruturais. Novidade?...

Só se for a dos papéis emitidos no mercado secundário, em busca, após as últimas crises econômicas, de reciclarem seus papéis podres com a injeção de liquidez produzida pela emissão dos Créditos de Carbono.

Discurso do novo

Estado e Democracia de Alta Intensidade, Democratizar a Democracia, governança robusta e a busca pela paz e harmonia entre os povos, são termos retirados do programa de Marina Silva, recentemente disponibilizado na internet. É um portfólio de governo. O discurso do novo é bastante conhecido pelos países que atravessaram as políticas de ajuste nos anos 80 e 90.

Então do que se trataria este novo?...

É necessário compreender que a demanda em defesa das condições ambientais é pauta antiga, levantada por pessoas publicas como o sindicalista Chico Mendes, morto em 1988, ou como do casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, assassinados em 2001, no norte do país.

Chico Mendes era o defensor não do desenvolvimento sustentável, mas da defesa dos povos da floresta que demandavam que a selva Amazônica permanecesse de pé, o que exigia a proteção da mesma em relação aos interesses de mercado – externo e interno.

O longo e disputado percurso que levou décadas para incorporar a crise ecológica ao discurso do ambientalmente sustentável foi conquistado nos globalizados anos 90. O verbete defendido por agências internacionais pró-mercado é tão ecologicamente correto quanto as exigências por cortes orçamentários do Banco Mundial e FMI foram para a saúde e educação.

Enganava-se quem acreditou que a cartilha havia desaparecido. Afinal, não se falava mais dela. Provavelmente porque tenha sido reencadernada com uma estampa nova.

As soluções são conhecidas por todos - são as soluções de mercado, capazes de gerar liquidez através da criação de propriedade, conhecidas como privatização (e a descrição de suas ligações com as tensões enfrentadas cotidianamente na cidade e no campo é um dos grandes desafios atualmente enfrentados pelas pesquisas acadêmicas).

O que se viu nos anos 80 e 90 com o desmonte do já deficiente Estado, seguido da titularização da dívida é prolongado agora com a economia do desenvolvimento sustentável.

O que ocorre é a cooptação de uma crise ecológica com intuito de ser administrada dentro dos instrumentos de mercado desenvolvidos em um período de finanças liberadas.

Assim, o debate é qualificado e solucionado mediante a utilização de instrumentos de mercado, que em tempos de finanças liberadas são capazes de ampliar os limites dos negócios.

As propostas implementadas pelo Protocolo de Quioto instituíram o Mercado de Emissões, que nada mais é do que uma plataforma de negócios que opera na esfera financeira, fornecendo papéis no mercado primário (onde os títulos estão ligados com a economia produtiva, ou real), e ao mercado secundário (onde os títulos ‘derivam’ daqueles primeiros e são agrupados em inúmeros fundos de investimento).

Sabemos que hoje um título no mercado secundário é negociado em média 4 vezes no mesmo dia.

O discurso ambientalista - que se apresenta como única alternativa praticável de ecologia - está em vias de privatizar todo o complexo ecológico, gerando um novo e potente mercado.

A título de exemplo, um dos projetos que geram créditos de carbono são os conhecidos desertos verdes. Hectares e mais hectares de florestas nativas são postos no chão para darem lugar ao economicamente sustentável monocultivo de eucalipto transgênico que alimentará dentro de sete anos os altos-fornos onde são fundidos lingotes de ferro.

É o chamado “gusa verde” que, por economizar emissões de carbono no lugar de carvão mineral, é avaliado como um exemplo de sustentabilidade. Mesmo que para tanto sejam expulsos os antigos moradores destas áreas juntamente de toda a biosfera que vivia lá anteriormente, já que as plantações de monocultivo transgênico são estéreis à vida.

A produção de carvão vegetal através de florestas plantadas é um dos quatro exemplos citados pelo projeto da Coligação quando se trata da ampliação de produtos florestais. A estratégia definida é a de alavancar a participação brasileira no mercado mundial destes produtos, um dos nichos econômicos dos quais o país tem as maiores condições de se estabelecer como líder, segundo os dados apresentados. É a mais nova fronteira de mercado a ser investida.

