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quarta-feira, 3 de julho de 2013

Médicos fazem panelaço... que meigo!...


por Arthur Taguti, comentarista do blog do Nassif

Olha, uma coisa que chamou minha atenção foi o "método" de protesto que as entidades representativas dos médicos escolheram: o panelaço. Eu não entendo nada de semiótica, mas acredito que esta escolha não foi uma simples casualidade, mas uma opção recheada de significados.
Em primeiro lugar, qual o detalhe mais explorado, tanto pelas entidades referidas quanto pela grande mídia contra a medida tomada pelo governo? A vinda de médicos cubanos. Toma-se carona num ambiente midiático reducionista e calcado em preconceitos ("comunista", "bolivariano", "petista", e etc.) e pronto. Constrói-se um forte slogan na tentativa de ganhar a simpatia da classe média que tem ojeriza tudo relacionado a esquerda, Cuba, Chavez, Bolsa Família, e por aí vai.
Tanto faz se a medicina cubana é celebrada ao redor do mundo. Tanto faz se o ótimo programa Saúde da Família, implantado por Lula, foi inspirado no modelo cubano de medicina preventiva. O importante é o discurso infantilizado para incentivar a ira dos cães de guarda, que sempre ladram em favor do conservadorismo e do anti-petismo/anti-lulismo.
Nesse contexto é que o panelaço entra. Quando se pensa em panelaço, a imagem mais célebre é a da orgulhosa classe média argentina, que teve seu altíssimo padrão de vida espoliado pelo Consenso de Washington a La Menem. A imagem mais marcante é a de donas de casa - e não de movimentos sociais organizados -, preocupadas com a piora do seu padrão de vida, brandindo suas panelas e derrubando sucessivos Presidentes da República no começo da década passada.
Quando se pensa no panelaço dos dias de hoje, a imagem das donas de casa também se faz presente, protestando, mas agora contra o governo Kirchner. Sim, a imagem do panelaço se vincula ao anti-kirchnerismo e, num ambiente de infantilização e reducionismo do debate político, logo se estende ao anti-bolivarianismo, ao anti-petismo, ao discurso anti-Cuba e tudo o quanto cheire esquerda e povão latino-americano.
Tudo bem que a classe média argentina é bem politizada e pode ter motivos outros para protestar contra os Kirchner, mas no contexto midiático nacional, sempre vemos no Jornal Nacional ou matérias da Veja esta classe como a que enfrenta com coragem e bravura os demandos da barbárie kirchnerista, a da Ley de Medios, a que espoliou o Grupo Clarin.
Assim, a escolha do panelaço como meio de protesto das entidades de médicos de modo algum é despolitizada. É a assunção de um discurso, de uma posição política. Pretende-se, com a imagem de médicos brandindo panelas em plena Avenida Paulista, passar também, no Jornal Nacional, a imagem de mártir da classe média, supostamente espoliada por um governo petista-kirchnerista-bolivariano que não respeita a iniciativa privada e a liberdade de mercado.
Por outro turno, a escolha do panelaço, por todo o simbolismo envolvido, afasta-os das recentes passeatas promovidas por movimentos sociais e/ou grupos com discurso igualitário e redistributivo, deixando claro o nítido caráter conservador e corporativista da iniciativa.
É como se quisessem brandir: "não estamos aqui a serviço da sociedade, mas a serviço de nós mesmos", ou, sendo menos eufemista, socorrem-se de um método pouco sutil de mostrar seu pedigree.
Não creio que a opção tenha sido das melhores. Até pelo fato de toda pesquisa ou estudo realizado no Brasil profundo atestar o imenso déficit de médicos nestas regiões carentes, é de uma insensibilidade tremenda posar de classe média espoliada, advogando em causa própria. Corre o risco de tornar-se um novo Cansei, só que agora de jaleco.
Escolha infeliz de dirigentes de uma classe que contém tanta gente boa e compromissada com a saúde pública.

2 comentários:

  1. Com o detalhe que Cuba é apenas uma das opções, espera-se que boa parte venha de Portugal e Espanha. Então esse negócio de ideologia só serve de aríete, é simples corporativismo mesmo. Por isso eu abomino esses lances de profissão regulamentada.

    A mim causa enorme prazer que cubanos com formação profissional se mudem para cá. (Estou sendo maquiavélico demais?)


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  2. Há alguns anos atras tinha um médico (ou curandeiro) (sarcasmo?) desse cubanos aqui em Sumbento, o que prova que já tinham autorizado essas coisas antes... Pois bem, me lembro que o cara era muito gente boa, muito focado, culto e simpático... Ñ cheguei a me inteirar de seu desempenho profissional, mas como "fella" era 10.

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