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quinta-feira, 18 de abril de 2013

Energia Solar fotovoltaica: crise ou evolução natural?



por Clarice Ferraz, no Blog Infopetro

A indústria solar fotovoltaica chinesa voltou a ganhar destaque nas últimas semanas. Entretanto, ao contrário das notícias de expansão e conquistas de mercados externos (com acusações de práticas de dumping relacionadas à falência de empresas alemãs e americanas) a que estávamos acostumados até 2011, dessa vez, é a falência da chinesa Suntech Power, líder mundial de fabricação de painéis fotovoltaicos, que está em foco. O fato chama atenção para toda a indústria que está passando por profunda crise.
Em realidade ela já dava sinais de que não estava indo muito bem. No ano passado, Siemens havia anunciado o adiamento de seus planos em investir em uma nova planta de produção de painéis de filmes finos e, esse ano, Bosch se retirou do mercado.  Mais recentemente foi Meyer Burger, o fabricante suíço de máquinas de cortar silício (principal tecnologia empregada hoje para a fabricação dos painéis), que revelou grandes perdas (redução de 50% de suas vendas em 2012[1]).
O solar fotovoltaico era visto como uma das soluções para aumentar a oferta de eletricidade, respeitando as restrições de emissões poluentes e demais problemas associados à geração de eletricidade de origem fóssil. O forte declínio desses grandes atores levanta uma série de questionamentos sobre o futuro da indústria e até mesmo sobre a inserção da tecnologia nos setores elétricos.
Alguns especialistas acreditam que esse seja um movimento natural de consolidação da indústria, como veremos com mais detalhe a seguir, e outros, como o The Economist[2], são mais pessimistas e alegam que o problema é mais grave do que parece porque os  debt-to-equity ratios das empresas da indústria solar fotovoltaica chinesa, líder mundial do setor, é de aproximadamente 80% contra a média de 50% encontrada a nível global. A revista britânica afirma ainda que a quase totalidade das empresas chinesas está tendo prejuízo.
No entanto, nos parece que o argumento escolhido, assim como as empresas que estão falindo, é obsoleto.  Apesar do predomínio chinês, o mercado fotovoltaico é global. Se a indústria passa por forte crise, isso não significa necessariamente que a tecnologia tenha perdido relevância ou que não haja mercado para absorvê-la. Umas das próprias fontes citadas na matéria revela que umas das causas dos problemas financeiros dos grandes atores do setor se encontra no rápido avanço da tecnologia que faz com que as plantas se tornem obsoletas muito rapidamente.
O modelo de desenvolvimento que possibilitou o rápido crescimento do setor se baseou fortemente nas subvenções oferecidas por diversos países europeus. Porém, esse modelo se mostrou insustentável na ausência das subvenções estatais. Até 2008, os produtores apostaram que os governos continuariam subvencionando fortemente as atividades do setor e produziram além da demanda do mercado.
Em 2012, a capacidade mundial de produção de painéis solares atingiu 60 GW enquanto a demanda era estimada em 33 GW, de acordo com Matthias Fawer, analista em desenvolvimento sustentável no banco Sarasin. Essa situação forçou os produtores a venderem por preços inferiores aos seus custos de produção (Le Temps, 28 março de 2013). Assim, os baixos preços dos painéis não foram alcançados graças à adoção de uma dinâmica positiva de ganhos de eficiência. Eles foram, em grande parte, fruto de subvenções e práticas agressivas de dumping de empresas que esperavam ganhar mercados e criar grandes barreiras para os novos entrantes.
Todavia, como é sabido, o diagnóstico otimista dos produtores não se confirmou. A crise econômica mundial mudou drasticamente o cenário, como ilustra o caso espanhol que veremos a seguir. François Gabella, diretor de LEM[3], também afetada pelo problema ao ser questionado pelo periódico suíço Le Temps (3.04.2013)[4] apresentou esse mesmo diagnóstico. Ele considera que o mercado está agora altamente saturado e que se criou uma bolha industrial. Enquanto o nível da demanda não se recupera, para ele é normal que haja destruição de capacidade de produção. O saneamento do mercado ainda levará algum tempo, e provavelmente contará com o desaparecimento de alguns atores , mas é salutar e faz parte da consolidação da indústria. Apresenta portanto um diagnóstico otimista, contrário ao apresentado pelo The Economist.