Estamos falando de um dos muitos projetos que possuem investimento direto do Banco Mundial.

Transformar em títulos todo esse conjunto sem ter ao menos clareza do que está sendo feito é vender toda a fonte economicamente produtiva da qual os países de economia orientada como o nosso, ou, de forma mais moderna, países em desenvolvimento – e sustentável – são baseados.

Em 2009 o analista financeiro Louis Redshaw do Banco Barclays declarou que o mercado de Créditos de Carbono poderia se tornar o maior mercado de commodities do futuro.

Afinal, se puderem injetar liquidez nos mercados internacionais emitindo títulos sobre todo o conjunto de recursos naturais e matérias-primas, isso significaria garantir à esfera financeira uma quantidade de negócios quase inesgotáveis. Quase.

Os bancos sabem disso. Inclusive, num portfólio de 2009 do Itaú, são apresentadas ações para clientes interessados em diversificar sua cartela de investimentos com os títulos de créditos de carbono, no qual é apresentado um gráfico do Barclays, onde a taxa de retorno média dos últimos dois anos foi de 37%.

Retornos modestos, mas que para um mercado que precisa reciclar papéis sujos emitidos que continuam circulando desde as crises das empresas "ponto.com" (2001) e das hipotecas subprimes norte-americanas (2008), o dinheiro ambiental é uma ótima fonte de negócios novos.

Mas e resultados práticos disso?...

O primeiro período do Protocolo de Quioto, aquele que institui o mercado de emissões de Carbono como forma viável de desenvolvimento sustentável e mitigação dos desastres ambientais referentes ao aquecimento global, apenas reduziu em 0,02% as emissões necessárias, um número bem próximo ao fracasso. No entanto, é apresentado como única esperança para as futuras gerações  [fala-se de resultados ecológicos, mas na verdade o que lhes interessa são oportunidades] de investimentos.

Os créditos de carbono já são conhecidos pelos mais íntimos como carbono subprime. Esses créditos precisam ser validados para só então serem emitidos e posteriormente comercializadas no mercado. Mas os investimentos fazem negócios visando o futuro, e não podem esperar tamanha burocracia, já que mercados que ainda enfrentam as dificuldades herdadas pela última crise estão em busca de liquidez.

O que sabemos é que esses títulos que ainda sequer foram produzidos já circulam nos mercados. Colocando os países emissores destes créditos, por exemplo, o Brasil, no centro de futuras bolhas financeiras que possam vir a se formar.

O discurso ambiental do qual a candidata Marina Silva é defensora conforme vemos em seu programa é o da geração de um ambiente sustentável [para a economia], que vive em crises sucessivas e necessita constantemente de injeções de liquidez para seus mercados secundários. Os mesmos que encenaram as crises recentes do sistema financeiro. Não é à toa que uma série de bancos estão interessados na candidata da Coligação, e em pouco tempo muitos outros estarão. É o desenvolvimento sustentável para a economia financeira garantir novas plataformas de valorização.
____________





quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A carga tributária no nosso Bananal é a maior do mundo?...

óleo sobre tela de Marinus van Reymerswaele, 1539

por Antonio Martins (parcial), no Outras Palavras

Com base em muitos dados, pode-se seguramente a firmar que o problema da carga tributária brasileira não está em ser “a mais alta do mundo” (uma grossa mentira), mas em estar, seguramente, entre as mais injustas do planeta.

Os grandes grupos econômicos e os mais ricos usam seu poder político para criar leis que os isentam de impostos — despejados sobre as costas dos assalariados e da classe média. A mídia comercial esconde esta realidade, para que nada mude. Acompanhe:


- A carga tributária brasileira não é a “mais alta do mundo”, mas a 32ª (entre 178 países). O cálculo é de um estudo comparativo da Fundação Heritage, um thinktank norte-americano conservador - mas com algum compromisso com a realidade.

