Domingo foi o dia de Tiradentes. Devemos comemorar ou lamentar?
Tiradentes é o criminoso [SIC] (1) que virou herói mitológico do Brasil. Um símbolo do desejo de independência, o pai espiritual de nosso regime republicano. Mas quando foi preso, julgado e condenado, o alferes representava uma ameaça para o regime colonial. O que o distingue de outros líderes rebeldes do período é menos sua ação que o tratamento que lhe foi dado.
A Inconfidência Mineira foi apenas um dentre os vários movimentos anti-coloniais que lavaram de sangue este país. O único que se tornou suficientemente importante para a história oficial a ponto de acarretar a criação de um feriado nacional.
A História do Brasil, porém, registra vários outros movimentos anti-coloniais, republicanos e separatistas. O primeiro foi a Revolta dos Tamoios. Mas como ainda odiamos os índios, não fomos capazes de resgatar a imagem de Cunhambebe, nem erigimos uma estátua em sua homenagem. Preferimos homenagear o jesuíta que ajudou a desmobilizar os tupinambás para que suas malocas fossem uma a uma massacradas e incendiadas até a completa destruição da França Antártica de Villegagnon.
As outras rebeliões não muito esquecidas (Cabanagem, Balaiada, Farroupilha, Conjuração Baiana, Independência da Bahia, Federação do Guanais, Revolta dos Malês, Sabinada, Palmares e Canudos por exemplo), continuam sendo consideradas indignas aos olhos oficiais. Tanto que seus líderes nunca foram elevados à condição de heróis nacionais. Não há feriados nacionais comemorando estes episódios históricos, preservando-os constantemente na memória dos brasileiros. O que distingue estas rebeliões daquela que foi liderada por Tiradentes?
A Inconfidência Mineira foi um fracasso político. Os conjurados foram presos antes de tomar qualquer iniciativa e não ofereceram nenhuma resistência ao poder Colonial. Todos os outros movimentos mencionados chegaram as vias de fato, produziram resultados políticos temporários e obrigaram a Colônia, o Império e a República a organizar expedições punitivas que resultaram em vitórias caras e desonrosas.
Tiradentes não é um herói popularizado pelo que ele fez. A verdade é que ele muito pouco, nenhum mal ele chegou a fazer aos seus captores. De fato, na época em que foi processado, condenado e executado o alferes não passou de um inocente útil cuja imolação premeditada ajudou a reforçar o poder colonial. Dentre tantos outros que lutaram até mais corajosamente contra o poder constituído, Tiradentes foi escolhido e elevado à condição de herói porque seu exemplo é neutro e inútil do ponto de vista popular e militar.
Que perigo os líderes das outras rebeliões citadas (Cabanagem, Balaiada, Farroupilha, Conjuração Baiana, Independência da Bahia, Federação do Guanais, Revolta dos Malês, Sabinada, Palmares e Canudos) ainda representam? Eles estão todos mortos. Porque devem ser necessariamente esquecidos pelos brasileiros? É impossível dizer qual seria a História do país se eles tivessem tido sucesso. É igualmente improvável que nossa História venha a ser diferente caso eles passem a ser reverenciados.
Por isto, hoje não vou comemorar. Tiradentes representa um duplo fracasso. Além de ter liderado uma rebelião não violenta fracassada que não chegou a colocar em risco o poder Colonial, ele segue sendo um herói incapaz de inspirar os brasileiros a praticar atos verdadeiramente heróicos como aqueles que foram cometidos pelos líderes de outras rebeliões que ocorreram na História do Brasil. É vergonhoso que nosso país siga usando a Inconfidência Mineira como uma cortina de fumaça para apagar da memória nacional movimentos que foram bem mais importantes, cujos líderes poderiam inspirar os brasileiros a ser mais aguerridos. Nós realmente precisamos de paradigmas que eduquem os jovens brasileiros a combater com vigor coisas que são inadmissíveis (como a falta de água em São Paulo, as decisões absurdas e abusivas que saem do Poder Judiciário, a impunidade dos criminosos da Ditadura, a greve de PMs na Bahia ou os constantes assassinados de pessoas inocentes pela PM do Rio de Janeiro).
Tiradentes, o herói neutro que nada fez e que nos ensina a aceitar uma injusta condenação, apenas mantém os jovens brasileiros dormentes, sonolentos, incapazes de reagir. Reação impetuosa contra a brutalidade policial (sempre tolerada pelo Judiciário quando as vítimas são miseráveis) e contra a boçalidade das Forças Armadas (que seguem protegendo os criminosos fardados do regime infame que governou o país após o golpe militar de 1964) é o que precisamos. Nossos heróis devem nos ensinar a fazer o oposto do que temos feito.
NOTA DOS ÍNDIOS AQUI: O autor está meio influenciado por demais na catarse pre-eleição presidencial dos tempos que correm e associa o personagem ao Aécio Never da Alterosas... esse fumo é um pouco forte. De acordo com a historiografia poderíamos considerar o personagem Tiradentes um desajustado político aos ditames vigentes, mas o rótulo "criminoso" no sentido de malfeitor comum é um pouco exagerado.
