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terça-feira, 12 de março de 2013

Espertezas dos irmãos do Norte




Robert Scheer em artigo  publicado, originalmente, no site Common Dreams. O autor é  jornalista, editor do site Truthdig.com e colunista do jornal The San Francisco Chronicle.

Jovem: procure um paraíso fiscal para evitar o pagamento de impostos. Fique inteiramente à vontade em terras estrangeiras, e se você ficar em apuros, o Tio Sam virá correndo para ajudá-lo diplomaticamente, economicamente e mesmo militarmente, apesar de você ter conseguido burlar o pagamento por esses serviços governamentais. Basta fingir que você é uma corporação multinacional.
Essa é a instrução sincera para o sucesso empresarial fornecida por 60 das maiores empresas americanas que, segundo uma análise do jornal Wall Street Journal, “internaram um total 166 bilhões de dólares em paraísos fiscaisno ano passado”. Mais de 40% de seus lucros escaparam, assim,  aos impostos cobrados nos Estados Unidos. Todos  fazem isso, incluindo Microsoft, GE, o gigante farmacêutico Abbott. Muitos, como a GE, são tão bons nisso que têm sonegado totalmente impostos (nos EUA) nos anos recentes.
Mas todos esperam que o Tio Sam venha em seu auxílio com poder de fogo militar, no caso de os nativos ficarem inquietos e nacionalizar ativos da empresa. Nós ainda temos um bloqueio contra a Cuba de Fidel Castro porque, mais de meio século atrás, os cubanos ousaram nacionalizar uma companhia telefônica de propriedade americana. Neste mesmo período, temos consistentemente intervindo militarmente em outros países para manter o controle das corporações dos EUA sobre os recursos (naturais) do mundo. Países como Iraque e Líbia têm que permanecer seguros para nossas companhias de petróleo.
Corporações multinacionais dos EUA ainda precisam da Marinha para proteger as rotas marítimas e do Departamento de Comércio dos Estados Unidos para proteger os direitos autorais e patentes. Também esperam que o Banco Central e o Departamento do Tesouro estejam aptos a fornecer ajuda e dinheiro barato.
Eles querem um grande governo dos EUA para financiar avanços científicos, educar a força de trabalho futura, sustentar a infraestrutura e fornecer lei e ordem no âmbito doméstico, mas simplesmente acham que mão precisam pagar por isso. O governo dos EUA tem a finalidade de proporcionar um mundo seguro para as corporações multinacionais, mas  estas não se acham em nenhuma obrigação de pagar por essa proteção.
Pense nisso quando você for pagar seus impostos nas próximas semanas, e considere que você tem que cobrir os furos deixados por travessuras desses marmanjos. Além disso, quando você contemplar os cortes dolorosos que estão sendo feitos em projetos sociais, lembre que, como o Wall Street Journal estimou, aquilo que apenas 19 dessas empresas deixaram de recolher em impostos seria mais do suficiente para cobrir os 85 bilhões de dólares que geraram aquele bruta impasse em torno do Orçamento no Congresso.
Os mais hábeis neste jogo são as empresas de tecnologia e as de saúde, que, como uma investigação do Senado no ano passado revelou, viraram especialistas em transferir faturamento para países debaixas taxas de impostos. No ano passado, a Microsoft elevou em 16 bilhões de dólares a parcela no exterior de seu faturamento global. Com isso, US$ 60,8 bilhões do faturamento da companhia em 2012 escaparam da tributação americana.
A Oracle aumentou sua participação estrangeira em um terço, incluindo novas subsidiárias em países de impostos baixos como a Irlanda. A Abbott estima que economizou 1,6 bilhão de dólares em impostos dos EUA através de suas operações em mais de uma dúzia de países. Quase todo o faturamento da Johnson & Johnson — US$ 14,8 de 14,9 bilhões – está declarado no exterior, mas mesmo assim a empresa afirma ser uma empresa dos EUA.
Uma das companhias mais familiares aos americanos, a GE, que em uma época mais inocente contratou Ronald Reagan para fazer propaganda de seus produtos, é uma das campeãs em evasão. Hoje dois terços dos empregados da GE estão no exterior. A empresa evitou impostos nos Estados Unidos nos últimos dois anos e tem 108 bilhões de dólares depositados no exterior.
Dois anos atrás, o presidente Obama nomeou o CEO da GE Jeffrey Immelt para comandar seu Conselho de Empregos, apesar do fato de Immelt ter cortado a força de trabalho de sua empresa dos EUA por um quinto. A excelênia da GE não está mais na fabricação de aparelhos, mas na manipulação financeira.
Para todas estas corporações, o amor pelo lucro é maior do que a lealdade para com seu país.

Um comentário:

  1. Dois detalhes para complementar o artigo:

    1) nos EUA paga-se (bastante) imposto como pessoa física sobre dividendos, não interessa se a empresa está em paraíso fiscal. Os impostos sobre empresas são também menores. Assim o impacto é menor do que alguém acostumado com a legislação brasileira poderia supor.

    2) Jabuti não sobe em árvore, estes furos são criados para beneficiar gente que definitivamente não fabrica coisas úteis como GE, mas a GE não dorme de touca: http://epx.com.br/logbook/entries/elisaofiscal.php

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