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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
Rola-bosta cubana [2]
Por Leandro Fortes, na CartaCapital
Primeiro de tudo: foi um erro dos manifestantes baianos impedir a exibição do documentário, ou seja lá o que for aquilo, do tal cineasta de Jequié, Dado Galvão, em Feira de Santana. Não que eu ache que dessa película poderia vir alguma coisa que preste, mas porque praticar sua arte – seja genial, banal ou medíocre – é um direito inalienável de qualquer cidadão brasileiro.
Ao impedir o documentário, os manifestantes estão ajudando a consolidar a tese adotada pela mídia de que os que são contra a blogueira Yoani Sánchez são, apenas, a favor da ditadura cubana. Fortalece, pois, esse reducionismo barato ao qual a direita latinoamericana sempre lança mão para discutir as circunstâncias de Cuba.
Minha crítica aos manifestantes, contudo, se encerra por aqui.
De minha parte, acho ótimo que tenha gente disposta a se manifestar contra Yoani Sánchez, uma oportunista que transformou dissidência em marketing pessoal. Não vi ainda nenhuma matéria que informe ao distinto público quem está pagando a turnê de Yoani por 12 (!) países – passagens aéreas, hospedagens, traslados, alimentação, lazer, banda larga e direito a dois acompanhantes, o marido e o filho.
Nem a Folha de S.Paulo, que até em batizado de boneca do PT pergunta quem pagou o vestido da Barbie, parece interessada nesse assunto. E eu desconfio por quê.
Yoani Sánchez é a mais nova porta-bandeira da liberdade de expressão em nome das grandes corporações de mídia e do capital rentista internacional. É a direita com cara de santa, candidata a mártir da intolerância dos defensores da cruel ditadura cubana, a pobre coitada que tentou, vejam vocês, 20 vezes sair de Cuba para ganhar o mundo, mas só agora, que a lei de migração foi reformada na ilha, pode viver esse sonho dourado. Mas continuo intrigado. Quem está pagando?
A mídia brasileira, horrorizada com as manifestações antidemocráticas em Pernambuco e na Bahia, não gosta de lembrar que a atormentada blogueira morou na Suíça, apesar de ter tentado sair de Cuba vinte vezes, nos últimos cinco anos. Vinte vezes!
Façamos as contas: Yoani pediu para sair de Cuba, portanto, quatro vezes por ano, de 2006 para cá. Uma vez a cada três meses. Mas, antes, conseguiu ir MORAR na Suíça. Essa ditadura cubana é muito louca mesmo.
Mas, por que então a blogueira dissidente e perseguida abandonou a civilizada terra dos chocolates finos e paisagens lúdicas de vaquinhas malhadas pastando em colinas verdejantes? Fácil: nos Alpes suíços, Yoani Sánchez poderia blogar a vontade, denunciar a polícia secreta dos Castros e contar ao mundo como é difícil comprar papel higiênico de qualidade em Havana – mas de nada serviria a seus financiadores na mídia, seja a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que lhe paga uma mesada, ou o Instituto Millenium, no Brasil, que a tem como “especialista”.
Então, é preciso fazer Yoani Sánchez andar pelo mundo. Fazê-la a frágil peregrina da liberdade de expressão, curiosamente, financiada pelos oligopólios de mídia que representam, sobretudo na América Latina, a interdição das opiniões, quando não a manipulação grosseira, antidemocrática e criminosa da atividade jornalística, em todos os aspectos.
É preciso vendê-la como produto “pró-Cuba”, nem de direita, nem de esquerda – aliás, velha lenga-lenga mais que manjada de direitistas envergonhados. Pena Yoani ter se atrasado nessa missa: Gilberto Kassab, com o PSD, e Marina Silva, com a Rede (Globo?), já se apropriaram, por aqui, dessa fantasia não-tem-direita-nem-esquerda-depois-da-queda-do-muro-de-Berlim.