Para ajudar nossa compreensão sobre o estágio em que se encontra a indústria fotovoltaica atualmente, nos apoiamos em uma reflexão apresentada por Eduardo Lorenzo Pigueiras, em seminário ministrado na Universidade de Genebra no dia 1° de novembro de 2012. Para o pesquisador do Instituto de Energia Solar da Universidade Politecnica de Madrid, a indústria fotovoltaica se encontra efetivamente em transição, mas essas podem assumir trajetórias distintas. Podem ser lentas ou rápidas. As primeiras evoluem em um contexto onde o feedback mantém o sistema sob controle, as projeções temporais conseguem enxergar para onde ela evolui e não há sobressaltos. Já no caso das transições rápidas, é basicamente o inverso que acontece, como ilustram seus gráficos que apresentamos a seguir.
Figura 1 – Transição lenta:
clarice042013a
Nota: état actuel : estado atual; état suivant: estado seguinte; temps: tempo
Figura 2 – Transição rápida:
clarice042013b
Nesse sentido, a indústria solar fotovoltaica representaria um caso típico de transição rápida onde os sobressaltos acontecem com frequência. Na ocasião de seminário, o pesquisador ilustrou seu propósito com a apresentação do caso espanhol (gráfico abaixo).
Gráfico 1 – O paradigma espanhol : evolução da capacidade instalada de eletricidade fotovoltaica
clarice042013c
Fonte: Pigueiras, E. L., apresentado em les Conférences du jeudi do Grupo de Energia da Univerdade de Genebra, disponível emhttp://www.unige.ch/energie/forel/energie/colconf/seminaires.html
Se analisamos estudos demográficos e cenários de oferta e demanda de energia para os próximos anos encontramos fortes tendências de urbanização e aumento da dependência elétrica das sociedades. Nesse contexto, a geração de eletricidade solar fotovoltaica continua sendo uma das tecnologias que melhor atende às necessidades futuras. Assim como o caso espanhol apresentado por Pigueiras em Genebra, o que acontece atualmente na China representaria um novo sobressalto na indústria solar fotovoltaica.
Na ótica schumpteriana crises tem frutos positivos. No caso da crise da indústria fotovoltaica, podemos tirar lições sobre os instrumentos regulatórios a evitar e sobre como criar mercados mais sustentáveis. Os marcos regulatórios devem ser flexíveis e dinâmicos suficientes para que as indústrias não sejam protegidas de sobremaneira e para que haja incitação à inovação e à concorrência. Visto que existe um mercado para essa tecnologia, os entrepreneurs da indústria provavelmente saberão encontrar uma estratégia para seus produtos. Em conclusão, a indústria solar fotovoltaica de amanhã terá muito provavelmente novos atores e uma nova estrutura. Não é porque não conseguimos enxergar com clareza para onde ela está indo que ela se encontra condenada.

2 comentários:

  1. Energia fotovoltaica tem alguns problemas. O principal é o custo do silício cristalino que é necessário (uma célula fotovoltaica é basicamente um diodo com junção exposta), a ponto da energia que ele entrega ao longo da vida útil não ser muito maior do que a empregada na construção.

    Eu coloco mais fé naqueles esquemas de concentrar energia na forma térmica e usar e.g. um motor Stirling para converter em energia útil. O rendimento é menor (ainda), mas a energia "cai do céu" mesmo... e é muito mais barato e simples.

    Saiu hoje no Slashdot um esquema fotovoltaico mas com concentração de raios solares, o "tchan" do negócio é o sistema de resfriamento das células:

    http://www.networkworld.com/community/blog/ibm-researchers-model-human-blood-system-build-solar-power-prototype

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  2. Olha aí ó, uma novidade

    http://gizmodo.com/this-printer-spits-out-10-meters-of-solar-panel-every-m-508966042

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