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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Viagem ao Brasil - 1973




Böhmerwäldler in Brasilien!

tradução: henry Henkels – fevereiro 2013

Os leitores da Glaube und Heimat  (1) devem recordar das traduções publicadas a partir de fevereiro de 1971, narrando a história dos emigrantes para a América do Sul que aconteceram entre os anos de 1873 e 1878: "Aus der Vergangenheit von Sao Bento" [SIC], Böhmerwäldler in Brasilien von Josef Zipperer sen. Um régio trafego de cartas aconteceu entre o autor e seu filho Martin Zipperer, que entrementes faleceu em novembro de 1971, com 82 anos de idade. Mesmo hoje ainda existem laços com descendentes desses emigrantes da família Zipperer, que partiram de Flecken – Böhmerwald, em 1873.

Por meio de um convite de além mar, criou-se a oportunidade de a Sra.[Oblhr. i. R.  (???)] Josefa Kopp (nascida Zipperer) fazer-lhes uma visita em janeiro de 1973.


Minha viagem ao Brasil (entre 15 e 30 de janeiro de 1973)

No ano de 1873 migraram a família de Anton e Elizabeth Zipperer, de Flecken, paróquia de Rothenbaum, juntamente com inúmeras (?) outras familias para o estado de Santa Catarina, no Brasil. Chegaram em 23 de setembro de 1873 à São Bento, e foram dos primeiros colonos que se estabeleceram na estrada Wunderwald. Após anos iniciais de inacreditável dificuldade, pela sua boa vontade, paciência e diligência, acabaram por obter um relativo sucesso.

No ano de 1929, Martin Zipperer, um neto de Anton e Elizabeth Z., viaja a Europa por razões comerciais e aproveita para visitar a terra natal de seus antepassados no Böhmerwald. O mesmo faria seu irmão Jorge Z. em 1937. Maria Lina Keil, a única neta de Martin Zipperer, em companhia de seu marido Dr. Gustavo Keil, viaja a Alemanha em 1971 e veio me visitar no dia 29 de junho na cidade de Moorenbrunn. Me convidaram a retribuir sua visita e desta maneira eu voei em companhia de meu genro Josef Rupprecht, em 15 de janeiro de 1973, para o Brasil. Embarcamos em um avião Boeing 737 às 8:00 horas (local) em Nürnberg e depois num Boeing 707 às 13:00 horas em Frankfurt. Em Las Palmas, nas Ilhas Canárias, fizemos uma escala para reabastecimento em que o avião foi abastecido com 80.000 litros de combustível. Um pouco antes de aterrissar no Rio, o comandante nos avisa que acontecia uma tempestade tropical. Mesmo assim aterrissamos no Rio depois de 14 horas de vôo, às 3:00 horas (11:40 hora local) embaixo de uma chuva torrencial, abrigados por guarda-chuvas gigantes até o prédio do aeroporto. Estava terrivelmente quente, mas depois de todas as formalidades [da aduana] fizemos um passeio pela cidade por uma hora e depois seguimos até nosso Hotel “Presidente”, onde pudemos descansar aquela noite. Antes de embarcar para Curitiba ainda nos sobraram algumas horas livres no Rio.

Esta cidade [refere-se a Curitiba] está situada a 1.000 km ao sul do Rio e lá chegamos a bordo de um avião brasileiro [SIC – quer dizer de uma companhia aérea brasileira] às 16:00 hrs (hora local) onde Dr. Gustavo Keil já nos esperava. Sua esposa e filhos já se encontravam no litoral, de modo que seguimos diretamente para Rio Negrinho (900 metros sobre o nivel do mar), para encontrar Alice Zipperer, viuva de Martin Z. que falecera em 23 de novembro de 1971, com 82 anos de idade. Ela e Carlos Zipperer (irmão de Martin Z.) moram bastante próximos um do outro e são proprietários de grande gleba com 80.000 m² circundado por bonita mata, e bosques floridos. Suas duas casas são construídas em estilo alpino e da espaçosa varanda pode-se contemplar delicados colibris se deliciando com água com açúcar que são colocados em recipientes de vidro especialmente para eles. Rio Negrinho é uma cidadezinha de 15 / 17.000 habitantes. Ali visitamos a fabrica de móveis que Martin Zipperer e seu irmão Jorge fundaram [trouxeram à vida, literalmente, no original] e que hoje é a maior de todo o Brasil. A madeira que é trabalhada ali é o valioso jacarandá castanho avermelhado. A 20 km de Rio Negrinho situa-se São Bento do Sul. Ali os imigrantes começaram a derrubada das matas em 1873. No cemitério local a maioria dos tumulos indicam nomes alemães, também dos pais de Martin Z.