- A carga tributária subiu consideravelmente, de fato, entre 1991 e 2011. Passou de 27% do PIB para 35,1%. Porém, a parte deste aumento de arrecadação foi consumida no pagamento de juros pelo Estado - quase sempre, para grandes grupos econômicos. A taxa Selic subiu para até 40% ao ano nas duas crises cambiais que o país viveu sob o governo FHC. O aumento do gasto social (de 11,24% do PIB para 15,24%, no período), que ocorreu de fato, a partir de 2002, consumiu apenas parte do aumento da receita.

- O poder econômico usa uma série de expedientes para livrar-se de impostos. O principal é a estrutura tributária brasileira. Ela foi cuidadosamente construída para basear-se em impostos indiretos (os que incidem sobre preços de produtos e serviços) e reduzir ao máximo os impostos diretos. Há duas vantagens, para as elites, nesta escolha:


  1. Impostos indiretos são, por natureza, regressivos. A alíquota de ICMS que um bilionário paga sobre um tubo de pasta de dentes, uma geladeira ou a conta de luz é idêntica à de um favelado;
  2. Além disso, assalariados e classe média consomem quase tudo o que ganham - por isso, pagam impostos indiretos sobre toda sua renda. Já os endinheirados entesouram a maior parte de seus rendimentos, fugindo dos tributos pagos pelo conjunto da sociedade.


- Esta primeira distorção cria um cenário quase surreal de injustiça tributária. Um estudo do IPEA  revela que quanto mais alto está o contribuinte, na pirâmide de concentração de renda, menos ele compromete, de sua renda, com impostos. Por exemplo: os 10% mais pobres contribuem para o Tesouro com 32% de seus rendimentos; enquanto isso, os 10% mais ricos, contribuem com apenas 21%…

- Basear a estrutura tributária em tributos indiretos é uma particularidade brasileira, que atende aos interesses dos mais ricos. Aqui os Impostos sobre a Renda respondem por apenas 13,26% da carga tributária. Nos países capitalistas mais desenvolvidos, membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os impostos diretos correspondem a 2/3 do total dos tributos.

- Além disso, e sempre em favor dos mais poderosos, o Brasil praticamente renuncia a arrecadar impostos sobre o patrimônio. Aqui, os tributos que incidem diretamente sobre a propriedade equivalem apenas a 1,31% do PIB. Este percentual chega a 10% no Canadá, 10,3% no Japão, 11,8% na Coreia do Sul e 12,5% nos Estados Unidos…

- Ainda mais privilegiados são setores específicos das elites. O Imposto Territorial Rural (ITR), que incide sobre a propriedade de terra, arrecada o equivalente a apenas 0,01% do PIB. A renúncia do Estado a receber tributos sobre os latifundiários provoca, todos os anos, perda de bilhões de reais — que poderiam assegurar, por exemplo, Saúde e Educação públicas de qualidade.



Nos últimos treze anos o Brasil viveu um processo real - embora ainda muito tímido - de redistribuição de renda. Entre 1991 e 2002, o Coeficiente de Gini caiu de 0,593 para 0,526, depois de décadas de elevação (segundo este cálculo, quanto mais alto o índice, que vai de 0 a 1, maior a desigualdade). Ainda é muito pouco: segundo cálculos do Banco Mundial, em 2013 o país era o 13º mais desigual do mundo. Para continuar reduzindo a desigualdade, uma Reforma Tributária é instrumento essencial. Não é por outro motivo que as elites insistem em manter este conservar este tema como tabu.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Esses guris ainda são da turma de Marina?... ou sua turma agora é outra?...





por Fernando em seu O Tijolaço

relatório do Banco Mundial divulgado hoje diz:  "o Brasil é um dos poucos países que conseguiu reduzir a pobreza na primeira década do século 21".

Eram 35% perto da virada do século; em 2011, 17%. Hoje, certamente, a percentagem é já um pouco menor. Ainda assim, muita gente, um “país” de perto de 200 milhões de seres humanos.

