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sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Era o petróleo - eu sabia desde o inicio... [3]


por Fernando Brito no Tijolaço

Capitulo 1
Chevron, uma das gigantes americanas, juntou-se à Exxon, a British Petroleum e a British Gás na sua retirada. Americanos e ingleses agiram coordenadamente, numa atitude claramente política.
Governo americano e petroleiras vivem em tamanho mutualismo que é impensável que esta ação em bloco não tenha o beneplácito – senão a inspiração – dos dirigentes dos EUA.
Segundo, que todo mundo sabe que há um esqueleto de acordo firmado entre a Petrobras e os chineses para entrarem juntas no leilão como força virtualmente imbatível. Porque os chineses querem “remuneração” em vendas firmes de petróleo bruto ao seu país.
Então isso seria ruim para o Brasil? Não seria muito melhor refinar o petróleo e vender derivados refinados? Em alguns momentos – e essa é uma tendência mundial pela insuficiência global de parques de refino – sim.
Mas a questão é que, pelo investimento e prazo de implantação de refinarias, se tudo correr bem,chegaremos a 2020 com uma capacidade de refino de cerca de 3,6 milhões de barris/dia, apenas o suficiente para suprir o mercado interno de derivados. Mas a produção de petróleo já terá chegado perto de 6 milhões de barris diários, o que produz um excedente de perto de 2 milhões diários de petróleo bruto, que terá de ser exportado em cru.
Mas não deveríamos, então, investir mais em refinarias? Sim, mas de volta o problema: é caro e demorado fisicamente e o retorno econômico do investimento é lentíssimo, de uma década ou mais. Justamente por isso, no mundo, há um déficit de refinarias e, não por acaso, fazer refinaria não está sequer nos planos das petroleiras estrangeiras para o Brasil.
Além disso, um refinaria não opera com qualquer tipo de petróleo, ela só pode utilizar óleo com determinada densidade. Antes do pré-sal, 85% do petróleo que hoje produzimos é pesado. O do pré-sal, que vai corresponder ao aumento de produção, é leve.
A inconveniência do leilão de Libra está no valor do bônus inicial – de R$ 15 bilhões – que vai obrigar a uma descapitalização lesiva à Petrobras, que só pelos seus 30% obrigatórios na nova lei, terá um desembolso de R$ 4,5 bilhões. Se, como tudo indica, a participação da brasileira for de 60% ou pouco mais que isso, o desembolso será em torno de R$ 9 a 11 bilhões. Dinheiro que sai da sua capacidade de investir  para formarmos o tal – e mau – superavit fiscal.
Mas, frente à conjunção política que se formou, isso acaba sendo aceitável, se nos garante o controle majoritário do maior campo de petróleo do mundo, hoje.
Escrevo no início da madrugada, ainda sem ver as manchetes desta sexta.
Mas já deu para ver com que espanto e indignação a nossa mídia trata a saída de americanos e ingleses do leilão, falando em “fracasso” e “esvaziamento”.
E pergunto aos setores nacionalistas que ainda advogam o adiamento do leilão: não era isso o que o país desejava, sobretudo depois da revelação da espionagem americana sobre a Petrobras?
Vamos perder, por puerilidade, a oportunidade histórica de controlar hegemonicamente o maior campo de petróleo deste país e, hoje, do mundo? Tudo dentro da lei, das regras por ela lixada, com tal solidez que balizará o desenvolvimento exploratório do enorme tesouro do pré-sal ainda por ser descoberto ou delimitado?
A resposta a isso só pode ser um não!

Capitulo 2

Os jornais vão começar a falar em “fracasso anunciado” com a saída das empresas americanas (e assemelhadas) da disputa.
As três, é claro, não saíram juntinhas por acaso. Houve conversa com seus “bons amigos” da Secretaria de Estado americana. Recordem que é “war for oil”, muito mais do que esse “came out, guys!” Saíram juntas porque isso foi combinado. Resta a Chevron, sobre a qual não se sabe muito e ainda está “pendurada” por um campo operado diretamente – Frade – justamente o que vazou e a deixou “bem na fita” por aqui. Talvez entre para fazer fachada. Os R$ 2 milhões da inscrição, para ela, são troco.
A jogada é colocar pressão política sobre o “fracasso anunciado” do leilão. Fracasso só para eles, que sabiam que iam perder, para a Petrobras, com o reforço dos chineses e de mais duas ou três petroleiras, com ela no leme do navio.
Também não é fracasso para o Brasil.
Explico:
O lance de R$ 15 bilhões é fixo, não varia. O que varia é a parcela de petróleo oferecida ao Governo, que é o dono da Petrobras. Que, por sua vez, está pronta a dar a parcela máxima que não comprometa a viabilidade econômica da exploração.
Os chineses também não estão de olho no lucro fácil, querem é o fornecimento seguro. Topam.
Galp, Repsol e Statoil dizem: ôba, os “miricano” estão fora, que bom pra nós. Índia e Japão, “amigos de 2ª classe” dos americanos, talvez não lhes tenham tanta solidariedade assim.
O jogo é esse, meus amigos, é geopolítica de poder mundial, não uns pocinhos que não fazem cócegas nas gigantes do petróleo. Até porque todo mundo – muito mais os espiões americanos – sabem que há mais, muito mais por ali e em outras partes. Quem botar o pezinho nessa, está dentro. Quem não botar, vai ter de esperar uma sonhada “retucanização” do país.
Abram o olho, meus sinceros amigos que – como eu próprio – desejam que todo o petróleo brasileiro seja do Brasil. Vamos deixar de ser um “produtor interno” e entrar na briga de cachorro grande.
Vamos perder os nossos complexos de vira-latas e saber que temos um país e uma petroleira que é capaz de liderar, defender e desenvolver a exploração do pré-sal.
E lembrar que o ótimo, muito frequentemente, é o inimigo do bom. E, portanto, às vezes, um aliado do mal.

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