por Luis Nassif, em seu blog
O Brasil não é para principiantes, dizia Tom Jobim.
Nos últimos anos houve uma justa celebração dos avanços obtidos nas últimas duas décadas, passando pela estabilização da inflação, com o Plano Real, pela criação de um mercado de consumo robusto. Louvou-se a continuidade dos governos FHC-Lula-Dilma, divididos muitos mais pela retórica política do que pelas práticas.
Manteve-se a continuidade, com alguns ajustes aqui e ali.
Mas os três governos padeceram e padecem da falta de uma visão estratégica que lhes será cobrada pela história. A principal delas, é a de não ter desarmado a armadilha do câmbio apreicado.
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O período militar legou um país cheio de vícios, sem sociedade civil, amarrado a uma estatocracia sufocante. E uma gigantesca concentração de renda que impedia o deslanche do mercado interno de consumo; a deterioração dos serviços públicos; a incompetência para lidar com a massificação da saúde e da educação. Todos esses vícios decorrentes exclusivamente da falta de democracia, de pressão popular.
Por outro lado, legou uma base industrial sólida, que se completou com os Planos Nacionais de Desenvolvimento.
O segundo tempo do jogo consistiria na montagem da segunda perna – o do fortalecimento dos fatores internos – sem descuidar da primeira – o fortalecimento da produção.
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De lá para cá, uma privatização mal feita tirou a pujança dos setores químico, siderúrgico, de telecomunicações. Permitiu-se que o custo da energia saltasse para patamares elevados. Não se cuidou de resolver os graves problemas da infraestrutura. Aceitou-se a cartelização da economia e não se deu a devida prioridade às pequenas e micro empresas e ao empreendedorismo.
Nesse período, desenvolveu-se um mercado de capitais moderno, um mercado de consumo robusto, uma indústria de fundos que permitiu a formação de uma boa base de poupança interna. Ou seja, todas as peças no tabuleiro para que um grande mestre completasse o ciclo da redemocratização.
Mas dia após dia, ano após ano, mandato após mandato, esses trunfos foram sendo desperdiçados, atropelados pelo dia a dia e pela ausência de um pensamento estratégico.
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Desde a redemocratização, o trabalho da oposição – fosse o PT ou o PSDB – jamais foi o de construir uma alternativa democrática ao governo em questão.
A falta de programas partidários nítidos, de clareza da opinião pública sobre os caminhos do país, não permitiu a montagem de coalizões duradouras. Cada governante montou sua base em cima de troca de favores. E cada oposição montou sua resistência em cima da escandalização mais primária.
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Sem as linhas indicativas do pensamento estratégico, cada um dos presidentes foi conduzindo dentro do mesmo estilo, de matar um leão por dia, resolver a pressão imediata, celebrar um feito ou outro, mas deixando o futuro ao Deus-dará.
Substituiu-se o período de fechamento, de proteção descabida à produção interna por vinte anos de apreciação cambial, de abertura financeira indiscriminada que pouco a pouco está matando as chances de uma economia industrial.
Tenho a ligeira desconfiança que a história não será condescendente com os três presidentes desse período.
O problema não é o câmbio, é o "custo Brasil". Tudo é caro, lento e difícil por aqui.
ResponderExcluirCâmbio desvalorizado é um tipo de protecionismo. Pode ser bom para as indústrias e seus donos, mas é menos poder de compra para todo o resto de nós. Esse negócio de resolver problemas com câmbio é coisa do Delfim Netto, já sabemos há 30 anos o que acontece quando se abusa deste "remédio". Curioso que o Delfim viciou nele.
Também não concordo com o diagnóstico de falta de pensamento estratégico. Tem é excesso de planejamento e falta de resolução de problemas bem visíveis e prementes. O governo planeja uma nova ferrovia intercontinental por semana e não consegue concluir um simples contorno...