No mais, se a antenada blogueira cubana tivesse ao menos feito um Google antes de embarcar para o Brasil, iria descobrir:
1) Dado Galvão, apesar de “colunista convidado” do Instituto Millenium, não é ninguém. Ela deveria ter colado em Arnaldo Jabor;
2) Eduardo Suplicy é a Yoani do PT;
3) Em Pernambuco não tem só frevo;
4) E na Bahia não tem só axé.
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Ha, Carta Capital já virou a casaca:
ResponderExcluirhttp://www.cartacapital.com.br/sociedade/nao-sao-os-eua-que-financiam-yoani-e-a-esquerda-arcaica/
O texto do Nassif é bem melhor que o dessa moça... que simplificou um pouco as coisas...
ResponderExcluirO TEXTO DO NASSIF - ComYoani os anos 60 estão de volta
A visita da blogueira cubana Yoani Sanchéz ao Brasil, comprova: somos um país fantástico, o único do mundo livre que preserva suas tradições, sem medo do ridículo!
Parte do país está no século 21; há algumas manchas de século 19, nos rincões mais profundos. Mas a parte mais visível, a parte pública, está em plena... Guerra Fria. É como o japonês do Gordo e do Magro. Que ficou anos na trincheira, por não ter sido informado sobre o fim da Guerra.
É um regalo para os saudosistas, para os que cultivam a memória dos anos 60, o rock, a foto do Che.
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Em outros tempos, o Departamento de Estado norte-americano bancava Svetlana Alliluyeva, a filha de Stalin que abjurou o comunismo e a Rússia. Vivia-se o auge da guerra fria e da disputa entre dois modelos políticos.
Agora, em pleno 2013 (!), na era da Internet e das comunicações, na era da globalização, vinte e tantos anos após a queda do Muro de Berlim, após o desmanche da União Soviética, o país da saudade e da nostalgia revive... a Guerra Fria. Em vez do patrocínio nobre do Departamento de Estado americano à filha do maior ditador soviético, a fina flor dos exilados cubanos bancando a blogueira cubana Yoani que não quer deixar a ilha.
O grande fantasma comunista são dois velhinhos em final de vida, em uma ilha distante, que não representa ameaça nem aos seus vizinhos de fronteira e só interessa aos cubanos de Miami e – lógico – à fina flor da intelectualidade midiática brasileira.
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Monta-se um show formidavelmente ridículo, recorrendo a uma fórmula tão velha quanto andar para frente: provoca-se e, como dois e dois são quatro, atrai-se a ira de jovens radicais – sem nenhuma expressão política maior, a não ser colocar sua energia jovem para fora. Vinte jovens na faixa de vinte anos fazendo barulho. E, aí, senadores vetustos, colunistas indignados, comunicadores-humoristas alertam para o perigo da ditadura comunista, do fim da liberdade de expressão. Recria-se a velha guerra sem quartel do bem contra o mal na tenda espírita do Twitter
Daqui a pouco o fantasma do Padre Peyton ressurgirá em um perfil do Facebook, amaldiçoando os corruptos da terra com a fantasma da excomunhão.
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Como lembrou Jair Fonseca, comentarista do meu blog: "na sociedade do espetáculo (a sociedade capitalista, segundo Debord) estamos em pleno reino do simulacro - a cópia da cópia, segundo Platão. Para Fredric Jameson, o pós-moderno é a lógica cultural do capitalismo tardio, com o retorno de fantasmagorias sob a forma da paródia e do pastiche. E não apenas na arte..."
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No dia em que um historiador se debruçar sobre esses tempos loucos, não perceberá diferença entre os alucinados do Twitter e a velha mídia. Constatará que o grande personagem desses tempos de realidade virtual é o professor Hariovaldo. Trata-se de um personagem fictício, que tem um blog representante dos "homens de bem". Comparando com outros colunistas, o historiador terá enorme dificuldade em separar a paródia do parodiado.