O relatório diz o que todo mundo sabe: que o Bolsa Família, o salário-mínimo e os investimentos públicos são os responsáveis por esse ainda pequeno, embora gigantesco, progresso social. O outro nome deste progresso social é, portanto, gasto público .

E gasto público, Marina Silva é o que é cortado, constrangido, reprimido em nome da fé ao novo Deus de sua adoração : O Mercado.

Essa é a fé dos teus novos amigos, que em nada se parecem com os guris ai da foto.

Louvam o ” Santíssimo Tripé ” do neoliberalismo , uma diabólica trindade que faz os camelos passarem pelo buraco de uma agulha e os ricos, nesta terra, viverem sempre no reino dos céus .

Os meninos da linda fotografia de André Correa que Bolsa-Família, do governo Lula, prolongado no de Dilma, tirou da extrema pobreza.

Quer que eu traduza ? Tirou da fome, da disenteria, do analfabetismo. Tirou da morte.

Não foi a senhora simpática do Itaú, que ganha, todo ano, mais bilhões que os cofres públicos, com esforço, podem dar a eles. Aliás, Marina, o Itaú deve ao Fisco quase um ano inteiro do Bolsa-Família: mais de R$ 19 bilhões, contra uma média anual de R$ 16,5 bilhões aplicados nele de 2003 a 2013.

E muito mais, Marina, o governo entrega aos bancos, porque estes lhe botam o pé da mídia no pescoço, na forma de juros.

São os homens e mulheres do teu novo mundo os que tiram o dicumê destas crianças, alimentadas com o Bolsa-Família que nossa elite considera apenas uma “boquinha eleitoral”.

São bocas pequenas, sim, mas cuja fome jamais provocou a a indignação dos teus gurus econômicos, como não provoca a ira dos teus tutores religiosos, que te movem para frente e para trás nas suas promessas, mas que não te exigem nunca que cuide da mais perfeita obra que um deus poderia fazer: as crianças.

Estes ai , Marina, precisam do dinheiro do petróleo para ter uma escola, precisam do desenvolvimento econômico para ter um emprego, precisam das hidroelétricas para não viverem nas trevas, e de rodovias , ferrovias, portos, para que a atividade econômica não os sujeite, de novo, ao abandono e à falta de futuro.

Estas crianças, Marina Silva, são ainda as feridas mal-curadas do Brasil de 500 anos, do Brasil velho que te aplaude agora.

Um Brasil que só há doze anos começou a mudar – e que por isso provoca tanto ódio a quem não basta ter, quer também que poucos tenham – e que não vai parar para jogar fora estes meninos junto com tudo de bom que por eles se fez.

Um processo que você abandonou porque a vaidade a empurrou quando não foi a escolhida, mas Dilma, para ser a candidata de Lula. Talvez por razões que sua trajetória posterior tenham confirmado.

É por eles, Marina, que a gente vai lutar e vai vencer.

Porque é neles que acreditamos.

Este povo humilde – até as pesquisas mostram – não se encanta com sua hipocrisia, com suas alianças com o Mal, com suas palavras vazias e empoladas, com seu “tripé macroeconômico”.

Não adianta lhes prometer bilhões e bilhões que você não tem de onde tirar.

Porque a turma onde há para tirar – e é tão difícil tira-lhes algo, sobretudo o seu horror aos pobres – é agora, Marina, infelizmente, a sua própria turma.

Nosso Bananal sobrevive a isso?... 27 ervas do nacionalismo



por Adriano Benayon, no redecastorphoto


1. As TVs e a grande mídia promovem intensamente a candidata que surgiu com a morte do desaparecido na explosão. Marina da Silva costuma ser apresentada como defensora do meio-ambiente e como diferente de políticos que têm levado o País à ruína financeira e estrutural, como foram os casos, em especial, de Collor e de FHC.

2. Mas Marina não representa ambientalismo algum honesto, nem qualquer outra coisa honesta. O que tem feito é, a serviço do poder imperial angloamericano, usar a preservação do meio ambiente como pretexto para impedir - ou retardar e tornar absurdamente caras - muitas obras de infra-estrutura essenciais ao desenvolvimento do País.

