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sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Minha entrevista com Aldo Rebelo








cronica do meu amigo Henrique Fendrich, no blog Vida a Sete Chaves





- Boa tarde, ministro Rabelo.
- Rebelo.
- …
- Rabelo é o outro.
- Ministro, por que escolheram justamente o senhor para a pasta do Esporte?
- Bem, começa que eu sou palmeirense.
- Já está em atrito com o governo.
- Mas eu não tenho que mudar minha posição pessoal. E em todo caso, sigo o governo.
- Falávamos dos motivos para a sua escolha.
- Para mim, futebol e política andam juntos. Eu até escrevi “O Jogo Vermelho”(1).
- Não li. É um manifesto comunista?
- Fala sobre um Palmeiras e Corinthians que arrecadou dinheiro para o Partido Comunista.
- Pra quê?
- Queriam financiar algumas campanhas políticas.
- A Veja sabe disso?
- …
- Quais serão suas prioridades nos preparativos para a Copa do Mundo?
- O campo.
- O campo?
- A sociedade não pode virar as costas para o campo. Nossa música vem do campo, nossa culinária vem do campo. E a nossa agricultura, naturalmente.
- Entendi. O futebol vem do campo também.
- Sem campo ninguém joga bola.
- E o que pretende fazer pela qualidade do campo nessa Copa?
- Bem, eu acho que não devemos proibir o cultivo neles.
- Cultivo no campo?
- Como é que vamos proibir a agricultura em várzea? É algo que existe no mundo inteiro.
- Os campos serão de várzea?
- Há 2 mil anos se planta arroz em várzeas da China e da Índia. Nunca reclamaram, e continuam plantando até hoje.
- Mas eles não jogavam futebol nessa época.
- Temos que ter cuidados, mas você não pode proibir o uso dessas áreas.
- Não dá pra fazer isso em outro tipo de várzea?
- Se o conceito de várzea mudar, todos os produtores passarão à ilegalidade.
- Bom. Mas o senhor deve saber que a Fifa não permite isso.
- As regras do futebol são muito rigorosas. Deixa que o Ministério Público cuida disso.
- Mas o senhor tem certeza de que isso não vai atrapalhar as partidas?
- O que está em jogo não é apenas futebol. Estamos falando de como o Brasil dispõe do seu solo. Não podemos deixá-lo na mão dos interesses de grandes países que virão jogar aqui.
- E quanto aos convênios com as ONGs? Foi isso que derrubou o Orlando Silva.
- As ONGs agem a favor de interesses estrangeiros. Querem ditar regras aqui no Brasil.
- E o que elas querem?
- Impedir o nosso sucesso no campo.
- Argentinos, talvez?
- Americanos e europeus. Foram elas que quebraram o campo africano.
- Na última Copa?
- Não podemos deixar que façam o mesmo aqui.
- Pra terminar, ministro, o que pretende fazer com os estádios após a Copa?
- Quem preservou, terá benefícios. Quem não preservou mas já estava construindo no tempo em que eu não era ministro, será anistiado.
- Entendi. Obrigado, ministro. Digo, ainda é ministro, não?

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Atualização e Notas

Helena Sthephanowitz, especial para a Rede Brasil Atual

(1) O novo ministro do Esporte, Aldo Rebelo, cuja principal incumbência será desatar os nós existentes para a realização da Copa do Mundo de 2014, juntou sua paixão pelo Palmeiras e sua crença comunista para retratar no livro "Palmeiras x Corinthians - O Jogo Vermelho" os bastidores do amistoso entre os rivais, disputado em 1945 e cuja renda foi revertida para a campanha eleitoral do Partido Comunista do Brasil.

Mas a bibliografia de Aldo Rebelo conta com outra passagem ainda mais reveladora de seu conhecimento dos bastidores do esporte: "CBF/ Nike", livro publicado em 2001 em parceria com o hoje secretário de Habitação de São Paulo, Silvio Torres (PSDB). Nele, Aldo foi fundo na investigação de irregularidades na entidade máxima do futebol, alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) por ele presidida. As informações são do jornal Valor Econômico

Embargado pela Justiça, o livro tem como foco a atuação de Ricardo Teixeira à frente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). O dirigente é retratado como alguém que usa do prestígio da CBF para criar uma rede de influência no Congresso, com direito a doações polpudas a parlamentares em campanha e imerso em acusações de corrupção - das quais se defenderia, segundo o texto, contratando advogados pagos pela entidade. A Nike é retratada como uma empresa cuja influência adentra o campo e interfere na escalação da seleção de futebol.

A CPI do Futebol fora iniciada por iniciativa de Aldo, que no início de 1999 começou a recolher assinaturas para sua instalação. Desde o início, a pressão contrária por parte da chamada "bancada da bola", composta por deputados ligados a dirigentes e clubes, foi imensa para que a CPI não alcançasse resultados efetivos. Seus representantes fizeram circular na imprensa que rejeitariam o relatório de Silvio Torres antes mesmo que ele estivesse pronto. Produziram até um relatório alternativo, desprovido de pedidos de indiciamento. Vendo os trabalhos correrem sério risco, Aldo e Torres decidiram encerrar a CPI sem que um relatório fosse votado.

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