A jovem loira chora copiosamente diante das câmeras. As mãos com unhas feitas limpam as lágrimas enquanto ela diz em norueguês: “Eu não aguento mais”. “Que tipo de vida é essa?”.
O nome dela é Anniken Jørgensen, uma entre os três jovens blogueiros de moda, que estrelam um reality show online dividido em cinco partes sobre os horrores da exploração do trabalho no Camboja.
Produzido pelo Aftenposten, o maior jornal da Noruega, para um experimento social, Jørgensen, juntamente com Frida Ottesen e Ludvig Hambro, voaram em 2014 para a capital Phnom Penh, onde experimentaram por um mês um pouco da vida do trabalhador da indústria têxtil no país do sudeste asiático.
Como adolescentes em férias de primavera, o trio começa curioso, mas despreocupado, até que começam a entrar em contato com as condições ao seu redor. No episódio 2, Jørgensen, Ottesen e Hambro visitam a casa de Sokty, uma operária que vive em um apertado apartamento em Phnom Penh.
“Eu sinto muito por ela, mas acho que é assim que ela viveu toda a sua vida”, diz Ottesen no vídeo. “Para ela, esta é a sua casa; ela não acha que é ruim”.
Mas, conforme a série prossegue, rachaduras começam a aparecer. O trio vai com Sokty à uma loja, onde uma blusa de 35 dólares vale mais do que toda a sua renda por um mês. “As roupas custam mais do que pago pela minha habitação e gasto em comida em um mês”, diz Sokty.
O preço de uma blusa simples de manga comprida é o valor do aluguel da casa de Sokty. Com o salário de 3 dólares ao dia, Stoky compra roupas duas vezes ao ano e por 2 dólares. Ela costura roupas que chegam a custar um ano de salário e pode gastar apenas 4 dólares em roupa por ano.
Depois da noite na casa de Sokty, os jovens partem para o trabalho pesado na fábrica têxtil. “Trabalhei com eles por algumas horas e pensei que ia partir ao meio. Estava muito quente e as tarefas são muito cansativas. Além disso, você tem que trabalhar sob grande pressão e fazer tudo muito rapidamente. Assim que termina uma peça de roupa, você começa a costurar outra, sem descanso. É um círculo vicioso que não acaba nunca”, contou Jørgensen ao jornal espanhol El Diario.
Com cinco episódios de cerca de dez minutos, SweatShop – Deadly Fashion tem direção e edição de Joakim Kleven, e, como disse o blogueiro Ludvig: “Fico sem palavras, pois é tão incrivelmente injusto”, confira:
A H&M, uma das empresas que contribui com esse tipo de mercado, não aceitou ser entrevistada para o programa, mas deixou o seguinte comentário sobre o assunto:
“A H&M é consciente de que os salários em países como Camboja são demasiados baixos. Por isso, a empresa lançou em 2013, convertendo-se na primeira empresa de moda a fazê-lo, um plano concreto para conseguir um salário digno e razoável através de nossos provedores.
As medidas incluem fomentar negociações entre empresários e trabalhadores para facilitar a organização sindical assim como a capacitação em matéria de direitos.
Durante as gravações, o programa não visitou nenhum dos nossos fornecedores e não falou sobre os nossos programas de sustentabilidade e há comentários que dão uma imagem equivocada em torno das condições e salários de nossos provedores”.
O mais triste é que situações como essa não são um caso isolado. Há inúmeros trabalhadores que se submetem a esse tipo de trabalho forçado por simplesmente não terem condições de conseguir outra coisa, inclusive aqui no Brasil. O capitalismo, quando mal aplicado, é o mentor de grandes injustiças no mundo e essa certamente é uma delas.
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