Um neto de Carlos Z. estudou agronomia e hoje gerencia os reflorestamentos de 1.500 hectares. Carlos Zipperer é muito ligado a musica e fundou uma banda que regeu por muitos anos que hoje está sob comando de Alfons [SIC] Treml (2). Todas as quartas feiras a noite [a banda] tocam ao ar livre, sempre cantigas, marchas e cantos alemães. Ganhei de presente um disco de Carlos Z., a qual agora toco muitas vezes.

Carlos Z. e Victor Keil, este ultimo um parente de Alice Zipperer, são proprietários em São Bento de uma fabrica (3) de produtos de madeira, onde se industrializa a valiosa madeira de pinho e onde com a utilização de borboletas se produz maravilhosos artigos artísticos, como pratos de parede, bandejas e produtos semelhantes. As borboletas são produzidas  em criatórios  próprios (4).

Permanecemos em Rio Negrinho por 3 dias e dali partimos para o litoral onde Martin Z. havia construído uma bela casa de praia e onde fomos alegremente recepcionados por Maria Lina e as crianças. Ficamos ali até dia 28 de janeiro e fiz meu primeiro contato com o mar e as ondas, isso com meus 78 anos de idade. Estava muito quente e logo estávamos completamente bronzeados. Eu gostava de ver os pescadores puxarem suas redes e recolher o resultado de sua pescaria em grandes balaios. De Ubatuba – assim se chamava a praia onde estávamos, partimos via São Francisco (ali aportaram os imigrantes em 1873) para Blumenau, uma linda cidade num vale cortado pelo rio Itajai, fundada em 1850 por pioneiros alemães. Na agencia de viagens compramos passagens para nosso regresso ao Rio. Depois de algumas compras e um bom almoço retornamos à praia, pois em Blumenau, situado num vale [Mulde - cocho, no original] fazia um calor infernal. Em 28 de janeiro deixamos o litoral na companhia de Alice, Maria Lina e Gustavo, seguimos para Curitiba. Ali visitamos ainda o filho de Carlos Z. e sua familia e no dia 29 nos despedimos. Nosso parentes nos acompanharam ao aeroporto, e depois de um ultimo desejo de sucesso [Lebewohl] e ultimo aceno voamos de volta ao Rio de Janeiro. Deixamos nossas bagagens aos cuidados no aeroporto e de taxi serpentemos morro acima até o Corcovada [SIC - Christusmonument], passamos pela praia do Flamengo, Copacabana entre outras. Visitamos o Hotel Nacional e a praia da Gávea [SIC]; uma guia alemã de Berlin nos acompanhou por todos esses lugares. [O Rio de Janeiro] se localiza entre românticas  e verdes montanhas e o mar e é considerada uma das mais lindas [cidades] do mundo. O monumento do Cristo Redentor nos causou profunda impressão (5). além do Pão de Açúcar ainda se vê muitas outras montanhas arredondadas embora não muito altas. A cidade do Rio de Janeiro, considerada uma das mais belas do mundo me causou uma impressão inesquecível.

