por Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo
O mundo de Jabor, a julgar pelos seus textos, é sombrio. Nele, o
Brasil “está evoluindo em marcha à ré”, para usar uma expressão de uma coluna.
“Só nos resta a humilhante
esperança de que a democracia prevaleça”, já escreveu ele.
Bem, vamos aos fatos. Primeiro, e
acima de tudo, se não vivêssemos numa democracia plena os artigos de Jabor não
seriam publicados e ele não teria vida tão tranquila para fazer palestras
tão bem remuneradas em que expõe às pessoas seu universo gótico, em que
brasileiros incríveis como ele devem se preparar para a guerra caso queiram a
paz. Esta é outra expressão de um texto dele.
Comprar armas? Estocar comida?
Construir um abrigo antibombas? Fazer um curso de guerrilha? Pedir subsídios
para a CIA? Talvez um dia Jabor explique o que é se preparar para a guerra.
Quando sua mente viaja para fora
é o mesmo apocalipse. Dias atrás, Jabor falou na tevê uma quantidade
extraordinária de disparates sobre o caso Chávez. Se entendi, ele atribuiu a
Chávez a existência de tanta pobreza na Venezuela. Jabor parecia exaltado, mas
não de forma genuína. Era como se interpretasse o papel daquele velho tio do
interior que ao chegar para uma visita se põe a falar interminavelmente sobre o
iminente risco de bolchevização do Brasil e do mundo, e que você só acalma se
colocar discretamente um frontal em seu uísque.
Pobres ouvintes.
Já escrevi muitas vezes que o
Brasil sob Lula perdeu uma oportunidade de crescer a taxas chinesas. Já escrevi
também que os avanços sociais nestes dez anos de PT, embora relevantes e
inegáveis, poderiam e deveriam ter sido maiores. Mas somos hoje um país
respeitado globalmente. Passamos muito bem pela crise financeira global que
transtornou tantos países e deixou bancos enormes de joelhos.
Temos problemas para resolver?
Claro. Corrupção é um deles? Sem dúvida. Mas entendamos: a rigor, onde existe
política, a possibilidade de corrupção é enorme. No Brasil. Na China. Na
França. Nos Estados Unidos. Na Inglaterra. Na Itália. Em todo lugar. Citei
estes países apenas porque, recentemente, grandes escândalos sacudiram seu
mundo político. Na admirada França, o ex-presidente Sarkozy é suspeito de ter
recebido dinheiro irregularmente da dona da L’Oreal.
O problema na corrupção política
é a falta de punição. Não me parece que seja o caso do Brasil. Antes, sim.
No ditadura militar, a corrupção era muito menos falada, vigiada e punida.
O maior cuidado hoje é saber se
não se está explorando o “mar de lama” da corrupção com finalidades cínicas e
inconfessáveis, como aconteceu em 1954 e em 1964. O moralismo exacerbado
costuma esconder vícios secretos.
A choradeira melodramática de
Jabor não ajuda a causa que ele defende. Jabor representa a direita política.
Para persuadir as pessoas de que suas idéias são corretas, são necessários
argumentos melhores do que os que ele apresenta.
O primeiro ponto é que muito
pouca gente acredita que o Brasil descrito por Jabor é o Brasil de verdade.
Basta tirar os olhos de sua coluna e colocá-los na rua. A realidade é
diferente. Há sol onde na prosa jaboriana parece só existir treva. Jabor
se dá ares de dissidente cubano quando tem padrão de vida — e de liberdade —
escandinavo.
Jabor parece estar preparado não para a guerra, mas para
permanecer no papel enfadonho e ranzinza de mártir, de vítima impotente de um
país que, se fosse tão ruim assim, ele já teria trocado por outro, como fez
Paulo Francis. Esse papel pode ser bom para palestras. Segundo um site que agencia palestras, “o palestrante
Arnaldo Jabor mostra-se extremamente habilidoso ao aliar citações eruditas a
uma visão crítica da realidade brasileira”.
Mas a choradeira não é boa sequer
para a própria causa que ele defende — uma economia à Ronald Reagan em que o
mercado não tenha freios ou limitações. Para erguer esse universo, são
necessários argumentos inteligentes — e não pragas como as usuais. “Malditos
sejais, ó mentirosos e embusteiros! Que a peste negra vos cubra de feridas, que
vossas línguas mentirosas se transformem em cobras peçonhentas que se
enrosquem em vossos pescoços, e vos devorem a alma.”
Tenho a sensação de que os
editores de Jabor no Estado e no Globo não conversam com ele sobre o que ele
vai escrever. Acho que deveriam. Às vezes um simples “calma, está tudo bem”
resolve. Uma conversa prévia seria útil para Jabor,a causa, o leitor e o
debate.
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