Tiradentes é o criminoso [SIC] (1) que virou herói mitológico do Brasil. Um símbolo do desejo de independência, o pai espiritual de nosso regime republicano. Mas quando foi preso, julgado e condenado, o alferes representava uma ameaça para o regime colonial. O que o distingue de outros líderes rebeldes do período é menos sua ação que o tratamento que lhe foi dado.
A Inconfidência Mineira foi apenas um dentre os vários movimentos anti-coloniais que lavaram de sangue este país. O único que se tornou suficientemente importante para a história oficial a ponto de acarretar a criação de um feriado nacional.
A História do Brasil, porém, registra vários outros movimentos anti-coloniais, republicanos e separatistas. O primeiro foi a Revolta dos Tamoios. Mas como ainda odiamos os índios, não fomos capazes de resgatar a imagem de Cunhambebe, nem erigimos uma estátua em sua homenagem. Preferimos homenagear o jesuíta que ajudou a desmobilizar os tupinambás para que suas malocas fossem uma a uma massacradas e incendiadas até a completa destruição da França Antártica de Villegagnon.
As outras rebeliões não muito esquecidas (Cabanagem, Balaiada, Farroupilha, Conjuração Baiana, Independência da Bahia, Federação do Guanais, Revolta dos Malês, Sabinada, Palmares e Canudos por exemplo), continuam sendo consideradas indignas aos olhos oficiais. Tanto que seus líderes nunca foram elevados à condição de heróis nacionais. Não há feriados nacionais comemorando estes episódios históricos, preservando-os constantemente na memória dos brasileiros. O que distingue estas rebeliões daquela que foi liderada por Tiradentes?
A Inconfidência Mineira foi um fracasso político. Os conjurados foram presos antes de tomar qualquer iniciativa e não ofereceram nenhuma resistência ao poder Colonial. Todos os outros movimentos mencionados chegaram as vias de fato, produziram resultados políticos temporários e obrigaram a Colônia, o Império e a República a organizar expedições punitivas que resultaram em vitórias caras e desonrosas.
Tiradentes não é um herói popularizado pelo que ele fez. A verdade é que ele muito pouco, nenhum mal ele chegou a fazer aos seus captores. De fato, na época em que foi processado, condenado e executado o alferes não passou de um inocente útil cuja imolação premeditada ajudou a reforçar o poder colonial. Dentre tantos outros que lutaram até mais corajosamente contra o poder constituído, Tiradentes foi escolhido e elevado à condição de herói porque seu exemplo é neutro e inútil do ponto de vista popular e militar.
Que perigo os líderes das outras rebeliões citadas (Cabanagem, Balaiada, Farroupilha, Conjuração Baiana, Independência da Bahia, Federação do Guanais, Revolta dos Malês, Sabinada, Palmares e Canudos) ainda representam? Eles estão todos mortos. Porque devem ser necessariamente esquecidos pelos brasileiros? É impossível dizer qual seria a História do país se eles tivessem tido sucesso. É igualmente improvável que nossa História venha a ser diferente caso eles passem a ser reverenciados.
Por isto, hoje não vou comemorar. Tiradentes representa um duplo fracasso. Além de ter liderado uma rebelião não violenta fracassada que não chegou a colocar em risco o poder Colonial, ele segue sendo um herói incapaz de inspirar os brasileiros a praticar atos verdadeiramente heróicos como aqueles que foram cometidos pelos líderes de outras rebeliões que ocorreram na História do Brasil. É vergonhoso que nosso país siga usando a Inconfidência Mineira como uma cortina de fumaça para apagar da memória nacional movimentos que foram bem mais importantes, cujos líderes poderiam inspirar os brasileiros a ser mais aguerridos. Nós realmente precisamos de paradigmas que eduquem os jovens brasileiros a combater com vigor coisas que são inadmissíveis (como a falta de água em São Paulo, as decisões absurdas e abusivas que saem do Poder Judiciário, a impunidade dos criminosos da Ditadura, a greve de PMs na Bahia ou os constantes assassinados de pessoas inocentes pela PM do Rio de Janeiro).
Tiradentes, o herói neutro que nada fez e que nos ensina a aceitar uma injusta condenação, apenas mantém os jovens brasileiros dormentes, sonolentos, incapazes de reagir. Reação impetuosa contra a brutalidade policial (sempre tolerada pelo Judiciário quando as vítimas são miseráveis) e contra a boçalidade das Forças Armadas (que seguem protegendo os criminosos fardados do regime infame que governou o país após o golpe militar de 1964) é o que precisamos. Nossos heróis devem nos ensinar a fazer o oposto do que temos feito.
NOTA DOS ÍNDIOS AQUI: O autor está meio influenciado por demais na catarse pre-eleição presidencial dos tempos que correm e associa o personagem ao Aécio Never da Alterosas... esse fumo é um pouco forte. De acordo com a historiografia poderíamos considerar o personagem Tiradentes um desajustado político aos ditames vigentes, mas o rótulo "criminoso" no sentido de malfeitor comum é um pouco exagerado.
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