Depois desse passeio de 3 horas pela cidade voltamos ao hotel onde reencontramos outros turistas que havíamos conhecido na viagem para cá. Ás 21:30 (hora local) nosso Boeing 707 decolou para Frankfurt onde chegamos a 30 de janeiro, às 15:30 [MEZ – Mittel Europa Zeit]. Dali logo fizemos conexão com Nürnberg de onde tomamos um táxi que nos trouxe de volta a Moorenbrunn. A diferença climática entre o alto verão no Brasil e o inverno da Baviera não foi fácil...

Por fim gostaria de descrever algumas impressões minhas que percebi durante as viagens de automóvel pelo Brasil. As estradas são quase todas asfaltadas e com trafego médio, com muitos caminhões. Nos dois lados das estradas só se vê floresta virgem, com algumas clareiras de plantações de arroz, tabaco e cana de açúcar. Se vêem também casinhas de madeira com pequenos jardins cercados de arbustos de Hibiscos (6) e outras plantas perenes que apresentam maravilhosas flores de cores variadas e resplandecentes. Nas campinas verdes pastam vacas, zebus, cavalos e caprinos. Entre Curitiba e Rio Negrinho e adiante se vêem muitos pinheiros, mas também palmeiras e bananeiras. Grandes arvores floridas destacam-se  no verdes das florestas virgens. Além de São Francisco ainda passamos por uma única grande cidade que é Joinville.

Eu gostaria de voltar a voar ao Brasil oportunamente, pois pelo pouco tempo que tive disponível, só pude desfrutar um pouco do muito que este país tem a oferecer.

Melhores saudações a todos os conterrâneos da Boemia:

Josefa Kopp (nascida Zipperer) – 85 Moorenbrunn-Nürnberg, Josefstrasse 4. Nascida em Fuchsberg, ultima residência na terra natal: Petrowitz



NOTAS DO TRADUTOR


(1)    Glaube und Heimat  é uma revista mensal dedicada a temas relativos à Boemia - http://www.glaubeundheimat.de/ , mas com forte orientação religiosa (católica) fundada em 29 de julho de 1933. Sua redação era originalmente em Oberhaid, Kreis Kaplitz, na Boemia. Depois da guerra mudou-se para Ingolstadt, na Alemanha e seu novo endereço é 85095 Denkendorf, Altenberger Straße 7a, Kreis Eichstätt – Ingolstadt, onde continua a ser editada até os dias atuais.
(2)    A missivista repercute a idéia de que foi informada (talvez tenha entendido errado?) de que o fundador da Banda Treml foi Carlos Zipperer.
(3)    Refere-se à Artefama. Carlos Zipperer, se sócio, detinha participação acionária menor nessa empresa.
(4)    Trata-se de informação exagerada, certamente baseado em relato de Victor Keil contumaz contador de vantagens, pois a criação de borboletas pela Artefama havia começado poucos meses antes, em setembro ou outubro de 1972 e estava nos seus primeiros e incipientes estágios ainda.
(5)    Destaque editorial certamente, pois a revista prezava valores cristãos.
(6)    Provavelmente se refere à Azaléia, flor muito parecida com o Hibisco europeu.


Um comentário:

  1. Conheci a Sra. Josefa Koop (nascida Zipperer) no Encontro da Família Zipperer - "Familien-Treffen", realizado na cidade de Offenburg em 31 de maio de 1975, evento que acontece a cada dois anos na Alemanha.
    Na ocasião fui o primeiro Zipperer do Brasil a participar deste encontro e que me deixou muito feliz pela receptividade onde todos, mais de oitenta participantes, me consideravam como primo, mesmo sendo não tão próximos.
    No encontro recebi como presente um livro sobre a genealogia dos "Zipperer" do Prof. Dr. Ludwig Zipperer, Korb e do D. Dr. Otto Beuttenmüller, Breten, onde também consta nosso Brasão bem como o significado do nome Zipperer que é o CULTIVA A ESPÉCIE DE AMEIXA "ZIPPER" (Prunelle). Como exemplo cito Fisch resultou em Fischer (pescador).
    Na época como bolsista do Rotary Club fazia pós-graduação em Administração na Universidade Técnica de Berlim, onde fiquei por dois semestres.

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