por Patricia Islas, no swissinfo
Três estudantes suíças foram fazer um estágio em um dos principais hospitais de Havana, em Cuba. Elas fazem parte de um grupo de cem estudantes da faculdade de Medicina de Genebra que participa de um programa de sensibilização à responsabilidade social dos médicos no exterior.
"Eu fiquei fascinada pela impressionante capacidade dos cubanos em avançar e resolver os desafios diários de uma vida difícil", disse Sofia Merlo (23 anos), uma das três estagiárias suíças do hospital cubano Hermanos Ameijeiras, em Havana.
Estamos na unidade de terapia intensiva de um dos principais hospitais de Cuba. Os médicos trabalham incansavelmente em casos de pacientes cujas vidas estão por um fio. Entre os lençóis de uma das camas, descobrimos um tênis de cano alto nos pés de um paciente imobilizado há vários dias.
"Na Suíça, usamos suportes especiais caros para manter o pé em pé. É muito importante para evitar que a pessoa caia de lado, provocando lesões graves. Aqui, onde há falta de equipamentos, o jeitinho cubano resolve o problema com estes sapatos”, diz Sofia.
Junto com sua colega Aurélie Wanders (22 anos) e Alexandra Stefani (23 anos), a estudante do terceiro ano da Faculdade de Medicina de Genebra realiza aqui sua "imersão na comunidade", tratando de um problema bem específico.
Combater infecções
Durante o estágio, as estudantes recolhem dados sobre como o pessoal da unidade de terapia intensiva implementa um programa para reduzir as infecções hospitalares, em colaboração com o Hospital Universitário de Genebra e a Organização Mundial de Saúde.
Embora o sistema de saúde cubano seja um dos melhores da América Latina, com indicadores comparáveis aos dos países desenvolvidos, a falta de higiene é um problema sério: 7% dos pacientes adquirem uma infecção hospitalar durante a hospitalização. Na UTI, essa proporção sobe para 30%.
Entre as causas dessas infecções, há o fato de que os profissionais da saúde não lavam as mãos adequadamente. Mas a falta de higiene é também uma consequência do embargo econômico imposto pelos Estados Unidos contra Cuba. "Falta luvas de látex, máscaras e peças para aparelhos médicos”, observa Aurélie Wanders. “Os médicos cobrem a boca com suas tocas durante a ausculta de um paciente", completa.
"O bloqueio nos fecha as portas quando queremos comprar peças de reposição ou equipamentos”, lamenta Nora Lim, especialista em cuidados intensivos. “Os Estados Unidos ameaçam punir todas as negociações com empresas de Cuba. A importação de equipamentos nos custa mais do que em outros países", explica.
Ajuda suíça
A Suíça está entre os países que ajudam Cuba a lidar com as limitações encontradas no setor de saúde através da ONG MediCuba, que em 20 anos de serviço, tem financiado projetos para mais de 5 milhões de francos. Por exemplo, o Hospital Hermanos Ameijeiras recebeu recentemente 250 cateteres para lavagens bronco-alveolares e uma peça para um de seus ventiladores mecânicos, elementos essenciais para prevenir a pneumonia nos pacientes ligados a um respirador.
"MediCuba financia matérias-primas para a produção local de remédios e angaria fundos, em colaboração com organizações irmãs na Europa, para a compra de medicamentos, por exemplo, contra cânceres de infância", comenta o Dr. Nélido González, diretor-adjunto do Instituto de Oncologia de Cuba.
Quanto à Universidade de Genebra, o primeiro programa de cooperação com Cuba começou este ano. Decano da Faculdade de Medicina do Hospital Universitário de Genebra (HUG), Jérôme Pugin foi responsável em mostrar os porquês do uso do desinfetante para mãos desenvolvido em Genebra, mas agora produzido no estabelecimento cubano.
"Em nosso hospital, nós somos os pioneiros no uso deste método recomendado pela OMS e já é utilizado em países desenvolvidos", disse a doutora Lim, responsável local pela iniciativa. Já que uma pneumonia pode custar a vida de um em dois pacientes em uma UTI, esse programa é programa é crucial.
"Este projeto é baseado principalmente na fórmula à base de álcool criada pelo professor suíço Didier Pittet há 20 anos em Genebra. Um método simples que permitiu uma redução de 50% das infecções hospitalares em Genebra, de tal maneira que este ‘Modelo de Genebra’ foi tomado pela OMS em 2004 para ser difundido em todo o mundo", explica Aurelie Wanders, enquanto observa uma enfermeira cuidando de um paciente.
Não desistir
As três estudantes de medicina da Suíça disseram que se acostumaram com os recursos limitados encontrados no hospital de Havana. "O que temos aqui são excelentes médicos. Apesar de terem menos tecnologia e materiais, sentimos que eles são mais humanos, mais intuitivos e eles estão mais interessados no contexto do paciente”, diz Sofia.
"A experiência de tomar parte na vida de Cuba me permitiu sair da minha rotina confortável para amadurecer e aprender com os outros, o que é essencial para nossa futura profissão de grande responsabilidade. Este espírito de não ceder aos problemas e dar o melhor de nós mesmos como profissional vai nos acompanhar de volta à Suíça."
Saúde em Cuba
De acordo com o sistema comunista em vigor na ilha, os tratamentos são gratuitos e disponíveis para os 11 milhões de habitantes de Cuba. No entanto, existem diferenças de qualidade, devido à falta de recursos.
Cuba tem indicadores de saúde semelhantes aos de países desenvolvidos. Cuba, junto com o Canadá, tem a taxa de mortalidade infantil mais baixa em todo o continente americano.
O país produz cerca de 70% dos seus medicamentos e importa o resto. No entanto, há escassez temporária de certos remédios.
Cuba colabora com cerca de 70 países na área da saúde, com o envio de pessoal médico cubano ao exterior ou a formação de estudantes de medicina em seu território. A venda de serviços médicos ao exterior é a principal fonte de renda para a ilha.
(Fonte: OMS e governo cubano)
Rá! http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/07/1316341-cubano-apresentado-como-parente-de-fidel-castro-e-atendido-no-hc.shtml
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