3. Pior ainda, a tirania do poder mundial, com a colaboração de seus agentes locais, já ocupa enormes áreas, notadamente na região amazônica, para explorar não só a biodiversidade, mas os fabulosos recursos do subsolo, verdadeiro delírio mineral, na expressão do falecido Almirante Gama e Silva, profundo conhecedor da região e, durante muitos anos, diretor do projeto RADAM.

4. Além da pregação enganosa sobre o meio ambiente, o império vale-se de hipocrisia semelhante em relação à pretensa proteção aos direitos dos indígenas, a fim de apropriar-se de imensas áreas, que os três poderes do governo têm permitido segregar do território nacional, pois brasileiro não entra mais nelas.

5. As ONGs ditas ambientalistas, locais e estrangeiras, financiadas pela oligarquia financeira britânica, como a Greenpeace e o WWF (Worldwide Fund for Nature) trabalham para quem as sustenta, não estando nem aí para o meio-ambiente.

6. Isso é fácil de notar, pois não dão sequer um pio contra a poluição dos mares, produzida pelo cartel anglo-americano do petróleo: a mais terrível poluição que sofre o planeta, pois os oceanos são a fonte principal do oxigênio e do equilíbrio da Terra.

7. Marina foi designada ministra do meio ambiente, em Nova York, quando Lula, antes de sua posse, em janeiro de 2003, foi peitado por superbanqueiros, em reunião após a qual anunciou suas duas primeiras nomeações: Meirelles para o BACEN (Banco Central) e Marina Silva para o MMA (Ministério do Meio Ambiente).

8. Empossada no MMA, Marina, nomeou imediatamente Secretário-Geral do Ministério o Presidente da Greenpeace, no Brasil.

9. Marina foi dos poucos brasileiros presentes, quando o príncipe Charles reuniu, na Amazônia, outros chefes de Estado da OTAN e caciques das terras que ele e outros membros e colaboradores da oligarquia mundial já estão controlando por meio de suas ONGs e organizações “religiosas”, como igreja anglicana, Conselho Mundial das Igrejas etc..

10. Todos deveriam saber que os cartéis britânicos da mineração praticamente monopolizam a extração dos minerais preciosos, e a maioria dos estratégicos, notadamente no Brasil, na África, na Austrália e no Canadá.

11. Os menos desavisados entenderam por que Marina desfilou em Londres, nas Olimpíadas de 2012, única brasileira a carregar a bandeira olímpica.

12. É difícil inferir que o investimento da oligarquia do poder mundial em Marina da Silva visa a assegurar o controle absoluto pelo império angloamericano das riquezas naturais do País?

13. Algo mais notório: a mentora ostensiva da candidatura de Marina é a Sra. Neca Setúbal, herdeira do Banco Itaú, o que tem maiores lucros no Brasil, beneficiário, como os demais, das absurdas taxas de juros de que eles se cevam desde os tempos de FHC, insuficientemente reduzidas nos governos do PT.

14. Não há como tampouco ignorar as conexões do Itaú e de outros bancos locais com os do eixo City de Londres e Wall Street de Nova York.

15. D. Marina nem esconde desejar que o Banco Central fique ainda mais à vontade para privilegiar os bancos a expensas do País, que já gasta 40% de suas receitas com a dívida pública, sacrificando os investimentos em infra-estrutura, saúde, educação etc..

16. Contados os juros e amortizações pagos em dinheiro e os liquidados com a emissão de novos títulos, essa é despesa anual com a dívida pública, a qual, desse modo, cresce sem parar (já passa de quatro trilhões de reais).

17. Ninguém notou que Marina − além de regida pelo Itaú − já tem, para comandar sua política uma equipe de economistas tão alinhada com a política pró-imperial como a que teve o mega-entreguista FHC, e como a de que se cercou Aécio Neves?

