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quinta-feira, 15 de julho de 2010

A mentira na História e a compreensão da crise


Miguel Urbano Rodrigues | Lisboa


– reproduzido parcialmente (o texto completo é mais longo) daqui

O capitalismo atravessa uma crise estrutural para a qual não encontra soluções. Para que os povos se mobilizem na luta contra o sistema que os oprime e ameaça já a própria continuidade da vida na Terra, é indispensável a compreensão do funcionamento da monstruosa engrenagem que deforma o real, impondo à humanidade uma história deformada, forjada pelo capitalismo para servir aos seus interesses.

Essa compreensão é extraordinariamente dificultada pela máquina de desinformação midiática controlada pelas grandes transnacionais. Nunca antes a humanidade dispôs de tanta informação, mas em época alguma esteve tão desinformada. Nesta era da informação instantânea, as forças do capital estão conscientes de que a transformação da mentira em verdade é cada vez mais imprescindível à sobrevivência do capitalismo.


No esforço para enganar e confundir os povos, a primeira mentira é inseparável da afirmação categórica, difundida através de um bombardeamento midiático, de que nos EUA irrompera uma grave crise, definida como financeira, resultante de especulações fraudulentas no imobiliário. Obama e os sacerdotes de Wall Street reconheceram a cumplicidade da banca e das seguradoras quando surgiram falências em cadeia, mas garantiram que o tsunami financeiro seria superado através de medidas adequadas. Trataram de ocultar que se estava perante uma crise profunda do capitalismo, de âmbito mundial.


A simulação da surpresa fez parte do jogo. O presidente dos EUA e os senhores das finanças mentiram conscientemente. As grandes crises mundiais raramente são previstas ou anunciadas com antecedência. Mas quando se produzem não surpreendem. Inserem-se na lógica da História.


Isso aconteceu, desde a Segunda Guerra Mundial. Só mentiras, para justificar o injustificável. [...]

Entre a farsa e a tragédia


Diariamente, a grande mídia norte-americana repete que a crise foi praticamente superada nos EUA graças às medidas tomadas pela administração Obama. É outra grande mentira. A taxa de desemprego mantém-se inalterada e a situação de dezenas de milhões de famílias é critica.


É suficiente ler os artigos sobre o tema de prêmios Nobel da economia, empenhados na salvação do capitalismo – Joseph Stiglitz e Paul Krugman, por exemplo – para se compreender que a situação, longe de melhorar, pode eventualmente agravar-se.


Não é a taxa do PIB que lhe define o rumo, porque a crise, global, é do sistema e não apenas financeira. Os discursos do presidente contribuem para confundir os cidadãos em vez de os esclarecer. Persistem contradições entre a Casa Branca e a finança. Mas elas resultam de os senhores de Wall Street e os chairman das grandes transnacionais considerarem insuficientes as medidas da Administração que os beneficiaram. Pretendem voltar a ter as mãos totalmente livres.


A retórica presidencial não pode esconder que a estratégia de Obama visou no fundamental salvar e não punir os responsáveis por uma crise que adquiriu rapidamente proporções mundiais.


As empresas acumulam novamente lucros fabulosos enquanto os trabalhadores apertam o cinto. A desigualdade social aumenta e os banqueiros, driblando decisões do Congresso, continuam a atribuir-se prêmios principescos.


O grande capital resiste, aliás, com o apoio firme do Partido Republicano, a todas as medidas de caráter social, na maioria tímidas – como a reforma do sistema de saúde – que a administração adota (ver
artigo de John Bellamy Forster )


É cada vez mais transparente que estamos perante uma crise do capitalismo, sem solução previsível, embora a esmagadora maioria da humanidade não tenha tomado consciência dessa realidade.


A tentação de ampliar a escalada militar na Ásia como saída “salvadora” é muito forte, mas no próprio Pentágono generais influentes temem as conseqüências de um ataque ao Irã. A invasão terrestre está excluída e o bombardeamento com armas convencionais de alvos estratégicos não produziria outro efeito que não fosse uma gigantesca vaga de antiamericanismo no mundo muçulmano.


O recurso a armas nucleares táticas é a opção de uma minoria. Essa hipótese tem sido admitida por destacadas personalidades internacionais, mas não se me afigura que possa concretizar-se. Não obstante a vassalagem dos governos da União Européia e do Japão, os povos condenariam massivamente uma repetição do genocídio de Hiroshima. Seria o prólogo de uma tragédia cujo desfecho poderia ser a extinção da humanidade.


Retomo assim a afirmação do início, tema desta reflexão. A mentira na História dificulta extraordinariamente a compreensão da crise de civilização que o homem enfrenta.

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