O texto
abaixo é a transcrição de uma carta escrita em 1929 por Martin Zipperer
(1890-1971), diretor e mentor da fabrica de móveis,situada em Rio Negrinho SC,
que viria a se tornar a Moveis CIMO em 1944, a maior fabrica de moveis do
Brasil na década de 1950/60. Foi publicada pela revista alemã Glaube und
Heimat poucas semanas depois do passamento do missivista, que ocorreu em
23 de novembro de 1971.
Martin
Zipperer escreve de maneira rápida, entre os diversos objetivos de sua viagem,
o que deixa o texto um pouco confuso, mas sem duvida é de valor inestimável para
a historiografia de São Bento do Sul, visto que é uma das primeiras experiências
de descendentes dos imigrantes oriundos da Boemia que volta a terra natal de
seus antepassados.
Tradução henry Henkels – fevereiro de 2013
Rothenbaum, 20 de Julho, 1929
Queridos pais e irmãs
Fiz boa viagem de Viena passando por Linz e
Kremstal – esta ultima 120 km de carro a partir de Linz, onde visitei uma
fabrica de compensados de madeira. Dali segui a noite passando por Wels até
Passau, onde pernoitei. No dia seguinte (o 18º) segui por uma estrada
secundária passando por Plattling, Deggendorf
e Zwiesel, até chegar à
Eisenstein ainda às 9:00 horas. Fiquei em Eisenstein até as 3:00, onde queria
me informar a respeito do Altmann (cervejaria que você meu pai trabalhou
naquela época). Perguntei aqui e ali, mas morreram todos já, até mesmo Konrad,
o antigo dono da cervejaria, esta que na verdade ainda existe, mas [o antigo
proprietário] não conseguiu mantê-la se mudando para Leitmeritz, onde faleceu
mais tarde ainda exercendo a profissão de Mestre Cervejeiro.
As 4:00 horas, depois de uma viagem maravilhosa com
um tempo radioso cheguei à estação (ferroviária?) de Neuern. Comprei um mapa
novo (mapa turístico) como qual me foi possível imediatamente me localizar e
nomes familiares começaram a aparecer: Frisehwinkel, Storner, etc. No mapa
qualquer casa de aldeão aparece e mesmo o Vale de Hammern, terra natal de nossa
mãe. Terra maravilhosa de verdadeira beleza, em que já me encontrava desde o
dia anterior junto aos montes pre-alpinos, mas essas portentosas matas de verde
escuro causam grande impressão, em contraste vilarejos propriedades rurais
semeados em meio aos campos e vales. Adiante chega-se a Deschenitz e Neuern.
Tomei um automóvel e fui imediatamente para
Rothenbaum. Não posso numa carta
descrever o que me vai por dentro, enquanto o chofer vai declamando os
nomes: Chudiwa, ou então Sollern, Mittelflecken, Vorderflecken e todos esses
nomes campônios tão conhecidos, ali Peternhof,
lá Goglbauer, acolá Mendelbauer e então, descendo a colina, a torre da
igreja de Rothenbaum. Fui me hospedar na estalagem do lugar, mas não quiseram
me acolher por [achar que eu fosse um] estranho só de passagem num automóvel,
sugerindo para mim arrumar acomodações na escola ou com o padre na igreja. Só depois de eu explicar
que sou um descendente de Witwentoni é que a mulher do antigo estalajadeiro
veio a mim falando que conheceu bem essa gente. Quebrou o gelo e me contou muitas
coisas... A senhora que cuida da hospedaria
agora é uma das filhas do há 4 anos falecido Krothoma Wolfgang, de nome Hass, ainda é bastante jovem.
A noite apareceu muita gente por ali querendo saber
coisas nossas.Visitei Maria F. irmã da Frau Rank, casada, mas muito vigorosa
ainda. Havia um Mühlbauer, primo do nosso Michael Mühlbauer, que estava de
passagem por aqui, mas disse se lembrar muito bem do tempo da emigração. Também
tinha um Josef Maier, cuja avó era de Peternhof – Mathes Haus, lugar de onde
vocês se mudaram. Estamos numa ramificada parentelha de tipos [relacionados com
os] Zipperer.
Estive com o professor, neto de [.... clima (??)]
as nogueiras não existem mais. (1) O padre viajou e neste interregno estive em
Hammern e Grün, visitando todos ali. Josef Pscheidt morreu há 4 anos e seus
parentes estão brigando entre si desde então.
Estive no cemitério, na igreja... vocês não podem
imaginar o que é passar por todos esses lugares e ler nomes conhecidos em todo
o canto. Em Modlhof encontrei um grupo de mulheres que todas tem parentes em
São Bento, umas do Wastlgirgl e do Rückl (Puchermühle), entre outras... Em
Neuern bei Luft [encontrei] um primo de Wenzel Kahlhofer, que também era
negociante [a quem pertence um negócio – no original].
Às 9:00 horas quando voltei para a hospedaria a casa
estava cheia de camponeses: Reithmoier,
Stauber, e um descendente do
Stauber Adam, o do polegar grande. De Peternbauer ainda se identificam
Zipperer’s, de Goglbauer os Zallner,
todos das novas gerações. Tive que ficar conversando com eles até as 3:00 horas
da manhã. Li algumas passagens do livro de nosso pai para eles e vi lagrimas
brilhar em alguns olhos.
Daquele Maier que citei acima, que era de Mathes
Haus e nosso parente próximo por parte de sua mãe, dele e de seus filhos eu
sempre estava junto. A curiosidade de todos e vontade de se informar é tocante.
Este Maier tem uma simpática família, todos muito musicais [SIC]. Um de seus
filhos é capitão no exercito da Tchecoslováquia. Acabamos de chegar a pé, baixo
a um bonito luar, do Grouhanswirt onde aconteceu uma reunião hoje em que vieram
camponeses de toda a redondeza por causa de [problemas com] criação de
animais.
Amanhã depois da missa (católica) devo ler
passagens do livro de nosso pai e se espera que venha gente de todas as aldeias
próximas. As pessoas vem a mim como se já nos conhecêssemos de longa data. O
interesse por informações é geral.
De maneira geral as pessoas levam uma vida muito
boa, e alguns parecem ser bem ricos até; a satisfação das pessoas domina por
aqui.
Pois é, eu me sinto como em casa aqui na velha
terra natal, nem posso descrever como todos me tratam bem.
As pessoas de Flecken são muito argutas. Muitos
foram para a guerra [1ª Grande Guerra], o que
foi um choque e causou muita confusão [consternação?] entre eles. Muitos
tombaram. Vou levar uma lista dos nomes dos que pereceram na guerra, de
Flecken, bem como de Hammern.
Passei um dia muito agradável com a família Maier,
e agora no retorno a Rothembaum, me acompanharam um filho e duas filhas dele,
juntos cantamos à luz do luar, que até ecoou [pelos campos].
Amanhã cedo vou visitar mais camponeses,
fotografá-los, fazer mais anotações e segunda-feira cedo parto pelas matas de
Furth em direção a Nürnberg, Stuttgart e Krefeld, o que quer dizer: “Deus guarde
a Boemia, eu vou para casa!”.
Foram dias maravilhosos que eu pude passar aqui.
Estou levando belas canções, literatura sobre nossa linda terra natal, para a
nossa nova pátria Brasil.
Saudações de seu Martin, até meu retorno.
NOTAS DO TRADUTOR
(1) Frase sem sentido, truncada, redigida ou
transcrita incompleta pela revista.
É isso aí, a nossa "pequena História".
ResponderExcluirInteresting story
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