18. Como assinalou Jânio de Freitas, Marina e Aécio se apresentam com programas idênticos. Na realidade, é um só programa, o do alinhamento com tudo que tem sido reclamado pela mídia imperial, tanto pela do exterior, como pela doméstica.

19. Da proposta de desativar o pré-sal – a qual fere mortalmente a Petrobrás, que ali já investiu dezenas de bilhões de reais, e beneficiar as empresas estrangeiras, as únicas, no caso, a explorá-lo − até à substituição do MERCOSUL por acordos bilaterais − como exige o governo dos EUA. Marina e o candidato do PSDB estão numa corrida montando cavalos do mesmo proprietário, com blusas idênticas, diferenciadas só por uma faixa.

20. Por tudo, a figura de Marina antagoniza o pensamento do patrono do PSB, João Mangabeira, e o de seu fundador, Miguel Arraes, cujas memórias estão sendo rigorosamente afrontadas.

21. Não há, portanto, como admitir que os militantes do PSB fiquem inertes vendo a sigla tornar-se instrumento de interesses rapinadores das riquezas nacionais e prestando-se a que oligarcas internos e externos se aproveitem do crédito que os grandes nomes do Partido granjearam no coração de milhões de brasileiros de todos os Estados.

22. Há, sim, que recorrer a medidas apropriadas, previstas ou não, nos Estatutos do Partido, para que este sobreviva e ajude o Brasil a sobreviver.

23. De fato, estamos diante de um golpe de Estado perpetrado por meios aparentemente legais, incluindo as eleições. Parafraseando o Barão de Itararé, há mais coisas no ar, além da explosão de avião contratado por um candidato em campanha.

24. A coisa começou quando políticos e parlamentares notoriamente alinhados com os interesses da alta finança, e outros enrustidos, articularam a entrada de Marina na chapa do PSB, acenando a Eduardo Campos com o potencial de votos e de grana que ela traria.

25. Fazendo luzir a mosca azul, a Rede o pegou como peixes de arrastão.

26. Os golpes, intervenções armadas e outras interferências, por meio de corrupção, praticadas a serviço da oligarquia financeira angloamericana, em numerosos países, inclusive o nosso, desde o Século XIX, deveriam alertar-nos para dar mais importância a contar com bons serviços de informação e de defesa.

27. Golpes de Estado podem ser dados através de parlamentos, poderes judiciários, além de lances como os que estão em andamento. Agora, a moda adotada pelo império angloamericano, como se viu em Honduras e no Paraguai, na suposta primavera árabe, na Ucrânia etc., é promover golpes de Estado, sem recorrer às forças armadas, as quais, de resto, no Brasil, têm sido esvaziadas e enfraquecidas, a partir dos governos dirigidos por Collor e FHC.

A razia do bolivarianismo - A história do plágio dos direitos humanos

Pensamento bipolar de Olavão Upa Upa - o início de todo esse despautério 


por Luis Nassif, em seu blog


A acusação de que o programa político de Marina Silva plagiou o Plano Nacional de Direitos Humanos de Fernando Henrique Cardoso é típico da ignorância que grassa em relação às conferências nacionais.

Não existe um PNDH de FHC, nem de Lula, nem de Dilma, assim como não existe um Plano Nacional de Educação (PNE) de uma pessoa só.

Esses planos são formulados em conferências nacionais - aquelas que a mídia chama de bolivarianas, chavistas etc. Essas conferências são divididas em conferências estaduais e nacionais. Tratam-se dos eventos de participação social mais relevantes do país, filhos diretos da Constituição de 1988.

Depois de aprovados, os princípios são submetidos à Câmara e ao Senado. Só então o plano vai à sanção presidencial.

Aliás, as propostas de educação do programa são retiradas do PNE.

Marina deve ser criticada por suas propostas econômicas praticamente acabando com as políticas industriais, a independência do Banco Central, a indefinição em relação a temas centrais.

Ao denunciar o suposto plágio das ideias de FHC, na verdade a campanha de Aécio está imputando a FHC a falsa autoria de um plano construido de forma coletiva - isso sim é plágio.