Sendo previsto que esta quinta-feira seria um dia de protestos maiores do que os últimos em Brasília, decidi me dirigir também ao Congresso e acompanhar a História que, muito provavelmente, está sendo feita sob os meus fiapos de barba. Encontrei um verdadeiro caos na Rodoviária: uma multidão enorme aglomerada, mal podendo se mexer, e vários ônibus parados, não conseguindo entrar nem sair. Disso se percebe que não havia protesto algum por lá, mas que era mesmo um dia normal.
Não tardou, no entanto, até eu encontrar o primeiro grupo de manifestantes, erguendo cartazes e soando apitos. Ao fundo, distante de todos, um casal de namorados alienava-se em beijos e carícias. Segui rumo à Esplanada dos Ministérios, que a essa altura já estava totalmente fechada para os manifestantes. Um grande número deles se concentrava próximo à Biblioteca Nacional, que é sozinha um dos melhores motivos para protestos em Brasília – basta dizer que não há livros por lá. Continuei caminhando e acompanhando a multidão que também seguia para o Congresso, dando surpreendentes gritos de amor ao Brasil e outros de orgulho ao povo.
Aproximando-me do Congresso, onde já havia muita gente, resolvi usar minha pouca coragem e fui até a linha de frente – ou seja, o cordão policial. Um sujeito se posta à frente dos policiais e esfrega um cartaz que defende a desmilitarização da PM. Outro berra que isso também é por eles e apela que se lembrem dos seus filhos. Recuo alguns passos depois de ouvir um grito de “Ocupa e resiste”, depois simplificado para “Vamo invadir”. Olho por todo lado e só vejo cartazes. Corrupção, Copa do Mundo, Investimentos, Feliciano, PEC 37, Ato Médico, Belo Monte. Dois evangélicos erguem um “Ore pelo Brasil”. Um filósofo exibe um “A mudança vem de dentro”. Uma garota mostra um “Que só os beijos te calem a boca”. Um piadista defende o “Fora Fátima” – quer de volta a TV Globinho.
Estouram bombas, que são logo vaiadas pela multidão. Gritos de “Fora Renan” fazem sucesso. Súbito, começa uma correria perto de mim. Corremos. Em seguida gritos de “Senta”. Sentamos. Agora todos se voltam contra os policiais. “Ei, soldado! Cê tá do lado errado”. Começa-se a ouvir o Hino Nacional por toda parte. Dois raios laser invadem o Congresso, riscando as torres e as cúpulas. Há quatro helicópteros sobre nós e os raios também chegam neles. Afasto-me lentamente. Num carro da Bandeirantes foi pichado “Chega de ilusão”. Encontro PMs sem farda protestando. Volto para a Rodoviária e ainda estou lá quando percebo que a manifestação saiu do Congresso e agora ocupa o Eixão. Decido ocupar o Eixão também.
Todas as pistas são fechadas. Uma multidão andando e cantando que é brasileiro, com muito orgulho, com muito amor. Carros passam por nós e buzinam em aprovação. Outros carros ficam presos no meio do protesto. Começa um grito de “Deixa, deixa”, e o povo deixa que eles passem. Um sujeito pede que eu tire uma foto dele ao lado de uma bandeira contra a Globo. Pessoas nos observam de seus prédios. São intimadas: “Vem pra rua! Vem pra rua!”.
Olho ao redor. Não sei onde isso vai dar, não sei nem o que é isso ainda – por enquanto, apenas vivo experiências extraordinárias.
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