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domingo, 18 de julho de 2010

O menino tolo


texto de Luiz Carlos Bresser Pereira - tudo chupado do blog do Nassif, até o comentário.



João é dono de um jogo de armar. Dois meninos mais velhos e mais espertos, Gonçalo e Manuel, persuadem João a trocar o seu belo jogo por um pirulito.

Feita a troca, e comido o pirulito, João fica olhando Gonçalo e Manoel, primeiro, se divertirem com o jogo de armar, e, depois, montarem uma briga para ver quem fica o único dono. Alguma semelhança entre essa estoriazinha e a realidade?

Não é preciso muita imaginação para descobrir. João é o Brasil que abriu a telefonia fixa e a celular para estrangeiros. Gonçalo é a Espanha e sua Telefônica, Manuel é Portugal e a Portugal Telecom; os dois se engalfinham diante da oferta "irrecusável" da Telefônica para assumir o controle da Vivo, hoje partilhado por ela com os portugueses.

Mas por que eu estou chamando o Brasil de menino bobo? Porque só um tolo entrega a empresas estrangeiras serviços públicos, como são a telefonia fixa e a móvel, que garantem a seus proprietários uma renda permanente e segura. No caso da telefonia fixa, a privatização é inaceitável porque se trata de monopólio natural. No caso da telefonia móvel, há alguma competição, de forma que a privatização é bem-vinda, mas nunca para estrangeiros.

Estou, portanto, pensando em termos do "condenável" nacionalismo econômico cuja melhor justificação está no interesse que foi demonstrado pelos governos da Espanha e de Portugal.

O governo espanhol, nos anos 90, aproveitou a hegemonia neoliberal da época para subsidiar de várias maneiras suas empresas a comprarem os serviços públicos que estavam então sendo privatizados. Foram bem-sucedidos nessa tarefa.

Neste caso, foram os espanhóis os nacionalistas, enquanto os latino-americanos, inclusive os brasileiros, foram os colonialistas, ou os tolos.

Agora, quando a espanhola Telefônica faz uma oferta pelas ações da Vivo de propriedade da Portugal Telecom, o governo português entra no jogo e proíbe a transação. A União Europeia já considerou ilegal essa atitude, mas o que importa aqui é que, neste caso, os nacionalistas são os portugueses que sabem como um serviço público é uma pepineira, e não querem que seu país a perca.

O menino tolo é o Brasil, que vê o nacionalismo econômico dos portugueses e dos espanhóis e, neste caso, nada tem a fazer senão honrar os contratos que assinou.

Vamos um dia ficar espertos novamente? Creio que sim. Nestes últimos anos, o governo brasileiro começou a reaprender, e está tratando de dar apoio a suas empresas. Para horror dos liberais locais, está ajudando a criar campeões nacionais. Ou seja, está fazendo exatamente a mesma coisa que fazem os países ricos, que, apesar de seu propalado liberalismo, também não têm dúvida em defender suas empresas nacionais.

Se o setor econômico da empresa é altamente competitivo, não há razão para uma política dessa natureza. Quando, porém, o mercado é controlado por poucas empresas, ou, no caso dos serviços públicos, quando é monopolista ou quase monopolista, não faz sentido para um país pagar ao outro uma renda permanente ao fazer concessões públicas a empresas estrangeiras.

A briga entre espanhóis e portugueses pela Vivo é uma confirmação do que estou afirmando.

Comentário Botocudo

Bresser Pereira?... quem diria?... ele não era um tucaninho da gema?

Bresser chama de "meninos bobos" aqueles que entregaram a telefonia (e uma posição privilegiada nos mercados derivados dela) a empresas estrangeiras. Bom...Também tivemos os "meninos espertos" que ajudaram o Gonçalo e o Manuel a comprar o brinquedo de armar e ficaram com mais que um pirulito.

Atualização em 19/07 - 8:17 hrs


- Mapa da Corrupção: Telecomunicações - Aqui os leitores desse blog botocudo terão um cardápio completo de maracutalhas. Tem para todos os gostos. Prestem especial atenção aos artigos do jornalista Amaury Ribero jr.

3 comentários:

  1. Que houve rolo nessas privatizações? É claro que houve. Sempre há, em TUDO que o governo faz.

    Curioso esse jornalismo que fica eternamente remexendo lixo de 14 anos atrás, em vez de tratar de coisas mais recentes como a óbvia maracutaia que houve na escolha do novo padrão de TV digital -- barretada à Globo.

