por Miguel do Rosário, em seu O Cafezinho
Tem que ter muita paciência para entender a mentalidade coxinha. Imagino que os próprios não entendem a si mesmos. Ontem foi dia de protestos anti-copa, mas dessa vez ficaram bem esvaziados. No Rio, umas cinquenta pessoas, apesar de Marcelo Freixo ter dito a seus fiéis para “continuarem nas ruas”.
O destaque vai para Porto Alegre, que reuniu cerca de 300 ou 400 pessoas.
Os manifestantes, como de praxe, escolheram a hora mais turbulenta do trânsito, o início da noite. Depredaram a agência de um banco público, o Banrisul, tentaram queimar um boneco de Pelé (porque não conseguiram, não sei), reviraram contêineres de lixo, pixaram as sedes do PT e PMDB.
Por fim, puseram fogo a uma foto do Pelé.
Tudo muito pacífico, claro, muito democrático.
Razão do protesto: contra a possibilidade de aumento da passagem de ônibus e, sobretudo, contra a Copa do Mundo.
O Fernando também escreveu sobre o tema no Tijolaço, cujo post reproduzo abaixo:
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Os “libertários” que não queimam a bandeira americana, mas ateiam fogo à imagem do Pelé
Por Fernando Brito, do Tijolaço
Pelé, fora de campo, nunca foi santo de minha devoção. Já disse muita besteira e muita coisa correta, como tanta gente já fez.
Mas, 40 anos depois de deixar os gramados, é impressionante como ainda é uma figura reconhecida e querida pelo mundo afora. Na prática, virou há meio século um símbolo do Brasil.
Não foi à imagem do cidadão Edson Arantes do Nascimento que este panaca da foto ateou fogo ontem, numa manifestação que reuniu 300 pessoas (“O País em Protesto”, como diz a Folha) em Porto Alegre. Foi ao Pelé que todo mundo gosta, o Pelé do futebol.
Nos protestos, há décadas, volta e meia alguém, mais radical, punha fogo numa bandeira americana. A gente evitava, ninguém queria ofender o povo americano, mas aquilo era um grito contra o império, contra a dominação.
Mas os nossos coxinhas são diferentes.
Protestam contra a Copa, mas não protestam contra a sangria dos juros que o mercado nos impõe e que leva, todo ano, oito ou nove vezes o gasto com a Copa, no cálculo mais modesto.
Carregam cartazes “Dilma=Maduro”, um presidente eleito que se está tentando derrubar.
E ateiam fogo a uma imagem do Pelé. Depois, vão dizer que são “libertários” e “pacíficos”. Quando são intolerantes e belicosos. Eles acordaram a direita fascista brasileira. Que não queima bonecos, mata pessoas.
Não adianta que um ou outro dos que fazem parte disso digam que não concordam. É isso o que se pôs em marcha, querendo ou não. Quem quiser se confundir, que se confunda.
Talvez só descubra tarde demais.
PS. Reparem que a foto, tirada por Carlos Macedo, da Zero Hora, não foi parar nos jornais em geral. A mídia sabe que é uma imagem que repugnaria os brasileiros, não vai ela “queimar” assim os seus prestimosos filhotes.
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