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domingo, 10 de fevereiro de 2013

Abaixo assinado contra Renan é uma pataquada

mais uma do Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo

O grosso dos signatários é o que se pode classificar de inocentes úteis, gente bem intencionada que é manobrada sem se dar conta.



Beijo, me liga.

Têm chegado a mim várias propostas, no Facebook, para que eu assine um manifesto pela cassação de Renan.

Desnecessário dizer, não respondi a nenhuma.

É uma tolice, e seria também um perigo se isso fosse dar em alguma coisa. O grosso dos signatários é o que se pode classificar de inocentes úteis, gente bem intencionada que é manobrada sem se dar conta.

Não admiro Renan. Não votaria nele para nada. Vejo nele um símbolo do atraso político brasileiro, uma eminência de um partido desfigurado e sem causa, o PMDB.

Mas ele chegou à presidência do Senado por votos. Democraticamente. Seus conterrâneos o fizeram senador, e seus pares o levaram ao comando.

Existem acusações? Que se investiguem com calma e profundidade. Só depois, caso elas sejam comprovadas, fará sentido um abaixo assinado como o que está correndo, desvairadamente, pelas redes sociais.

Por trás do alarido há uma intenção de criar um clima de “mar de lama” na política brasileira. Renan é Renan há muito tempo, mas ninguém pareceu se incomodar com isso quando ele foi ungido ministro da justiça de FHC.

Há agora uma indignação retardada e histérica.

O Congresso é o que é: um retrato da sociedade brasileira, em suas grandezas e em suas misérias. O avanço social brasileiro, a começar por uma educação de bom nível, levará a um Congresso melhor.

Escândalo são grandes corporações de mídia fazendo do PJ (1) um truque para recolher impostos moralmente indefensáveis, o que acaba levando a fortuna pessoal de seus donos aos píncaros. Escândalo é uma prática consagrada pelas iniciais BV, de bonificação por volume, que torna as agências de publicidade reféns daquelas corporações e conduz a aberrações como a receita publicitária da Globo bater recorde enquanto sua audiência declina acentuadamente, do JN às novelas, do Faustão ao Fantástico.

Escândalo são as contas publicidade do próprio governo se submeterem à perversão do BV. Escândalo é ausência de qualquer sinal de que pode estar chegando ao fim uma situação tão ultrajante e tão iníqua como essa, em que tudo acontece na sombra, longe do olhar e da fiscalização da sociedade.

Escândalo é milhões de brasileiros simples serem estimulados a tomar cerveja subrepticiamente em novelas como Avenida Brasil, numa agressão absurda à saúde pública, por ações publicitárias disfarçadas não reguladas chamadas merchandising.

Rasgos de moralismo exaltado como os que estão por trás do tristemente famoso abaixo assinado representam, eles próprios, não o progresso – mas o atraso.

NOTA DA NOSSA TABA

(1) PJ = Pessoa Juridica - truque de dispensar funcionários que trabalham pelo regime CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e os fazer registrar uma empresa prestadora de serviços e continuar exercendo a mesma função pelo que será remunerado em outras bases fiscais.  

Um comentário:

  1. Devia ter parado no argumento do voto democrático.

    Quando começa com argumentos "tu quoque" contra os sacos de pancada de costume (FHC e mídia), dá vontade de entrar num desses abaixo-assinados. Só faltou dizer que "todo brasileiro rouba, então o Renan também pode".

    Se a política do Brasil não melhorou nada em qualidade nos últimos 15 anos, a ponto de permitir uma comparação direta com a era FHC (a propósito: o Renan tinha sido denunciado por algo concreto na época, como tem sido hoje?), é algo que dá o que pensar.

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