    Será que esses jornalistas estão querendo uma promoção a historiadores? Ou o chapa-branquismo seria uma explicação mais simples e mais exata?

    No governo estão até falando agora em financiar decodificadores de TV digital pro povão... Escolhem uma tecnologia cara e rara e depois querem financiar o pão-e-circo com dinheiro público.

    É engraçado como agora a TV Globo é boazinha e as telecoms são "más". Quer saber por que isto? Porque agora a Globo é pelega, é "amiga do batalhão", porque virou a casaca assim que percebeu que o Lula ia ganhar, em 2002. Enquanto isso as telecoms estão fora do controle estatal, fornecendo serviços como Internet que "são usados pra falar mal do governo!!!!".

    Para mim foi uma surpresa completa e total à época, mas o fato é que os petistas e neolulistas têm tolerância ao contraditório nos mesmos níveis do regime militar.

    O governo tem medo de um sistema de comunicações não controlado direta (pela posse) ou diretamente (via concessões politiqueiras) pelo Estado.

    O padrão de TV digital japonês foi escolhido porque mantém o modelo de poucas emissoras de longa distância, enquanto o padrão europeu DVB abriria espaço para a separação entre produção e transmissão, bem como abriria a possibilidade de milhares de canais cujo broadcast poderia ser feito pelas telecoms. Mas aí o Grande Irmão ia perder o controle, né?

    Mas como disse o Mariguella, matar uma flor não previne a primavera, e a TV digital via Internet é questão de tempo, e vai invalidar todo esse esforço monopolista.

    Recentemente, começaram a armar o bote contra o portal Terra, apelando ao legalismo de que empresas jornalísticas podem ter no máximo 30% de capital estrangeiro. O Terra tem como fonte de renda a venda das (inúteis) assinaturas de banda larga, lê o portal quem quer.

    Mas, como o portal Terra é plural, e dá voz a todo mundo, inclusive à extrema-esquerda Caros Amigos, ficou incômodo. (Nesta ofensiva contra o Terra entraram outras forças da "direita" como Abril e Folha, que em vez de melhorar seus produtos, querem matar o concorrente que os ofusca.)

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  2. Exatamente Elvis, a internet vai superar essa sacanagem de sistema de TV meio estranho que foi empurrado goela abaixo pela Globosta e seu preposto ministro. Concordo contigo em quase tudo que vc diz.

    O governo Lula - que eu defendo, todos sabem - trouxe enormes avanços sociais e economicos no Brasil, mas também padece de umas deficiências que sai de perto. Uma delas é esse bom-mocismo (que as oligarquias tupinambás e o PIG estão com medo que acabe com a Dilma) dessa política de pragmatismo exacerbado que permitem anomalias como esse ministro de comunicações a soldo da Globosta.

    O caso do padrão de TV eu acompanhei até uma altura, mas depois entrou tanto ruído que acabei perdendo o bonde, mas era basicamente um embate entre o PIG (capitanenado aqui pela Globosta e seu minsitro) e as teles.

    Mas a discussão ñ é mais essa. Agora Inês é morta! A discussão maior agora gira em torno do PNBL, onde as teles querem continuar reinando, faturando tubos, por esse serviço porco que vendem. Agora o fdp do ministro se bandeou pro lado das teles.

    O post foi colocado para defender a estatização (coisa que causa urticária nos tucanos) desse serviço estratégico, como fizeram a Austrália (já teve um post sobre isso aqui) e, de certa forma, o Canadá.

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  3. Ah, eu esqueci de dizer uma coisa. Sou favorável à força que o Lula deu para manter a OI nacionalizada. A Oi faz o papel de estatal: ruinzinha mas ubíqua. Para não dizer que o artigo está 100% errado, né?

    A GVT presta um serviço muito melhor mas só está presente onde há muita densidade. É importante que haja uma GVT fornecendo acesso de 100Mbps com fibra ótica nos centros de grandes cidades, mas também é importante que pequenas localidades tenham pelo menos sua ADSLzinha de 1Mbps.

    O PNBL é meio como o pré-sal, baseia-se numa riqueza menos rica do que se supõe: uns milhares de quilômetros de fibra ótica de uma tal Eletronet, que só interliga lugares "grandes" que já têm conectividade razoável hoje. Só a Oi tem algo como 300 mil km dessa mesma coisa. Acho que esmoreceu por isso.

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