O grosso dos signatários é o que se pode classificar de inocentes úteis, gente bem intencionada que é manobrada sem se dar conta.
Beijo, me liga.
Têm chegado a mim várias propostas, no Facebook, para que eu assine um manifesto pela cassação de Renan.
Desnecessário dizer, não respondi a nenhuma.
É uma tolice, e seria também um perigo se isso fosse dar em alguma coisa. O grosso dos signatários é o que se pode classificar de inocentes úteis, gente bem intencionada que é manobrada sem se dar conta.
Não admiro Renan. Não votaria nele para nada. Vejo nele um símbolo do atraso político brasileiro, uma eminência de um partido desfigurado e sem causa, o PMDB.
Mas ele chegou à presidência do Senado por votos. Democraticamente. Seus conterrâneos o fizeram senador, e seus pares o levaram ao comando.
Existem acusações? Que se investiguem com calma e profundidade. Só depois, caso elas sejam comprovadas, fará sentido um abaixo assinado como o que está correndo, desvairadamente, pelas redes sociais.
Por trás do alarido há uma intenção de criar um clima de “mar de lama” na política brasileira. Renan é Renan há muito tempo, mas ninguém pareceu se incomodar com isso quando ele foi ungido ministro da justiça de FHC.
Há agora uma indignação retardada e histérica.
O Congresso é o que é: um retrato da sociedade brasileira, em suas grandezas e em suas misérias. O avanço social brasileiro, a começar por uma educação de bom nível, levará a um Congresso melhor.
Escândalo são grandes corporações de mídia fazendo do PJ (1) um truque para recolher impostos moralmente indefensáveis, o que acaba levando a fortuna pessoal de seus donos aos píncaros. Escândalo é uma prática consagrada pelas iniciais BV, de bonificação por volume, que torna as agências de publicidade reféns daquelas corporações e conduz a aberrações como a receita publicitária da Globo bater recorde enquanto sua audiência declina acentuadamente, do JN às novelas, do Faustão ao Fantástico.
Escândalo são as contas publicidade do próprio governo se submeterem à perversão do BV. Escândalo é ausência de qualquer sinal de que pode estar chegando ao fim uma situação tão ultrajante e tão iníqua como essa, em que tudo acontece na sombra, longe do olhar e da fiscalização da sociedade.
Escândalo é milhões de brasileiros simples serem estimulados a tomar cerveja subrepticiamente em novelas como Avenida Brasil, numa agressão absurda à saúde pública, por ações publicitárias disfarçadas não reguladas chamadas merchandising.
Rasgos de moralismo exaltado como os que estão por trás do tristemente famoso abaixo assinado representam, eles próprios, não o progresso – mas o atraso.
NOTA DA NOSSA TABA
(1) PJ = Pessoa Juridica - truque de dispensar funcionários que trabalham pelo regime CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e os fazer registrar uma empresa prestadora de serviços e continuar exercendo a mesma função pelo que será remunerado em outras bases fiscais.
Devia ter parado no argumento do voto democrático.
ResponderExcluirQuando começa com argumentos "tu quoque" contra os sacos de pancada de costume (FHC e mídia), dá vontade de entrar num desses abaixo-assinados. Só faltou dizer que "todo brasileiro rouba, então o Renan também pode".
Se a política do Brasil não melhorou nada em qualidade nos últimos 15 anos, a ponto de permitir uma comparação direta com a era FHC (a propósito: o Renan tinha sido denunciado por algo concreto na época, como tem sido hoje?), é algo que dá o que pensar.